sexta-feira, 27 de março de 2020

Coronavírus: As últimas notícias sobre a pandemia

Mortes em 24 horas na Itália chegam a 919. Primeiro Ministro da Inglaterra, Boris Johnson, é diagnosticado com coronavírus. Chanceler federal alemã, Angela Merkel, contaminada pelo coronavírus, afirma que não vai afrouxar medidas restritivas contra o avanço do vírus.

Mundo tem mais de 593 mil casos confirmados, e mais de 27 mil mortes e 130 mil pacientes recuperados
Brasil tem 3.417 casos e 92 mortes, segundo Ministério da Saúde

21:21 - EUA já contam mais de 100 mil casos confirmados de coronavírus

 Os casos confirmados de infecção pelo coronavírus nos Estados Unidos chegaram a 101.657 nesta sexta-feira, segundo Universidade Johns Hopkins. É o maior número registrado entre todos os países do mundo. Além disso, o país já registrou 1.581 mortes. Só nas últimas 24 horas o país registrou mais 17 mil casos de contaminação.

O estado de Nova York lidera a contagem entre as 50 unidades federativas, com 44.876 casos e 519 mortes. População do estado é de 19,5 milhões. A cidade de Nova York registrou 366 mortes.

A Itália vem na sequência, com 86.498 casos, e a China ocupa a terceira posição, com 81.897 infecções confirmadas.

21:09 - Alemanha cruza marca dos 50 mil casos

Dados da Universidade Johns Hopkins apontam que a Alemanha registrou 50.871 casos de contaminação por coronavírus. O país ocupa a quinta posição no ranking de maior número de exames com resultado positivo. Ainda segundo os dados, 342 pessoas morreram na Alemanha até agora, e 6.658 se recuperaram.

20:55 - Papa conduz oração em Praça de São Pedro esvaziada e diante de crucifixo da época da peste negra

O papa Francisco realizou nesta sexta-feira uma histórica benção 'Urbi et Orbi' (À cidade e ao mundo), em uma Praça de São Pedro completamente vazia, como medida de prevenção diante da propagação do novo coronavírus, que já matou mais de 9 mil pessoas na Itália e mais de 27 mil no planeta.

Em meio ao silêncio e protegido por uma tenda da chuva incessante, o líder da Igreja Católica falou para fiéis que puderam assistir ao vivo através do site do Vaticano e outros meios. Para completar o cenário, o Vaticano levou para o local uma peça conhecida como crucifixo milagroso, que, segundo a tradição, salvou Roma da peste negra em 1522.

Vatican News

@vaticannews_it
#27marzo #PreghiamoInsieme #PapaFrancesco ha presieduto uno storico momento di preghiera sul sagrato della Basilica di San Pietro con la piazza vuota, ma seguito dai cattolici di tutto il mondo ▼ http://www.vaticannews.va/it/papa/news/2020-03/preghiera-papa-francesco-coronavirus-adorazione-indulgenza.html …

Il Papa prega per la fine della pandemia: Signore, non lasciarci in balia della tempesta - Vatican...
Francesco ha presieduto uno storico momento di preghiera sul sagrato della Basilica di San Pietro con la piazza vuota, ma seguito dai cattolici di ...vaticannews.va
277
3:11 PM - Mar 27, 2020
Twitter Ads info and privacy
98 people are talking about this

"Há semanas, parece que a tarde caiu. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades, apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo de um silêncio ensurdecedor e de um vazio desolador. Nos vimos amedrontados e perdidos", disse o pontífice.

A benção 'Urbi et Orbi' é feita, habitualmente, em três ocasiões, no Natal, na Páscoa e quando um novo papa é eleito. Mas, também acontece em momentos pontuais da história, como quando o Pio XII celebrou o 25º aniversário das aparições de Fátima, em 1942.

A oração de hoje tem uma característica particular, que é a do perdão oferecido a todos os católicos, assim como o próprio Francisco estabeleceu recentemente no decreto da Penitência Apostólica.

A cerimônia começou às 18h local (14h de Brasília), quando o papa se dirigiu em silêncio à praça, subiu as escadas e chegou ao sacrário montado para que oferecesse a homilia. Depois disso, o líder religioso se dirigiu até a Virgem Salus Populi Romani, nos portões do Vaticano.

As imagens de Francisco em uma Praça de São Pedro totalmente vazia, contrastando com a habitual multidão que o aguarda para uma celebração ou apenas um simples aceno vêm rodando o mundo, através da imprensa e das redes sociais.

20:45 – Governo vai barrar entrada por avião de estrangeiros por 30 dias

Medida atinge todas as nacionalidades. Portaria prevê exceções para residentes permanentes e cônjuges estrangeiros de brasileiros que chegarem pelos aeroportos.

O governo brasileiro proibiu nesta sexta-feira a entrada, por via área, de estrangeiros de qualquer nacionalidade para tentar barrar o avanço da pandemia de coronavírus.

A medida passa a valer na segunda-feira (30/03) e tem validade de 30 dias.

Ministério da Justiça e Segurança Pública

@JusticaGovBR
Nesta sexta-feira (27), restringindo, por 30 dias, a entrada de estrangeiros de todas as nacionalidades no Brasil. Não haverá nenhuma restrição ao transporte de cargas. https://bit.ly/3dDOJRc

A restrição prevê exceções para: estrangeiro cônjuge, filho, pai ou curador de brasileiro; imigrante com residência de caráter definitivo; profissional estrangeiro em missão a serviço de organismo internacional; funcionário estrangeiro acreditado junto ao governo brasileiro; estrangeiros cujo ingresso seja autorizado pelo governo brasileiro em vista do interesse público ou portador de Registro Nacional Migratório. Não haverá nenhuma restrição ao transporte de cargas.

A medida complementa outras ações já tomadas pelo governo. Na quinta-feira, o Brasil já havia imposto a mesma restrição aos portos. Na semana passada, fronteiras terrestres com oito países mais o departamento da Guiana Francesa. O Uruguai foi posteriormente incluído na medida.

20:00 - Trump sanciona pacote trilionário  

O pacote de 2,2 trilhões de dólares em incentivos à economia aprovado pelo Congresso americano para  aliviar os impactos do surto de coronavírus na economia norte-americana foi sancionado hoje pelo presidente, Donald Trump.

Aprovado pelo Congresso em um raro episódio de unidade bipartidária, o pacote de ajuda é o maior da história dos EUA. O valor representa um montante maior do que o Produto Interno Bruto do Brasil.

Ao assinar o documento, Trump afirmou: "Isto vai disponibilizar ajuda urgente".

No início da sexta-feira, a Câmara dos Representantes aprovou quase por unanimidade o pacote de medidas, com dezenas de deputados votando a partir de casa. O Senado tinha aprovado a proposta por unanimidade ao final de quarta-feira.

19:47 - Justiça barra decretos de Bolsonaro que liberavam abertura de igrejas e lotéricas

A Justiça Federal do Rio de Janeiro suspendeu nesta sexta-feira trechos de dois decretos editados pelo presidente Jair Bolsonaro que classificavam igrejas e casas lotéricas como "atividades essenciais". Os decretos de Bolsonaro permitiam a abertura desses estabelecimentos mesmo com proibições impostas por estados e municípios, batendo de frente contra iniciativas de isolamento adotadas por prefeitos e governadores.

A decisão, da 1ª Vara Federal de Duque de Caxias, atende pedido feito pelo MPF (Ministério Público Federal) e tem efeito imediato. "O acesso a igrejas, templos religiosos e lotéricas estimula a aglomeração e circulação de pessoas", escreveu o juiz federal substituto Márcio Santoro Rocha.

Na decisão, o juiz também determina que a União "se abstenha de editar novos decretos que tratem de atividades e serviços essenciais sem observar a Lei 7.783/1989 e as recomendações técnicas e científicas dispostas no art. 3º, § 1º da Lei 13.979/2020 sob pena de multa de R$ 100 mil".

Bolsonaro vem defendendo o abandono de medidas de isolamento social impostas por governos estaduais e municipais para conter a pandemia. Contrariando recomendações da Organização Mundial da Saúde e indo na contramão de dezenas de outros países, o presidente propõeuma forma de isolamento parcial, que incluiria apenas idosos e pessoas com doenças crônicas, o que, segundo ele, permitiria a volta de outros grupos ao trabalho. No entanto, esse tipo de estratégia já foi abandonada por países que chegaram a testá-la, como o Reino Unido.

A manutenção da abertura de igrejas vinha sendo defendida por pastores aliados do presidente que controlam megatemplos, como Silas Malafaia e Edir Macedo.

Já o tema das lotéricas chegou a ser abordado por Bolsonaro em sua tradicional live de quinta-feira. Na ocasião, ele disse que não havia risco de transmissão do coronavírus nesses locais porque as lotéricas "têm vídeo blindado", ignorando potenciais aglomerações de clientes. "Pelo amor de Deus, fechar casa lotérica… Inclusive, o cara que trabalha na lotérica tem um vidro blindado. Não vai passar o vírus ali. O vidro é blindado, não vai passar, ele trabalha no lado de cá”, disse o presidente.

18:47 – "Alguns vão morrer, lamento, é a vida”, diz Bolsonaro.

O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender nesta sexta-feira o fim das medidas de isolamento social impostas por vários governos estaduais para conter o avanço do coronavírus. Ele defendeu que a população volte ao trabalho e disse que “infelizmente” alguns “vão morrer”.

"Alguns vão morrer, vão morrer, lamento, é a vida. Não pode parar uma fábrica de automóveis porque tem mortes no trânsito", disse Bolsonaro em entrevista à TV Bandeirantes. “O Brasil tem que voltar à normalidade imediatamente”.

Bolsonaro vem defendendo uma abordagem mais limitada para conter o coronavírus, o “isolamento vertical” ou “parcial”, que só incluiria grupos de risco, como idosos e pessoas com doenças crônicas, o que, na sua opinião, permitiria que outros grupos voltem ao trabalho sem restrições.

No entanto, esse plano já foi abandonado por países como o Reino Unido e vai na contramão das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e de quase toda a estratégia global para conter a doença. Várias das recomendações de Bolsonaro também vêm entrando em choque com o próprio Ministério da Saúde.

Bolsonaro também voltou a atacar os governadores que vem adotando a estratégia de outros países e chamou a doença mais uma vez de “gripezinha”. Ele também voltou a chamar a pandemia, que já deixou 24 mil mortos pelo mundo, de “alarmismo”.

"O maior remédio para a doença é o trabalho. Quem pode trabalhar, tem que voltar a trabalhar. Não pode se esconder, ficar de quarentena não sei quantos dias em casa e está tudo bem. Não é assim", disse. “Tá faltando bom senso por parte de algumas autoridades do Executivo estaduais e municipais. O Brasil não pode quebrar por causa de um vírus. Tentam quebrar o Brasil com esse alarmismo", 

Bolsonaro ainda pôs em dúvida, sem apresentar qualquer prova, o número de casos do novo coronavírus no estado de São Paulo. Dados do governo paulista indicam que o estado tem 1.223 casos confirmados da doença e 68 mortes. “Não tô acreditando nesses números de São Paulo”, disse. "Para nós, aqui no Brasil, pode ser que não seja tudo isso que aconteceu em alguns países"

Nos últimos dias, Bolsonaro vem protagonizando um embate com o governo de São Paulo, Joao Doria, sobre a estratégia de lidar com o coronavírus, criticando furiosamente a abordagem mais ampla do mandatário paulista.

Também sem apresentar provas ou qualquer estudo, o presidente disse que a maioria das mortes na Itália, um dos países mais atingidos pelo coronavírus no mundo, “não tiveram nada a ver com o vírus”. Nesta sexta-feira, a Itália contabilizava mais de 9 mil mortes causadas pela covid-19.

16:57 – Brasil registra mais 15 mortes por coronavírus.

Segundo boletim divulgado pelo Ministério da Saúde nesta sexta-feira, total de mortes por coronavírus no país chega a 92. Casos confirmados de contaminação alcançam marca de 3.417 – um aumento de 17% em relação ao dia anterior. Este é o boletim com o maior número de novos casos em um período de 24 horas dia: 502.

São Paulo concentra 1.223 casos da doença, e o Rio de Janeiro, 493. Na sequência aparecem o Ceará (282), o Distrito Federal (230), Rio Grande do Sul (195) e Minas Gerais (189).

14:40 – Após premiê, ministro da Saúde britânico também anuncia estar com coronavírus

O ministro da Saúde do Reino Unido, Matt Hancock, anunciou nesta sexta-feira, que está com o novo coronavírus, assim como o primeiro-ministro do país, Boris Johnson. O integrante do governo divulgou a informação cerca de uma hora depois que o premiê revelou que havia sido submetido a teste, que confirmou a infecção nele.

Hancock garantiu que está seguindo todas as orientações médicas e está em estado de isolamento para impedir que outras pessoas também sejam contaminadas pelo novo coronavírus. O ministro revelou que apresenta sintomas "muito leves" e que, enquanto estiver em quarentena, pretende seguir trabalhando para "ajudar o Reino Unido a responder à pandemia".

14:00 – Número diário de mortes bate novo recorde na Itália

Depois de alguns dias de redução, o número de mortos em 24 horas na Itália em decorrência do coronavírus chegou a 969, o pior registro diário no país e no mundo desde o início da pandemia.

A taxa de infecções, no entanto, continuou em queda. De acordo com a Agência de Proteção Civil italiana, 4.401 novos casos foram registrados nas últimas 24 horas no país, um aumento de 6,6% em relação ao dia anterior. Ontem o acréscimo foi de cerca de 8%.

Com os novos dados, os casos da covid-19 no país europeu chegaram a 86.498, passando o registrado na China, e o de mortes a 9.134.

13:40 – Espanha proibirá demissão de trabalhadores durante crise

O governo da Espanha proibirá as demissões de trabalhadores durante a crise provocada pela propagação do novo coronavírus, numa tentativa de conter as consequências sociais da pandemia no país.

"Não se pode aproveitar a Covid-19 para demitir", disse, em entrevista coletiva, a titular da pasta do Trabalho, Yolanda Díaz, logo após a conclusão de reunião do Conselho de Ministros.

Segundo a integrante do governo, a proibição estabelece a impossibilidade de realizar demissões por "força maior", lembrando que já foi aprovado um mecanismo especial para facilitar as suspensões temporárias de emprego. "Não é necessário demitir ninguém no nosso país. Não iremos deixar ninguém para trás", garantiu Díaz.

