quinta-feira, 16 de julho de 2020

Coronavírus: mortes no Brasil passam de 75 mil; país registrou quase 40 mil casos em 24h

O Brasil atingiu nesta quarta-feira (14/07) a marca de 1.966.748 infectados pela covid-19, segundo dados do mais recente boletim do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). No total, são 75.366 mortos pela doença.

Nas últimas 24 horas, foram registradas as mortes de 1.233 mil pessoas. Houve, também, mais 39.924 novos casos registrados.

São Paulo (393.176), Ceará (141.248), Rio de Janeiro (134.449) e Pará (130.834) seguem como os Estados com mais casos acumulados.

O Estado paulista tem também o maior número de mortes (18.640), seguido por Rio (11.757) e Ceará (7.030), segundo o boletim.

O conselho criou uma plataforma para registrar os dados sobre o novo coronavírus no país após o Ministério da Saúde ter passado a divulgar, no início do mês passado, os números de forma menos detalhada.

Após a controvérsia causada pela mudança e uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre o assunto, a pasta recuou e voltou a divulgar os números completos.

O Brasil continua como o segundo país do mundo com maior número de casos e mortes na pandemia do novo coronavírus, depois apenas dos Estados Unidos, com mais de 3,3 milhões de casos e 135,4 mil mortes pela covid-19, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins.

Mudanças e atraso na divulgação de dados

O painel covid-19, do governo, que costumava trazer diversos dados e gráficos sobre a doença, ficou fora do ar por algumas horas entre os dias 5 e 6 de junho. Quando voltou ao ar, trazia apenas os dados das últimas 24 horas e não fazia referência ao total de mortes.

Diversos dados detalhados deixaram de ser exibidos.

Três dias antes, o horário de divulgação do material havia passado do início da noite para as 22h, inicialmente por "problemas técnicos", de acordo com a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde, e, dois dias depois, porque os dados informados pelas secretarias estaduais de saúde precisariam "de checagem junto aos gestores locais".

Perguntado na ocasião sobre alterações no horário de divulgação, Bolsonaro brincou com o horário do Jornal Nacional, da TV Globo, normalmente exibido por volta de 20h30.

"Acabou matéria no Jornal Nacional?", disse, rindo.

"Mas é para pegar o dado mais consolidado, e tem que divulgar os mortos no dia. Por exemplo, ontem, praticamente dois terços dos mortos eram de dias anteriores, os mais variados possíveis. Tem que divulgar o do dia. O resto consolida para trás. Se quiser fazer um programa do Fantástico todinho sobre mortos nas últimas semanas, tudo bem."

