quinta-feira, 23 de maio de 2019

Porandubas Políticas

Por Gaudêncio Torquato

Nesses tempos em que o nome de Deus é invocado em vão, abro a coluna com o senhor dos Céus.

Eu e Deus

O "causo" ocorreu em Conchas/SP. Era a audiência de um processo - requerimento do Benefício Assistencial ao Idoso para um senhor alto, velho, magro, negro, humilde e muito simpático, tipo folclórico da cidade. Antes da audiência, o advogado lembrou ao seu cliente para afirmar perante o juiz morar sozinho e não ter renda para manter a subsistência. Nisso residiria o sucesso da causa. Na audiência, veio a pergunta:

- O senhor mora sozinho?

- Não! Respondeu ele (o advogado sentiu que a coisa ia degringolar).

- Hum, não? Então, com quem o senhor mora?

- Eu e Deus, respondeu o matreiro velhinho.

O advogado tomou um baita susto. Mas a causa foi ganha. O juiz considerou procedente a ação. (Historinha enviada por Éder Caram e contada pelo pai dele).

O Deus de Franco

Pois é. Os governantes de todos os quadrantes não raro costumam escolher Deus como escudo. A história está pontilhada de referências a Deus. Em seus 40 anos de reinado, o ditador general Franco, "Caudillo da Espanha pela Graça de Deus" referia-se frequentemente à Providência Divina, conforme passagens de seus discursos, como esta de 1937: "Deus colocou em nossas mãos a vida de nossa Pátria para que a governemos". Os estatutos da Falange Espanhola o declaram "responsável perante Deus e perante a história". Lembrete: a Falange Espanhola, criada em 1933 por José Antônio Primo de Rivera, foi um movimento e um partido político inspirado no fascismo.

Reis e o Direito Divino

As ideias que justificam a autoridade e a legitimidade de um monarca se originam no direito divino. A doutrina do direito divino sustenta que um rei deriva seu direito de governar da vontade divina, e não de qualquer autoridade temporal, nem mesmo da vontade de seus súditos. Hassan II, no Marrocos, se declarava descendente do profeta Maomé. Dizia: "não é a Hassan II que se venera, mas ao herdeiro de uma dinastia, a uma linhagem dos descendentes do profeta Maomé". Da mesma forma, o rei Khaled da Árábia Saudita se apresenta como defensor da lei e da tradição, fundamentando seu poder no direito divino.

Hirohito

Hirohito, imperador do Japão de 1926 até sua morte, também era visto como uma divindade pelos japoneses. Criou esta fama, não só por ter uma realidade distante da população que viveu guerras e mortes, mas também por construir uma aura divina. Ele nunca aparecia com roupas normais, sempre estava vestido com vestimentas dignas de um "imperador divino e perfeito", como um deus que os japoneses acreditavam ser descendente da deusa do sol, Amaterasu.

Idi Amin

O marechal Idi Amin Dada, ditador de Uganda, garantia ao povo que conversava com Deus, em sonhos, uma espécie de aval concedido a seus atos. Certo dia, um esperto jornalista joga a pergunta: "o senhor conversa com frequência com Deus"? O cara de pau marechal: "só quando necessário". Já em Gana, os eleitores cantavam assim a figura de Nkrumah: "o infalível, o nosso chefe, o nosso Messias, o imortal".

Deus na moeda

Os americanos têm gravado em sua moeda o lema: In God We Trust (Em Deus Confiamos). Foi designado por um ato do Congresso em 1956. Já no Brasil, no início dos anos 80, a população era de cerca de 120 milhões de pessoas. Dessas, 89% pertenciam à religião católica. Apenas 1,6% das pessoas se diziam sem religião, 6,6% eram evangélicas e 3,1% se identificavam com outras crenças. O país tinha acabado de adotar o cruzado, e o então presidente da República, José Sarney, solicitou ao Banco Central imprimir a expressão na nova moeda. Sarney tomou como base outros modelos, como o dos EUA, e ordenou que nossas cédulas passassem a conter: "Deus seja louvado".

Bolsonaro, o enviado

E agora surge nos céus da divindade Jair Bolsonaro. O nosso Messias, que viu a fala de um pastor evangélico do Congo, Steve Kunda: "Na história da Bíblia, houve políticos que foram estabelecidos por Deus. Um exemplo quando falam do imperador da pérsia Ciro. Antes do seu nascimento, Deus fala através de Isaías: 'Eu escolho meu sérvio Ciro'. E senhor Jair Bolsonaro é o Ciro do Brasil. Você querendo ou não". Assim o pastor congolês falou em vídeo. E o que faz o nosso presidente? Insere o vídeo nas redes sociais. Arrematando: "não existe teoria da conspiração, existe uma mudança de paradigma na política e quem deve ditar os rumos do país é o povo. Assim são as democracias". O dono do lema coroa a ideia: "Brasil acima de tudo; Deus acima de todos".

Deus, Jesus, Cristo

Em 2019, de cada 100 tuítes postados com a palavra Bolsonaro, quatro traziam citações a Deus, Jesus ou Cristo. Entre os mais citados também apareceu Satanás, como fez questão de mencionar, em sua postagem de 13 de março, o usuário do Twitter Beto Silva. "Satanás e seus asseclas amam a mentira. O problema é que a mentira nunca prevalece sobre a verdade. Resumindo: eles continuarão fracassando e Bolsonaro continuará cavalgando no lombo deles".

Macedo apela

O bispo da Igreja Universal, Edir Macedo, pede que Deus 'remova' quem se opõe a Bolsonaro. E acusou políticos de tentarem "impedir o presidente de fazer um excelente governo". Disse ainda que Marcelo Crivella enfrenta "impeachment do inferno".

O próprio culto

O fato é que os governantes em países atrasados culturalmente (e até em mais desenvolvidos) costumam organizar seu próprio culto. E agem para que a imprensa cultive uma imagem que geralmente é a combinação de facetas: herói, salvador da pátria, guerreiro, super-homem, pai dos pobres e até Enviado dos Céus. Nietzsche já alertava contra essa esperteza: Dizia ele: "o super-homem destrói os ídolos, ornando-se com seus atributos. A apoteose da aventura humana é a glorificação do homem-Deus".

Símbolo de veneração

O duce Mussolini e o führer Hitler tentavam criar uma divindade substituta. O culto à personalidade fazia parte da liturgia. Lênin continua exposto à veneração pública em seu esquife de vidro. Já Stalin ganhou, por ocasião de sua morte, uma "canção" que realçava grandeza super-humana: ó tu, Stalin, grande chefe dos povos, que fizeste nascer o homem, que fecundas a terra, que rejuvenesces os séculos, que teces a primavera, que fazes cantar a lira...Sem esquecer o "camarada" Mao. (Badalação sem tamanho).

A onda direitista

Essa tendência de se ver como "o iluminado" tem sido mais forte na paisagem direitista que, nos últimos anos, cobre importantes espaços do planeta, inclusive Nações culturalmente avançadas. Emerge em muitos países uma retórica direitista, com viés populista, que tende a jogar a imprensa no canto do ringue. Listemos alguns países onde essa retórica se apresenta: Hungria, Polônia, Áustria, Itália, Suíça, Noruega, Dinamarca, Filipinas, Turquia e, claro, os Estados Unidos de Donald Trump.

O papel da imprensa

Diante dos atores que vestem "o manto de protetor da Nação", (acima descritos), como se enxerga a imprensa? Qual seu papel? Ora, a imprensa é o esteio da liberdade de expressão. Liberdade que pertence ao povo, não aos governantes. Se a imprensa faz críticas, cobranças, apontamentos, conforme seu traçado nos sistemas democráticos, ela é vista como "a voz do demônio", a porta-voz de adversários políticos, a tribuna dos perdedores.

Freios e contrapesos

No Brasil, podemos analisar o papel da imprensa sob a ótica da crise em que o país vive. Crise que desmantela até o sistema de freios e contrapesos (check and balance system), o mecanismo arquitetado pelo barão de Montesquieu para conter os abusos de um poder sobre outro - Executivo, Legislativo e Judiciário. A crise que corrói o sistema político estiola a força dos Poderes e instituições, desnivelando a estrutura de poder. Vemos o Executivo perdendo força e não conseguindo levar adiante seus programas. Vemos um Judiciário perdendo credibilidade, a ponto de alguns de seus protagonistas passarem a frequentar o dicionário de imprecações das ruas. Já o Poder Legislativo, por falta de habilidade do Executivo, reforça poderio com a criação de uma agenda própria. Ganha força.

Sucursais do inferno

As críticas da imprensa aos Poderes constitucionais acionam mecanismos de defesa por parte de seus protagonistas, cada qual passando a enxergar a mídia como adversária. Esse posicionamento é mais crítico por parte do Poder Executivo. Os governantes não aceitam que jornais, revistas, rádio e TV exerçam as funções clássicas de promover a integração social por meio de sua carga informativa, não aceitam que sejam vigilantes dos governos e poderes públicos, não aceitam que façam cobranças. E menos ainda que abram espaços para os movimentos sociais.

A crise da imprensa

É verdade que a imprensa também perdeu poder nas últimas décadas, na esteira da crise que assola as democracias representativas. Essa crise abriga o declínio das ideologias, a desmontagem dos partidos, o arrefecimento das bases, o declínio das oposições, a perda de força dos Parlamentos, entre outros fatores. A imprensa sofre os efeitos da crise econômica que solapa grandes grupos de mídia, em função dos impactos causados pelas novas tecnologias - as redes sociais - e pela remodelagem dos modelos de comunicação.

Fontes e canais

Como é sabido, os governantes passaram a ser fontes de comunicação e eles mesmos assumem a condição de distribuidores de mensagens, com canais próprios nas redes. Os consumidores se veem, agora, sendo alvo de um bombardeio informativo e, ainda, de notícias falsas, que as mídias tradicionais não conseguem substituir.

Menos recursos

Os volumosos investimentos publicitários deixaram de ser distribuídos aos grupos de comunicação. A crise financeira derruba pilastras importantes do edifício da comunicação. Milhares de empregos deixam de existir. A massificação informativa via internet cria novas levas de consumidores, eles mesmos sendo receptores e fontes de comunicação. Interessante é observar que o funil da comunicação passa a ter sua entrada quase com a mesma largura da saída. Ou seja, as portas de entrada e de saída das mensagens passam a abrigar quantidades quase idênticas de transmissores e receptores de informação.