Até o momento, a Espanha registrou pedidos de regulação temporária de emprego em mais de 210 mil empresas, o que afetou cerca de 1 milhão de trabalhadores. A ministra garantiu que todas as solicitações apresentadas até o momento serão revisadas e que, caso seja encontrada alguma irregularidade, a aceitação pode ser revogada.

13:15 – França prolonga quarentena por mais 15 dias

O primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, anunciou a prorrogação da quarentena no país por mais duas semanas a partir da próxima terça-feira. Dessa maneira, a medida fica em vigor até, ao menos, 15 de abril. O confinamento da população começou no dia 17 de março e deveria terminar na próxima terça-feira.

Em breve pronunciamento, Philippe disse que a França ainda não chegou ao ápice do número de contágios. O país contabiliza 1.696 mortes devido à Covid-19 em hospitais e clínicas.

Durante esse período, as regras serão as mesmas que as atuais e os franceses só poderão sair de casa para trabalhar, ir ao mercado, farmácia e médico, para ajudar parentes e fazer exercícios físicos ao ar livre.

Para circularem na via pública, os franceses precisam de uma declaração, disponível no site do Ministério do Interior, que eles próprios preenchem e onde justificam a saída.

13:00 – Governo anuncia R$40 bi em crédito para empresas pagarem salários

O governo federal vai oferecer 40 bilhões de reais em crédito para que pequenas e médias empresas possam financiar dois meses de salários (20 bilhões por mês). A medida, anunciada em coletiva de imprensa no início da tarde desta sexta-feira, atende empresas que têm faturamento anual entre 360 mil e 10 milhões de reais.

A verba deverá financiar até dois salários mínimos por trabalhador. Ficará a critério da empresa complementar o valor para funcionários que ganhem mais. Essas empresas precisarão se comprometer a não demitir os trabalhadores por dois meses e os valores emprestados serão depositados diretamente na conta dos funcionários.

Segundo o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, a taxa de juros será de 3,75% ao ano, em linha com a Selic. Normalmente, a taxa neste caso é de 20%. A expectativa é que a medida beneficie 1,4 milhão de empresas e 12,8 milhões de pessoas.

De acordo com o presidente do BNDES, Gustavo Montezano, 75% dos 40 bilhões de reais virão do Tesouro Nacional, e o restante, de bancos privados. O programa foi desenhado pelo Banco Central, Ministério da Economia e BNDES.

Na mesma coletiva, a Caixa anunciou a redução de juros em todas as suas linhas de crédito, sem exceção.

Essas medidas vêm após a dificuldade de obtenção de crédito e renegociação de dívidas que empresas têm enfrentado junto a bancos privados, que temem calote.

12:30 – Presidente e ministros do Uruguai reduzem seus salários

O presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, anunciou que ele, os ministros do governo e os parlamentares do país deverão ter seus salários reduzidos em 20% como uma das medidas para ajudar a combater a pandemia do novo coronavírus.

O dinheiro deverá ser destinado a um chamado Fundo Coronavírus. Segundo Lacalle Pou, além do corte salarial de integrantes do governo e parlamentares, haverá a retenção de 20% do salário de diretores de organizações autônomas e dos serviços descentralizados do país. 

O fundo ainda será abastecido com dinheiro dos salários e dos fundos de pensão de funcionários públicos – inclusive de ex-presidentes da República – que recebem mais de 80.000 pesos mensais (o equivalente a cerca de 9.400 reais). A parcela do desconto ainda não foi definida, mas deverá ficar entre 5% e 20% da remuneração mensal desse grupo. 

11:13 – Vocalista do Rammstein está na UTI por causa do coronavírus

O vocalista da banda Rammstein, Till Lindemann, está na UTI de um hospital de Berlim, informou nesta sexta-feira o jornal alemão Bild. Ele foi infectado pelo novo coronavírus.

Lindemann, de 57 anos, regressou no dia 15 de março para a Alemanha, depois de uma apresentação solo na Rússia, e logo em seguida teve febre alta e necessitou de atendimento médico.

Ele foi diagnosticado com pneumonia e levado à UTI de um hospital berlinense, onde está de quarentena. Lindemann testou positivo para o novo coronavírus. O estado de saúde dele melhorou nos últimos dias, informou o Bild.

10:50 – Vitamina D pode ajudar a reduzir risco de contágio por coronavírus, diz estudo

A vitamina D pode ter um papel importante no tratamento e prevenção da covid-19, sugere um estudo da Universidade de Turim, que analisou a relação entre a deficiência deste nutriente no corpo e o novo coronavírus. 

Coordenado pelo professor Giancarlo Isaia, docente em geriatria e presidente da Academia de Medicina da cidade italiana, e por Enzo Medico, professor de histologia (estudo de tecidos), a pesquisa mostrou que "dados preliminares coletados nos últimos dias em Turim indicam que os pacientes com a covid-19 apresentam uma prevalência muita alta de deficiência de vitamina D".

Os dados apurados na pesquisa, segundo os dois especialistas, mostraram que a vitamina D tem papel ativo na regulação do sistema imunológico. Outras evidências indicam que o composto tem um efeito "na redução do risco de infecções respiratórias de origem viral, inclusive na do coronavírus". O elemento também teria capacidade de combater danos pulmonares causados por inflamações. 

Ter vitamina D suficiente no organismo também "pode ser necessário para determinar uma maior resistência às infecções de covid-19, (possibilidade) que, apesar de haver menos evidências científicas, pode ser considerada verossímil", escrevem os pesquisadores. 

A falta da molécula no organismo é ainda frequentemente associada a diversas doenças crônicas que podem reduzir a expectativa de vida em idosos, "tanto mais no caso de infecções da covid-19". 

10:45 – Adidas não vai mais pagar aluguel de lojas fechadas

A Adidas confirmou nesta sexta-feira relatos na imprensa alemã de que vai suspender o pagamento do aluguel de suas lojas que estiverem fechadas na Alemanha. Também a rede H&M anunciou que não pagará mais o aluguel das 460 lojas que têm na Alemanha e que estão fechadas.

Várias outras empresas deverão seguir o exemplo. O pacote anticoronavírus do governo alemão, aprovado nesta sexta-feira, prevê que locatários poderão ficar os próximos três meses sem pagar aluguel e não poderão ser expulsos por inadimplência. O valor deverá ser pago depois, em até dois anos. A regra vale apenas se o locatário enfrentar problemas para pagar por causa da crise econômica causada pelo coronavírus.

10:00 – Itália ainda não atingiu pico de infecções, diz chefe da Saúde do país

As infecções pelo novo coronavírus na Itália não atingiram seu pico, segundo informou o chefe do Instituto Superior de Saúde do país, Silvio Brusaferro, nesta sexta-feira, após mais de 6.150 novos infectados e 712 óbitos serem registrados em 24 horas.

"Não atingimos o pico e não passamos por ele", afirmou Brusaferro em coletiva de imprensa. No entanto, Brusaferro disse haver "sinais de desaceleração" no número de pessoas infectadas, sugerindo que o pico pode não estar longe, depois dos novos casos mostrando uma visível tendência descendente.

"Quando uma desaceleração começa, sua intensidade depende do nossa comportamento", disse, referindo-se a quanto os italianos continuarão respeitando as restrições impostas pelo governo.

9:50 – Pacote de 750 bilhões de euros é aprovado na Alemanha

O Bundesrat (conselho que reúne os estados alemães) aprovou nesta sexta-feira o pacote de 750 bilhões de euros elaborado pelo governo alemão para combater a crise do novo coronavírus e já aprovado na quarta-feira pelo Bundestag (Parlamento).

O pacote inclui um fundo de resgate de 600 bilhões de euros para grandes empresas e um orçamento suplementar emergencial de 156 bilhões de euros em novas dívidas e é o maior do período pós-Guerra.

Com a aprovação, a Alemanha deixa de lado a regra seguida desde 2014, ainda no governo anterior da chanceler federal Angela Merkel, de não contrair novas dívidas. Além disso, os deputados suspenderam um artigo constitucional que limita as novas dívidas do governo federal em 0,35% do PIB.

O valor do orçamento emergencial inclui 122,8 bilhões de euros de ajuda para empresas e serviços de saúde e leva em conta uma queda estimada de 33,5 bilhões de euros em impostos. Tudo isso será financiado com emissões de títulos da dívida pública.

O governo quer repassar 3 bilhões de euros para os hospitais e dobrar o número de leitos nas UTIs, hoje em 28 mil em todo o país. Também estão previstas uma série de medidas para aliviar os custos das empresas, de pequenas a grandes.

09:00 – Bolsonaro posta vídeo de carreata contra confinamento

O presidente Jair Bolsonaro postou em sua conta no Facebook um vídeo que mostra um carreata realizada em Balneário Camboriú, Santa Catarina, contra medidas de isolamento social para conter a propagação do coronavírus. "O povo quer trabalhar", escreveu o presidente na postagem.

No vídeo, a pessoa que filma uma avenida repleta de carros buzinando afirma: "Acabou a palhaçada aqui em Balneário Camboriú [...] Bolsonaro na cabeça [...] Acatando agora a reivindicação do presidente Bolsonaro, volta a trabalhar normalmente, e as aulas também em Balneário Camboriú, show de bola."

O presidente vem defendendo o o isolamento parcial de pessoas em meio à pandemia do coronavírus. Em entrevista diante do Palácio da Alvorada nesta quarta, o presidente disse que apenas pacientes que fazem parte de grupos de risco, como idosos, devem ficar em isolamento domiciliar. Ele criticou medidas restritivas adotadas por governadores.

Médicos contestam as declarações dadas por Bolsonaro, afirmando que idosos não são os únicos que correm riscos com o novo coronavírus, e que o isolamento social é medida eficaz para conter avanço da epidemia.

08:30 – Boris Johnson é diagnosticado com coronavírus

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, testou positivo para o novo coronavírus. Ele está em isolamento, mas disse que seguirá coordenando as respostas do governo à pandemia de covid-19 a partir de sua casa.

"Nas últimas 24 horas, desenvolvi sintomas leves e testei positivo para o coronavírus", anunciou o premiê, de 55 anos, via Twitter. Segundo Johnson, ele apresentou temperatura elevada e tosse persistente.

"Posso continuar, graças à magia da tecnologia, me comunicando com minha equipe e coordenando a luta nacional contra o vírus", disse. "Juntos vamos derrotar isso", escreveu o premiê, usando a hashtag #StayHomeSaveLives (#FiqueEmCasaSalveVidas).

Segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, o Reino Unido tem mias 11,8 mil infecções pelo coronavírus Sars-Cov-2 confirmadas, e 580 mortes.

Nesta segunda-feira, Johnson ampliou as medidas de restrição de movimento no Reino Unido para tentar conter o avanço do coronavírus. Por três semanas, os cidadãos poderão sair apenas para trabalhar, ir ao mercado ou ao médico e fazer exercícios em espaços públicos.

08:15 – Internações por problemas respiratórios graves têm explosão no Brasil, diz Fiocruz

Dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostram que o Brasil teve uma explosão de internações de pessoas com insuficiência respiratória grave depois que o primeiro paciente com coronavírus foi detectado no país, no dia 25 de fevereiro. As informações foram divulgadas pelo jornal Folha de S. Paulo nesta quinta-feira.

Na última semana de fevereiro, 662 pessoas foram internadas com doença respiratória aguda e apresentaram sintomas como febre, tosse, dor de garganta e dificuldade para respirar.

No período entre 15 e 21 de março, as novas internações subiram para 2.250 pacientes em todo o país. Segundo a Folha, o número foi calculado com base em notificações oficiais enviadas por unidades de saúde, hospitais públicos e privados ao Ministério da Saúde.

Segundo o pesquisador da Fiocruz Marcelo Ferreira da Costa Gomes, ouvido pelo jornal, o "grande aumento" nas internações pode ter sido ocasionado "em decorrência da covid-19".

07:50 – Alemanha tem aumento de quase 6 mil casos num único dia

O número de infecções pelo coronavírus Sars-Cov-2 aumentou em quase 6 mil em 24 horas em toda a Alemanha, segundo informações do Instituto Robert Koch (RKI), que previne e controla doenças no país. De acordo com o instituto, houve 5.780 novos casos entre quinta e sexta-feira. O número total de casos subiu, assim, para 42.288. O RKI contabiliza 253 mortes.

Apesar do aumento expressivo no número de casos, o presidente da Sociedade Alemã de Hospitais, Gerald Gass, afirmou que acredita ser possível a Alemanha conseguir evitar cenário similar ao da Itália, onde mais de 80 mil pessoas contraíram o vírus e mais de 8 mil morreram.

"Estou seguro de que, pelo menos durante as duas próximas semanas, conseguiremos evitar condições como na Itália", disse em entrevista à TV alemã. Para isso, porém, é preciso respeitar as regras de isolamento e medidas restritivas adotadas no país, lembrou Gass.

Segundo contagem da universidade americana Johns Hopkins, que atualiza os números de hora em hora, o total de pessoas infectadas na Alemanha é de 47.278, houve 281 mortes em decorrência de infecção pelo vírus, e 5.673 pacientes se recuperaram da doença no país.

07:30 – Torre Eiffel agradece a quem combate coronavírus com "Merci" iluminado

Para demonstrar solidariedade com os trabalhadores que estão lutando para conter a disseminação do coronavírus, a Torre Eiffel deverá ter iluminação especial todas as noites. Às 20h (horário local), a palavra "Merci" deverá ser projetada no monumento, disse comunicado da prefeitura.

Entre 20:30 e 23:00, os dizeres "Restez chez vous", em francês, e "Stay at home", em inglês, serão projetadas com luz alternadamente para lembrar a população a se isolar. A Torre Eiffel já chegou a ser iluminada por mais tempo para agradecer a agentes de saúde pela atuação em meio à pandemia.

07:15 – Especialistas recomendam testes em massa na Alemanha

Num documento estratégico confidencial do Ministério do Interior da Alemanha, especialistas recomendam que o governo adote um procedimento "eficiente de testes e isolamento" no âmbito da pandemia do coronavírus Sars-Cov-2.

O documento, intitulado "Como conseguiremos controlar a covid-19", foi encomendado pelo chefe da pasta, Horst Seehofer, no dia 18/03, e encaminhado à chanceler federal alemã, Angela Merkel, e aos ministérios da Defesa e da Saúde. O jornal Süddeutsche Zeitung e as emissoras alemãs WDR e NDR tiveram acesso ao texto.