Total de casos

Novos casos
0
10
100
Mil
5 mil
**
Estados Unidos 137.237 42,0 3.488.356
24 DE JAN
15 DE JUL
Brasil 75.366 36,0 1.966.748
Reino Unido 45.053 67,1 291.911
México 36.906 29,2 317.635
Itália 34.997 57,7 243.506
França 30.029 46,2 172.377
Espanha 28.413 60,9 257.494
Índia 24.914 1,8 968.857
Irã 13.410 16,4 264.561
Peru 12.417 38,8 337.751
Rússia 11.753 8,1 745.197
Bélgica 9.788 85,2 62.872
Alemanha 9.080 10,9 200.890
Canadá 8.857 23,9 110.693
Chile 7.186 38,4 321.205
Holanda 6.136 36,0 51.261
Colômbia 5.969 12,0 159.898
Suécia 5.572 55,9 76.492
Paquistão 5.426 2,6 257.914
Turquia 5.419 6,6 215.940
Equador 5.158 30,2 70.329
China 4.644 0,3 85.246
África do Sul 4.453 7,7 311.049
Egito 4.067 4,1 84.843
Indonésia 3.797 1,4 80.094
Iraque 3.432 8,9 83.867
Bangladesh 2.457 1,5 193.590
Arábia Saudita 2.325 6,9 240.474
Argentina 2.050 4,6 111.146
Suíça 1.968 23,1 33.148
Romênia 1.952 10,0 34.226
Bolívia 1.942 17,1 52.218
Irlanda 1.748 36,3 25.683
Portugal 1.676 16,3 47.426
Filipinas 1.614 1,5 58.850
Polônia 1.594 4,2 38.721
Ucrânia 1.462 3,3 57.627
Guatemala 1.350 7,8 32.074
Afeganistão 1.094 2,9 34.994
Argélia 1.040 2,5 20.770
Japão 984 0,8 23.188
Panamá 982 23,5 49.243
República Dominicana 929 8,7 47.671
Honduras 825 8,6 30.036
Nigéria 760 0,4 34.259
Áustria 710 8,0 19.154
Sudão 668 1,6 10.527
Moldávia 659 16,3 20.040
Dinamarca 610 10,6 13.092
Hungria 595 6,1 4.263
Armênia 592 20,1 33.005
Bielorússia 480 5,1 65.443
Iêmen 433 1,5 1.526
Sérvia 429 6,1 19.334
Kuwait 399 9,6 56.877
Macedônia do Norte 393 18,9 8.530
Israel 376 4,5 44.188
Cazaquistão 375 2,0 65.188
Camarões 359 1,4 15.173
República Tcheca 355 3,3 13.475
Emirados Árabes Unidos 335 3,5 55.848
Finlândia 328 5,9 7.296
Azerbaijão 326 3,3 25.672
Coreia do Sul 291 0,6 13.612
Bulgária 289 4,1 7.877
El Salvador 286 4,5 10.645
Omã 281 5,8 61.247
Marrocos 259 0,7 16.262
Noruega 253 4,7 9.011
Bósnia-Herzegóvina 235 7,1 7.411
Quênia 209 0,4 11.252
Grécia 193 1,8 3.910
República Democrática do Congo 192 0,2 8.163
Quirguistão 167 2,6 12.498
Senegal 153 1,0 8.369
Catar 151 5,4 104.983
Mauritânia 149 3,4 5.564
Etiópia 146 0,1 8.181
Haiti 145 1,3 6.902
Gana 139 0,5 25.430
Malásia 122 0,4 8.734
Mali 121 0,6 2.433
Croácia 120 2,9 3.953
Bahrein 117 7,5 34.560
Austrália 113 0,5 10.810
Kosovo 112 6,1 5.237
Luxemburgo 111 18,4 5.122
Eslovênia 111 5,3 1.878
Albânia 101 3,5 3.752
Venezuela 100 0,3 10.428
Nicarágua 99 1,5 3.147
Somália 93 0,6 3.083
Costa do Marfim 87 0,3 13.403
Cuba 87 0,8 2.438
Lituânia 79 2,8 1.882
Chade 75 0,5 885
Uzbequistão 72 0,2 14.787
Estônia 69 5,2 2.016
Níger 69 0,3 1.100
Serra Leoa 64 0,8 1.668
Tailândia 58 0,1 3.236
Tadjiquistão 56 0,6 6.695
Djibuti 56 5,8 4.985
República Centro-Africana 53 1,1 4.362
Burkina Fasso 53 0,3 1.038
Andorra 52 67,5 862
Guiné Equatorial 51 3,9 3.071
Libéria 51 1,1 1.056
Tunísia 50 0,4 1.319
Congo 47 0,9 2.222
Ilhas do Canal da Mancha 47 27,6 581
Gabão 46 2,2 6.121
Territórios Palestinos 44 0,9 7.064
Madagascar 43 0,2 5.605
Malauí 43 0,2 2.614
Líbia 43 0,6 1.589
Zâmbia 42 0,2 1.895
San Marino 42 124,3 699
Sudão do Sul 41 0,4 2.153
Costa Rica 40 0,8 8.986
Nepal 39 0,1 17.177
Guiné 38 0,3 6.276
Líbano 38 0,6 2.542
Mayotte 37 14,3 2.743
Guiana Francesa 33 11,7 6.299
Letônia 31 1,6 1.178
Uruguai 31 0,9 1.009
Eslováquia 28 0,5 1.927
Cingapura 27 0,5 46.878
Angola 27 0,1 576
Guiné-Bissau 26 1,4 1.842
Benin 26 0,2 1.378
Paraguai 25 0,4 3.198
Montenegro 24 3,8 1.287
Ilha de Man 24 28,5 336
Nova Zelândia 22 0,5 1.548
Síria 22 0,1 458
Tanzânia 21 0,0 509
Eswatini 20 1,8 1.489
Zimbábue 20 0,1 1.089
Cabo Verde 19 3,5 1.780
Chipre 19 1,6 1.025
Suriname 18 3,1 837
Guiana 18 2,3 313
Geórgia 15 0,4 1.004
Togo 15 0,2 740
Martinica 15 4,0 255
Ilha de São Martinho (parte francesa) 15 40,3 78
Maldivas 14 2,7 2.831
São Tomé e Príncipe 14 6,6 737
Guadalupe 14 3,5 190
Cruzeiro Diamond Princess 13 712
Sri Lanka 11 0,1 2.671
Bahamas 11 2,9 119
Islândia 10 3,0 1.911
Jordânia 10 0,1 1.201
Jamaica 10 0,3 763
Maurício 10 0,8 343
Moçambique 9 0,0 1.330
Malta 9 2,0 674
Bermuda 9 14,3 150
Trinidade e Tobago 8 0,6 133
Taiwan 7 0,0 451
Comores 7 0,8 321
Barbados 7 2,4 104
Mianmar 6 0,0 337
Ruanda 4 0,0 1.435
Mônaco 4 10,3 109
Ilha Reunião 3 0,3 608
Lesoto 3 0,1 256
Brunei 3 0,7 141
Aruba 3 2,8 106
Antigua e Barbuda 3 3,1 74
Gâmbia 3 0,1 64
Namíbia 2 0,1 960
Ilhas Turks e Caicos 2 5,3 72
Belize 2 0,5 39
Cruzeiro MS Zaandam 2 9
Botsuana 1 0,0 399
Burundi 1 0,0 269
Ilhas Cayman 1 1,6 203
Liechtenstein 1 2,6 84
Curaçao 1 0,6 26
Montserrat 1 20,0 12
Saara Ocidental 1 0,2 10
Ilhas Virgens Britânicas 1 3,4 8
Uganda 0 0,0 1.043
Vietnã 0 0,0 381
Mongólia 0 0,0 261
Eritreia 0 0,0 232
Ilhas Faroe 0 0,0 188
Gibraltar 0 0,0 180
Camboja 0 0,0 166
Seicheles 0 0,0 100
Butão 0 0,0 84
Polinésia Francesa 0 0,0 62
São Vicente e Granadinas 0 0,0 35
Fiji 0 0,0 26
Timor Leste 0 0,0 24
Granada 0 0,0 23
Santa Lúcia 0 0,0 22
Nova Caledônia 0 0,0 22
Laos 0 0,0 19
Dominica 0 0,0 18
São Cristóvão e Nevis 0 0,0 17
Ilhas Malvinas ou Falkland 0 0,0 13
Groenlândia 0 0,0 13
Vaticano 0 0,0 12
Papua Nova Guiné 0 0,0 11
São Bartolomeu 0 0,0 6
Anguilla 0 0,0 3
Saint-Pierre e Miquelon 0 0,0 2
Ver mais

A apresentação usa dados periódicos da Universidade Johns Hopkins e pode não refletir as informações mais atualizadas de cada país.

** Os dados históricos de novos casos são uma média de três dias seguidos. Devido à revisão do número de casos, a média não pode ser calculada nesta data.

Fonte: Universidade Johns Hopkins (Baltimore, EUA), autoridades locais

Dados atualizados pela última vez em: 16 de julho de 2020 08:00 GMT

Governo quer recontar dados, diz ex-futuro secretário

O empresário Carlos Wizard, que assumiria o posto de secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, mas desistiu da empreitada em 7/6, disse ao jornal O Globo em 5/6 que o ministério deve recontar o número de mortes causadas pelo novo coronavírus.

Ele disse, sem apresentar provas, que gestores locais estão inflando os dados para obter mais recursos.

"Tinha muita gente morrendo por outras causas e os gestores públicos, puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocavam todo mundo como covid. Estamos revendo esses óbitos", disse Wizard.

O Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) negou as acusações.

"Ao afirmar que Secretários de Saúde falseiam dados sobre óbitos decorrentes da covid-19 em busca de mais 'orçamento', o secretário, além de revelar sua profunda ignorância sobre o tema, insulta a memória de todas aquelas vítimas indefesas desta terrível pandemia e suas famílias", diz nota publicada em seu site.

Pandemia

O primeiro registro do coronavírus no Brasil foi em 26 de fevereiro. Um empresário de 61 anos, que mora em São Paulo (SP), foi infectado após retornar de uma viagem, entre 9 e 21 de fevereiro, à região italiana da Lombardia, a mais afetada do país europeu que tem mais casos fora da China.

O novo coronavírus, que teve seus primeiros casos confirmados vindos da China no final de 2019, é tratado como pandemia pela OMS desde 11 de março.

As taxas de mortalidade pelo coronavírus têm variado consideravelmente de país para país, também segundo a Johns Hopkins. Enquanto locais como Bélgica, Reino Unido e Itália têm entre 14% e 16% de mortos entre os infectados, essa taxa tem sido de cerca de 6% em países como EUA e Brasil.