O jornalismo de opinião

Assiste-se a uma monumental expansão do juízo de valor sobre os fatos do cotidiano. O "achismo" inunda o mercado. Expande-se a rede de influenciadores, colunistas, intérpretes e quadros de opinião em detrimento da informação socialmente significativa. Os grupos de imprensa tornam-se alvos da crítica social. Parcela ponderável do poderio da imprensa clássica entra nas mãos de grupos financeiros/investidores do mercado.

A comunicação institucional

A sociedade atravessa um ciclo de densa organicidade. Multiplica-se a teia de associações, movimentos, núcleos, grupos e organizações de toda espécie, que criam sistemas e estruturas próprias de comunicação - assessorias, consultorias, agências e grupos independentes. A par dessa visão compartimentada da sociedade, os Poderes constituídos - Executivo, Legislativo e Judiciário - também organizam, há muito tempo, operações próprias de comunicação (com sistemas de rádio e TV, equipes profissionalizadas, etc.) Assim, a carga informativo-analítica da mídia tradicional torna-se menor. Amplia-se consideravelmente o universo de receptores de mensagens institucionais, originadas nos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário em todas as três esferas: Federal, estadual e municipal. Parcela dos profissionais da grande imprensa migra para as estruturas de comunicação institucional.

Impactos e efeitos

Os impactos dessa realidade começam a ser medidos, a partir da cultura de absorção de informação por parte de nossa sociedade virtual. Entre os efeitos, podemos anotar:

- perda de credibilidade na informação (abundancia de fake news)

- perda de qualidade informativa

- ingresso de "exércitos" dispostos a integrar a "guerra da informação e da contra-informação"

- formação e expansão do apartheid social por meio da guerra expressiva; polarização discursiva

- Enfraquecimento financeiro dos grupos tradicionais de comunicação

- Desemprego em massa de jornalistas

-Incremento de mensagens falsas que chegam aos grupamentos sociais

- Reformulação do modelo clássico de comunicação

- Fortalecimento da "individualidade"

- Expansão do Estado-Espetáculo: olimpianos da cultura de massa; criação de mitos

- Negação dos "perfis tradicionais" da velha política.

Controle

No meio desse turbilhão, o brasileiro que se acha escolhido de Deus investe contra a imprensa e tenta criar a sua própria realidade. Talvez não perceba que só os seus mais fanáticos seguidores acreditam que ele é emissário dos Céus.

P.S. Luiz Inácio, em 2005, até que tentou criar um Conselho Federal de Jornalismo. Objetivo: "orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão e a atividade do jornalismo".

Gaudêncio Torquato, Professor Titular na USP, é cientista político e consultor de marketing político.

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Livro Porandubas Políticas

A partir das colunas recheadas de humor para uma obra consagrada com a experiência do jornalista Gaudêncio Torquato.

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segunda-feira, 20 de maio de 2019

Apaixonado, Lula quer casar

Bresser Pereira, Ministro da Fazenda no Governo Sarney, visitou Lula na prisão, em Curitiba, e saiu de lá com esta revelação - o líder maior do PT está apaixonado e vai se casar, tão logo saia da prisão.

"Ele está em ótima forma física e psíquica", avalia Bresser comentando, via rede social, sua visita ao ex-Presidente no último sábado. 

Rosângela, a namorada de Lula, é socióloga, tem 40 anos de idade, trabalha na Itaipu Binacional, em Curitiba. Visita com frequência o namorado em sua cela na Policia Federal. Ele tem 73 anos e está viúvo há 2 anos.

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Rosângela, a namorada com quem o ex-Presidente Lula pretende casar, é socióloga e tem renda própria. Trabalha na área de sustentabilidade da Itaipu Binacional, em Curitiba. (Foto tirada de uma rede social).

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Mora na filosofia

Por Edson Vidigal

Ora, fazer horóscopo seria mais fácil.

Descobriu isso quando, algumas vezes, o diretor da redação escalava alguém por perto para aliviar a ansiedade dos que, no dia seguinte, corriam os olhos na página de sempre.

O pacote quinzenal da ANSA, uma agencia italiana, garantia ao matutino uma miscelânea de textos enxutos sobre temas atraentes, incluindo receitas de macarronadas, curiosidades históricas e o indefectível horoscopo.

Quando, algumas vezes, o correio demorava na entrega, tudo podia ficar para depois. Menos a coluna cativa do horoscopo, a mais confiável na mídia impressa local.

Qual era o truque para um bom horoscopo substitutivo do que vinha de Roma? E tinha truque? Tinha, sim.

Havia um mapa de pessoas conhecidas, cada uma com o seu signo. A partir daí soltavam-se as armadilhas suavemente.

Prosaicas insinuações tipo experimente ir hoje ao cinema. Ou evite contato com aquela pessoa invejosa. Não exagere à mesa. Beba bastante água. E tal.

As previsões e conselhos eram tanto melhores se o astrólogo de araque mantivesse o acompanhamento pessoal, no mínimo, na metade das pessoas com quem convivia sabendo-lhes os signos.

Viciando-se em previsões, logo achou que podia ser comunista. Anos 60, guerra fria, coca cola de Tio Sam, ouro de Moscou, no Brasil um líder aloprado a quem Jorge Amado pregou a alcunha de cavaleiro da esperança. E tal.

Filiou-se ao partidão a cujas promessas se entregou muito apaixonadamente. A paixão é um incêndio invisível. Queima. E o apaixonado ideológico, um paranoico, que se acha o rei dos homens, o pau da bandeira, o dono da foice, o cara que, só ele, sabe onde bate o martelo.

Logo os manda chuva do partido o escalaram para serviços mais confiáveis a agentes provocadores. Craque em xingar militares, em especial os de alto escalão.

Foi quando ouviu de alguém aquela frase de Descartes – penso, logo existo. Ficou encantado. Pensando, pensando, pensando bem, largou o partidão, mesmo sabendo que para os desertores ou dissidentes a pena é de perseguição perpétua.

Olha só o que o Stálin fez com o Trotsky. Perseguiu-o pelo mundo inteiro até que, exilado no México, foi assassinado por um jovem comuna apaixonado, cabeça feita, escalado por Stálin, disseram-lhe, para entrar na história.

O antigo coleguinha dos horóscopos ainda se nutre da perigosa adrenalina em que se viciou, essa de xingar generais.

Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.

Porandubas Políticas

Por Torquato Gaudêncio

Abro a coluna com duas historinhas do Paraná contadas por Sebastião Nery.

Na latitude

Pedro Liberty, vendedor de loteria, elegeu-se deputado estadual pelo PTB. Foi à tribuna fazer um discurso contra o prefeito de Curitiba:

As ruas estão esburacadas, sem luz, e, à noite, os cachorros soltos, numa latitude que não deixa ninguém dormir.

Xaxixo

Antônio Constâncio de Souza, deputado pelo PSP, pediu um aparte a Armando de Queiroz, líder de Ney Braga na Assembleia.

- Não dou o aparte, não. V. Exa. não está à altura de participar dos debates. V. Exa. não é capaz de citar uma palavra com 3 x.

- Sou, sim. Xaxixo.

Queria dizer salsicha.

Nuvens pesadas

Os tempos estão sob nuvens plúmbeas, pesadas. Sinais de povo nas ruas começam a surgir aqui e ali. Hoje, quarta, é o Dia D. Vamos observar adensamento ou estreiteza da movimentação. O governo tem sido inábil em tratar da matéria educacional.

Mais uma pisada de bola

O anúncio do presidente Bolsonaro de que Sérgio Moro será indicado para o STF quando abrir a vaga de Celso de Mello, o decano da Corte, é mais um tiro no pé. Certamente Bolsonaro comete um gesto de deferência ao ministro da Justiça, tentando animá-lo e segurá-lo no governo no momento em que Moro viu a passagem do COAF para a Economia, saindo de sua Pasta. A derrota na Comissão que analisa a reforma administrativa foi algo que desagradou profundamente o ministro. Mas haverá votação pelo plenário da Câmara. É possível que ele mantenha o COAF sob sua égide.

Fritura

O anúncio foi ultra precipitado. Afinal, a aposentadoria de Celso de Mello se dará em novembro, quando completará 75 anos. Passar esse tempo todo sob a guarida de uma promessa é algo inconveniente. A fritura vem naturalmente. Ainda mais quando a indicação deve passar pelo crivo do Senado. Mas o migalhas.com.br lembra: "Mas o veto do Senado não é tradição: dos quase 300 ministros que ocuparam cadeiras na mais alta Corte do país, apenas cinco foram vetados pelo Legislativo – e isso faz mais de século. Os vetos a Barata Ribeiro, Innocêncio Galvão de Queiroz, Ewerton Quadros, Antônio Sève Navarro e Demósthenes da Silveira Lobo se deram todos durante o governo Floriano Peixoto (1891 a 1894)".

Alvo

O ministro poderá colher novas derrotas. E se desgastar. Mas é possível que seja blindado pela bancada do PSL e outros apoios. Ocorre que o aviso muito antecipado da nomeação deixa Sérgio Moro ao relento, sofrendo chuvas e trovoadas. Será que o presidente Bolsonaro não pensou nisso? Quem o teria aconselhado a jogar Moro na fogueira? Sabe-se que a esfera política não vai muito com a cara dele. "Não estabeleci nenhuma condição para assumir o Ministério", garante Moro.

Estagnada

A economia está estagnada. As análises do mercado financeiro apontam para um crescimento em torno de 1%. O desemprego tende a ficar nos mesmos altos índices ou até a aumentar. A desconfiança dos setores produtivos corre como faísca nas roças da economia. Esperava-se um surto de esperança e de novas energias com a eleição do capitão. Passados quatro meses de governo, o país continua travado. Bolsonaro alimentou a crise que cerca a administração. As querelas internas, a interferência dos filhos na administração, a influência do horoscopista da Virgínia (EUA) sobre o governo, a improvisação que toma conta do governo, o evidente despreparo de ministros – formam o caldo insosso oferecido à sociedade. A lua de mel terminou.

Nova recessão?

"Cheiro de recessão"? É o que sente a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif. Ou "possível recessão técnica", segundo o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. Zeina enxerga sinais mais preocupantes vindos da indústria, cuja produção recuou 2,2% no primeiro trimestre deste ano. "A indústria geralmente é o abre-alas da crise. Em 2011, já dava sinais da recessão que estava por vir (em 2015 e 2016). Se ela estiver estagnada mesmo, vai puxar o setor de serviços, que é muito dependente dela".