A ideia, segundo os especialistas é evitar um cenário de disseminação descontrolada por meses, com muitas mortes e consequências de longo prazo para a economia e a sociedade.

05:54 – Merkel diz que não vai relaxar medidas restritivas contra o coronavírus

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, é contra o afrouxamento das medidas restritivas adotadas pelo país contra o avanço do coronavírus Sars-Cov-2 já depois da Páscoa (12/04). Na noite de quinta-feira, a mandatária pediu paciência aos cidadãos do país.

O fechamento de escolas e creches, por exemplo, vale até o fim das férias da Páscoa, dia 19/04.

Na noite de quinta-feira (26/03), Merkel disse que, "claramente, este não é o momento de falar sobre o afrouxamento dessas medidas".

A chanceler justificou a fala reiterando que não quer que o sistema de saúde do país seja sobrecarregado e que o número de novas infecções ainda está aumentando na Alemanha.

Ela explicou que, atualmente, ainda demora de quatro a cinco dias para que o número de pessoas infectadas duplique. Por isso, o período de tempo para medidas como o isolamento social vigorarem precisa ser estendido "por pelo menos dez dias". Além disso, o período de incubação do vírus dura de no mínimo cinco dias e até no máximo 14 dias, disse Merkel, pedindo "paciência às pessoas. Sempre esteve claro que só podemos pensar nisso (em afrouxar as medidas) quando virmos efeitos (das restrições)".

Ela ainda lembrou que algumas das medidas restritivas, como a proibição de reuniões com mais de duas pessoas em público, passaram a vigorar apenas no início desta semana (23/03), um período muito curto para avaliar a eficácia das decisões.

05:06 – China continental registra primeira transmissão local em três dias

A China continental registrou sua primeira transmissão local do coronavírus Sars-Cov-2 em três dias. A Comissão Nacional de Saúde do país divulgou nesta sexta-feira (27/03) que apenas um dos novos casos registrados na China continental foi contraído localmente. Os outros 54 casos relatados no país são de origem estrangeira, ou seja, foram "importados". No dia anterior, a China contou 67 novos casos.

O novo caso local foi registrado na província de Zheijiang, segundo a comissão. A China tem 81.782 casos de infecção pelo coronavírus, segundo contagem da Universidade Johns Hopkins. Desde a eclosão da pandemia, no final de 2019, o país registrou 3.296 mortes.

01:00 – Câmara aprova ajuda de até R$1,2 mil para informais

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou um auxílio emergencial por três meses, no valor de 600 reais, destinados aos trabalhadores autônomos, informais e sem renda fixa durante a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. A matéria segue para análise do Senado.

Pelo texto, o auxílio pode chegar a 1,2 mil reais por família. O valor final, superior aos 200 reais anunciados para trabalhadores informais pelo Ministério da Economia no dia 18 deste mês, foi possível após articulação de parlamentares com membros do governo federal. O projeto prevê ainda que a mães solteiras recebam o equivalente a duas cotas.

O governo estima que 24 milhões de pessoas serão beneficiadas com a medida e, segundo a Instituição Fiscal Independente do Senado, o impacto econômico é de 43 bilhões de reais.

Será permitido a duas pessoas de uma mesma família acumularem benefícios: um do auxílio emergencial e um do Bolsa Família. Se o auxílio for maior que a bolsa, a pessoa poderá fazer a opção pelo auxílio. O pagamento será realizado por meio de bancos públicos federais via conta do tipo poupança social digital. Essa conta pode ser a mesma já usada para pagar recursos de programas sociais governamentais, como PIS/Pasep e FGTS, mas não pode permitir a emissão de cartão físico ou cheques.

Os trabalhadores deverão cumprir alguns critérios, em conjunto, para ter direito ao auxílio:

- ser maior de 18 anos de idade;

- não ter emprego formal;

- não receber benefício previdenciário ou assistencial, seguro-desemprego ou de outro programa de transferência de renda federal que não seja o Bolsa Família;

- renda familiar mensal per capita de até meio salário mínimo (R$ 522,50) ou renda familiar mensal total de até três salários mínimos (R$ 3.135,00); e

- não ter recebido rendimentos tributáveis, em 2018, acima de R$ 28.559,70.

Pelo texto, o beneficiário deverá ainda cumprir uma dessas condições:

- exercer atividade na condição de microempreendedor individual (MEI);

- ser contribuinte individual ou facultativo do Regime Geral de Previdência Social (RGPS);

- ser trabalhador informal inscrito no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico); ou

- ter cumprido o requisito de renda média até 20 de março de 2020.

Adicional de insalubridade

Outra proposta aprovada pelos parlamentares na quinta-feira garante adicional de insalubridade para trabalhadores de serviços essenciais ao combate a epidemias em casos de calamidade pública.

O texto prevê que profissionais da área de saúde, segurança pública, vigilância sanitária, corpo de bombeiros e limpeza urbana devem receber o pagamento de adicional em grau máximo, o equivalente a 40% do salário mínimo da região.

Dispensa de atestado para infectados

O plenário da Câmara também aprovou um projeto de lei que dispensa apresentação de atestado médico para justificar falta de trabalhador infectado por coronavírus ou que teve contato com doentes. A proposta segue para o Senado Federal.

O projeto garante afastamento por sete dias, dispensado o atestado, mas obriga o empregado a notificar o empregador imediatamente.

Em caso de quarentena imposta, o trabalhador poderá apresentar, a partir do oitavo dia, justificativa válida, atestado médico, documento de unidade de saúde do SUS ou documento eletrônico regulamentado pelo Ministério da Saúde. A regra vale enquanto durar a emergência pública em saúde relacionada à pandemia do coronavírus.

00:00 – Resumo dos principais acontecimentos desta quinta-feira:

Casos de coronavírus pelo mundo atingem marca de meio milhão
Senado americano aprova pacote de US$ 2 trilhões por unanimidade
China proíbe temporariamente entrada de estrangeiros no país
Itália registra 712 mortes nas últimas 24 horas
França aplicou 225 mil multas por violação de confinamento
______________

Fonte: Deutsche Welle, a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. 

Bolsonaro copia campanha italiana que precedeu explosão de mortes

Em meio à pandemia, governo lança campanha "O Brasil não pode parar". Prefeito italiano difundiu slogan "Milão não para" no fim de fevereiro. Um mês depois, região acumula mais de 5.400 mortes por coronavírus.


Trecho da campanha “Milão não para”. Políticos da região da Lombardia inicialmente resistiram em apoiar medidas drásticas de confinamento


Caixões se acumulam em crematórios na Itália

O Governo de Jair Bolsonaro lançou uma campanha publicitária com o slogan "O Brasil não pode parar", que segue o espírito de uma série de declarações recentes do presidente, contrário a medidas tomadas por vários estados para forçar o isolamento social como forma de combater a pandemia.

O slogan é praticamente idêntico ao de uma campanha que foi difundida pelo prefeito de Milão, Giuseppe "Beppe" Sala, no final de fevereiro. No dia 27 daquele mês, quando ele reproduziu o primeiro vídeo da campanha "Milão não para" (Milano non si ferma, no original) nas redes sociais, a Itália toda só contava 17 mortes provocadas pelo coronavírus e 147 infectados.

O vídeo havia sido criado por uma associação de bares e restaurantes da cidade, e mostrava pessoas em situações descontraídas em restaurantes, passeando em parques e esperando em estações de trem. A última mensagem dizia "Nós não vamos parar". Dois dias depois, o prefeito Sala também divulgou no Instagram uma foto na qual aparecia usando uma camiseta com o slogan "Milão não para". O vídeo também foi difundido em fevereiro pelo ultradireitista Matteo Salvini, ex-vice-premiê da Itália.

Attilio Fontana, o governador da Lombardia, região onde fica Milão, seguiu a mesma linha. Ele afirmou no dia 25 de fevereiro que coronavírus "não era mais do que uma gripe". O político filiado ao partido de extrema direita Liga acabou ordenando o relaxamento de restrições a bares e restaurantes que haviam sido impostas inicialmente. Em Milão, pontos turísticos como a Catedral, reabriram.

Mas a situação se deteriorou rapidamente nos dias que se passaram. Menos de duas semanas depois de o prefeito Sala ter divulgado o vídeo, a região da Lombardia inteira foi colocada em quarentena. Dias depois, as medidas para bloquear a circulação de pessoas foram estendidas para todo o país.

Um mês depois do vídeo ter ido ao ar, apenas a região da Lombardia acumula 5.402 mortes por coronavírus. A região metropolitana Milão sozinha conta com 7.469 casos oficiais de infecção.

A Itália ainda registrou nesta sexta-feira o seu recorde de mortes diárias: 969, que superaram a marca anterior de 793 do último sábado. Destas novas mortes, 541 aconteceram na Lombardia, cujo centro econômico é Milão.

Ao todo, o país acumula 9.134 mortes e tem ainda 86.500 casos de infecção.

Diante da evolução trágica da situação, o prefeito milanês Beppe Sala pediu desculpas por ter endossado a campanha "Milao não para".

"Muitos se referem àquele vídeo que circulava com o título 'Milão não Para'. Era 27 de fevereiro, o vídeo estava explodindo nas redes, e todos o divulgaram, inclusive eu. Certo ou errado? Provavelmente, errado", ele afirmou à TV RAI.

"Ninguém ainda havia entendido a virulência do vírus, e aquele era o espírito. Trabalho sete dias por semana para fazer minha parte, e aceito as críticas", completou.

A versão brasileira

Os primeiros materiais da campanha brasileira apareceram na quinta-feira (26/03) no Instagram do governo federal. "Vamos, com cuidado e consciência, voltar à normalidade. #oBrasilNãoPodeParar", diz um trecho do material.

Também foram produzidos vídeos com tom similar – um deles foi divulgado por um dos filhos de Bolsonaro, o senador Flávio. "Para quem defende a vida dos brasileiros e as condições para que todos vivam com qualidade, saúde e dignidade, o Brasil definitivamente não pode parar", diz a peça.

Toda a campanha contraria recomendações de médicos e da Organização Mundial da Saúde (OMS) e vão na contramão das medidas que vem sendo adotadas por governos e líderes mundiais.

Só que na visão de Bolsonaro, as medidas que vêm sendo adotadas mundo afora tem potencial de prejudicar a economia, que já vinha registrando crescimento pífio antes mesmo da pandemia. O presidente defende que apenas os grupos de risco – idosos e doentes – sejam isolados. É o chamado "isolamento vertical" ou "parcial". Mas Bolsonaro também deixou claro que o governo não pretende se envolver ativamente nem mesmo neste caso.

"O brasileiro tem que entender que quem vai salvar a vida dele é ele, pô! Não tem que ficar esperando vereador, deputado, senador ou presidente cuidar da vida dele. Se ele não tem capacidade ou não tem amor pelo avô ou pelo bisavô, paciência", disse Bolsonaro na quinta-feira.

Antes dessas declarações, ele já havia minimizado a pandemia classificando o coronavírus como uma "gripezinha" e "resfriadinho".

Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o governo federal admitiu aos estados que não tem estudos que embase a iniciativa do isolamento parcial.

Nesta sexta-feira, Bolsonaro voltou a defender “a volta ao trabalho” e o relaxamento de medidas de isolamento social,

 "O maior remédio para a doença é o trabalho. Quem pode trabalhar, tem que voltar a trabalhar. Não pode se esconder, ficar de quarentena não sei quantos dias em casa e está tudo bem. Não é assim", disse, em entrevista à TV Bandeirantes.

"Alguns vão morrer, vão morrer, lamento, é a vida. Não pode parar uma fábrica de automóveis porque tem mortes no trânsito", completou.

Na internet, apoiadores do presidente também vem difundido campanhas semelhantes. Alguns chegaram a organizar carreatas em cidades brasileiras, como Curitiba e Balneário Camboriú (SC), para exigir uma "volta ao trabalho" e protestar contra governos estaduais.

A campanha lançada pelo governo tem previsão de custo de 4,8 milhões de reais e foi contratada sem licitação.

Nesta sexta-feira, o Brasil já acumulava 92 mortes e mais de 3 mil casos de contaminação pelo coronavírus.

Fonte: Deutsche Welle, a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.

quinta-feira, 26 de março de 2020

Com Bolsonaro isolado, filhos do presidente partem para o ataque



Em meio à crise do coronavírus, 
Flávio, Eduardo e Carlos intensificam ofensiva 
nas redes sociais contra aqueles que consideram adversários do pai 
(foto Antonio Milena, da VEJA)

O isolamento político de Jair Bolsonaro em meio à crise provocada pelo coronavírus catalisou uma ofensiva dos filhos do presidente em defesa do seu governo. Nos últimos dias, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) intensificaram os ataques contra todos aqueles que eles consideram ser inimigos do pai, sejam eles governadores ou jornalistas. Pior: Carlos, que deveria estar no Rio, se encontra em Brasília participando até de reuniões com a alta cúpula do governo federal.

O pronunciamento de Bolsonaro em rede nacional tem as digitais de Carlos e dos seus asseclas do chamado “gabinete do ódio”, onde funcionários pagos com dinheiro público monitoram a popularidade do presidente em redes sociais e gerenciam perfis destinados a atacar os críticos. O teor do discurso, com ataques a governadores e à imprensa, foi pensado com a ajuda desses assessores do núcleo ideológico do governo. Bolsonaro encomendou o texto após ter se irritado com os governadores do Norte e do Nordeste em videoconferências realizadas na segunda-feira, 23. Ele ficou incomodado com os pedidos feitos por gestores de estados que ainda não alcançaram números expressivos de casos de coronavírus.

Carlos, inclusive, esteve em reuniões de Bolsonaro com ministros e nas videoconferências com os governadores das regiões Norte, Nordeste e Sul, conforme consta na agenda oficial do presidente. O filho Zero 02 também se reuniu com o pai junto do irmão Flávio e de dois antigos aliados que ganharam cargos no governo: Gilson Machado, presidente da Embratur, e Nabhan Garcia, secretário de assuntos fundiários.

Carlos Bolsonaro

@CarlosBolsonaro
O caos generalizado implementado no país não ocorre por incompetência. Os envolvidos sabem exatamente o que estão fazendo e para que. Os cachorros de painel de carro tem método e têm a certeza que podem subestimar o brasileiro.