Estudos apontam que a grande maioria dos casos do novo coronavírus apresenta sintomas leves e pode ser tratado nos postos de saúde ou em casa. Mas, entre aqueles que são hospitalizados, o tempo de internação gira em torno de três semanas, o que gera um impacto sobre os sistemas de saúde, de acordo com a pasta, já que os leitos de unidades de tratamento intensivo (UTI) ficam ocupados por um longo tempo, gerando uma crise de escassez de leitos em diversos Estados e municípios brasileiros.

Números atualizados pela última vez em 16 de julho de 2020 08:00 GMT

BBC News

Coronavírus: o que mantém a média de mortes por covid-19 tão alta no Brasil

'É muito complicado nos acostumarmos com mil mortes por covid-19 todo dia', diz infectologista da Unicamp

A média de pessoas que morrem por causa do novo coronavírus por dia no Brasil tem se mantido relativamente estável desde o início de junho.

A chamada média móvel de óbitos por covid-19 tem variado em torno de mil, segundo dados do Covid-19 Brasil, projeto que monitora a pandemia no país e reúne cientistas de diferentes universidades.

Essa taxa representa a soma das mortes divulgadas pelas secretarias estaduais de Saúde na última semana, dividida por sete. Ela tem esse nome porque varia conforme o total de mortes dos sete dias imediatamente anteriores.

A pandemia vai tornar o mercado de trabalho ainda mais difícil para as mulheres?
Pandemia leva número recorde de fumantes a largar o cigarro no Reino Unido
A média móvel dá uma melhor noção da evolução da epidemia no Brasil do que os números divulgados a cada dia nos boletins, porque os dados diários flutuam bastante, por uma série de motivos.

Há atraso nos registros de casos e mortes nos sistemas de saúde. Faltam testes ou a demanda supera a capacidade de processamento dos laboratórios. E os resultados de exames feitos nos finais de semana são divulgados só no início da semana seguinte, o que infla os indicadores destes dias.

Calcular a média ajuda a contornar esses problemas e produz uma visão mais fiel do avanço do coronavírus — e esses dados não só mostram que a situação atual é grave no Brasil, mas que ela ainda pode piorar.

Média de mortes no país se estabilizou em um patamar muito alto

A média móvel de mortes por covid-19 no país aumentou rapidamente entre meados de março e o fim de maio. Mas variou muito pouco desde então.

O menor índice desse período foi registrado em 2 de junho: 923 óbitos. E o maior (1.057 óbitos), em 24 de junho. A média móvel de mortes por semana mais recente, de 14 de julho, ficou em 1.049 óbitos.

Isso seria uma boa notícia — porque ao menos a taxa parou de crescer exponencialmente — se a média de mortes não permanecesse tão alta.

"Ela estacionou em torno de mil. Isso significa que a pandemia ainda está muito agressiva, e, por isso, o total de óbitos está crescendo tanto", diz Domingos Alves, professor da Faculdade Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto e colaborador do Covid-19 Brasil.

Raquel Stucchi, infectologista da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, também considera esse dado preocupante.

"É muito complicado nos acostumarmos com mil mortes por covid-19 todo dia. A gente começa a achar que é normal, mas isso não é normal", diz Stucchi.

Pandemia está em diferentes estágios no país

Dois fatores fazem a média de mortes por dia continuar alta no país como um todo. O primeiro é que a pandemia está em estágios diferentes nos Estados e no Distrito Federal.

Em muitos, a média também está estável em um nível elevado. É o caso de Amapá, Alagoas, Ceará, Espírito Santo, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, São Paulo e Bahia.

A taxa está em queda no Amazonas, Acre, Pará, Roraima e Rio de Janeiro. Mas essa redução é compensada pelo crescimento de vários outros Estados, como Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina, Tocantins e no Distrito Federal.

Pandemia está crescendo no interior, onde faltam profissionais de saúde e equipamentos
Ao mesmo tempo, o surto de coronavírus pode estar dando sinais de que está arrefecendo em muitas capitais, mas está a pleno vapor fora delas.

"A epidemia no Brasil não é uma grande fogueira. São várias fogueiras pequenas. As fogueiras altas que a gente via nas capitais agora deram lugar a fogueiras menores nas principais cidades do interior, que estão cercadas por uma porção de fogueirinhas", diz Alves.

Da mesma forma que as tendências de diferentes regiões do país se equilibram e mantêm a média nacional de óbitos alta, o progresso nos grandes centros de vários Estados é anulado pela chegada da pandemia a (ou sua piora em) cidades menores.

Isso é preocupante porque o sistema de saúde no interior tem menos recursos, diz Stucchi. Mesmo se há leitos, faltam profissionais com mais experiência e bons equipamentos, mesmo em cidades das regiões metropolitanas.

"Se não tem isso disponível, aumentam as chances de um paciente morrer", afirma a infectologista.

Mais casos, mais mortes

Número de casos aumentou exponencialmente até o início de julho e parece ter se estabilizado desde então
A média móvel de novos casos indica que a situação ainda pode piorar.

Diferentemente dos óbitos, que cresceram até maio, o aumento dos casos continuou até o início de julho e parece ter se estabilizado nas últimas duas semanas.

Mas a média móvel diária continua alta: variou entre 37 mi e 38 mil nestes 15 dias. E provavelmente não deu tempo ainda para tudo isso se refletir na média de mortes.

A covid-19 costuma levar de oito a dez dias para se agravar depois dos primeiros sintomas. Os casos mais críticos precisam ir para a UTI e ficam em geral internados ali entre duas a três semanas ali. Alguns não resistem.

Por isso, o aumento de casos demora um pouco para se traduzir em mais mortes. E isso pode ainda ter acontecido também porque os laboratórios estão sobrecarregados e não conseguem dar conta de todos os exames de óbitos que precisam ser feitos, diz Alves.

"De maneira nenhuma chegamos ao pico. Acredito que a média de mortes vai voltar a crescer nas próximas semanas e atingir patamares ainda maiores."

Stucchi diz que a permanência das médias de casos e mortes em níveis tão altos é um sinal de uma "incapacidade" do sistema de saúde do país. "Não estamos conseguindo acabar com a pandemia", diz a médica.

Alves concorda e acredita que a crise vai se prolongar ainda mais. "Se a gente se mantêm em patamares tão elevados e nada é feito — pelo contrário, estamos reabrindo o comércio —, a pandemia vai ser muito longeva."