Dia das Mães

O Dia das Mães deste ano contou com mais consumidores nas lojas do que o do ano passado. O volume de vendas, porém, deixou a desejar, aponta a FX Retail Analytics, empresa de monitoramento de fluxo para o varejo. Entre 22 de abril e 5 de maio, o fluxo de consumidores foi 2,2% maior em relação à quinzena semelhante de 2018. O valor faturado pelas lojas caiu 8,1%.

Só 1%

O Itaú prevê que a economia brasileira crescerá apenas 1% em 2019, menos que o avanço de 1,1% registrado em 2018. Na semana passada, o Bradesco já havia cortado sua estimativa para 1,1%, consolidando a expectativa de que a economia terá mais um ano perdido. A projeção anterior, divulgada há um mês pelo Itaú, era de avanço de 1,3%. Além disso, o banco cortou a projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2020 de 2,5% para 2%.

O ciclo de protestos

O governo oferece a razão para a volta dos ciclos de protestos. O desastrado ministro da Educação, conhecido por atuar no mercado financeiro, cometeu uma coleção de impropriedades. Para não dizer besteiras. Pois foi isso que disse ao se referir às universidades públicas e aos "distúrbios" que promovem, ao avisar sobre o corte de recursos, ao atestar a inocuidade de cursos de Filosofia e Sociologia. Recebeu, em troca, uma saraivada de críticas. Bolsonaro dá apoio às bobagens repetidas.

30% por 3,5%

E até comeu chocolate por ocasião da presepada que o ministro aprontou, quando espalhou 100 chocolates sobre a mesa, separou três e cortou um ao meio (deu a metade ao presidente, que o degustou), terminando com a prosaica analogia: ele iria tirar apenas 3,5 chocolates do total de 100, ou seja, 3,5% dos recursos da Educação. Para serem restituídos no final do ano. Erro crasso: 30% é a cifra exata dos recursos contingenciados e não 3,5%. Apupos gerais. Os protestos começam ao redor dele.

Governo menor

E assim, de erro a erro, o governo tem aumentado seu ICE – Índice de Coisas Estabanadas, como essa fala da ministra dos Direitos Humanos: "a FUNAI tem de ficar com mamãe Damares, não com papai Moro". Trata-se da "infantilização" da linguagem. A sensação de um governo menor deriva do fato de coisas erráticas: passagem da COAF da Justiça para a Economia, FUNAI em negociação; política industrial saindo da Economia para Ministério da Tecnologia, renascimento de ministérios.

Percepção

Cresce a percepção de que a identidade do governo é baixa em relação à altura do Brasil. É como se o país medisse um metro de altura e a administração Bolsonaro apenas uns poucos centímetros. Falta muito governo para cobrir o real tamanho do nosso território continental. Sobra improvisação. O capitão não está efetivamente preparado para entender a complexidade do país. Os generais em seu entorno agem como "poder moderador". São preparados. Estão sob tiroteio do horoscopista da Virgínia (EUA) e dos filhos do presidente.

A bola de neve

Os apoiadores de Bolsonaro continuam atirando contra adversários nas redes sociais. Mas sua força decresce. Muitos estão recolhendo os apetrechos de guerra. Uma bola de neve se forma, a partir do centro social, expandindo-se à medida que o governo não apresenta resultados positivos sob a economia estagnada, e tende a chegar até às margens. Rincões intensamente bolsonaristas começam a sinalizar contrariedade. O que impressiona é a rapidez do desgaste da imagem governamental. Os furos e coisas estabanadas de alguns gestores são em parte responsáveis pelo rombo no costado.

A China como parceira

A China é o destino de governantes brasileiros. Ante o escudo que Trump coloca nos Estados Unidos, protegendo-o de investidas comerciais, a China, com seu gigantesco poder econômico, se apresenta como a alternativa mais promissora para diversos países. O Brasil é um deles. Governadores de Estado começam a circular pelas grandes cidades chinesas à procura de parceiros de investimentos. Governantes com olhos na China: Ratinho Junior (PR), Rui Costa (BA), Waldez Goes (AP), Renan Filho (AL), João Doria SP), Helder Barbalho (PA), Paulo Câmara (PE), Ronaldo Caiado (GO), Mauro Mendes (Mato Grosso) e João Azevedo (PB). Há outros abrindo caminho.

A boa comunicação

O governador de São Paulo, João Dória, é um aficionado no trabalho. Entra cedinho no Palácio dos Bandeirantes, circula por eventos na capital e no interior, envia uma média de 7 a 8 vídeos por dia – dando conta de seus passos, programas e ações - para uma extensa rede de influenciadores, estando atento a tudo que diga respeito ao governo. É seguramente quem melhor usa as redes para propagar o escopo governamental.

Correção

A coluna recebe de Marília Rosado Maia uma correção feita por João Agripino Neto, filho do ex-governador João Agripino, ao causo contado por Arael Menezes.

Um resumo. O governador admirava João da Costa e Silva, vulgo Mocidade, a quem deu abrigo. Nos idos de 68, na moldura das manifestações estudantis, uma delas ocorreu no Ponto Cem Réis contra o regime militar. Havia ordem de Agripino para não prender Mocidade em nenhuma hipótese. No comício, Mocidade desceu o pau no governo. Secretário liga para o governador e faz o relato. Ordem: 'pode prender'. Mocidade se escafedeu. Governador foi pra casa. Pouco depois, chega Mocidade. Agripino: Soube que você estava esculhambando o Governo no Ponto de Cem Réis.

-É verdade, governador!

- Quem paga a comida que você come?

-O senhor!

- Eu não, o governo. Quem paga a casa que você mora?

-É o senhor!

- Eu, não, é o Governo.

- Quem paga a roupa que você veste e o transporte que anda?

-  É o senhor!

- Eu não, é o governo.

- Está certo, governador. Tudo quem paga é o Governo!

- Então, Mocidade, como é que você vai pra rua esculhambar o Governo?

- Ora, governador, Governo foi feito pra sofrer.

Torquato Gaudêncio, Professor Titular na Universidade de São Paulo, é cientista político e consultor de marketing politico. (contato: www.gtmarketing.com.br )

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Ele só ouve o Carlos

Demitido após confrontar Carlos Bolsonaro, Bebianno acredita que o presidente é manipulado por Zero Dois e que mais ministros serão descartados por isso.

Por Mauricio Lima

O ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno esteve no centro da primeira grande crise do governo de Jair Bolsonaro. Bebianno era o presidente do PSL durante a campanha eleitoral de 2018. Em fevereiro passado uma reportagem da Folha de S.Paulo acusou a sigla de acumular dinheiro para o fundo partidário por intermédio de “laranjas”. Bebianno negou, mas não convenceu Bolsonaro. No ápice da convulsão, disse ter falado ao telefone com o presidente, internado no Hospital Albert Einstein, e que todo o mal-entendido havia sido resolvido. O filho Carlos tuitou: “Mentira”. Uma extensa conversa por meio de mensagens de áudio no WhatsApp revelada por VEJA com­provou que Bebianno dissera, sim, a verdade. Demitido, o ex-fiel escudeiro assiste a distância às novas investidas de Carlos contra novos alvos (o vice Hamilton Mourão e o ministro Santos Cruz). Dos Estados Unidos, onde passa férias, ele faz o alerta: “Carlos sabe como manipular o presidente”.

O general Santos Cruz, que tem sido violentamente atacado nas redes sociais bolsonaristas, é o novo Gustavo Bebianno? 

Espero que não, mas tudo indica que pode ser. O modus operandi é o mesmo, desqualificar o ministro com ataques levianos. A questão que fica é: por que esse governo age e reage dessa forma tão peculiar, atacando aliados? Exoneração de cargos em governo deve ser assunto de Estado, decisão exclusiva do presidente, a ser comunicada ao seu ministro. Nesse governo, no entanto, a exoneração é sempre precedida de um irresponsável e desnecessário processo de difamação. Por que tentar manipular a opinião pública? Para que o presidente e seus filhos pareçam mártires, enquanto todos os demais, traidores, comunistas ou infiltrados? Queimar injustamente os ministros de Estado escolhidos pelo próprio presidente não me parece o método mais inteligente e ético. Isso terá consequências.

Por que Bolsonaro se deixa influenciar por seu filho Carlos? 

Essa é uma pergunta que deveria ser dirigida ao presidente. Pela minha ótica, ele tem conhecimento dos problemas do filho, mas não sabe como resolver a questão. A minha impressão é que há muita chantagem emocional envolvida e assuntos íntimos de família que não me dizem respeito. A minha única observação é no sentido de que o presidente está tendo uma grande dificuldade para impor limites, e isso atrapalha o governo.

Quem o demitiu, afinal? Jair ou Carlos? 

O presidente estava em um momento de fragilidade emocional e física, pois tinha acabado de passar por mais uma cirurgia, além de todo o período de internação hospitalar. Carlos se aproveitou daquela situação para fazer a cabeça do pai e jogá-­lo contra mim. Ele sabe como manipular o pai, usando teorias de conspiração sem fundamento algum. O presidente está perdendo quase todos os seus verdadeiros aliados por conta disso. E os que ainda estão ao seu lado não põem mais a mão no fogo. Essa posição de isolamento é bem frágil, pois o líder máximo da nação precisa contar com o respeito e a confiança de sua equipe.

Como o senhor analisa o embate entre os generais e Olavo de Carvalho? 

Bem, em primeiro lugar, quero destacar a minha reverência e respeito pelas Forças Armadas e pelos generais e demais oficiais que hoje ocupam funções no governo. Na verdade, o meu respeito pelo presidente teve como pressuposto original o fato de ele ser um militar. Por isso, sempre fiz questão de tratá-lo de capitão. Posso garantir que os militares são leais, patriotas, honestos e, acima de tudo, guardiães da Constituição. São o que de melhor há neste governo. Em relação ao Olavo, é um teórico, que em nada tem contribuído para melhorar o Brasil. Critica tudo e todos, mas jamais se dispôs a vir ajudar. A gota d’água, para mim, foram os ataques baixos, rudes e mentirosos, contra o general Santos Cruz, que é um homem honrado.

De onde vem essa autoridade moral do Olavo de Carvalho sobre o presidente? Você acha mesmo que o presidente lê ou assiste a Olavo de Carvalho? Essa influência se dá por meio dos filhos, especialmente Carlos e Eduardo, que são inexperientes. Mas, seja de forma direta ou indireta, acho ruim.