Em seu perfil no Twitter, Carlos manteve a rotina de ataques à imprensa e aos governadores, centrando fogo principalmente no paulista João Doria (PSDB). Nas mensagens cifradas que publica, o vereador continua insistindo na teoria de que existe um movimento coordenado para tirar Bolsonaro do poder.

O senador Flávio também intensificou a atividade online. Ele abandonou neste ano a postura discreta que havia adotado após o início da investigação sobre o seu envolvimento num esquema de rachadinhas na Assembleia Legislativa do Rio. Em postagens recentes, Flávio defendeu a presença de Carlos nas reuniões em Brasília e atacou a imprensa. “Fique em casa. No final do mês, a Rede Globo vai pagar suas contas”, diz uma imagem postada pelo senador, que é contrário às medidas protetivas que especialistas defendem para impedir a disseminação do coronavírus.

Flavio Bolsonaro

@FlavioBolsonaro
Parabéns , Carluxo, por não ficar em casa e trabalhar!
Sou testemunha de sua vital importância ao lado do Presidente @jairbolsonaro para vencermos a crise! @CarlosBolsonaro

Já Eduardo, entre um xingamento e outro à imprensa, tratou de isentar o governo federal da crise econômica que será provocada pelo coronavírus, prevendo um cenário de caos social em que desempregados se revoltarão contra os governadores que adotaram medidas como o fechamento de estabelecimentos comerciais. “Não esqueçam da imprensa que trabalha aberta ou veladamente pela sua retirada”, escreveu o filho Zero 03 para arrematar a teoria conspiracionista de que há um golpe em curso contra Bolsonaro.

As redes sociais são importantes para manter mobilizada a base mais fiel ao presidente. Um grupo de estudos da FGV tem constatado que há um crescente isolamento dos bolsonaristas mais radicais na internet. Após o pronunciamento do presidente em rede nacional, a FGV identificou pela primeira vez uma união entre grupos de usuários considerados de “esquerda” com aqueles “não alinhados” a nenhum espectro ideológico. As manifestações, no caso, eram em repúdio ao discurso de Bolsonaro, cuja base de apoio teve participação de 6% a 8% num debate formado por 6 milhões de postagens no Twitter.

Eduardo Bolsonaro🇧🇷

@BolsonaroSP
 · 10h
Os políticos da lacração estão achando bonito criticar Bolsonaro e se lixar para, principalmente,os mais humildes que não tem estoque de comida em casa

O que eles acham? Que as pessoas sem comida e desempregadas ficarão em casa sem se revoltar com quem lhes jogou nessa situação?

Eduardo Bolsonaro🇧🇷

@BolsonaroSP
Salvem os vídeos (porque eles deletam mesmo), anotem o nome daqueles que dizem que Bolsonaro inconquesequente, lunático e até mesmo criminoso. Não esqueçam da imprensa que trabalha

Redação da VEJA - Atualizado em 26 mar 2020, 18h54 - Publicado em 26 mar 2020, 18h19

aberta é ou veladamente pela sua retirada.

Robôs turbinam campanhas pró-Bolsonaro e por impeachment de Doria

Um dos perfis chegou a retuitar a frase #bolsonarotemrazao 433 vezes e #impeachmentdodoria, 354 vezes, em menos de dois dias - quase 16 postagens por hora.

Alvo de panelaços diários e isolado politicamente pela forma como vem conduzindo a reação à pandemia do coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro vem recebendo apoio maciço de deputados, youtubers e apoiadores nas redes sociais. Nem todos eles, no entanto, são de verdade. Duas campanhas levantadas no Twitter nos últimos dois dias – uma que diz “Bolsonaro tem razão” e outra que pede o “Impeachment do Doria” – foram alimentadas em partes por robôs e alcançaram os trending topics (assuntos mais comentados) da rede social.

Um dos perfis chegou a retuitar a frase #bolsonarotemrazao 433 vezes e #impeachmentdodoria, 354 vezes, em menos de dois dias – ou seja, foram quase 16 postagens por hora. Num espaço de um ano, a conta havia publicado ao todo 711.000 posts – quase 1.900 por dia. Outra conta publicou #bolsonarotemrazao 559 vezes, e a #impeachmentdodoria, 228 vezes – novamente, quase 16 tuítes por hora. Em um ano, o perfil fez 105.000 publicações – o que equivale a mais de 280 por dia.

“A estratégia deles é jogar nos trending topics para pegar a aderência da população normal”, disse um especialista que faz monitoramento de redes sociais para políticos. O governador João Doria (PSDB) entrou na mira das milícias digitais após o bate-boca que teve com Bolsonaro nesta quarta-feira. Em reunião por videoconferência, o tucano lamentou o pronunciamento do presidente e disse que ele “precisa dar o exemplo”. Bolsonaro retrucou, afirmando que o governador “apoderou-se” do seu nome para se eleger governador e que depois “virou as costas” e começou a atacá-lo “covardemente”.

Eduardo Gonçalves, de VEJA. 





Expectativa do Ministério da Saúde é que Brasil não terá mesmo número de mortes que a Itália

Pasta evita fazer projeções, mas espera curva de infecção menor do que a do país europeu

Expectativa do Ministério da Saúde é que Brasil não terá mesmo número de mortes que a Itália

Ministério recomenda caminhada em parques, fechados em várias capitais

'Estamos com três epidemias simultâneas', diz secretário da Saúde

Pasta da Saúde reprova quarentena mais rígida em São Paulo

Mortes por coronavírus no Brasil sobem para 77

Trinta dias após a confirmação do primeiro caso do novo coronavírus no Brasil, o Ministério da Saúde evitou fazer projeções sobre o avanço da doença no País. Em coletiva nesta quinta-feira, 26, o secretário-executivo da pasta, João Gabbardo, afirmou que não serão divulgadas previsões de contágio e de óbitos.

A expectativa da Ministério, contudo, é de que o Brasil não terá nível equiparado de mortes como as da Itália, país com o maior número de baixas até então e que está perto de ultrapassar a China no número de casos de infectados, com mais de 80 mil registrados. “Esperamos não ter crescimento abrupto (da curva de infecção) como a Itália”, disse.

Gabbardo informou ainda que o governo trabalha com uma expectativa de aumento de casos diários em 33% em relação ao dia anterior. Ele enfatizou que o País tem ficado abaixo dessa porcentagem.

O secretário nacional de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira destacou, entretanto, que o Brasil ainda está no início da sua epidemia. “Estamos tentando transformar nossa montanha em um morrinho, mas vamos continuar tendo que escalar ela”, afirmou se referindo a curva de infecção do País. Ele também opinou ser cedo para avaliar a eficácia de medidas tomadas pelo governo e pelos Estados, como as orientações de isolamento social.

André Borges e Emilly Behnke, O Estado de S.Paulo

EUA passam China e se tornam país com maior número de infectados pelo coronavírus, diz jornal

De acordo com dados coletados pelo 'New York Times', há 81.578 pessoas infectadas com o coronavírus, incluindo mais de mil mortes.

Os Estados Unidos ultrapassam a China e agora lideram o mundo em casos confirmados de coronavírus: quase 82 mil. Os cientistas alertaram que o país um dia se tornariam o mais atingido pela pandemia de coronavírus. Esse momento chegou nesta quinta-feira, 26, de acordo com dados coletados pelo New York Times e pela Universidade Johns Hopkins.

Nos Estados Unidos, sabe-se que pelo menos 81.578 pessoas foram infectadas com o coronavírus, incluindo mais de 1.000 mortes - mais casos do que a China (81,3 mil), a Itália (80,5 mil) ou qualquer outro país até agora.

Com 330 milhões de residentes, os Estados Unidos são a terceira nação mais populosa do mundo, o que significa que ela fornece um vasto conjunto de pessoas que podem potencialmente receber a covid-19, doença causada.

Em uma democracia ampla e cacofônica, em que os Estados estabelecem suas próprias políticas e o presidente Donald Trump envia mensagens contraditórias sobre a escala do perigo e como combatê-lo, não houve, segundo o jornal, uma resposta coerente e unificada a uma grave ameaça à saúde pública.

"Embora o sistema médico americano seja insuperável e seu sistema de saúde pública tenha a reputação de ser um dos melhores do mundo, uma série de erros e oportunidades perdidas prejudicaram a resposta do país", afirma o jornal.

Fonte: O Estado de São Paulo.

Em que fase estamos da crise?

Perto do fim ou do começo? 
Eduardo Moreira analisa e responde

Uma "gripezinha" que pode acabar derrubando Bolsonaro

Justamente em meio à crise do novo coronavírus, o presidente resolveu travar uma briga egocêntrica com governadores. E ele pode se dar mal nessa, escreve Thomas Milz para a Deutsche Welle.

Jair Messias Bolsonaro gosta de bater de frente. Essa é a sua natureza, e quem achava que a Presidência da República traria um pouco de sensatez e leveza no trato ao ex-militar se enganou. Isso voltou a ficar evidente em sua fala agressiva de terça-feira à noite e no acesso de fúria direcionado ao governador de São Paulo, João Doria.

Em vez de aproveitar a crise para se apresentar como estadista, Bolsonaro se deixa levar por escaramuças egocêntricas, das quais ele só pode sair perdedor.

Claro que se pode ter opiniões diferentes sobre quanto tempo o isolamento social por causa da epidemia de coronavírus deve durar. Essa questão é debatida em todo o mundo, o que é perfeitamente compreensível. Pois, em todo o mundo, a paralisação da atividade econômica vai lançar as economias numa crise, possivelmente numa recessão.

O Brasil não pode se permitir isso, diz Bolsonaro, e também empresários ligados a ele deram declarações semelhantes. E este é, de fato, um ponto que também deve ser considerado.

Decisivo, porém, é como se abre essa discussão. No caso de Bolsonaro, isso soa tão assustador como as declarações de um de seus apoiadores, o empresário do setor de gastronomia Junior Durski, para quem o Brasil não pode parar por causa de 5 mil ou 7 mil mortes.

Já Bolsonaro falou de uma "gripezinha", o que, mais uma vez, mostra o grau de empatia de que ele dispõe: zero. Pior ainda, parece não lhe fazer diferença alguma se ele ofende outras pessoas, como os parentes das mais de 50 vítimas que o novo coronavírus já deixou no Brasil.

Mas também na atual situação Bolsonaro é fiel a si mesmo. A diferença é que quando ele elogiou o torturador da ditadura, o coronel Ustra, poucos se incomodaram - a ditadura, afinal, já passou faz tempo. Quando ele atacou os indígenas brasileiros, isso também não incomodou quase ninguém - os índios, afinal, moram bem longe. Quilombolas ele também pode ironizar - afinal, quantas pessoas conhecem um quilombola? No caso do coronavírus, porém, tudo muda: ninguém quer correr o risco de infectar os próprios pais, que poderiam ter uma morte lenta e cheia de sofrimento.

Bolsonaro não entendeu isso. Na sua limitada visão de mundo militar, vítimas são parte do jogo, e o que interessa é o todo. Além disso, ele espera que todas as autoridades o obedeçam cegamente. A suposta carta branca aos seus ministros é só fachada. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, precisa defender as atitudes irresponsáveis de Bolsonaro - como as selfies com manifestantes em 15 de março ou a exigência de acabar com o isolamento social - mesmo sabendo que tudo isso está errado.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, é outro que se meteu numa situação desconfortável. Em vez de reduzir o endividamento do Estado e diminuir a máquina estatal por meio de privatizações e da reforma administrativa, como ele queria, precisa agora fazer novas dívidas de centenas de milhões de reais e aumentar o papel do Estado na economia.

A reforma trabalhista iniciada no governo do presidente Michel Temer também terá que ser reavaliada em breve, ao que tudo indica. O Brasil tem mais de 40 milhões de pessoas na informalidade. São pessoas que estão desprotegidas diante de uma crise como a atual. Agora é necessário admitir que tudo isso foi irresponsável. Será que o neoliberal Guedes vai virar à força um social-democrata? Seria melhor para ele. Mas o provável é que ele se vá antes disso.

É impossível saber de quanto tempo o Brasil vai precisar para superar as consequências econômicas da crise do coronavírus. O dinheiro economizado com a reforma da Previdência logo vai ser gasto nos novos pacotes de ajuda. Com suas duras críticas ao lockdown, Bolsonaro já está tentando se vacinar contra a próxima crise econômica. Numa entrevista na televisão, ele já disse que os milhões de desempregados não serão culpa dele. Mas, se ele não é o responsável, o que está fazendo na cadeira de presidente?

O declínio da sua autoridade, nos últimos dias, é assustador. Aliados se afastam, e ele perde apoio também no Congresso. Bolsonaro corre o risco de não ser mais levado a sério. Ele conseguirá se recuperar dessa situação? Ou seus rivais moderados, como os governadores João Doria e Wilson Witzel, vão ficar com os eleitores da direita?

Até parece que o novo coronavírus escolheu a dedo uma vítima especial: Jair Messias Bolsonaro. Quem achava que isso não ia dar em mais do que uma "gripezinha" ainda vai se surpreender.

--

Thomas Milz saiu da casa de seus pais protestantes há quase 20 anos e se mudou para o país mais católico do mundo. (Brasil). Tem mestrado em Ciências Políticas e História da América Latina e, há 15 anos, trabalha como jornalista e fotógrafo para veículos como o Bayerischer Rundfunk, a agência de notícias KNA e o jornal Neue Zürcher Zeitung. É pai de uma menina nascida em 2012 em Salvador. Depois de uma década em São Paulo, mora no Rio de Janeiro há quatro anos.
______________

A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas. 

Novas imagens mostram o coronavírus matando célula humana

Imagens obtidas com microscópio eletrônico pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA captam momentos do processo em que o vírus leva células humanas ao seu fim.



Células humanas (em azul na foto) infectadas pelo coronavírus 
(pontos em vermelho). Crédito: Niaid.

Imagens divulgadas na semana passada pelo Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA (Niaid) mostram o vírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19, em plena ação. Capturadas com um microscópio eletrônico de varredura, as imagens passaram por aprimoramento de cores no Niaid Integrated Research Facility.

Segundo o Niaid, as imagens mostram centenas de partículas do vírus SARS-CoV-2 (as minúsculas estruturas semelhantes a pontos) na superfície de células de um paciente americano, no momento em que estas entram em estado de apoptose (morte celular).