Rafael Barifouse
Da BBC News Brasil em São Paulo
16 julho 2020

"Não recomendo', diz Bolsonaro sobre tratar covid-19 com hidroxicloroquina

Ao confirmar que o segundo teste feito por ele deu resultado positivo para o vírus, o presidente 
recomendou que as pessoas procurem "seu médico"

Bolsonaro relembrou que o medicamento ainda está passando por testes

O presidente fez uma live no Facebook para confirmar que o segundo teste feito por ele deu resultado positivo para o vírus. Apesar de defender em outras ocasiões o uso do medicamento e dizer que a droga estava trazendo bons resultados, Bolsonaro afirmou que “não recomenda nada, recomendo que você procure seu médico.”

“Estou medicado desde o ínicio com hidroxicloroquina. Tenho recomendação médica para isso. Estou me sentindo bem desde o dia seguinte. Não tive nenhum sintoma forte, uma febre pequena na segunda-feira retrasada, de 38 graus, um pouco de cansaço e dores musculares”, disse o chefe do Executivo.

A declaração ocorre após o subprocurador do Ministério Público Lucas Rocha Furtado pedir, na última terça-feira (14/7), que o Tribunal de Contas da União (TCU) obrigue o presidente a deixar de “propagandear o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no trato da covid-19″.

Durante o vídeo, Bolsonaro questiona se o fato de estar se sentindo melhor tem a ver com o tratamento. “Coincidencia ou não, sabemos que o tratamento não tem nenhuma comprovação científica mas deu certo comigo.”

Ele relembrou que o medicamento ainda está passando por testes e voltou a falar que tem apoio de alguns médicos para aprovação do medicamento. “Não estou fazendo nenhuma campanha, o custo é baratíssimo. Deve ser até por isso que existem algumas pessoas contra. Outras, pelo que parece, é uma questão ideológica”, explicou.

Segundo teste

Uma semana após o diagnóstico positivo para o coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro testou positivo novamente para a doença. O presidente deve fazer ainda um terceiro exame para verificar se pode retomar suas atividades.

Segundo informações da CNN, Bolsonaro não apresentaria quadro febril há mais de uma semana, não estaria com falta de ar e nem sem paladar. A taxa de saturação de oxigênio seria de 98% e seus exames de sangue e coração teriam sido considerados normais.

Ana Mendonça, estagiária sob supervisão da editora Liliane Corrêa, do Estado de Minas
postado em 16/07/2020 08:17 / atualizado em 16/07/2020 13:36. Reproduzido do Correio Braziliense.

terça-feira, 14 de julho de 2020

A ressurgência dos canalhas

O poder pertence a quem tem a prerrogativa de demitir

Como assim alguém honesto no Brasil?! O que pode ser mais ofensivo que isso? Provas vivas da canalhice dos canalhas perambulando por aí?

Fecho os olhos e vejo-os lá, os nomeados todos assegurados pela nossa insegurança, dos da sinecurazinha do pouco trabalho para todo o sempre dos fundões aos das “dachas” intercontinentais mantidas com os euros excludentes da presunção de inocência de seus donos, remoendo, remoendo, remoendo...

Não! Nada disso! Essa é a desigualdade que mata! É preciso corromper todos os íntegros, expor o lado torto dos retos, a face ruim de cada coisa boa, a sombra de tudo onde bate sol. É preciso destruir todos os heróis, enxovalhar com “narrativas” os que a História consagrou, expulsar os bons exemplos a pontapés, esconder o remédio para as doenças do Brasil.

A privilegiatura sente o País Real fungando-lhe no cangote. Sabe que vai explodir. Sabe que só um dos dois sobreviverá. Está para matar ou morrer. “É proibido reduzir gasto com funcionalismo.” “É proibido vender estatais.” “Soltem os ladrões!” “Prendam a polícia!” “Que cada juiz estabeleça suas próprias prerrogativas e decrete a verdade de cada momento!”

Podem reabrir a discussão que a humanidade encerrou há “trocentos” anos sobre se é ou não possível proibir pensamentos e palavras sem matar a outra metade. Podem enfeitar a marafona velha da corrupção com a lenga-lenga sobre se o gasto público é ou não é o pai do crescimento econômico. Podem reativar a fábrica dos dossiês do asco...

Ande tudo isso nos poderá levar que não tenhamos chegado ainda?

Desde o tempo em que a imprensa era contra a censura e a OAB mandava soltar preso político essa gente já não convencia ninguém. É de força bruta que se trata. Esse Brasil que se levanta para matar o outro antes que cresça é o de sempre. Uma ressurgência da lei da selva. A enésima onda, mais virulenta do que nunca, das pragas da Idade Média por conta de cepas resistentes aos antibióticos do contrato social e da democracia que nós insistimos em nunca tomar na dose completa.

“Nós gastamos com educação mais que 89% dos países do mundo” e continuamos com quase 89% de analfabetos funcionais porque é com prédios superfaturados, merendas e livros didáticos roubados; é com marajás das universidades públicas que ampliam e não com professores de escola básica que encurtam a desigualdade, e não com educação que nós gastamos.

“Nós gastamos com proteção social três vezes mais que o resto dos países emergentes” e continuamos com pobres três vezes mais pobres e três vezes mais desprotegidos que os deles porque não é com os pobres, é com os pais dos pobres que nós gastamos.

É preciso dizer as palavras todas!

Nós não “gastamos muito e mal”, nós somos é os mais roubados do mundo. E somos os mais roubados do mundo porque nossos ladrões são os mais blindados do mundo. Deixemos para quando tivermos política os tratados sobre política. Deixemos para quando tivermos economia os tratados sobre economia. Hoje o que temos é um sistema primitivo de exploração dos mais fracos pelos “mais fortes”, que só são “mais fortes” porque se autoproclamaram como tal.

O povo não é só a única alternativa válida, é também a única alternativa de poder à prova de explosões. A questão é como organizar o jogo para que a emenda não fique pior que o soneto.

Como é de representantes, necessariamente, que se tratará nesta nossa república continental, a legitimidade da representação é a chave de tudo. Não é espontaneamente que ela se estabelece. Enquanto os mandatos pertencerem aos eleitos e não aos eleitores e eles forem indemissíveis a lei será a que eles quiserem que seja, começando pela que os dispensa de segui-la, e a roubalheira será eterna. Não por qualquer especificidade do brasileiro ou da sua história, mas porque o bicho homem, como todos os que a natureza fez, é programado para buscar o seu interesse pelo caminho mais fácil, dadas as circunstâncias.

Há, portanto, que manipular as circunstâncias.