Os militares não conseguem alertar o presidente sobre os problemas que Olavo cria?

Eles tentam, mas nem sempre é fácil, principalmente quando Carlos está por perto. Infelizmente, minha avaliação estava errada. O presidente só ouve o filho, a seita cresce e, hoje, o governo está nessa situação complicada.

Quando sua relação com Carlos começou a se deteriorar? 

Na verdade, esse processo se iniciou antes mesmo da posse, quando Carlos Bolsonaro já exigia do pai meu afastamento do grupo. O filho do presidente ameaçava ir embora caso se confirmasse minha nomeação como ministro. É incrível, mas esse tipo de ameaça realmente desequilibra o Jair. Foi uma fase muito desgastante. Por mais de uma vez, tive o impulso de ir embora, mas algumas pessoas importantes no processo me convenceram a permanecer. Por outro lado, o presidente tinha plena cons­ciência do meu papel, sabia da minha lealdade e capacidade, e que não seria correto atender ao capricho do filho. Mas a perseguição continuou e o resultado foi o meu afastamento.

Pela maneira como o senhor foi tratado, ainda sente mágoa de Jair Bolsonaro? 

Sou um ser humano e não sofro de amnésia. Noventa dias já se passaram, esfriei a cabeça, recapitulei o que aconteceu algumas vezes. O problema não foi ter saído do governo, pois isso faz parte do jogo e das circunstâncias. Esperava ao menos uma conversa, até mesmo para dizer, francamente, que não suportava mais as pressões e que preferia ceder à vontade do filho. O que me deixou perplexo, no entanto, foi a forma desleal com que fui tratado. Foi um linchamento público desmedido, sob falsas acusações. Inventaram vários pretextos para justificar a decisão e criaram uma crise sem motivo algum. Tentaram sujar o meu nome e denegrir a minha imagem e honra, e isso considero inaceitável. Hoje, fazem o mesmo com o general Santos Cruz, que é um homem correto e verdadeiro amigo do presidente, como também fui. Sei o que fiz para que o presidente fosse eleito. Ele também sabe. Até onde sei, ele também não sofre de amnésia. Um de seus problemas é se permitir permanecer cercado por um grupo de pessoas que nada fazem de efetivo a favor dele ou do país.

O senhor não havia percebido a influência que os filhos exerciam sobre Bolsonaro na campanha? 

Eu sabia que existia, sim, um nível de influência, principalmente do Carlos, mas ela não chegou de fato a atrapalhar muito durante a pré-campanha e a campanha. Uma vez, no avião, perguntei ao presidente o motivo de o Carlos não participar de nada, de nunca estar presente, de se manter sempre alheio e a distância, e ele me respondeu que o Zero Dois era um pit bull para deixar quieto.

“Sou um ser humano e não sofro de amnésia. Esperava do presidente ao menos uma conversa, até mesmo para dizer, francamente, que não suportava mais as pressões”

Qual foi o papel de Carlos Bolsonaro na eleição do presidente?

Na minha avaliação, nenhum!

Nenhum? 

Ficar sentado no sofá de casa, ofendendo os outros e falando bobagens pela internet, é bem fácil. Carlos nunca fez uma viagem sequer conosco pelo Brasil afora. A única viagem em que esteve presente foi a de Juiz de Fora, a do atentado, pois era um trajeto curto, de carro, cuja volta estava programada para o mesmo dia. A verdade é que Carlos nunca se sacrificou pela campanha do pai, nunca dormiu no chão ou em aeroporto, nunca cuidou da segurança, sempre esteve distante.

O senhor tem medo de alguma vingança? 

Vingança, por que vingança? Não fiz nada de errado. Pelo contrário! Como disse, trabalhei dois anos para eleger o presidente e resolvi todo tipo de problema pelo caminho. Atuei como advogado, assessor de imprensa, segurança, líder partidário, coordenador de campanha, mas, acima de tudo, fui seu amigo. Estou reconstruindo a minha vida e espero não ser vítima de mais covardia.

O senhor é o organizador do laranjal do PSL? 

Isso só pode ser piada! Essa acusação é leviana, e, até onde sei, não existe laranjal no PSL. É mais fácil isso ter acontecido em outros partidos. O MDB, por exemplo, recebeu quase 250 milhões de reais de fundo eleitoral, e o PT, 220 milhões. O então pobre PSL recebeu 5% desse valor, que foi distribuído de forma parcimoniosa por todo o Brasil.

O ministro Sergio Moro vem sofrendo algumas derrotas. O senhor acha que o presidente está rifando o ex-­juiz? 

Repare o que motiva sua pergunta: a dúvida se o presidente está sendo firme e leal com sua tropa, ou se a está “rifando” e abandonando pelo caminho, assim como fez comigo. Independentemente da resposta, que honestamente não sei qual é, o fato é que a liderança do presidente está abalada e vem sendo questionada desde meu episódio, hoje agravado pelo mesmo comportamento em relação aos militares. O presidente terá de superar essa desconfiança para que seja capaz de governar.

“Aprendi no governo que o poder seduz e altera o comportamento das pessoas. Torna-as arrogantes e também compromete a memória”

Até onde o senhor pode observar, como é a relação entre Paulo Guedes e Bolsonaro? 

O ministro Paulo Guedes é muito inteligente, um dos profissionais mais preparados que já conheci. Ele sustenta suas ideias com esmero e quer o melhor para o país. E sabe que o presidente ainda precisa assimilar muitos princípios básicos que norteiam uma economia verdadeiramente liberal. Por isso, poderá ficar sozinho em algumas batalhas.

Qual o maior erro do governo Bolsonaro? 

Falta de diálogo e coordenação.

Qual o maior acerto? 

São muitos. Desde o início, ter trazido os militares para o governo e ter apostado no ministro Paulo Guedes. O ministro Sergio Moro também foi um grande acerto. Aliás, não entendo por que falar em vaga no STF agora, já que a missão do Moro está só no começo na Justiça.

No seu curto tempo de palácio, qual lição aprendeu? 

Aprendi no governo que o poder seduz e altera o comportamento das pessoas. Torna-as arrogantes e também compromete a memória. Na política, nossa maior virtude deve ser manter os pés no chão e os verdadeiros aliados por perto.

Desde o episódio de sua demissão, o senhor voltou a falar com Bolsonaro? Trocamos WhatsApp de voz logo após o vazamento do áudio do Onyx Lorenzoni. A mensagem que ficou foi de pesar pelo ocorrido. Desejo sorte ao presidente. Espero que ele valorize seus aliados e ministros, contribua para o diálogo e faça um excelente governo para todos nós.

Publicado em VEJA de 22 de maio de 2019, edição nº 2635

terça-feira, 14 de maio de 2019

De volta pra casa

Por unânimidade (4 a 0), o Superior Tribunal de Justiça, por sua 6ª Turma, mandou que Michel Temer e seu amigo coronel Lima voltassem para suas casas imediatamente. Os dois estavam presos no Batalhão dse Choque da Policia Militar de São Paulo após cinco dias recolhidos na Superintendencia Regional da Polícia Federal, sob as ordens de uma Juiza Criminal do Rio de Janeiro.

No julgamento, prevaleceu o entendimento de que os fatos apurados na investigação são “razoavelmente antigos”, relacionados à época em que Temer ocupava a vice-presidência da República, e que os crimes não teriam sido cometidos com violência, o que justifica a substituição da prisão por medidas cautelares.

Temer e o coronel Lima estão proibidos de manter contato com outros investigados, de mudar de endereço ou ausentar-se do País – também terão os bens bloqueados e serão obrigados a entregar o passaporte. O ex-presidente ainda não poderá ocupar cargo de direção partidária.

“Não se pode prender porque o crime é revoltante, como resposta a desejos sociais de justiça instantânea. Manter solto durante o processo não é impunidade como socialmente pode parecer, mas sim garantia, só afastada mediante comprovados riscos legais”, observou o presidente da Sexta Turma, ministro Nefi Cordeiro, último a votar no julgamento.

“Juiz não enfrenta crimes, não é agente de segurança pública, não é controlador da moralidade social ou dos destinos da nação. Deve conduzir o processo pela lei e a Constituição, com imparcialidade e somente ao final do processo, sopesando as provas, reconhecer a culpa ou declarar a absolvição. Juiz não é símbolo de combate à criminalidade”, completou Cordeiro.

O ministro destacou que Justiça exige “segurança e estabilidade”. “A todos a Justiça se dá por igual. Cabem as garantias processuais a qualquer réu, rico ou pobre, influente ou desconhecido. O critério não pode mudar”, frisou Nefi Cordeiro, ao apontar ilegalidade na prisão preventiva de Temer e do coronel Lima.

A liberdade dos dois acusados é condicional. Eles não podem mudar de endereço nem sair do País. Tem que entregar seus passaportes à Polícia Federal. Não podem exercer funções públicas e Temer, em especial, não pode exercer cargos de direção em partidos políticos. Não podem falar com nenhum dos outros acusados na investigação. Por nenhum meio de comunicação.

Presidente sem apoio político cai.

Fazendo questão de deixar claro que, em princípio, é contra a deposição de Presidentes, Fernando Henrique Cardoso, que presidiu o Brasil por dois mandatos consecutivos, num total de 8 anos,  disse que, de forma genérica, um Presidente da República sem maioria no Congresso corre o risco de perder o cargo.

FHC falava sobre Dilma Rousef a sindicalistas da Força Sindical, em São Paulo. E não citou Jair Bolsonaro em nenhum momento.

“No episódio da Dilma é um caso perigoso que pode acontecer. Os partidos são fracos mas o Congresso é forte. É um paradoxo no Brasil. O presidente que não toma em consideração o Congresso corre o risco de cair. Tem que entender que aquilo ali representa uma vontade nacional”, disse o ex-presidente.

Sobre o momento atual, disse ser impossível prever o futuro mas considera que a conjuntura “ainda” permite fazer tal afirmação.

Cão e gasto, sim. Podem.

Tudo começou em 2016, quando a Defensoria Pública foi à Justiça em defesa de uma gata cuja dona foi proibida de mantê-la em sua casa num condomínio de Samambaia, cidade satélite do Distrito Federal.

O caso rolou por todas as instâncias da Justiça até que  agora o Superior Tribunal de Justiça , por sua Terceira Turma resolveu que condomínios não poderão mais proibir animais de estimação, desde  que não coloquem em risco a segurança e tranquilidade dos moradores.