Nas imagens, o SARS-CoV-2 aparece diminuto perto das células. O diâmetro de um coronavírus varia entre 120 e 160 nanômetros, o que o torna visível apenas com microscópios eletrônicos.



Micrografia eletrônica de células VERO E6 (em azul) 
fortemente infectadas com partículas do SARS-CoV-2 
(laranja). Crédito: Niaid.

O tamanho ínfimo não impede que esses microrganismos causem danos reais, como se poder constatar. Para infectar uma célula, os coronavírus usam sua proteína spike (região da estrutura do vírus que interage com as células e permite a entrada dele) para se ligar à membrana celular. Uma vez dentro, o vírus sequestra o próprio mecanismo das células hospedeiras para se replicar, criando milhares de cópias de si mesmo.



À esquerda da imagem, célula apoptótica (em verde) 
fortemente infectada com partículas do vírus SARS-COV-2 
(em púrpura). Crédito: Niaid.

Posteriormente, a célula hospedeira fica sobrecarregada e “se mata”, causando o transbordamento e a propagação do vírus para novas células. As imagens aqui apresentadas mostram essa fase.

Fonte: Revista Planeta https://www.revistaplaneta.com.br/ )


quarta-feira, 25 de março de 2020

Coronavírus no Brasil, o tamanho da confusão


A repercussão do coronavírus na economia do País. 
Os Professores Eduardo Moreira (economia) e Luciana Costa 
( medicina) quebram a corrente da ignorância que ainda paira 
entre as principais cabeças  da República.


Para onde está indo toda ajuda anunciada pelo Governo?
   O Professor Eduardo Moreira, o brasileiro nota 10 no curso 
     de economia na Universidade da Califórnia,  explica e responde.


terça-feira, 24 de março de 2020

Em casa com as crianças em tempos de coronavírus

b




































Publicado originalmente na Folha de São Paulo, edição de 24.03.20

Efeitos colaterais do Coronavírus: cai a poluição do ar na Itália e na China

Queda na circulação de veículos e redução de atividades industriais são as principais explicações para o fenômeno, esta a feliz novidade.



Monitoramento por satélite revelou queda nas emissões 
de dióxido de nitrogênio na Itália após o bloqueio causado 
pelo coronavírus. Crédito: ESA

À medida que o coronavírus se espalha, imagens de satélite mostram uma redução drástica da poluição do ar em áreas em quarentena, informa o site EcoWatch. Os dados de satélite compartilhados no início de março mostraram um sensível declínio nos níveis de dióxido de nitrogênio sobre a China entre janeiro e fevereiro, quando a cidade de Wuhan, importante núcleo industrial e epicentro da epidemia, ficou isolada. Agora, imagens compartilhadas pela Agência Espacial Europeia (ESA) sugerem que algo semelhante aconteceu na Itália, que registra o segundo maior número de casos, atrás da China.

“O declínio nas emissões de dióxido de nitrogênio sobre o Vale do Pó, no norte da Itália, é particularmente evidente”, declarou Claus Zehner, gerente da missão Copernicus Sentinel-5P da ESA. “Embora possa haver pequenas variações nos dados devido à cobertura de nuvens e às mudanças climáticas, estamos muito confiantes de que a redução nas emissões que podemos ver coincide com o bloqueio na Itália, causando menos tráfego e atividade industrial.”

Na sexta-feira, a ESA publicou uma animação baseada em dados do satélite Copernicus Sentinel-5p que mostra flutuações na poluição por dióxido de nitrogênio na Europa entre 1º de janeiro e 11 de março. O declínio das emissões na Itália coincidiu com as medidas de bloqueio anunciadas pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte em 9 de março, que proibiam reuniões públicas e viagens não essenciais. Isso ocorreu após uma decisão no dia anterior de bloquear o norte do país, informou o jornal “The New York Times”. O norte foi a região da Itália mais atingida pelo vírus e onde o declínio da poluição foi mais evidente.

Água mais limpa em Veneza

As emissões de dióxido de nitrogênio são em grande parte impulsionadas por veículos, usinas de energia e indústria. Embora não contribuam muito para a crise climática, elas tendem a se correlacionar com as emissões de gases do efeito estufa, de acordo com o jornal “The Washington Post”. Como a Itália fez progressos significativos na redução de suas emissões e se alimenta principalmente de gás natural e energia renovável, os especialistas acham que o declínio se deve a uma diminuição no uso de veículos. “Acho que são na maioria carros a diesel fora de circulação”, disse Emanuele Massetti, especialista em economia climática da Georgia Tech University.

O bloqueio também diminuiu a poluição da água. Os canais de Veneza, agora livre de gôndolas e navios de cruzeiro, apresentam águas cristalinas, informou o site Global News. O declínio do turismo trouxe “de volta as águas da laguna dos tempos antigos, as do período pós-guerra, quando ainda era possível se banhar nas águas dos canais”, escreveu o jornal “La Nuova di Venezia e Mestre”.

Com certeza, porém, não se desejava uma redução da poluição atmosférica a esse custo. Na Itália, havia até hoje (18 de março) mais de 35 mil casos registrados, com 2.978 mortes. “Este não é o caminho para reduzir as emissões!”, declarou Riccardo Valentini, professor da Universidade de Tuscia, ao “The Washington Post”.

Vitimas do coronavírus são enterradas sem funerais em todo o mundo

Na Itália, empresa usa links para mostrar padre abençoando falecidos



Enterros com grande número de presentes estão sendo 
desaconselhados ou vetados em países com grande incidência
de coronavírus. Crédito: Piqsels

Abatido pelo coronavírus aos 83 anos de idade, Alfredo Visioli se despediu de sua vida longa com uma cerimônia curta em um cemitério próximo de Cremona, sua cidade natal no norte da Itália.

“Eles o enterraram assim, sem um funeral, sem seus entes queridos, só com uma bênção do padre”, disse sua neta, Marta Manfredi, que não pôde comparecer. Como a maior parte dos familiares do falecido, e do país, ela está confinada ao lar.

Quando tudo passar nós lhe daremos um funeral de verdade.

Em qualquer local que o coronavírus tenha atingido, independentemente de cultura ou religião, rituais antigos para homenagear os mortos e confortar os enlutados estão sendo abreviados ou descartados pelo medo de aumentar o contágio.

O vírus, que já matou quase 9 mil pessoas em todo o mundo, está reformulando muitos aspectos da morte, da objetividade de se lidar com corpos infectados à observância das necessidades espirituais e emocionais dos que ficam.

Máscaras em cadáveres

Na Irlanda, a autoridade de saúde está aconselhando os funcionários de necrotérios a colocarem máscaras em cadáveres para diminuir até o menor risco de infecção.

Na Itália, uma empresa de funerais está usando links de vídeo para permitir que famílias em quarentena vejam um padre abençoar o falecido. Na Coreia do Sul, o medo do vírus está provocando uma redução tão grande no número de pessoas nos funerais que empresas que servem refeições nessas ocasiões sofrem para se manter.

Há pouco tempo para cerimônias em cidades muito atingidas, como Bérgamo, a nordeste de Milão, onde os necrotérios estão lotados e o crematório está funcionando em tempo integral, disse Giacomo Angeloni, autoridade local a cargo dos cemitérios municipais.

A Itália já relatou quase 3 mil mortes decorrentes da Covid-19, a doença causada pelo coronavírus – a cifra mais alta fora da China, onde o vírus surgiu. O Exército enviou 15 caminhões e 50 soldados a Bérgamo na quarta-feira para transferir corpos para províncias menos sobrecarregadas.

Uma proibição de aglomerações acabou com os rituais essenciais que nos ajudam a passar pelo luto, disse Andy Langford, principal chefe de operações da Cruse Bereavement Care, instituição de caridade britânica que oferece cuidados e aconselhamento gratuito.

Mão de obra extra

No Irã, assim como no norte da Itália, funcionários de hospitais e necrotérios lidam com uma sobrecarga de corpos. O vírus já matou 1.284 pessoas e infectou milhares na nação, de acordo com a televisão estatal.

As autoridades contrataram mais gente para cavar túmulos, disse o administrador do cemitério Behesht-e Zahra de Teerã. “Trabalhamos dia e noite”, contou. “Nunca vi uma situação tão triste. Não há funerais.”

A maioria dos corpos chega de caminhão e é enterrada sem o ritual de lavagem que o islamismo dita, explicou.

Mortes provocadas pela Covid-19 têm sido registradas como ataques cardíacos ou infecções pulmonares, disse o funcionário de um hospital de Kashan, cidade localizada a cerca de três horas de carro de Teerã, à Reuters.

“As autoridades estão mentindo a respeito do total de mortos”, afirmou.

Risco de infecção

Em vários países, levas de infecções surgiram depois de funerais. Na Coreia do Sul, onde mais de 90 pessoas morreram, o governo exortou as famílias de vítimas da Covid-19 a cremarem seus entes queridos primeiro e realizarem os funerais mais tarde.

Os funerais coreanos costumam acontecer nos hospitais e envolvem três dias de orações e banquetes.

Desde o surgimento do surto, o número de participantes de funerais despencou 90%, independentemente de o falecido ter o vírus ou não, disse Choi Min-ho, secretário-geral da Associação Coreana de Funerais.

As autoridades de Wuhan, o epicentro da epidemia na China e o local da maioria das mortes, identificaram rapidamente o negócio dos funerais como uma fonte de transmissão em potencial.

No final de janeiro, a agência civil local ordenou que todos os funerais de vítimas confirmadas da Covid-19 ficassem a cargo de uma única agência funerária do distrito de Hankou. As cerimônias de luto, que normalmente são eventos sociais agitados na China, foram limitadas, assim como todas as outras aglomerações públicas.

No mês passado, um funcionário de uma agência funerária de Hankou que só se identificou com Huang escreveu um ensaio que circulou nas redes sociais. Ele disse que seus colegas de profissão estão tão sobrecarregados quanto os médicos da cidade, mas que testemunharam menos reconhecimento.

Doença cruel

Também na Espanha uma grande leva de casos foi ligada a um funeral em Vitória, cidade do norte, no final de fevereiro. Ao menos 60 pessoas que estiveram presentes foram diagnosticadas após o evento, segundo reportagens da mídia local.

Com mais de 600 mortes, a Espanha é o segundo país mais assolado da Europa, só ficando atrás da Itália, e agora a maioria das pessoas está isolada em casa.

Referindo-se a essas restrições, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, classificou o coronavírus como uma doença “cruel” que paralisa a necessidade humana de socialização.

Na Irlanda, por enquanto ainda se permitem até 100 convidados em todos os funerais, mas a maioria das famílias está optando por pequenas cerimônias particulares e incentivando outros a expressarem seus pêsames pela internet em sites como o RIP.ie, onde obituários e convites a funerais costumam ser publicados.

Fonte: Reuters | Via Agência Brasil20/03/2020

Novo coronavírus fica estável por horas em superfícies

O vírus do Covid-19 resiste até 24 horas em papelão e até três dias em plástico e aço inoxidável, revela estudo americano.




Coronavírus: estabilidade em aerossóis e superfícies 
provavelmente contribui para a transmissão do vírus 
em ambientes hospitalares. 

O vírus que causa a doença de coronavírus 2019 (Covid-19) fica estável por várias horas a dias em aerossóis e superfícies, de acordo com um estudo de cientistas dos Institutos Nacionais da Saúde (NIH), Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), das universidades da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e Princeton, todos dos EUA, publicado na revista “The New England Journal of Medicine”. Os cientistas descobriram que o coronavírus 2 da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV-2) foi detectável em aerossóis por até três horas, até quatro horas em cobre, até 24 horas em papelão e até dois a três dias em plástico e aço inoxidável.

Os resultados fornecem informações importantes sobre a estabilidade do SARS-CoV-2, que causa a doença Covid-19, e sugerem que as pessoas podem adquirir o vírus pelo ar e depois de tocar em objetos contaminados. As informações do estudo foram amplamente compartilhadas nas últimas duas semanas após os pesquisadores colocarem o conteúdo em um servidor de pré-impressão para compartilhar rapidamente seus dados com os colegas.

Os cientistas do NIH, das instalações do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Rocky Mountain Laboratories, no estado de Montana, compararam como o ambiente afeta o SARS-CoV-2 e o SARS-CoV-1, que causa o SARS. O SARS-CoV-1, como seu sucessor agora circulando pelo mundo, surgiu na China e infectou mais de 8 mil pessoas em 2002 e 2003. Ele foi erradicado por medidas intensivas de rastreamento de contatos e isolamento de casos, e nenhum caso foi detectado desde 2004.

Entenda as diferenças entre Covid-19, resfriado e gripe  - semelhanças

O SARS-CoV-1 é o coronavírus humano mais intimamente relacionado ao SARS-CoV-2. No estudo de estabilidade, os dois vírus se comportaram de maneira semelhante, o que infelizmente não explica por que o Covid-19 se tornou um surto muito maior.

O estudo do NIH tentou imitar o vírus sendo depositado por uma pessoa infectada em superfícies cotidianas em um ambiente doméstico ou hospitalar, por meio de tosse ou toque de objetos. Os cientistas então investigaram quanto tempo o vírus permaneceu infeccioso nessas superfícies.

Os cientistas destacaram observações adicionais de seu estudo:

– Se a viabilidade dos dois coronavírus é semelhante, por que o SARS-CoV-2 está resultando em mais casos? Evidências emergentes sugerem que pessoas infectadas com SARS-CoV-2 podem estar transmitindo vírus sem reconhecer ou antes de reconhecer sintomas. Isso tornaria as medidas de controle de doenças eficazes contra o SARS-CoV-1 menos eficazes contra seu sucessor.

– Ao contrário do SARS-CoV-1, a maioria dos casos secundários de transmissão de vírus do SARS-CoV-2 parece estar ocorrendo em ambientes comunitários, e não em ambientes da área de saúde. No entanto, as configurações de saúde também são vulneráveis ​​à introdução e propagação do SARS-CoV-2, e a estabilidade do SARS-CoV-2 em aerossóis e superfícies provavelmente contribui para a transmissão do vírus em ambientes de saúde.

Precauções

As descobertas reforçam a orientação dos profissionais de saúde pública no sentido de usar precauções semelhantes às da gripe e de outros vírus respiratórios para impedir a disseminação da SARS-CoV-2:

– Evite contato próximo com pessoas doentes.

– Evite tocar seus olhos, nariz e boca.

– Fique em casa quando estiver doente.