A representação tem de ser isso de fato: uma relação baseada na hierarquia entre duas partes que se reconhecem como dependentes uma exclusivamente da outra. Dois instrumentos – e só eles – proporcionam isso. Voto distrital puro que amarra pelo endereço cada representante aos seus representados, e o poder de retomada do mandato do representante a qualquer momento pelos seus representados e somente pelos seus representados (recall). O outro ponto essencial é o controle da pauta do debate nacional que só se consegue dando ao povo o poder de propor (iniciativa) e recusar (referendo) leis.

É simples assim. Complicado é explicar o inexplicável. No mundo real, aquele em que você trabalha para ter o seu lugar ao sol, o poder pertence a quem tem a prerrogativa de demitir. E quem disser que não entende a lógica dessa afirmativa ou é trouxa ou nunca trabalhou para outro patrão que não fosse o Estado.

Quanto a como conseguir que “eles” aceitem essa lógica e ajam contra seu próprio interesse, tenhamos a humildade de aprender com quem conhece. Basta rugir mais alto e nos autoproclamarmos os mais fortes com mais força do que “eles”.

Fernão Lara Mesquita, o autor deste artigo, é Jornalista. Escreve em  www.vespeiro.com -  Publicado originalmente em O Estado de São Paulo, edição de 14 de julho de 2020. 

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Brasil tem média de 1.036 mortes por dia por coronavírus na última semana; 9 estados mais DF têm alta de mortes

País tem 72.151 mortes por coronavírus e 1.866.176 infectados.

O consórcio de veículos de imprensa divulgou novo levantamento da situação da epidemia de coronavírus no Brasil a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde, consolidados às 20h deste domingo (12).

O país registrou 659 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas, chegando ao total de 72.151 óbitos. Com isso, a média móvel de novas mortes no Brasil na última semana foi de 1.036 por dia, uma variação de 4% em relação aos óbitos registrados em 14 dias. Em casos confirmados foram 25.364 registrados no último dia, com o total de 1.866.176 de brasileiros infectados pelo novo coronavírus.

No total, 9 estados mais o Distrito Federal apresentaram alta de mortes: PR, RS, SC, MG, DF, GO, MS, MT, TO e PB.

Em relação a sábado (11), Roraima deixou a lista --na ocasião, eram 10 estados mais o Distrito Federal.

Veja a seguir:

Brasil, em 12 de julho

Total de mortes: 72.151
Mortes em 24 horas: 659
Média de novas mortes nos últimos 7 dias: 1.036 por dia (variação em 14 dias: +4%)
Total de casos confirmados: 1.866.176
Casos confirmados em 24 horas: 25.364
Média de novos casos nos últimos 7 dias: 37.370 por dia (variação em 14 dias: +1%)
(Antes do balanço das 20h, o consórcio divulgou dois boletins parciais, às 8h, com 71.515 mortes e 1.842.127 casos, e às 13h, com 71.584 mortes e 1.846.249 casos confirmados.)

Estados e DF

Veja como o número de novas mortes tem variado nas últimas duas semanas, considerando os dados até o consolidado de 12 de julho :

Subindo: PR, RS, SC, MG, DF, GO, MS, MT, TO e PB
Em estabilidade: ES, SP, AM, RO, RR, AL, BA, CE, MA, PE, PI e SE
Em queda: RJ, AC, AP, PA e RN

Essa comparação leva em conta a média de mortes nos últimos 7 dias até a publicação deste balanço em relação à média registrada duas semanas atrás (entenda os critérios usados pelo G1 para analisar as tendências da epidemia).

Evolução dos casos de coronavírus 

Sul

PR: +76%
RS: +90%
SC: +53%
Sudeste

ES: -11%
MG: +63%
RJ: -18%
SP: 0%
Centro-Oeste

DF: +85%
GO: +61%
MS: +57%
MT: +31%
Norte

AC: -38%
AM: -9%
AP: -22%
PA: -24%
RO: +9%
RR: -7%
TO: +106%
Nordeste

AL: -1%
BA: +5%
CE: -7%
MA: -3%
PB: +26%
PE: -15%
PI: +3%
RN: -31%
SE: +15%

Consórcio de veículos de imprensa

Os dados sobre casos e mortes de coronavírus no Brasil foram obtidos após uma parceria inédita entre G1, O Globo, Extra, O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e UOL, que passaram a trabalhar, desde o dia 8 de junho, de forma colaborativa para reunir as informações necessárias nos 26 estados e no Distrito Federal.

Publicado originalmente por G1 / O Globo

Crise da Covid-19 pode ficar 'pior e pior e pior' se países não aderirem às precauções básicas, alerta OMS

Diretor da organização internacional de saúde disse que entre os 230 mil novos casos registrados no domingo, 80% eram de 10 países e 50% de Brasil e EUA. Afirmou, ainda, que não recebeu uma notificação formal da saída dos EUA anunciada por Trump.

A pandemia da Covid-19, doença do novo coronavírus, pode ficar cada vez pior se os países não aderirem às precauções básicas de saúde, alertou a Organização Mundial da Saúde (OMS) nesta segunda-feira (13).

"Deixe-me ser franco, muitos países estão indo na direção errada, o vírus continua sendo o inimigo público número um", disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em Genebra.
"Se o básico não for seguido, o único caminho dessa pandemia será ficar cada vez pior e pior e pior."
Pandemia pode piorar se medidas básicas de saúde não forem cumpridas
Pandemia pode piorar se medidas básicas de saúde não forem cumpridas

As infecções superaram a marca de 13 milhões em todo o mundo nesta segunda-feira, acrescentando mais de um milhão de casos em apenas cinco dias. A pandemia já matou mais de meio milhão de pessoas.

Tedros, cuja liderança tem sido fortemente criticada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse que entre os 230 mil novos casos notificados no domingo, 80% eram de 10 países e 50% de apenas dois países, Estados Unidos e Brasil, que são os mais afetados.

"Não haverá retorno ao antigo normal no futuro próximo. Há muito com o que se preocupar", acrescentou Tedros, em um de seus comentários mais fortes nas últimas semanas.

Tedros disse que a OMS ainda não recebeu uma notificação formal da saída dos EUA anunciada por Trump. O presidente norte-americano diz que a OMS se alinhou à China, onde a Covid-19 foi detectada pela primeira vez, no início da crise.

Trump, no entanto, que usou uma máscara protetora em público pela primeira vez no fim de semana, foi acusado por adversários políticos de não levar o coronavírus a sério. O presidente americano nega.

Na semana passada, uma equipe da OMS foi à China para investigar as origens do novo coronavírus, descoberto pela primeira vez na cidade de Wuhan. Os membros da equipe ficaram em quarentena, de acordo com o procedimento padrão, antes de começarem a trabalhar com cientistas chineses, segundo informações de Mike Ryan, chefe do programa de emergências da OMS.