Para o ministro Villas Bôas Cuerva, relator da ação, a restrição do condomínio foi ilegítima, porque não demonstrou nenhuma situação em que o gato provocasse prejuízos à segurança, à higiene, à saúde e ao sossego dos demais moradores.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

Temer sai da prisão na Policia Federal

Preso sem sentença condenatória, desde a ultima quinta feira, na sede da Policia Federal, em São Paulo, o ex-Presidente da República Michel Temer acaba de ser transferido para uma cela especial no Comando de Policiamento de Choque da Polícia Militar, na capital.

A decisão foi da Juiza Caroline Figueiredo, que responde pela 7ª Vara Criminal do Rio de Janeiro enquanto o titular Marcelo Bretas completa o seu período de férias.

Temer é acusado de ter sido beneficiado juntamente com outros agentes públicos e um amigo nos desvios de recursos destinados a obras na Usina Nuclear de Angra dos Reis, RJ.

Os autos ainda não estão conclusos para a sentença e a prisão foi pedida de forma preventiva pelo Ministério Público Federal sob a invocação do Art. 312 do Código de Processo Penal.

Amanhã, terça-feira, o STJ começa a julgar o pedido de habeas corpus em favor de Michel Temer, interposto por sua defesa.

Bolsonaro avalia exonerar o General Santos Cruz

Jair Bolsonaro avalia seriamente exonerar o general Santos Cruz da Secretaria de Governo. A informação é do saite O Antagonista, divulgada às 11,53 hrs. de hoje.

Além do desgaste crescente, - continua O Antagonista, o presidente recebeu informações de que o ministro, em conversas com outros integrantes do governo, se referiu a ele de forma desrespeitosa.

Bolsonaro sabe que a demissão vai provocar reações entre os demais generais. Esse é o tsunami.

Moro nega convite para o STF

O Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, disse numa palestra em Curitiba, que ao aceitar o convite para integrar o atual Governo não estabeleceu nenhuma condição.

O Presidente da República, Jair Bolsonaro, disse ontem que, ao convidar Moro assumiu o compromisso de indica-lo para a primeira vaga de Ministro que ocorrer no Supremo Tribunal Federal.

A não ser por morte ou renúncia de algum Ministro, só haverá vaga no Supremo Tribunal Federal em novembro do próximo ano, quando o atual decano, José Celso de Mello se aposentará por completar 75 anos de idade.

Bolsonaro lembrou que teria dito ao então Juiz Sérgio Moro: ‘A primeira vaga que tiver lá [no STF], está à sua disposição’.

“Eu fiz um compromisso com ele, porque ele abriu mão de 22 anos de magistratura.

“A primeira vaga que tiver, eu tenho esse compromisso com Moro, e se Deus quiser nós cumpriremos esse compromisso. Acho que a nação toda vai aplaudir um homem desse perfil lá dentro do STF”, acrescentou o presidente.

Moro disse que aceitou convite "em razão de uma convergencia de pauta" com o Presidente. "Quero trabalhar - acrescentou - contra a corrupção, o crime organizado e o crime violento. Houve uma convergência de pauta".

Tropeços de Bolsonaro abrem um espaço de poder

Por Fernando Gabeira

Mas que briga é aquela que tem acolá? É o filho do homem com o seu general. Não pretendo analisar uma luta interna no governo, cheia de insultos escatológicos.

Pergunto apenas se vale a pena tantos militares no governo, com ataques permanentes contra eles e uma certa ambivalência de Bolsonaro. Se a ideia é apanhar pelo Brasil, talvez não seja a melhor aposta. O risco de desgaste das Forças Armadas é grande. E os resultados até agora, desanimadores.

Os termos que certos setores do bolsonarismo colocam são, na verdade, uma armadilha. Não respondê-los significa um silêncio constrangedor para quem participa do mesmo projeto de governo. Respondê-los é cair numa discussão de baixo nível, um filme onde todos morrem no final.

A única experiência que tive com Olavo de Carvalho foi um trecho de seu livro “O imbecil coletivo”. Nele, Olavo diz que não tenho competência nem para ser sargento do Exército de Uganda ou do Zimbábue, não me lembro.

Foi há muito tempo. Minha reação foi esperar que o Exército de Uganda, ou o do Zimbábue, protestasse. Como não disseram nada, também fiquei na minha.

Todo esse vespeiro no governo Bolsonaro é também resultado da fragilidade da oposição. Mas, observando as consequências, percebo que o Congresso vai preenchendo o vazio de poder não para oferecer uma alternativa mais sensata à sociedade, mas para garantir um retrocesso no aparato de controle da corrupção. Um dos pilares da Lava-Jato é a integração das instituições. O Congresso quer impedir que a Receita Federal e o Ministério Público compartilhem informações. Numa comissão da Câmara, tiraram o Coaf das mãos de Moro, um outro desmanche dos pressupostos da Operação Lava-Jato.

E não é só o Parlamento. O STF sente-se mais tranquilo para blindar os deputados estaduais, que só podem ser presos com autorização das Assembleias. Algo que sabemos muito improvável.

Outro passo: autorizar anistia para crimes de colarinho branco, validando o decreto de Temer.

Bolsonaro se apresentou com a bandeira anticorrupção. No entanto, no mundo real, há vários indícios de retrocesso. Não houve competência nem para evitá-los, quanto mais avançar numa agenda que interessou a milhões de eleitores.

Os tropeços de Bolsonaro e dos seus ardentes defensores abrem um espaço de poder, até agora percorrido pelo Congresso com seus objetivos claros.

Enquanto isso, ele se diverte dando tiros de retórica. Ele prometeu que vai fazer de Angra dos Reis uma Cancún brasileira. São ideias de quem está no mar e pisou pouco em terra firme, nos morros e favelas de Angra.

Esta semana, houve tiroteio, dias depois da passagem do governador Wilson Witzel. Ele foi a Angra num helicóptero e disse: “Vou acabar com a bandidagem.” Deu uns tiros, inclusive em tendas de oração, felizmente desertas, hospedou-se num hotel de luxo e voltou para o Rio.

Outra fixação de Bolsonaro é acabar com a Estacão Ecológica de Tamoios, próxima ao lugar onde foi multado por pesca. Estação ecológica é de acesso limitado aos cientistas porque é uma permanente fonte de pesquisa.

No passado, critiquei publicamente o senador Ney Suassuna, que comprou um barraco de um posseiro dentro da Estação de Tamoios e nela queria construir sua mansão. Uma década depois, a ideia do senador acaba se impondo sobre a minha. Cancún implica construir muitas mansões e hotéis, e mandar para o espaço nossa riqueza biológica concentrada ali naquela unidade de conservação.

A política de meio ambiente de Bolsonaro parte da negação do aquecimento global, e em todas as áreas ambientais tem dado sinais negativos. O consolo é que há mais gente lutando para proteger seu território. No entanto, certos danos podem ser irreversíveis. O licenciamento de agrotóxicos é o mais liberal da história, num momento em que o mundo se preocupa não apenas com a saúde humana, mas também com o desaparecimento das abelhas, dos insetos e das borboletas.

O processo vai ser acentuado também no Brasil. E, sem abelhas, como é que vão polinizar nossas plantas? Dando tiros de espingarda? Se apenas brigassem entre si, os bolsonaristas provocariam menos danos que a briga permanente do governo contra a natureza.

Fernando Gabeira, ex Deputado Federal, é - e sempre foi - Jornalista. Este artigo foi publicado originalmente em O Globo, RJ, edição de 13.05.19.

Porandubas Políticas

Por Gaudêncio Torquato

Abro a coluna com um "causo" da Paraíba, tendo como personagens o governador João Agripino (1966/1971) e um "doido". Historinha narrada por Arael Menezes.

Político é para sofrer

"No panorama político da Paraíba governadores tinham o hábito de cultivar uma espécie de bobos da corte, conhecidos como "doidos", pessoas inofensivas, e que cumpriam algumas missões. João Agripino foi o iniciador dessa prática. Dentre seus "doidos", tinha um conhecido pela alcunha de Mocidade, que se julgava intelectual e tribuno de valor. No meio do mandato, Agripino sofreu forte campanha oposicionista. Comícios críticos ocorriam, dentre os quais o mais concorrido foi no Ponto de Cem Réis, área central da capital. Uma boa oportunidade para Mocidade. Municiado por boas lapadas de aguardente, mandou bala com um ácido discurso. O governador não gostou. Interpelou o "doido", ouvindo dele a resposta:

- "Ora, João, é assim mesmo... Político é para sofrer".

Mocidade era famoso também pela abertura de seus discursos. Como esta: "Senhores políticos corruptos e venais desta República...".

Os ataques de Olavo

Os insultos do escritor Olavo de Carvalho aos militares da administração Bolsonaro chegaram às raias do absurdo, especialmente contra o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo, e o vice-presidente Hamilton Mourão. Depois de chamar os militares de "pústulas", na sexta-feira ele voltou ao ataque, denominando os militares de "mão de obra ociosa" e que não são os "santos heróis da pátria que eles mesmos pintam". Do general Santos Cruz, disse que "fofoca e difama pelas costas", além de chamá-lo "merda".

Cruz, credo

A expressão popular é de repugnância. Nojo. A interjeição cai bem sobre a linguagem chula usada pelo escritor Olavo ao continuar a atacar o general Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria do Governo: "bosta engomada". Nunca se viu um destampatório tão de mau gosto. Trata-se de uma autoridade que merece respeito. Desse militar ouvem-se elogios pela carreira brilhante no Exército.

Santos Cruz

Carlos Alberto dos Santos Cruz é graduado pelas Academias de Excelência do Exército (Agulhas Negras, Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais e Escola de Comando e Estado-Maior do Exército). Engenheiro pela PUC-Campinas, com especializações, graduado ainda em Política e Estratégia no United States Army War College, foi conselheiro do Banco Mundial e adido militar em Moscou. Comandou batalhões e brigadas, tropas da ONU no Haiti e no Congo. Foi Secretário Nacional de Segurança Pública.

O contra-ataque dos generais

O general Santos Cruz postou: "Não leio Olavo de Carvalho. Acho ele um desocupado esquizofrênico". Não vai ficar nisso. Os militares que ocupam cargos no governo resolveram reagir. Na segunda-feira, o ex-comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, que despacha no Planalto como assessor especial do ministro Augusto Heleno, divulgou um texto no Twitter em que chama Olavo de Carvalho de "verdadeiro Trótski de direita", que "age no sentido de acentuar as divergências nacionais".