– Cubra sua tosse ou espirro com um lenço de papel e jogue este no lixo.

– Limpe e desinfete os objetos e superfícies tocados com frequência usando um spray ou pano de limpeza doméstico comum.

Fonte: NIH/National Institute of Allergy and Infectious Diseases18/03/2020.

Curva epidêmica: como a matemática ajuda a conter o coronavírus

Redução precoce do contato social favorece o controle mais rápido da disseminação do SARS-CoV-2, causador da Covid-19


Coronavírus: achatar a curva epidêmica dificulta o colapso dos sistemas de saúde dos países afetados e agiliza o controle da pandemia. Crédito: mattthewafflecat/Pixabay

Em apenas três meses, de dezembro de 2019 a março deste ano, a nova variedade de coronavírus surgida na China infectou mais de 253 mil pessoas em 183 países e territórios, disseminando uma doença respiratória semelhante à gripe, porém mais grave e letal. Nesse curto intervalo de tempo, houve mais de 10,4 mil mortes – entre elas, sete no Brasil, confirmadas até 20 de março.

Uma análise inicial dos dados brasileiros realizada por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), da Universidade de São Paulo (USP) e pela Universidade Federal do ABC (UFABC) indica que o número de casos dobra no país a cada 2,5 dias. O avanço da epidemia do coronavírus, de proporções planetárias, possivelmente a de mais rápida disseminação nos últimos 100 anos, veio acompanhado de uma enxurrada de informações em tempo real, algumas contendo conceitos pouco familiares às pessoas.

Um deles ganhou o noticiário e até as conversas de cafezinho, ao mesmo tempo que surgiam medidas governamentais mais severas para reduzir o contato social: é o conceito de curva epidêmica, que veio acompanhado da ideia de que é preciso achatá-la para evitar a implosão dos sistemas de saúde.

Mas o que é a tal curva e o que significa achatá-la? A curva epidêmica é representada por um gráfico simples, porém útil para as autoridades de saúde. Velha conhecida dos epidemiologistas, pesquisadores que investigam como as doenças atingem diferentes populações, ela mostra o número de casos no tempo e permite conhecer a evolução inicial da doença, algo fundamental para o 

Forma de sino

Muitas das novas infecções que se abatem sobre a humanidade se comportam de modo semelhante e produzem uma curva epidêmica com a mesma aparência, quase sempre um gráfico em forma de sino. O gráfico é mais estreito no eixo horizontal e alongado no vertical quando a infecção se dissemina rapidamente. E mais bojudo na horizontal e achatado na vertical em epidemias de espalhamento lento. Apresentada nas páginas da revista britânica “The Economist” no início de março, a figura correu o mundo por representar de modo simples o desafio do sistema de saúde dos vários países diante da propagação do novo coronavírus, o SARS-CoV-2, causador da Covid-19.

Assim como as curvas epidêmicas de outras infecções, a do novo coronavírus vem sendo fatiada em três faixas verticais para avaliar a evolução do problema: uma à esquerda, outra central e a terceira, à direita. A faixa mais à esquerda é a que chama mais a atenção de autoridades de saúde atualmente. No caso de infecções novas, contra as quais as pessoas ainda não têm imunidade e que podem contagiar toda a população, essa parte da curva descreve a fase de crescimento exponencial ou acelerado da epidemia. Nela, o número de casos cresce tão rapidamente que o total dobra em poucos dias. Quanto maior esse ritmo de crescimento, mais íngreme se torna a curva.

Toda epidemia – seja local, seja disseminada por uma vasta região do planeta, a chamada pandemia — tem um início, um pico e uma fase final, na qual pode seguir dois caminhos: extinguir-se completamente ou manter um número mais ou menos estável de casos (viram endemias). Epidemiologistas e autoridades da saúde mantêm o foco nessa fase de crescimento acelerado porque ela dita o ritmo de avanço da enfermidade e permite projetar quando a epidemia atingirá seu pico e como ele será. Se o crescimento inicial é íngreme demais, o número de casos pode rapidamente ultrapassar a capacidade de atendimento do sistema de saúde, levando-o ao colapso, como aconteceu em fevereiro e março no norte da Itália.

Momento de agir

“Do ponto de vista da saúde pública, essa fase inicial é o momento de agir, e agir o quanto antes, para tentar desacelerar o ritmo de crescimento da epidemia e reduzir a altura do pico para o nível mais baixo possível, tornando a curva achatada”, afirma o físico Roberto Kraenkel, do Instituto de Física Teórica da Unesp, que trabalha com modelos matemáticos ligados à ecologia e à epidemiologia. Com colaboradores da USP e da UFABC, Kraenkel está usando os dados oficiais para acompanhar a evolução da epidemia do novo coronavírus no Brasil.

A partir dos dados divulgados até 17 de março, quando havia 291 pessoas infectadas no país, o grupo calculou um dos parâmetros que influenciam a fase acelerada da epidemia: o tempo de duplicação do total de casos da doença. Segundo os cálculos do grupo de Kraenkel, atualmente o número de casos dobra, em média, a cada 2,5 dias. “Como o tempo desde o início da epidemia no Brasil ainda é curto, temos poucos dados e a margem de erro é grande, o que significa que os casos podem dobrar um pouco mais rapidamente, a cada 2,2 dias, ou um pouco mais lentamente, a cada 3,1 dias”, relata o pesquisador.

Esse número, no entanto, é suficiente para estimar com um bom grau de precisão como estará a situação nos próximos dias. O grupo projeta que por volta de 1,7 mil casos já tenham sido identificados até a próxima segunda-feira, dia 23. Esse número pode ser um pouco menor, na faixa de 1,3 mil, se o tempo de duplicação for mais longo, ou mais, da ordem de 2,3 mil, se a epidemia se espalhar mais rapidamente, como indica o intervalo no gráfico no site Observatório Covid-19BR, lançado em 18 de março.


A redução da velocidade inicial da epidemia, com o consequente achatamento da curva, é fundamental para não sobrecarregar os hospitais e suas unidades de terapia intensiva (UTIs). Estima-se que apenas 20% das pessoas infectadas pelo SARS-CoV-2 apresentem algum sintoma. Delas, 14% precisam de internação hospitalar e 5% vão parar em UTIs. Como o número de leitos é limitado, o aumento rápido de infecções e de agravamento pode ultrapassar a capacidade de internações do país – no Brasil existem cerca de 450 mil leitos em hospitais públicos e privados, dos quais 41 mil são de UTI, segundo levantamento feito em 2016 pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira.

Menos mortes

Reduzindo o espalhamento das infecções, mesmo que o total de pessoas contaminadas pelo vírus permaneça o mesmo, o pico da epidemia se torna mais distribuído no tempo, o que significa que menos pessoas vão parar no hospital ao mesmo tempo. Essa medida, segundo afirmou à imprensa Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, em 10 de março, levaria a ter menos pessoas infectadas e, em última instância, a ter menos mortes.

Uma forma eficaz de achatar o pico das epidemias é vacinar a população. Como ainda não existe vacina desenvolvida e testada contra o novo coronavírus, as medidas mais eficazes têm sido o distanciamento e o isolamento social. Esse procedimento ajuda a diminuir o número de pessoas para as quais um indivíduo infectado pode transmitir o vírus.

“Ao fazer isso, provavelmente o mesmo número de pessoas terá sido infectado ao final da epidemia, que deverá durar mais tempo, mas o número de casos graves ocorrerá de modo mais esparso. Isso significa que, caso se plote um gráfico do número de casos ao longo do tempo, a curva de subida e descida é mais extensa, mas seu pico é menor. Ao ‘achatar a curva’ dessa maneira, as UTIs terão menos probabilidade de ficar sobrecarregadas”, escreveu o trio de matemáticos Andrew Black, 

Estratégia chinesa

A ideia de que o achatamento da curva poderia funcionar ganhou crédito depois que o governo da China cancelou as festividades de Ano-Novo em janeiro, restringiu as viagens e orientou que milhões de pessoas em diferentes cidades permanecessem em casa. Desse modo, o país conseguiu em cerca de um mês reduzir o número diário de novos casos dos quase 3,9 mil do auge, para pouco mais de uma dezena.

Aparentemente, é possível aproveitar o comportamento acelerado da fase inicial da epidemia para agilizar seu controle. Para isso, no entanto, é preciso agir o quanto antes nessa fase inicial, explicou a epidemiologista britânica Britta Jewell, pesquisadora do Imperial College London e especialista em modelagem de doenças infecciosas, em entrevista publicada em 11 de março no jornal “The New York Times”. Jewell relata que os modelos matemáticos mostrando o efeito do distanciamento social no surgimento de novos casos chamaram-lhe a atenção. “Só é preciso uma diferença de um dia na adoção da medida para haver uma redução de 40% nos casos. Isso é um efeito enorme. Realmente transmite a urgência da situação”, disse.


Usando dados da epidemia nos Estados Unidos na semana passada, com o número de casos aumentando em 30% ao dia, Jewell fez uma projeção do que ocorreria se ações como cancelamento de eventos, restrições de viagens fossem tomadas agora ou uma semana mais tarde. Nessa situação hipotética, impedir uma única infecção hoje aumentaria em quatro vezes o número de casos que se evitaria um mês mais tarde. “Se agirmos hoje, teremos evitado quatro vezes mais infecções no próximo mês: aproximadamente 2.400 infecções evitadas, diante de apenas 600 se esperarmos uma semana”, disse a pesquisadora.

No Brasil, os dados ainda são mais iniciais e não se conhecem outras características da epidemia que permitam traçar sua evolução, como o número de pessoas para as quais um indivíduo infectado pode transmitir o vírus. Kraenkel e seus colaboradores pretendem acompanhar a evolução do quadro nas próximas semanas para avaliar se as medidas adotadas (cancelamento de aulas e orientação para as pessoas ficarem em casa e evitarem contato com outros indivíduos) estão sendo suficientes para reduzir a velocidade de espalhamento do vírus ou se serão necessárias ações mais drásticas, como o fechamento de locais públicos e restrição da mobilidade das pessoas, já adotadas na Itália, França e Espanha. “Saberemos em breve”, diz Kraenkel.

Texto:Ricardo Zorzetto | Pesquisa FAPESP20/03/2020

Coronavírus: análise de genoma sugere combinação de dois vírus

Segundo estudos, o SARS-CoV-2 reúne características de vírus diferentes encontrados em morcegos e pangolins.



Pangolim: a parte do novo vírus que favorece sua entrada nas células humanas parece ter vindo desse animal. Crédito: Wildlife Alliance/Flickr

No espaço de algumas semanas, todos aprendemos muito sobre a Covid-19 e o vírus que a causa: SARS-CoV-2. Mas também houve muitos rumores. E embora o número de artigos científicos sobre esse vírus esteja aumentando, ainda existem muitas áreas cinzentas quanto às suas origens.

Em quais espécies animais ocorreu? Um morcego, um pangolim ou outra espécie selvagem? De onde isso vem? De uma caverna ou floresta na província chinesa de Hubei ou de outro lugar?

Em dezembro de 2019, 27 das primeiras 41 pessoas hospitalizadas (66%) passaram por um mercado localizado no coração da cidade de Wuhan, na província de Hubei. Mas, de acordo com um estudo realizado no Hospital Wuhan, o primeiro caso humano identificado não frequentou esse mercado. Em vez disso, uma estimativa de datação molecular baseada nas sequências genômicas do SARS-CoV-2 indica uma origem em novembro. Isso levanta questões sobre o vínculo entre essa epidemia de Covid-19 e a vida selvagem.

O genoma do SARS-CoV-2 foi rapidamente sequenciado por pesquisadores chineses. É uma molécula de RNA de cerca de 30 mil bases contendo 15 genes, incluindo o gene S, que codifica uma proteína localizada na superfície do envelope viral (para comparação, nosso genoma está na forma de uma dupla hélice de DNA, com cerca de 3 bilhões de bases de tamanho, e contém cerca de 30 mil genes).

Análises genômicas comparativas mostraram que o SARS-CoV-2 pertence ao grupo dos betacoronavírus e está muito próximo do SARS-CoV, responsável por uma epidemia de pneumonia aguda que apareceu em novembro de 2002 na província chinesa de Guangdong e depois se espalhou para 29 países em 2003. Foram registrados 8.098 casos, incluindo 774 óbitos. Sabe-se que os morcegos do gênero Rhinolophus (potencialmente várias espécies de cavernas) foram o reservatório desse vírus e que um pequeno carnívoro, a civeta-de-palma-mascarada (Paguma larvata), pode ter servido como hospedeiro intermediário entre os morcegos e os primeiros casos humanos.

Desde então, muitos betacoronavírus foram descobertos, principalmente em morcegos, mas também em humanos. Por exemplo, o RaTG13, isolado de um morcego da espécie Rhinolophus affinis coletado na província chinesa de Yunan, foi recentemente descrito como muito semelhante ao SARS-CoV-2, com 96% de sequências genômicas idênticas. Esses resultados indicam que os morcegos, e em particular as espécies do gênero Rhinolophus, constituem o reservatório dos vírus SARS-CoV e SARS-CoV-2.




Morcego Rhinolophus affinis: reservatório do vírus RaTG13, 
que tem 96% de sequências genômicas idênticas às do 
SARS-CoV-2. Crédito: foto fornecida por Alexandre Hassanin

Mecanismo de recombinação

Mas como você define um reservatório? Um reservatório é uma ou várias espécies de animais que não são sensíveis, ou não são muito sensíveis, ao vírus, que hospedarão naturalmente um ou vários vírus. A ausência de sintomas da doença é explicada pela efetividade de seu sistema imunológico, o que lhes permite combater muita proliferação viral.

Em 7 de fevereiro de 2020, descobrimos que um vírus ainda mais próximo do SARS-CoV-2 havia sido descoberto no pangolim. Com 99% de concordância genômica relatada, ele sugeriu um reservatório mais provável do que os morcegos. No entanto, um estudo recente sob revisão mostra que o genoma do coronavírus isolado do pangolim-malaio (Manis javanica) é menos semelhante ao SARS-Cov-2, com apenas 90% de concordância genômica. Isso indicaria que o vírus isolado do pangolim não é responsável pela epidemia de Covid-19 que está ocorrendo atualmente.