Fonte: Reuters
Publicado originalmente no Brasil por G1 / O Globo
13/07/2020 14h42  Atualizado há uma hora

Até 132 milhões podem passar fome em 2020 por causa da pandemia, dizem agências da ONU

Crise do novo coronavírus dificultará meta da ONU em erradicar a fome no mundo até 2030.


Manifestante com roupa com a inscrição "fome" protesta no bairro de Puente Alto, em Santiago do Chile — Foto: Ivan Alvarado/Reuters

O mundo poderá ter mais 132 milhões de pessoas passando fome em 2020 por causa da pandemia do novo coronavírus, informou relatório sobre alimentação assinado por agências da Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira (13).

No relatório, os órgãos reconhecem que a crise da Covid-19 "está intensificando as vulnerabilidades e inadequações do sistema de alimentação global". Segundo a ONU, esse sistema se representa por todas as atividades e processos de produção, distribuição e consumo de alimentos.

"Ainda que seja cedo para avaliar o impacto completo dos lockdowns e outras medidas de contenção, o relatório estima que ao menos outras 83 milhões de pessoas, e possivelmente até 132 milhões, podem passar fome em 2020 por causa da recessão causada pela Covid-19", diz.
Em 2019, diz o relatório, havia 690 milhões de pessoas passando fome — 10 milhões a mais do que no estudo feito no ano anterior. Portanto, com a pandemia, o total nessas condições poderia passar de 800 milhões — ou seja, cerca de 10% da população mundial.

Preocupação com o futuro

Uma menina desnutrida é vista no colo de seu pai em uma favela em Hodeidah, no Iêmen, em foto de 2019 — Foto: Abduljabbar Zeyad/Reuters
Uma menina desnutrida é vista no colo de seu pai em uma favela em Hodeidah, no Iêmen, em foto de 2019 — Foto: Abduljabbar Zeyad/Reuters

Segundo a ONU, a fome vem voltando a aumentar no mundo desde 2014, ainda que vagarosamente. O dado preocupa porque a tendência reverte décadas de diminuição no número de pessoas famintas. As regiões mais preocupantes são as seguintes:

Ásia: 381 milhões de pessoas passam fome
África: 250 milhões
América Latina e Caribe: 48 milhões

O aumento da fome no mundo serve de alerta para a ONU porque, com as pioras nos indicadores, dificilmente os países cumprirão a meta de erradicar a fome a partir de 2030.

Além da pandemia, outras crises que o mundo já enfrentavam antes mesmo dos primeiros casos de Covid-19 contribuem para os dados ruins: guerras como a do Iêmen — uma das crises humanitárias mais graves deste século — pioram o cenário da fome no planeta.

Publicado originalmente por G1 / O Globo
13/07/2020 16h29  Atualizado há uma hora

Porandubas Políticas

Por Gaudêncio Torquato

Abro com historinhas do Pará.

E as crianças?

O Pará já teve políticos muito engraçados. Um deles, João Botelho, foi interventor, deputado e constituinte. Certo dia encontra um cabo eleitoral:

– Como vai? E a senhora sua esposa? E as crianças?

– Tudo bem, deputado. Minha mulher está ótima. Mas, por enquanto, é só um menino, certo?

– E eu não sei que é um filho só? Mas é um menino que vale por muitos. Então, como vão os meninos?

Por unânimidade

Outra figura folclórica do Pará foi Magalhães Barata, revolucionário em 1924 e 1930, interventor, constituinte em 46, senador e governador. Tinha ele um candidato a prefeito de Santarém. Mas o diretório local do PSD queria outro. Ia perder. Foi lá, conversou, pediu votos. Não teve jeito. Perdeu a eleição no diretório: 15 a 5. Pegou o microfone:

– Meus senhores, pela primeira vez a minoria vai ganhar. Está escolhido o candidato que perdeu.

A plateia bateu palmas. O velho Barata encerrou os trabalhos:

– E, pela primeira vez, a minoria ganhou por unanimidade.

Bolsonaro com Covid-19

Pois é, depois de tanta polêmica o vírus chega ao presidente, que deverá anunciar, depois de alguns dias, que foi curado pela cloroquina. A pandemia agora chegou ao gabinete presidencial. Vem mais polêmica pela frente. É o Brasil.

Aberturas e risco

A pressão política e a situação de aperto que aflige setores produtivos com a virulência da pandemia do Covid-19 têm empurrado governadores e prefeitos de praticamente todas as regiões do país a aliviar o distanciamento social e autorizar a abertura de diversos setores, como a de bares, restaurantes e academias. Mas a realidade tem sido cruel para a sociedade. Repiques e aumento nos volumes de contaminados e mortos ocorrem em diversas praças. As aglomerações se multiplicam, quebrando as taxas razoáveis de isolamento social. O Brasil está na linha de frente das maiores ocorrências. E um clima de festa toma conta das ruas, principalmente à noite.

Porém....

Mas há um contraponto em São Paulo. Vejam.

"As mortes por Covid-19 atingiram o pico entre 2 e 4 de junho e, desde a segunda quinzena do mês passado, estão em queda na cidade de São Paulo", revela um novo estudo do epidemiologista Paulo Lotufo, da Faculdade de Medicina da USP, com base em dados recolhidos pelo Programa de Aprimoramento de Informações da Mortalidade (PRO-AIM), da Secretaria Municipal da Saúde paulistana. A análise é corroborada por um mapeamento ainda não publicado do Imperial College londrino. "A retomada das atividades sociais e econômicas em São Paulo está acontecendo de modo planejado, prudente e responsável, com protocolos de saúde e faseamento baseado em dados e critérios científicos".

Trump e o Corcovado

Até agora não entendi bem o propósito de Donald Trump, em campanha nos EUA, em anunciar que "vai defender isto". Ao lado, uma foto do Cristo no Corcovado, designado por isto, que estaria ameaçado pela extrema esquerda. Desvario. Loucura. Ou desespero.

Livro devastador

Mary Trump, psicóloga, sobrinha de Donald Trump, está lançando um livro devastador nos EUA: "Too Much and Never Enough: How My Family Created the World's Most Dangerous Man" (Demais e Nunca o Suficiente: Como Minha Família Criou o Homem Mais Perigoso do Mundo). Filha de Fred, o irmão mais velho do presidente, diz que o livro é a descrição de um "pesadelo de traumas, relacionamentos destrutivos e uma trágica combinação de negligência e abuso".

A imagem do Brasil

A imagem do Brasil na textura internacional está no fundo do poço. O mal que a visão do presidente Bolsonaro defende sobre o combate à epidemia vai ficar gravada por décadas. Na ONU, as manifestações contra a maneira com que o país está tratando do Covid-19 são intensas. O prejuízo abalará nossa identidade.