Apanhar calado, não mais

Homem forte das Forças Armadas e respeitado pelos pares, Villas Bôas quis deixar claro que os militares não vão apanhar calados e que tentarão reforçar a imagem de que eles, sim, atuam com a missão de ajudar o país a se reestruturar. Sobre Olavo, diz o general: "Ele passou do ponto, agindo com total desrespeito aos militares e às Forças Armadas. Às vezes, ele me dá a impressão de ser uma pessoa doente". A palavra de Villas Bôas funcionou como bala de canhão. Disse-me um general.

A defesa na trincheira

Outro militar de alta patente disse a um jornal que é preciso parar de "dar destaque a esse energúmeno" e lamentou a condecoração concedida semana passada pelo presidente a Olavo. Segundo essa fonte, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas como instituição irão se unir e deveriam demonstrar repúdio às declarações de Olavo, que ataca os generais: "É um apátrida que faz mal ao Brasil".

Ao nível da lama

Para responder ao general Villas Bôas, o horoscopista publicou ontem cedo no Facebook e no Twitter algumas afirmações que deixam o episódio abaixo do lamaçal. Afirma que "os militares, sem argumentos para rebater suas críticas, se escondem atrás de um doente preso a uma cadeira de rodas", referindo-se à condição do general de portador de uma doença degenerativa.

O "ícone" da guerra insana

Apesar da guerra de baixo nível promovida por seu guru contra os militares, o presidente Jair Bolsonaro postou ontem no Twitter que chegou à Câmara em 1991 e a encontrou tomada pela esquerda, "num clima hostil às Forças Armadas e contrário às nossas tradições judaico-cristãs. Aos poucos, outros nomes foram se somando na causa que defendia, entre eles Olavo de Carvalho. Olavo, sozinho, rapidamente tornou-se um ícone. Seu trabalho contra a ideologia insana que matou milhões no mundo e reiterou a liberdade de outras centenas de milhões é reconhecida por mim. Sua obra em muito contribuiu para que eu chegasse no Governo, sem a qual o PT teria retornado ao Poder. Sempre o terei nesse conceito".

Insensibilidade?

O presidente parece não perceber o que se passa à sua volta, o racha e muito menos o alto risco que ele representa para o futuro de seu governo. Ou seja, o horoscopista continuará a ditar, do fundo do poço e com vocabulário de botequim, algumas das principais orientações ao governo de sua ovelha, aos seus filhos e fiéis seguidores. Afinal, Bolsonaro está de que lado? Como o presidente da República confere a Olavo o mais alto galardão do Itamaraty? O incenso jogado a Olavo de Carvalho depois dos impropérios lançados por ele contra os generais não caiu bem na caserna.

Basta ou guerra...

Se os ataques aos generais continuarem, sob o clima de complacência do presidente (que quer agradar os dois lados), não se descarta um jogo mais pesado dos agredidos. A hipótese é muito remota, mas uma renúncia coletiva dos generais aparece bem ao fundo da paisagem.

Refém do Congresso

A esfera política continua tecendo críticas ao governo Bolsonaro. Queixam-se os políticos do "pouco caso" a que são relegados pelo presidente e seu entorno. A exceção é o vice, o general Mourão, a quem sobram elogios. A reforma da Previdência vai passar, mas não no figurino traçado pelo governo. Sofrerá um processo de enxugamento. A não ser que o presidente se empenhe intensamente para sua aprovação, tornando-se ele mesmo o articulador-mor da reforma.

Partidos mutantes

Os partidos estão com o olho nas ruas. A descrença nos partidos e nos políticos é grande. A palavra de ordem é: mudar. Como? A maior fatia pensa em trocar o nome da sigla. Resolve? Bulhufas. Nada. A questão é de conteúdo. Que doutrina, programas, ações serão empreendidas? O que defender? O que atacar? Os partidos só melhorarão sua taxa de credibilidade se o eleitor perceber e internalizar sua doutrina.

Governos em contraponto

Os governos estaduais estão se unindo para defender propostas comuns junto ao governo Bolsonaro e ao Congresso. Um ou outro governador tenta aparecer como o mobilizador-mor. Mas Doria é francamente um aliado de Bolsonaro, segundo se comenta. Como pretende encaminhar propostas que sejam antipáticas ao governo? Um mandatário de importante Estado do Nordeste identificou em João Doria, governador de São Paulo, a ambição de comandar o núcleo de governadores brasileiros. A sinalização de João para se aproximar da direita, inclusive a mais retrógrada, começa a gerar rejeição a ele.

Bruno Araújo

João Doria está dando as cartas no PSDB. Elegeu o presidente do partido em São Paulo, o deputado Marco Vinholi, secretário de Desenvolvimento Regional. E vai eleger Bruno Araújo, ex-deputado tucano de PE e ex-ministro das Cidades do governo Temer como presidente do PSDB nacional. Bruno tomará o lugar de Alckmin. Trata-se de um jovem com boa formação política, antenado à realidade, disposto a inovar e de caráter forjado na lealdade. Um bom nome.

TV Pública

Uma emissora televisiva de caráter público tem compromisso com a comunidade. Não pode querer competir com grupos comerciais. A TV Cultura de São Paulo tem alguns dos melhores programas do país. Urge defender seu escopo.

 Recado ao Congresso

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) revela: o Brasil é o país que mais gasta com aposentadoria na América Latina e Caribe, segundo O Globo. Em 2015, a presidência consumiu 12,5% do PIB, no que chama de "trajetória explosiva de despesas". E mais: se não houver mudança no sistema, o gasto será quatro vezes maior (50,1%) em 2065, volume maior do que o governo arrecada. O estudo do BID revela também que o Brasil destina aos idosos sete vezes o valor que despende com as crianças. A correção deste desvio está no Congresso, com a reforma da Previdência.

Percepções...

- O governo Bolsonaro ainda não achou o rumo. Tateia na escuridão.

- O governador João Doria é bom comunicador, mas não se aproxima das massas.

- O governador Wilson Witzel, do RJ, está entre a cruz e a caldeirinha. Ordena a polícia mandar bala na bandidagem, mas tenta ter boa imagem junto às entidades sociais. Seu flagrante em um helicóptero da Polícia em operação contra bandidos mostra que ele veste mesmo a camisa do "justiceiro".

- O governo de Romeu Zema, em MG, foi acusado de permitir que seu vice-governador fizesse uso de helicóptero em estância de lazer.

- Governadores de alguns Estados enfrentam o desafio: pagar salários atrasados e os atuais. No RN, a governadora Fátima Bezerra pagará o 13º de 2018 e a folha do mês. Um sufoco.

- Grande dúvida: qual o futuro de Geraldo Alckmin?

- Os governadores elegem a questão da segurança pública como eixo-mor de sua gestão. Caso do RJ e de SP, por exemplo.

- O governo Bolsonaro ameaça despertar a estudantada e levá-la às ruas. O barulho será contra o corte de verbas na Universidade pública.

- Outro setor que fará barulho nos próximos tempos será o da Cultura (artistas).

- Rodrigo Maia, presidente da Câmara, ganha, a cada dia, musculatura de um primeiro-ministro.

- Rodrigo Garcia, vice-governador de São Paulo, tem uma pauta cheia de políticos. Trata-se de um grande articulador. Mais adiante, conta a possibilidade de vir a assumir o governo do Estado. Com a saída de Doria para tentar galgar a escada presidencial.

Gaudêncio Torquato, Professor na USP, cientista político, é consultor de marketing político.

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sábado, 11 de maio de 2019

Único apostador ganha os 289 milhões da Mega-Sena

Veja as dezenas sorteadas no concurso 2.150 da Mega-Sena
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O sorteio ocorreu às 20h deste sábado, 11, em São Paulo.

Novas manifestações contra Maduro na Venezuela

O líder parlamentar Juan Guaidó saiu às ruas com apoiadores, neste sábado, em defesa da Assembleia Nacional venezuelana, da qual é presidente, após a investida do governo contra deputados opositores, como reação ao levante militar que tentou depor Nicolás Maduro.

As manifestações vão medir o nível de mobilização dos opositores depois do fracassado levante, que fez o regime de Maduro endurecer o cerco contra aliados de Guaidó, autoproclamado presidente interino da Venezuela desde 23 de janeiro. O braço-direito do líder opositor foi preso, três deputados precisaram se refugiar em sedes diplomáticas e outro fugiu para a Colômbia.

Vice-presidente da Assembleia Nacional, Edgar Zambrano, dentro do próprio carro, foi levado de reboque até a prisão por agentes do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin). A pedido do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), a Assembleia Nacional Constituinte, criada pelo chavismo para minar a autoridade do Parlamento, suspendeu na terça-feira a imunidade parlamentar de Zambrano e outros nove parlamentares da oposição, acusados de traição e conspiração para depor o presidente.

"Neste sábado, vamos às ruas por nossa Assembleia Nacional", a única instituição nas mãos dos opositores, tuitou Guaidó na noite de sexta-feira. "Por nossos deputados valentes que estão dando tudo e por todo um país que continua mobilizado até conquistar a liberdade", escreveu.

Pelo Twitter, neste sábado, o líder opositor publicou um vídeo de um discurso seu na rua, em Caracas, e destacou que não será "com cárcere nem com guindastes" que o governo conseguirá deter o movimento. Mas ressaltou que, com isso, não queria minimizar a ofensiva contra a AN.

— Querem marcar, de maneira irregular, cassações de dirigentes para gerar medo. Este é o objetivo. É terror de Estado. É levar medo ao nosso coração para pensarmos que não podemos fazer mais nada — denunciou o líder, sob os gritos da multidão de "Fora Maduro".

Guaidó destacou que tem investido na cooperação internacional e criticou a "intervenção de militares cubanos" na inteligência do país.

— Estamos cada vez mais perto de construir a transição à democracia. Tenho certeza. Mas chegamos a um ponto sem volta. Chegamos a um regime desesperado que encarcera o vice-presidente do Parlamento nacional — disse o líder da AN, também em referência às ameaças aos outros parlamentares. — Estes deputados não deixaram um dia de trabalhar. Todos os dias nos levantamos com uma pergunta: o que mais fazer para que a mudança seja mais rápida? Que não descansemos um só dia até a transição, apesar das perseguições, do que pretende o regime.