No entanto, o coronavírus isolado do pangolim é semelhante a 99% em uma região específica da proteína S, que corresponde aos 74 aminoácidos envolvidos no domínio de ligação ao receptor da ECA (enzima conversora da angiotensina 2), aquele que permite a entrada do vírus nas células humanas para infectá-las. Por outro lado, o vírus RaTG13 isolado do morcego R. affinis é altamente divergente nessa região específica (apenas 77% de similaridade). Isso significa que o coronavírus isolado do pangolim é capaz de entrar nas células humanas, enquanto o isolado do morcego R. affinis não é.

Quimera
Além disso, essas comparações genômicas sugerem que o vírus SARS-Cov-2 é o resultado de uma recombinação entre dois vírus diferentes, um próximo ao RaTG13 e outro mais próximo ao vírus do pangolim. Em outras palavras, é uma quimera entre dois vírus preexistentes.

Esse mecanismo de recombinação já havia sido descrito nos coronavírus, em particular para explicar a origem do SARS-CoV. É importante saber que a recombinação resulta em um novo vírus potencialmente capaz de infectar uma nova espécie hospedeira. Para que a recombinação ocorra, os dois vírus divergentes devem ter infectado o mesmo organismo simultaneamente.

Duas perguntas permanecem sem resposta: em qual organismo essa recombinação ocorreu? (um morcego, um pangolim ou outra espécie?) E, acima de tudo, sob que condições essa recombinação ocorreu?

Alexandre Hassanin é professor (HDR) da Universidade Sorbonne, ISYEB – Institut de Systématique, Evolution, Biodiversité (CNRS, MNHN, SU, EPHE, UA), Museu Nacional de História Natural (MNHN). Este artigo, publicado pela revista Planeta em 23.02.20, foi transcrito do site The Conversation, edição de 21.03.20, sob uma licença Creative Commons. 

Gripe de 1918: dez equívocos sobre a ‘maior pandemia da história’

A começar pela denominação “gripe espanhola”, várias falácias sobre a pandemia ainda persistem; conhecer os dados corretos ajuda inclusive no enfrentamento do novo coronavírus.



Hospital Militar no Kansas (EUA), na gripe de 1918. 
(Foto - cortesia do Museu Nacional de Saúde e Meidicina 
do Instituto de Patologia das Forças Armadas, Washington, 
DC / Wikimedia.

Pandemia: é uma palavra assustadora.

Mas o mundo já viu pandemias antes e piores também. Considere a pandemia de gripe de 1918, muitas vezes referida erroneamente como a “gripe espanhola”. Os conceitos errados sobre isso podem estar alimentando medos infundados sobre a Covid-19, e agora é um momento especialmente bom para corrigi-los.

Na pandemia de 1918, acredita-se que entre 50 e 100 milhões de pessoas tenham morrido, representando até 5% da população mundial. Meio bilhão de pessoas foram infectadas.

Especialmente notável foi a predileção da gripe de 1918 por tirar a vida de jovens adultos saudáveis, em oposição a crianças e idosos, que geralmente sofrem mais. Alguns a consideram a maior pandemia da história.

A pandemia de gripe de 1918 tem sido objeto de especulações regulares no último século. Historiadores e cientistas lançaram inúmeras hipóteses sobre sua origem, disseminação e consequências. Como resultado, muitas abrigam equívocos sobre o assunto.

Ao corrigir esses 10 equívocos, todos podem entender melhor o que realmente aconteceu e ajudar a mitigar o custo da Covid-19.

1) A pandemia se originou na Espanha

Ninguém acredita que a chamada “gripe espanhola” tenha se originado na Espanha.

A pandemia provavelmente adquiriu esse apelido por causa da Primeira Guerra Mundial, que estava em pleno andamento na época. Os principais países envolvidos na guerra estavam dispostos a evitar encorajar seus inimigos; portanto, os relatórios sobre a extensão da gripe foram suprimidos na Alemanha, na Áustria, na França, no Reino Unido e nos EUA. Por outro lado, a Espanha neutra não precisou manter a gripe sob sigilo. Isso criou a falsa impressão de que a Espanha estava sofrendo o impacto da doença.

De fato, a origem geográfica da gripe é debatida até hoje, embora hipóteses tenham sugerido o leste da Ásia, a Europa e até o estado do Kansas.

2) A pandemia foi obra de um ‘supervírus’

A gripe de 1918 se espalhou rapidamente, matando 25 milhões de pessoas nos primeiros seis meses. Isso levou alguns a temer pelo fim da humanidade, e há muito alimenta a suposição de que a cepa da gripe era particularmente letal.

No entanto, um estudo mais recente sugere que o próprio vírus, embora mais letal que outras cepas, não era fundamentalmente diferente daqueles que causaram epidemias em outros anos.

Grande parte da alta taxa de mortalidade pode ser atribuída à aglomeração em campos militares e ambientes urbanos, bem como à má nutrição e ao saneamento, que sofreram durante a guerra. Agora, acredita-se que muitas das mortes foram causadas pelo desenvolvimento de pneumonias bacterianas nos pulmões enfraquecidas pela gripe comum (influenza).

3) A primeira onda da pandemia foi mais letal

Na verdade, a onda inicial de mortes pela pandemia na primeira metade de 1918 foi relativamente baixa.

Foi na segunda onda, de outubro a dezembro daquele ano, que as maiores taxas de mortalidade foram observadas. Uma terceira onda na primavera de 1919 foi mais letal que a primeira, mas menos que a segunda.

Os cientistas agora acreditam que o aumento acentuado de mortes na segunda onda foi causado por condições que favoreceram a propagação de uma cepa mortal. As pessoas com casos leves permaneceram em casa, mas as com casos graves estavam frequentemente reunidas em hospitais e acampamentos, aumentando a transmissão de uma forma mais letal do vírus.



Corpos de vítimas da gripe são enterrados no Labrador, 
Canadá, em 1918.  Crédito: Wikimedia

4) O vírus matou a maioria das pessoas que foram infectadas com ele

De fato, a grande maioria das pessoas que contraíram a gripe de 1918 sobreviveu. As taxas nacionais de mortalidade entre os infectados geralmente não excederam 20%.

No entanto, as taxas de mortalidade variaram entre os diferentes grupos. Nos EUA, as mortes foram particularmente altas entre os nativos americanos, talvez devido a menores taxas de exposição a cepas passadas de influenza. Em alguns casos, comunidades nativas inteiras foram exterminadas.

Obviamente, mesmo uma taxa de mortalidade de 20% excede largamente uma gripe típica, que mata menos de 1% das pessoas infectadas.

5) As terapias da época tiveram pouco impacto na doença

Nenhuma terapia antiviral específica estava disponível durante a gripe de 1918. Isso ainda é amplamente verdadeiro hoje, em que a maioria dos cuidados médicos contra a gripe visa apoiar os pacientes, em vez de curá-los.

Uma hipótese sugere que muitas mortes por gripe poderiam realmente ser atribuídas ao envenenamento por aspirina. As autoridades médicas da época recomendavam grandes doses de aspirina, de até 30 gramas por dia. Hoje, uma dose de cerca de 4 gramas seria considerada a dose diária máxima segura. Grandes doses de aspirina podem levar a muitos dos sintomas da pandemia, incluindo sangramento.

No entanto, as taxas de mortalidade parecem ter sido igualmente altas em alguns lugares do mundo onde a aspirina não estava tão prontamente disponível, então o debate continua.

6) A pandemia dominou as notícias do dia

Autoridades de saúde pública, policiais e políticos tiveram razões para subestimar a gravidade da gripe de 1918, o que resultou em menos cobertura na imprensa. Além do medo de que a divulgação completa poderia encorajar os inimigos durante a guerra, eles queriam preservar a ordem pública e evitar o pânico.

No entanto, as autoridades responderam. No auge da pandemia, quarentenas foram instituídas em muitas cidades. Algumas foram forçadas a restringir serviços essenciais, incluindo polícia e bombeiros.

7) A pandemia mudou o curso da Primeira Guerra Mundial

É improvável que a gripe tenha mudado o resultado da Primeira Guerra Mundial, porque os combatentes de ambos os lados do campo de batalha foram relativamente afetados.

No entanto, há poucas dúvidas de que a guerra influenciou profundamente o curso da pandemia. A concentração de milhões de soldados criou circunstâncias ideais para o desenvolvimento de cepas mais agressivas do vírus e sua disseminação pelo mundo.



Vírus da gripe de 1918 reconstituído: aparentemente, 
sua alta letalidade está associada a uma reação exagerada do
sistema imunológico. Crédito: CDC/ Dr. Terrence Tumpey/
Cynthia Goldsmith/Wikimedia.

8) A imunização generalizada encerrou a pandemia

A imunização contra a gripe não foi praticada em 1918 e, portanto, não teve nenhum papel no fim da pandemia.

A exposição a cepas anteriores da gripe pode ter oferecido alguma proteção. Por exemplo, soldados que serviram nas forças armadas durante anos sofreram taxas mais baixas de mortes do que os novos recrutas.

Além disso, o vírus de mutação rápida provavelmente evoluiu ao longo do tempo para cepas menos letais. Isso é previsto por modelos de seleção natural. Como cepas altamente letais matam seu hospedeiro rapidamente, elas não podem se espalhar tão facilmente quanto as cepas menos letais.

9) Os genes do vírus nunca foram sequenciados

Em 2005, os pesquisadores anunciaram que haviam determinado com sucesso a sequência genética do vírus influenza de 1918. O vírus foi recuperado do corpo de uma vítima de gripe enterrada no permafrost do Alasca, bem como de amostras de soldados americanos que adoeceram na época.

Dois anos depois, descobriu-se que macacos infectados com o vírus exibiam os sintomas observados durante a pandemia. Estudos sugerem que os macacos morreram quando seus sistemas imunológicos reagiram exageradamente ao vírus, a chamada “tempestade de citocinas”. Os cientistas agora acreditam que uma reação exagerada do sistema imunológico semelhante contribuiu para altas taxas de mortalidade entre jovens adultos saudáveis ​​em 1918.

10) O mundo não está mais preparado hoje do que em 1918
As epidemias graves tendem a ocorrer a cada poucas décadas, e a mais recente está diante de nós.

Hoje, os cientistas sabem mais sobre como isolar e lidar com um grande número de pacientes doentes e moribundos, e os médicos podem prescrever antibióticos, não disponíveis em 1918, para combater infecções bacterianas secundárias. A práticas de senso comum, como distanciamento social e lavagem das mãos, a medicina contemporânea pode adicionar a criação de vacinas e medicamentos antivirais.

No futuro próximo, as epidemias virais continuarão a ser uma característica regular da vida humana. Como sociedade, podemos apenas esperar que tenhamos aprendido as lições da grande pandemia suficientemente bem para reprimir o atual desafio da Covid-19.

O autor deste texto, Richard Gunderman, é Professor de Medicina, Artes Liberais e Filantropia da Universidade de Indiana (EUA). Esta é uma versão atualizada de um artigo publicado originariamente pela revista Planeta em 11 de janeiro de 2018 e agora transcrito do site The Conversation sob uma licença Creative Commons. 

segunda-feira, 23 de março de 2020

O infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus do Estado de São Paulo, testou positivo para coronavírus nesta segunda-feira, 23.

A informação foi confirmada pelo governador João Doria em suas redes sociais. 

Doria também afirmou que passará pelos exames correspondentes à Covid-19, pois tem convivido diariamente com o médico que costuma participar de coletivas de imprensa sobre as ações a serem tomadas para conter o impacto da pandemia no Estado.

De acordo com Doria, Uip está isolado, passa bem e permanecerá em sua casa.

Em vídeo, o médico garantiu que seguirá colaborando com o Estado no combate à Covid-19 e agradeceu também às mensagens de solidariedade que tem recebido.

Fonte: VEJA.com.br

Brasil acerta nas medidas no combate ao coronavírus, mas desigualdade preocupa, dizem especialistas

Próximos dias serão cruciais para determinar a curva de crescimento do número de casos e o perfil assumido pela epidemia no País

'A desigualdade social é grave e vai se agravar muito com a epidemia', diz especialista
 
Especialistas brasileiros e estrangeiros concordam que o Brasil está tomando as medidas corretas, no momento certo, para reduzir o impacto da disseminação do novo coronavírus. A profunda desigualdade social, no entanto, pode se transformar no maior entrave à eficácia da estratégia. Os próximos dias serão cruciais para determinar a curva de crescimento do número de casos e o perfil assumido pela epidemia no País.

Os quase três meses entre o surgimento da covid-19 na China e o primeiro registro em São Paulo deram ao Brasil uma grande vantagem. O País ganhou tempo para analisar as estratégias adotadas por diferentes países e optar pelas mais bem sucedidas no enfrentamento da infecção.

A experiência estrangeira mostra que as medidas de isolamento e restrição de movimentos devem ser adotadas bem no início da epidemia para funcionarem. Quando cumpridas à risca pela população, são eficazes em reduzir a velocidade da disseminação da doença. Assim, preservam o sistema de saúde do colapso. Ele viria com a explosão de casos em uma quantidade muito acima da capacidade de ação dos hospitais e pessoal médico.

Mas o Brasil tem uma diferença crucial em relação aos outros países por onde passou até agora a epidemia: é uma das nações mais desiguais do mundo. Com 40% da população na informalidade, quem terá condições de ficar em casa por um longo período, sem ganhar dinheiro? Para especialistas, esse é o maior desafio imposto às autoridades brasileiras no enfrentamento da epidemia.

Se o problema não for levado em conta, explicam, as medidas não surtirão o efeito desejado. A epidemia então se abaterá com muita força, sobretudo na população mais carente. Esses brasileiros, muitas vezes, vivem em condições que propiciam ainda mais a disseminação do vírus: sem saneamento básico e aglomerada em espaços exíguos, como as favelas.

“Vejo as próximas semanas com a maior preocupação”, afirma o médico Dráuzio Varella. “Não há experiência prévia dessa epidemia num país com tanta desigualdade social, em que 40% da economia é informal. Precisamos saber como será possível paralisar essas pessoas.”

Doença está deixando vítimas na Ásia e já foi diagnosticada em outros continentes; Organização Mundial da Saúde está em alerta para evitar epidemia
Levantamento divulgado na última quinta-feira, 19, pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (Nois), formado por especialistas da PUC-RJ, da Fiocruz e do Instituto D'Or, analisou as estratégias adotadas por diferentes países contra o vírus. Constatou a eficácia das medidas de isolamento e restrição da mobilidade. O grupo está monitorando a curva de crescimento dos casos no País.