Eleições municipais

O adiamento das eleições municipais para 15 e 29 de novembro será benéfico para os candidatos novos, que terão um tempinho maior para expor suas ideias ao eleitorado. Os atuais prefeitos e vereadores já contam com o conhecimento do eleitor, apesar da inexorável inclinação do cidadão de passar uma vassoura nos velhos padrões. Quem mais poderá se beneficiar do momento e das circunstâncias de uma eleição "contaminada" pelo danado do novo coronavírus?

Tendências

Um apontamento sobre tendências haverá de considerar o que este analista batiza de Produto Nacional Bruto da Felicidade, que abriga vetores da saúde, educação, alimentação, mobilidade urbana, dinheiro no bolso, satisfação social. Abaixo de 5, a desgraceira será geral, com alto índice de renovação nos perfis dos alcaides. Acima de 5, teremos uma mescla de gente nova, prefeitos reeleitos e até velhos nomes de volta ao palco. Alguns perfis podem ser beneficiados. As mulheres, por exemplo, ganharam evidência na conjuntura de crise. Falantes e valentes na crítica aos precários serviços públicos apareceram com grande visibilidade. Avoca-se, ainda, condição feminina nas atividades do cotidiano. É a mulher que se apresenta falando na educação dos filhos, no trabalho que se torna mais difícil, na azáfama que ela tenta organizar para diminuir as intempéries enfrentadas pela família. Serão reconhecidas como tal, merecendo o voto de fortes parcelas eleitorais.

O perfil dos movimentos

Um fenômeno que se expande no país, ao sabor dos movimentos que se multiplicam no contexto das Nações, é o da organicidade social. Observo esta tendência, já consolidada na Europa e nos EUA e atravessando novas fronteiras nos países orientais – vejam Hong-Kong –, e que se desenvolve no Brasil de maneira mais consistente desde a Constituição de 1988. A chamada Constituição Cidadã abriu um imenso leque de direitos individuais e sociais que, nos últimos anos, se tornaram movimentos organizados, com personalidade jurídica, capazes de fazer mobilizações de rua. Os políticos estão desacreditados. A descrença na política abriu imenso vácuo entre a sociedade e o universo político. E quem ocupou este vácuo? Exatamente as entidades organizadas, que fundaram novos polos de poder.

Frentes parlamentares

A intermediação social entrou forte nas frentes de pressão. Os corredores do Congresso tornaram-se passarela para o desfile de associações, sindicatos, federações, núcleos, grupos, movimentos de todos os tipos. Pois bem, o voto em novembro terá essa forte alavanca organizativa. Outro vetor de peso eleitoral é o das frentes parlamentares, formadas por bancadas de defesa de círculos de negócios. Os deputados tentarão aumentar suas bases, elegendo vereadores e prefeitos de bancadas organizadas, como a religiosa, do agronegócio, dos servidores públicos, dos militares, do setor de serviços, dos profissionais liberais etc.

Voto distrital

Essas bancadas tendem a se consolidar na moldura organizativa do país, seguindo uma tendência mundial, muito característica dos EUA, onde o voto vai geralmente para o representante dos interesses locais e das regiões. Nesse sentido, podemos deduzir que o voto distrital tende a se fortalecer na paisagem social, onde as classes sociais se subdividem em núcleos específicos. Os deputados querem aumentar suas bases. Candidatos a vereador, com intensa presença em determinados bairros, serão aquinhoados.

Voto racional

A par dessas projeções, podemos divisar uma composição ditada pelo modo como categorias enxergam a política. Os profissionais liberais, por exemplo, tendem a depositar na urna um voto mais racional que emocional. A escolha no Brasil está deixando o coração para subir à cabeça. Significa que estamos subindo degraus na escada da racionalidade. Esse tipo de voto se concentra nas grandes e médias cidades, mais abertas aos meios de comunicação e às críticas aos governantes. No contraponto, enxergamos traços do passado em rincões que pararam no tempo. Aí estarão em disputa nacos de administrações falidas.

"Eu salvo a República"

Anotação de Lauro Jardim em O Globo: "Paulo Guedes continua insistindo: a recuperação da economia brasileira será em V, ou seja, vai cair no fundo do poço e depois, com a mesma velocidade, vai empinar. Repete isso seja diante das câmeras de TV, seja em conversas reservadas com empresários ou jornalistas. Discorda, por exemplo, da avaliação do diretor de Política Monetária do BC, Fabio Kanczuk, para quem a recuperação se dará não em 'V', mas no formato do swoosh, o símbolo da Nike". Guedes, no entanto, segue confiante. Anteontem, disse a um interlocutor:

– Eu salvo a República de duas a três vezes por semana.

O vaivém de ministros

A dificuldade do presidente em encontrar o ministro da Educação deriva das querelas que movem a administração Federal: a ala ideológica, "olavista", quer um perfil alinhado à extrema direita; os evangélicos defendem um perfil de sua ligação; os generais do entorno presidencial – atordoados com a brigalhada sem fim entre os grupos – querem um nome técnico; os políticos gostariam que o ministro saísse da esfera parlamentar. O secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, tinha a intenção de topar o desafio. Quando viu o bombardeio sobre ele, "escafedeu-se". O nome – seja qual for – vai enfrentar um corredor polonês, tapas e socos por todos os lados.

Guru ao relento?

Olavo de Carvalho, o guru do bolsonarismo, enfrenta problemas na Justiça. Tem perdido causas. E mostra-se raivoso ao se sentir ao relento. Colaborou para a vitória de Bolsonaro, juntando núcleos de extrema direita. Processos continuam na Justiça, a partir do mais volumoso, aberto por Caetano Veloso. Sentindo-se abandonado, deve disparar artefatos verbais. A não ser que os amigos façam uma "vaquinha".

Atenção, prefeitada

O ciclo de vida da administração – A maximização de um programa de marketing para prefeitos implica compreender o ciclo de vida da gestão. Como no ciclo de vida de um produto, podemos distinguir seis fases:

1. O lançamento – Os primeiros seis meses são dedicados ao diagnóstico e ao ajustamento da administração. O marketing deverá procurar trabalhar com o campo das dificuldades.

2. O ajuste da identidade – Na segunda metade do primeiro ano começam a aparecer os primeiros sinais de visibilidade e os primeiros programas de ação. Trata-se da fase propícia para ajustar a identidade.

3. Fase de crescimento – No segundo ano, as administrações começam a operar, de modo mais firme, seus programas, com destaque para as prioridades. O conceito da administração deve emergir de modo forte.