No discurso, Guaidó lembrou de assassinatos de manifestantes e condenou o que chamou de "sequestro de Zambrano".

— Muitos nos perguntaram: qual a linha vermelha? Até quando podemos resistir como sociedade? Quando não há luz, não há água... Para quatro milhões (de venezuelanos, que saíram do país), há muito tempo se passou da linha. Amanhã é Dia das Mães na Venezuela, e quantos de nós vamos poder estar reunidos em família? Quantos vão poder preparar frango, paella, as flores?

Por volta de 12h30, algumas centenas de pessoas se concentraram na Praça Alfredo Sadel, no Leste de Caracas. Também foram convocadas concentrações em outras cidades do país.

— Eu vim em apoio aos deputados da Assembleia Nacional, que está sendo destruída, sendo dissolvida — destacou a manifestante Daisy Montilla, de 69 anos, com a bandeira da Venezuela nas costas.

Daisy tem três dos quatro filhos no exterior em razão da crise do país. O comerciante Alexander Mendoza, de 30 anos, levava consigo também uma bandeira americana.

— É uma ofensiva (do governo) muito forte. Peço aos Estados Unidos que nos apoiem para a democracia seja restabelecida — disse ele, no protesto.

Na sexta-feira, Maduro acusou seu ex-chefe de inteligência Cristopher Figuera de ser uma "toupeira" da CIA que coordenou a rebelião, em meio à campanha de represálias contra os envolvidos.

Figuera e 55 outros oficiais foram expulsos das Forças Armadas por um decreto presidencial.

A primeira confirmação da participação de Figuera veio de Washington. Na terça-feira, o vice-presidente dos Estados Unidos, Mike Pence, anunciou que as sanções contra ele foram canceladas como recompensa por apoiar a rebelião, um passo para inspirar outros líderes oficiais a imitá-lo. (Publicado originalmente em oglobo.globo.com).

quinta-feira, 9 de maio de 2019

Maduro manda prender o Vice de Guaidó

Juan Guaidó, Presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, e nessa condição Presidente encarregado da transição para a democracia, conforme determina a Constituição e ordenou o Parlamento, acusou mais um golpe do ditador Maduro na tentativa de intimidar a população que, por mais de 90% o quer fora do poder. "Alertamos al pueblo de Venezuela y la comunidad internacional: El régimen secuestró al primer vicepresidente de la @AsambleaVE @edgarzambranoad. Intentan desintegrar el poder que representa a todos los venezolanos, pero no lo van a lograr." (20:11 - 8 de mai de 2019) Assim, enquanto a população da Venezuela se deprime na fome, Maduro e seus generais corruptos se saciam no poder.

É duro ter que assistir, e não poder fazer nada, o pior dos mundos acontecendo bem aqui do outro lado da fronteira sob o apoio das mais inarredáveis ditaduras do resto do planeta e a ONU, por exemplo, encostada na janela, como diria o Raul Seixas, com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar. A morte absoluta das liberdades democráticas.

Poder sem a legitimidade do voto livre não governa. E só produz opressão. Em tempo. Ao contrário do que insistem uns inteligentinhos da mídia tupiniquim, Juan Guaidó não se autoproclamou Presidente da Venezuela. É que sendo o Presidente da Assembleia Nacional, na forma da Constituição, foi investido na função de Presidente encarregado para conduzir, mediante eleições livres, a transição da atual ditadura para a democracia. Treinados lá mais atrás em deturpação dos fatos, quando interessa à facção totalitária que ainda lhes faz a cabeça, esses esquerdopatas não deixam passar um momento sem que inoculem nos noticiários uma referencia ostensivamente desairosa ao papel que Juan Guaidó, à força da sua coragem pessoal e do ideal democrático que o inspiram, desempenha nesses momentos difíceis para a população e para as instituições republicanas da Venezuela.

Reforma da previdência, noticia boa para os deputados.

Pelo andar da carruagem, as démarches para a aprovação da reforma da previdência ainda serão longas e lentas.

Antes do próximo recesso parlamentar, em julho, as discussões, em sua maioria ocas, visando mais as arquibancadas virtuais, seguirão impedindo resultados práticos, efetivos.

Daí que já se fala em fim do recesso de julho para que a pauta da reforma da previdência não seja interrompida esperando agosto. Ôba!

É que não havendo o recesso, haverá convocação extraordinária, o que se traduz como mais um dinheirinho aí, uma graninha extra na conta bancária de cada deputado.

É quando os fins parecem justificar os meios.

Uma história que não dá para esquecer

Por Antonio Carlos Lima

Desde aquela remota manhã de março em que, pela primeira vez, visitei a redação deste jornal, como candidato a foca, já se passaram 43 anos.

Recém-chegado do interior, aprovado no Vestibular para o curso de Comunicação Social da UFMA, trazia em mãos um bilhete da jornalista Lúcia Rito, da revista Veja, para o também jornalista Edson Vidigal. Ao lado dela, Vidigal participara, anos antes, de um curso de Jornalismo promovido pela revista para a descoberta de novos talentos em todo o País, e se tornara correspondente da publicação no Maranhão.

Lúcia Rito conhecera-me no ano anterior, em Barra do Corda, onde eu, adolescente ainda, vivia com meus pais, estudante do 2o. Grau no Colégio Diocesano e co-editor de um jornalzinho mimeografado, “O Pássaro”.

Acompanhei-a em visita a uma aldeia de índios guajajara, ajudei-a a fazer contato com dirigentes locais da Funai e, antes de retornar ao Rio de Janeiro, ela disse-me, em tom de aconselhamento, que o meu caminho natural era fazer a faculdade de Comunicação Social e exercer o jornalismo profissional, sem demora. “Quando chegar a São Luís, entregue esse bilhete ao Vidigal”, ela me disse.

Foi o que fiz naquela manhã de março de 1976, já matriculado na UFMA. No dia seguinte, estava trabalhando como repórter, numa redação chefiada pelo jornalista e poeta Bandeira Tribuzi, espécie de divindade no meio intelectual ludovicense, principalmente o estudantil, por sua oposição ao regime militar, com seus poemas libertários e sua vasta cultura. Tribuzi acolheu-me com o mesmo entusiasmo de seu colega da Veja.

Foi um alumbramento. Sair da redação de um jornalzinho impresso num mimeófrago elétrico instalado no corredor da casa de meus pais, em Barra do Corda, num exercício semanal mais lúdico do que jornalístico, para a redação do maior jornal do Maranhão, era, sem dúvida, um grande passo.

Após aquele primeiro contato, tive muitas outras experiências no Jornalismo, mas, diversas vezes, retornei ao O Estado do Maranhão. Em períodos alternados, fui aqui repórter, editor, chefe de reportagem e, finalmente, diretor de Redação, cargo que assumi em 1983 (foto) a convite do amigo Fernando Sarney, que confiara a direção geral ao arquiteto e escritor Pedro Costa, filho do poeta Odylo Costa, filho. Pedro era casado com Paloma Amado, filha do escritor Jorge Amado, e mudara-se havia pouco para São Luís.

De 1983 a 1990, deu-se, naquela redação, a minha mais rica experiência profissional e humana. Fico imaginando hoje como era fazer um jornal diário sem o auxílio de computadores e sem a Internet.

Os símbolos do avanço tecnológico eram dois aparelhos de telex, que vomitavam o dia inteiro centenas de metros de papel impressos com notícias distribuídas pelas agências Estado, Globo e Associated Press (AP), e dois equipamentos de radiophoto e telephoto, da UPI (United Press International) e da AP, que demoravam uma eternidade para imprimir as imagens.

Não havia telefone celular, óbvio. A televisão e o rádio sempre surpreendiam os jornais na guerra pela notícia. As páginas do jornal eram montadas artesanalmente.
Os textos saíam das barulhentas máquinas de escrever para as mãos dos revisores, iam para a diagramação e, em seguida, para os aparelhos de composição fotográfica. Só depois de montada numa “boneca”, a página seguia para o processo químico que a transformava em fotolito e chapa metálica. Dali, em duplas, ia para a impressão, já em off-set.

Compensávamos nossas limitações tecnológicas com a ousadia na formação de nossas equipes. Recrutávamos na universidade e nos meios acadêmicos e intelectuais os melhores quadros, e formamos uma excepcional equipe de repórteres, redadores, fotógrafos e colaboradores.

Nosso principal revisor, durante muito tempo, foi o escritor Viégas Netto. O chefe de reportagem era o talentoso Othelino Filho (pai do atual deputado Othelino Neto). O editor de política, Ribamar Corrêa. A bibliotecária Rosa Ferreira Lima, depois diretora da Biblioteca Pública, era a chefe do nosso arquivo. Pergentino Holanda era já o maior colunista do Maranhão.

Quando criei o Caderno Alternativo, convidei um time de primeira ordem para revesar-se na crônica diária: Nonnato Masson, Ubiratan Teixeira, José Chagas, Jomar Moraes, Benedito Buzar, Ivan Sarney, Bernardo Coelho de Almeida, Joaquim Itapary. A agenda cultural era o foco principal do caderno.

Antes de completar o segundo ano no cargo, o dono do jornal, o então senador José Sarney, rompera com o governo militar e formara, com Tancredo Neves, a Aliança Democrática. Tancredo foi eleito presidente, e Sarney, vice. Tancredo morreu, Sarney assumiu a Presidência da República.

Presidente, Sarney exigia que este jornal, por ele chamado carinhosamente de “New York Times do Maranhão”, estivesse diariamente à sua disposição no Palácio da Alvorada. Eventualmente, enviava artigos e bilhetes ao diretor de redação. Sempre para elogiar, sugerir ou incentivar: “Ouse!”, aconselhava, quando mandava exemplares de jornais dos diversos lugares do mundo que visitava.

Como diretor de redação do jornal, testemunhei momentos marcantes da Nova República.

Assisti à quadragésim assembleia da Organização das Nacões Unidas, durante a qual Sarney citou um poema de Bandeira Tribuzi, meu primeiro chefe no jornal. Enviado pelo jornal, cobri o 30o aniversário da tomada do Quartel Moncada pelos revolucionários de Fidel Castro, em Cuba. Meu relato sobre a viagem, aqui publicado, recebeu o Prêmio Fenaj de Jornalismo. (Na foto, recebo o prêmio das mãos de Carlos Castello Branco, um dos maiores colunistas políticos do Brasil de todos os tempos).