 “Tentamos identificar em diferentes países como as ações de mitigação impactavam o curso da epidemia dependendo do momento em que são adotadas”, explica o infectologista Fernando Bozza, da Fiocruz e do Instituto D'Or, que participou do levantamento. “A nossa análise mostra que os países que demoraram a adotar as medidas ou não as adotaram nacionalmente têm um resultado pior, e sugere que quando as ações são tomadas precocemente elas são mais eficazes.”

Medidas como isolamento e restrições de deslocamento adotadas pela China e Coreia do Sul foram eficazes na redução das taxas de crescimento dos casos de covid-19. Países como Itália e Espanha, que demoraram mais tempo a tomar tais medidas, tiveram uma curva de crescimento de casos mais acentuada. Agora, são forçados a adotar medidas mais radicais, enquanto enfrentam grande quantidade de mortes, sobretudo de idosos.

No caso da Itália, o crescimento exponencial do número de casos em um período de tempo muito curto provocou o colapso do sistema de saúde. A Itália já ultrapassou a China em número de vítimas fatais, com quase 5.500 mortes, contra 3.270 no país asiático. 

“Muitos países estão olhando agora para a Itália como um caso de estudo e os próprios médicos italianos estão dizendo ‘não façam como nós fizemos’. Quer dizer, não pensem que não é nada, levem isso muito a sério”, afirmou o virologista Kurt Williamson, da Universidade Will & Mary, nos Estados Unidos. “Já está claro que esse vírus pode ser transmitido pelo que chamamos de ‘dispersão comunitária’. Ou seja, não é só quando uma pessoa tosse na sua cara. O contato casual com uma pessoa infectada pode ser o suficiente. Por essas razões, fechar lojas, restaurantes e escolas, trabalhar de casa, manter as pessoas afastadas de grandes aglomerações e eventos sociais é exatamente o que precisamos fazer.”

Itália.

O Reino Unido, inicialmente, adotou uma estratégia diferente da maioria da Europa, isolando somente os doentes, e apostando na chamada imunização de rebanho. De acordo com essa tática, depois que 80% da população tivesse a doença (a maioria de forma branda), seria criada, a médio prazo, uma imunidade coletiva. Mas Boris Johnson mudou rapidamente de ideia depois que um estudo do Imperial College de Londres mostrou que a estratégia resultaria em pelo menos 260 mil mortes no país. Já decretou o fechamento das escolas a partir de segunda-feira, 23.

“A gente sabe que não dá para evitar completamente a epidemia, mas temos de retardar a velocidade de transmissão implementando mais cedo essas medidas; ainda estamos dentro da janela de oportunidade, mas estamos bem em cima dela”, explica Marcelo Gomes, especialista em saúde pública da Fiocruz. Ele é um dos responsáveis pela elaboração de um relatório que estima o risco da disseminação da epidemia no Brasil. “A questão toda agora é saber se a população vai, de fato, aderir às recomendações; esse é um ponto muito importante. Se a população não aderir, a gente vai encontrar um cenário extremamente preocupante.”

Mas Gomes também chama atenção para a questão da desigualdade social. Enquanto parte da população brasileira tem condições de restringir os deslocamentos e trabalhar de casa, uma boa parcela dos brasileiros não tem essa opção.

“Não é só uma questão de passar informação e convencer as pessoas. Muita gente tem dificuldade de aderir a essas medidas, são trabalhadores informais, gente que não tem carteira assinada, que não pode fazer trabalho remoto”, disse Gomes. “Como é que essa população vai conseguir aderir? Sem medidas de apoio por parte do governo, a escolha é entre o risco de adoecer e a falta de renda no final do mês. É preciso dar suporte a essa população, como foi feito na Alemanha e na França.”

O ministro da Economia, Paulo Guedes, já anunciou que pretende destinar R$ 200 mensais aos trabalhadores autônomos que não recebam o Bolsa Família. Para os especialistas, no entanto, isso não é suficiente.

“A imensa maioria da população vive no limite da sobrevivência. Seria preciso garantir a ela uma renda mínima, nem que fosse provisória, durante alguns meses”, defendeu o presidente do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil, Oded Grajew. “E também a criação de um imposto de solidariedade que incidisse sobre a parcela mais rica da população.”

Balanço do Ministério da Saúde divulgado no domingo, 22, mostra que País já tem 25 mortes pela doença e 1.546 casos confirmados.

Medidas que os governos federal, estaduais e municipais vem tomando contra o avanço da doença

Fechamento de fronteiras e restrição de voos
Isolamento dos idosos, que são a população de maior risco
Trabalhar de casa sempre que possível
Evitar deslocamentos necessários; sair apenas para trabalhar e comprar comida
Restrição nos deslocamento intermunicipal e dentro dos estados
Restrição no uso dos transportes públicos
Evitar aglomerações em shows, eventos esportivos, festas, praia
Suspensão das aulas em escolas e universidades
Restrição do funcionamento de restaurantes e bares
Fechamento de shoppings centers e academias de ginástica.

Roberta Jansen, O Estado de S.Paulo

Brasil teria onze vezes mais casos de coronavírus do que o notificado oficialmente, diz pesquisa

"Estamos vendo a ponta de um grande iceberg".

O  Brasil teria hoje mais de 15 mil casos do novo coronavírus – onze vezes mais do que os 1.546 registrados oficialmente. A estimativa é do Centro para Modelagem Matemática de Doenças Infecciosas da London School of Tropical Medicine, do Reino Unido, que fez uma estimativa da subnotificação da covid-19 em vários países. O levantamento mostra que no Brasil apenas 11% do total de casos foram diagnosticados.

"Estamos vendo a ponta de um grande iceberg", afirmou o epidemiologista Roberto Medronho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que não participou do estudo, mas analisou os dados a pedido do Estado. "As minhas estimativas eram bem similares, cerca de 10%, mas isso não é, necessariamente, uma falha do sistema."

Coronavírus Rio de Janeiro

Dentre os casos que apresentam sintomas, apenas uma parte procura o sistema de saúde
Roberto Medronho, epidemiologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Isso acontece, segundo especialistas, porque a grande maioria (cerca de 80%) dos casos da infecção pelo novo coronavírus é assintomática ou apresenta sintomas muito leves e acaba não sendo diagnosticada. Atualmente, no Brasil, apenas os casos mais graves, que chegam aos hospitais e são testados, estão recebendo o diagnóstico oficial.

"Dentre os casos que apresentam sintomas, apenas uma parte procura o sistema de saúde", explicou Medronho. "Desses que vão ao hospital, apenas parte é diagnosticada como covid-19 e outra parte pode receber um diagnóstico errado. E ainda tem casos que não são notificados oficialmente."

O mesmo estudo mostra que na Itália, que enfrenta uma das piores epidemias, o percentual de casos diagnosticados corresponderia a apenas 4,6% do total real. Número parecido com o da Espanha, 5,3%. França e Bélgica têm percentuais similares ao do Brasil, respectivamente 9,2% e 12%.

Por outro lado, nos países que tiveram resultados melhores na contenção da epidemia, como a Coreia do Sul e a Alemanha, os percentuais de casos diagnosticados seriam bem mais próximos do número real, respectivamente 88% e 75%. Isso ocorre porque esses países tiveram condições de testar a grande maioria de sua população – mesmo a que não apresentava sintomas – isolando imediatamente todos aqueles cujo teste deu positivo.

Por isso a Organização Mundial de Saúde (OMS) insiste que a testagem em massa é fundamental. O problema é que não há testes disponíveis na escala que seria necessário para o Brasil, com 210 milhões de habitantes. "Esse levantamento mostra que a estratégia de testagem em massa e isolamento daqueles que testam positivo tem um grande impacto na redução da curva de crescimento da doença", explicou Medronho. "A redução da subnotificação é importante e é crucial que o ministério esteja se adequando a essa diretriz, e aumentando a testagem."

Embora o estudo tenha sido feito por uma das mais respeitadas instituições científicas do mundo, ele não foi ainda publicado em uma revista científica, o que significa que também não foi revisado por outros especialistas. Esse procedimento é aceitável em um momento de pandemia, em que a rapidez na divulgação de informações como essa pode ser importante para elaborar e aprimorar políticas públicas.

Roberta Jansen, O Estado de S.Paulo

Em ano de coronavírus, dengue não para de fazer vítimas no Brasil

Especialistas temem que covid-19 leve população a se descuidar no combate a outras doenças que assolam o país, especialmente a dengue. Casos prováveis da enfermidade neste ano ultrapassam 300 mil, com 32 mortes.

Nas ruas da cidade de São Paulo, o trabalho das equipes de zoonoses não para. Enquanto a pandemia do novo coronavírus avança e leva moradores a ficarem em casa, os agentes se protegem como podem durante as visitas a residências em busca de um outro causador de doença: o mosquito Aedes aegypti.

"É claro que estamos com medo, usamos luvas e máscaras quando entramos nas casas. Mas os números da dengue também estão alarmantes", disse a coordenadora de uma das equipes de combate à dengue que prefere não ter o nome citado na reportagem.

O Aedes aegypti, conhecido dos brasileiros, é vetor não apenas da dengue. O mosquito também é capaz de transmitir a humanos doenças como chikungunya e zika.

Considerando-se os boletins divulgados pelos estados, a soma dos casos prováveis de dengue ultrapassa 300 mil, até o começo de março. São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul concentram a maioria deles.

Levando-se em conta os dados mais recentes divulgados pelo Ministério da Saúde para 2020, que disponibiliza notificações recebidas até a segunda semana de fevereiro, os casos de dengue subiram 71% em relação ao mesmo período do ano passado. Foram 32 mortes confirmadas neste ano, o dobro das 16 registradas nas primeiras semanas de 2019. O número total registrado na última temporada de verão, no entanto, deve ser muito maior, pois a chegada do coronavírus ao Brasil pode ter atrasado a divulgação dos boletins epidemiológicos no ministério.

"Estamos em plena estação de dengue", comenta Expedito José de Albuquerque Luna, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP). "A notificação deve estar sendo negligenciada nos estados devido à pandemia."

A explosão da dengue no início de 2020 segue a tendência de 2019, quando houve uma alta de 488% em relação ao ano anterior.

"Dengue é uma doença urbana, e o inseto é adaptado a nós, que somos o alimento dele. Em cidades de países subdesenvolvidos, como o Brasil, há muitas pessoas vivendo em situação precária e sem saneamento básico. Por isso é tão difícil acabar com a doença”, analisa Luna.

Vigilância e negligência

Apesar da gravidade da pandemia do novo coronavírus e das 25 mortes contabilizadas até a manhã desta segunda-feira (22/03), é urgente não descuidar do combate a doenças transmitidas principalmente pelo Aedes aegypti.

"A dengue está aí há anos. A cada verão se tem uma epidemia. Mas a ação para evitar isso é mais difícil", compara Dilene Raimundo do Nascimento, da Casa de Oswaldo Cruz.

Para um combate eficiente, avalia Nascimento, influenciam o estágio da pesquisa científica, tecnologia e dos interesses científico e político em relação à doença. "Quando a dengue surgiu, ela acometia uma população mais pobre, porque o mosquito precisa de água limpa para se reproduzir. E quem tem que acumular água limpa é quem não tem água encanada em casa", pontua a pesquisadora.

Segundo a médica, foi apenas quando a dengue se expandiu para a zona sul do Rio de Janeiro e começou a se manifestar como dengue hemorrágica que houve um interesse maior. "Mas, mesmo assim, não foi um interesse resolutivo", critica.

A corrida pelo desenvolvimento de uma vacina eficiente contra a dengue continua. A única liberada até o momento é do laboratório Sanofi-Aventis. Mas é controversa: não pode ser usada em menores de nove anos e é recomendada apenas para quem já teve dengue uma vez. Um acompanhamento de longo prazo com voluntários que participaram das pesquisas mostrou que a pessoa vacinada que contrai dengue pela primeira vez pode desenvolver uma forma mais grave da doença.

Expedito José de Albuquerque Luna, pesquisador da USP, acompanha um estudo que avalia um grande uso dessa vacina no Paraná em pessoas que já tiveram dengue. Os primeiros resultados devem ser divulgados a partir de maio.

Outros surtos em andamento

Antes de a covid-19, a doença respiratória causada pelo novo coronavírus, fazer suas primeiras vítimas no Brasil, a dengue já não era a única doença a assombrar a população. Outra ameaça atual é o sarampo, doença viral grave, especialmente para crianças menores de cinco anos que sofrem com desnutrição e baixa imunidade. A transmissão é parecida com a do coronavírus: ocorre a partir de gotículas de doentes ao espirrar, tossir, falar ou respirar.

Depois de décadas sem circular no Brasil, o sarampo contaminou 19,3 mil e matou 15 no país em 2019, segundo informações reportadas à Organização Mundial da Saúde (OMS). Até o começo de fevereiro deste ano, 338 novos casos foram confirmados no Brasil, com três mortes. Para conter o vírus, a estimativa é que mais de 3 milhões de brasileiros entre 5 e 19 anos, ainda não imunizados, sejam vacinados, informou o Ministério da Saúde.

"A vacina evita que as crianças tenham sarampo. O que é necessário para que a população seja vacinada? Política pública. Os órgãos de saúde precisam ter uma política clara para essa questão", critica Dilene Raimundo do Nascimento, médica e pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz, da Fiocruz.

A volta dos óbitos provocados pelo sarampo, analisa Nascimento, pode ser explicada. "Houve um relaxamento das campanhas de imunização. Então, tivemos a volta do sarampo, que é algo absurdo", lamenta.

A preocupação com contaminação viral se estende à febre amarela, que pode ser combatida com vacina há mais de 80 anos. Desde junho de 2019, 503 pessoas foram infectadas.

Há cinco décadas acompanhando epidemias pelo mundo, o infectologista Hélio Bacha, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, pontua ainda outros males que assolam a saúde pública.

"A zika, claro, foi uma grande epidemia, mas não havia óbitos. Havia, fundamentalmente, malformação e sequelas graves", pontua Bacha. Desde janeiro, foram notificados 579 casos prováveis de zika no país, segundo dados oficiais. "Por outro lado, os danos para os pacientes que nasceram com microcefalia provocada pelo vírus zika são duradouros, o que é muito triste."

Fonte: Deutsche Welle, a emissora internacional da Alemanha produzindo jornalismo independente em 30 idiomas.