4. A fase da consolidação e maturidade – O terceiro ano é o ciclo das realizações, quando se procura consolidar os programas. A administração está madura, a equipe ganha experiência e a identidade da administração ganha destaque no sistema cognitivo do eleitor.

5. Clímax/auge – O último ano é, geralmente, o ciclo mais político, com a administração voltada para programas de inaugurações e demandas políticas. Se até o presente a administração não ganhou um conceito, perdeu a chance. Passará em branco.

6. Declínio – O governante entra no despenhadeiro e joga sua imagem nas profundezas. Quando isso ocorre ao final da gestão, é pouco provável que se reeleja ou faça o sucessor. A exceção é quando o candidato consegue descolar sua imagem da imagem do patrocinador.

Gaudêncio Torquato, Professor Titular na USP, é cientista político e consultor de marketing político.
----------------------------------------------------------------------------------------

Livro Porandubas Políticas

A partir das colunas recheadas de humor para uma obra consagrada com a experiência do jornalista Gaudêncio Torquato.

Em forma editorial, o livro "Porandubas Políticas" apresenta saborosas narrativas folclóricas do mundo político acrescidas de valiosas dicas de marketing eleitoral.

Cada exemplar da obra custa apenas R$ 60,00. Adquira o seu, clique aqui. - https://www.livrariamigalhas.com.br/



Cloroquina é inútil contra o desgoverno

Desprezando o direito à vida, Bolsonaro busca reeleição sem nunca ter governado
 
Não tentem curar despreparo, ignorância, incompetência ou irresponsabilidade com cloroquina. Não vai dar certo, como já foi comprovado no Brasil e nos Estados Unidos. Consumidor, defensor e propagandista desse medicamento, o presidente Jair Bolsonaro já testou positivo para o novo coronavírus, mas continuou testando negativo para as funções de governo. No meio de uma pandemia, o Brasil completou na última sexta-feira quase dois meses sem titular no Ministério da Saúde. No mesmo dia, um novo ministro da Educação, o quarto em pouco mais de um ano meio, poderia ser anunciado. Na véspera, numa de suas lives, o presidente havia tentado mostrar otimismo. “A economia vai pegar”, disse ele, atribuindo a profecia ao ministro da Economia. “Se a economia não pegar, fica complicado. Mas acredito no Paulo Guedes”, acrescentou. Acredita mesmo?

Confiando no ministro, mas nem tanto, na mesma live o presidente voltou a cobrar a reabertura mais pronta das atividades. “Há sinais de retomada na economia, mas precisamos de governadores e prefeitos que comecem a abrir o comércio, caso contrário as consequências vão ser danosas para todo mundo no Brasil”, disse Bolsonaro. A insistência contrasta com seu desinteresse, exibido até recentemente, pelos assuntos econômicos. Como explicar a mudança? Uma súbita iluminação?

Bolsonaro completou seu primeiro ano de mandato com a economia em pior estado do que em 2018. O produto interno bruto (PIB) cresceu apenas 1,1% em 2019, menos que em qualquer dos dois anos precedentes.

No começo deste ano o desemprego, superior a 11%, era pouco menor que o de um ano antes e mais que o dobro da média (5,2%) da OCDE, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. A indústria, depois de alguma retomada em 2017 e 2018, emperrou de novo. Entre novembro de 2019 e março de 2020, a produção industrial de cada mês foi sempre menor que a de um ano antes.

O presidente nunca se mostrou preocupado com esses números – até a pandemia bater no Brasil e começar a discussão sobre como enfrentar os novos problemas. A gravidade da crise sanitária foi reconhecida com algum atraso pelo Executivo federal, mas em seguida houve ações importantes. A política de saúde foi reforçada com mais dinheiro. Além disso, medidas emergenciais foram anunciadas para ajudar empresas pequenas e médias, defender o emprego e socorrer famílias mais vulneráveis. O governo cuidou de realçar os próprios feitos, como se resultassem de iniciativas excepcionais. O autoelogio, porém, foi um tanto exagerado.

As ações anticrise foram positivas, sem dúvida, mas muito parecidas, em aspectos essenciais, com as implantadas em dezenas de países. Dados da OCDE divulgados mostram amplo recurso a medidas fiscais e monetárias de apoio à atividade econômica, ao emprego e às populações mais necessitadas. Com algumas variações, políticas desse tipo foram lançadas em países tão diferentes quanto Noruega, Alemanha, Tanzânia, Costa Rica, Estados Unidos, Indonésia, Argentina, França, Japão, Vietnã, Coreia do Sul, Uganda, República Dominicana, Colômbia, Peru, Paraguai, Malásia, Austrália, Tunísia, México, Índia, Israel e Nova Zelândia.

Com ou sem Bolsonaro teria prevalecido orientação semelhante. Isso em nada reduz o mérito das políticas. Simplesmente as situa numa perspectiva realista. Mas, ainda assim, suas ações têm algumas características particulares.

Em primeiro lugar, é evidente o destaque dado por Bolsonaro a seus objetivos eleitorais. O Brasil teve, nos últimos meses, um presidente em guerra contra os governadores João Doria, de São Paulo, e Wilson Witzel, do Rio de Janeiro, tratados como prováveis adversários na eleição presidencial de 2022. A preocupação política explica também, de modo muito claro, o empenho de Bolsonaro em apressar a reabertura do maior número possível de atividades.

Em segundo lugar, é notória a prevalência dos objetivos políticos sobre as preocupações com a segurança dos cidadãos. Mesmo depois do teste positivo, Bolsonaro continuou minimizando o perigo do coronavírus e, mais que isso, menosprezando o direito à vida. Ele age como se alguns milhares de mortos a mais fossem um preço razoável para apressar a retomada econômica e facilitar sua reeleição. Não se distingue, quanto a isso, de seu líder Donald Trump. Em Tulsa, Oklahoma, mais de 200 casos diários de covid-19 foram registrados duas semanas depois do famigerado comício do presidente americano. Eram menos de 100 por dia antes do evento, segundo o governo local.

Qualquer presidente, dirão boas almas, tem o direito de cuidar de seus objetivos políticos, incluída a reeleição. É verdade. Mas no começo do segundo ano de mandato? E sem ter governado? Desde janeiro de 2019 Bolsonaro cuidou de assuntos como posse de armas, atrapalhou a discussão dos grandes temas, como a reforma da Previdência, deu prioridade a interesses pessoais e familiares. Além disso, tem prestigiado manifestações golpistas. Não se pode, enfim, acusá-lo de ter governado mal. De governo ele jamais cuidou.

Rolf Kuntz, o autor deste artigo é Jornalista. Publicado originalmente em O Estado de S.Paulo, edição de 12 de julho de 2020.