Hoje, quando O Estado do Maranhão completa 60 anos de existência, revigorado pelas novas tecnologias, que o tornam disponível para o leitor a qualquer hora e em qualquer lugar do planeta, produzido por uma equipe jovem, ágil e competente, sob a liderança de Cloves Cabalau, orgulho-me de ter sido, há pelo menos 43 anos, testemunha privilegiada, e, em momentos significativos, protagonista dessa história.

A jornalista Lúcia Rito, que hoje é apenas uma doce e grata lembrança, estava certa quando, naquele distante 1975, afirmou que o meu caminho natural era o Jornalismo. E  também quando entregou-me o bilhete que me abriu as portas deste jornal, que, para alegria de leitores e anunciantes, torna-se agora sessentão.

Essa é uma história que não dá para esquecer.

(Artigo publicado n’O Estado do Maranhão, em edição comemorativa dos seus 60 anos de fundação. 01.05.2019).

Inteiramente fiel. Guardo tudo na memória. Com uma nitidez absoluta. Parabéns! O jornal me deletou, mas a verdade da história o delata. É muito bom constatar que o mundo local maranhense ainda habita pessoas do bem como você.

quarta-feira, 8 de maio de 2019

O dono da voz

Em sua coluna Radar (veja.abril.com.br), Mauricio Lima informa que um estudo do perfil do Twitter de Jair Bolsonaro, feito pelo professor Francisco Brandão, do Laboratório de Governo Eletrônico e Políticas Públicas da Universidade de Brasília (UnB), analisou 97% dos 6.659 tuítes do presidente da República, postados entre 31 de março de 2010 (a data, obviamente, de sua criação) e 30 de abril deste ano.

O nome da conta mais mencionado é do filho Carlos Bolsonaro, com 428 citações. Os outros filhos vêm na sequência: Eduardo, com 329, e Flávio, 202. Entre os 50 nomes mais citados estão Olavo de Carvalho (55), Alexandre Garcia (9) e Pastor Malafaia (7)."

"São muitos os dados. Em 2011, o então deputado (Bolsonaro) fez apenas uma postagem na qual dizia que Twitter não era com ele, mas com seus filhos. “É complicado me dedicar ao twitter, por isso peço q sigam meus filhos @verbolsonaro (Carlos) e @flaviobolsonaro q retransmitem meus pensamentos.”

Segundo a pesquisa, o tuíte de Bolsonaro mais curtido nesses anos foi o que faz referência à ligação telefônica de Donald Trump o cumprimentando pela vitória no ano passado: 220 mil. Entre os cinco mais estão o da escolha de Sérgio Moro para ministro da Justiça e, mais recente, o da defesa que fez de Danilo Gentili."

"O levantamento mostra que algumas palavras muito usadas em 2018 sumiram em 2019. Deus, por exemplo: caiu de 51 para 20. Lula, caiu de 33 citações para 3. Outras apareceram mais: durante a campanha, o candidato do PSL citou Previdência apenas 3 vezes. Neste ano, subiu para 34 referências à reforma, que ele evitou na disputa presidencial."

Promessa de campanha

Ainda dependerá do crivo da Câmara dos Deputados, quanto à constitucionalidade, o Decreto do Presidente Bolsonaro dando maior flexibilidade à liberação de armas no País.

O Presidente da Câmara Rodrigo Maia encomendou uma análise do Decreto à sua assessoria e tão logo a tenha conclusa começará a discussão, inicialmente com os líderes partidários. No minimo, acredita, serão feitos alguns reparos.

O Ministro da Justiça, Sérgio Moro, respondeu à provocação dos jornalistas lembrando que se trata do cumprimento pelo Presidente da República de uma promessa de campanha.

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Alerta para o risco de tornarem os militares sacos de pancada

Vera Magalhães, uma das mais lúcidas analistas da cena política do Brasil, chama a atenção para o perigo que ronda a governabilidade se não houver logo um basta nas interferências, na minha opinião, por demais indevidas, de um senhor que, do interior da Virginia, nos Estados Unidos, dispara petardos via redes sociais causando um desassossego danado na equipe do Presidente da República.

Olha aqui o exemplo de sensatez, raro ultimamente entre muitos coleguinhas, quase sempre quando a pauta é o atual governo, neste breve comentário da jornalista do Estadão:

"Jair Bolsonaro parece não perceber o risco de transformar os militares em sacos de pancada seus e de seus aliados mais ideológicos. Foi graças à reabilitação que sofreu na cúpula das Forças Armadas que Bolsonaro passou de capitão reformado, espécie de pária do Exército, a alguém que passou a ser visto como a melhor possibilidade para vencer o PT eleitoralmente. Ele deve isso em grande parte aos esforços de generais como Augusto Heleno, Santos Cruz, Eduardo Villas Bôas e até o vice, Hamilton Mourão.

Dar voz e corda aos que humilham publicamente esses generais não resultará em boa coisa para o governo. Justamente porque os militares prezam três qualidades que Bolsonaro adora ressaltar (hoje mesmo o fez): disciplina, respeito e hierarquia. É molecagem instigar, desde dentro do Planalto e de outros órgãos do governo –como a Apex, hoje um aparelho olavista que funciona sob os auspícios do chanceler Ernesto Araújo– os petardos contra os generais. No limite, o rompimento com a ala à qual o próprio Bolsonaro conferiu protagonismo pode inviabilizar o governo. E quando e se isso acontecer, Olavo estará no mesmo lugar: xingando muito no Twitter, a partir da Virgínia, e fingindo que nada tem a ver com o circo pegando fogo." / Vera Magalhães, de O Estado de São Paulo.

Em dupla, afinadíssimos


Bolsonaro quer mais colégios militares

Primeiro Presidente da República, em quarenta anos, a visitar o Colégio Militar do Rio de Janeiro – o último foi o General Figueiredo, o Presidente Jair Bolsonaro, num discurso de dois minutos, disse que quer instalar colégios militares em todos os Estados do País.

Assim, justificou, meninos e meninas serão preparados para a quarta revolução industrial do Brasil.  A data de hoje marca dos 130 anos de fundação do Colégio Militar do Rio de Janeiro.
Bolsonaro lembrou que o Vice Presidente Hamilton Mourão, em pé ao seu lado, durante a solenidade, estudou lá e que os dois foram colegas na Academia Militar das Agulhas Negras, em Rezende, RJ.
- As escolas militares honram todos os brasileiros com a educação básica, elogiou.

Porandubas Políticas

Por Gaudêncio Torquato

Abro a coluna com a Semana Santa na PB.

Fura ele, Jesus

O caso ocorreu na encenação da Paixão de Cristo numa cidadezinha da Paraíba. O dono do circo, em passagem pela cidade, resolveu encenar a Paixão de Cristo na sexta-feira santa. Elenco escolhido. Dentre os moradores e no papel de Cristo, o cara mais gato da cidade. Ensaios de vento em popa. Às vésperas do evento, o dono do circo soube que 'Jesus' estava de caso com sua mulher. Furioso, deu-se conta que não podia fazer escândalo sob pena de perder o investimento. Bolou uma maneira. Comunicou ao elenco que iria participar fazendo o papel do 'centurião'.

- Como? Você não ensaiou!

- Não é preciso ensaiar, porque centurião não fala!

O elenco teve que aceitar. Dono é dono. Chegou o grande dia. Cidade em peso compareceu. No momento mais solene, a plateia chorosa em profundo silêncio. Jesus carregando a cruz ... e o 'centurião' começa a dar-lhe chicotadas.

- Oxente, cabra, tá machucando! Reclamou Jesus, em voz baixa.

- É pra dar mais veracidade à cena, devolveu o centurião.

E tome mais chicotada. Chicote comendo solto no lombo do infeliz. Até que Jesus enfureceu-se, largou a cruz no chão, puxou uma peixeira e partiu pra cima do centurião:

- Vem, desgraçado! Vem cá que eu vou te ensinar a não bater num indefeso!

O centurião correndo, Jesus com a peixeira correndo atrás, e a plateia em delírio gritando:

- É isso aí! Fura ele, Jesus! Fura, que aqui é a Paraíba, não é Jerusalém, não!

Torquato barômetro

Este analista político entra na onda dos barômetros que medem os climas na política, as imagens de governos, as variações e tendências, enfim, a moldura ambiental, nos moldes do Latinobarómetro, especializado na análise do território latino-americano, com seus indicadores políticos, econômicos e sociais. A base de análise será meu posto de observação, não dispondo, assim, do instrumental de pesquisas dos institutos especializados.

Bolsonaro na ladeira

Vamos lá. Em 120 dias, o governo Bolsonaro está à procura de uma bússola. É um governo sem rumos. Tem, sim, grandes desafios pela frente, a partir da reforma da Previdência, a reforma Tributária, o pacto federativo, a par das tarefas rotineiras da administração. Constatações: o governo não arrumou uma articulação eficaz com o Congresso; usa uma comunicação trôpega; o presidente desmente constantemente quadros do governo; continua desacreditando na hipótese de governar com a classe política; usa ainda o tom de campanha, a mostrar dificuldade de mudar os parafusos da engrenagem. Por isso, o governo começa a ser questionado. Desce a ladeira da boa avaliação.

Políticos tomam distância

O desejo de beber na fonte do Planalto já não anima tanto a esfera política. Com as primeiras observações sobre queda na avaliação da imagem, políticos começam a tomar distância. Veja-se o apoio à reforma da Previdência. Em janeiro/fevereiro, enorme apoio; hoje, os congressistas fazem restrições. Fortes. O presidente, por seu lado, tem sido inábil. A conta que a Previdência poderá gerar chegou a R$ 1,2 trilhões. Bolsonaro anunciou, alto e bom som, que se conforma com R$ 800 bilhões. De pronto, ele deu o abatimento, minando o esforço da equipe econômica e já determinando o número que quer atingir.

Pitos constantes

O presidente aprecia puxar a orelha de assessores. Em Marcos Cintra, abalizado estudioso de contas e impostos, a orelha foi puxada com o desmentido de que iria tributar igrejas. A Rubens Novaes, presidente do BB, pediu redução dos juros do setor agropecuário. As ações caíram. A Roberto Castelo Branco, presidente da Petrobras, mandou suspender aumento do óleo diesel. As ações da empresa despencaram. Paulo Guedes, o maestro da equipe, deve estar de cabeça quente.

O cérebro esquerdo

Tentemos desvendar algumas partes do corpo governamental, a começar pelo cérebro. A esfera esquerda do cérebro é a da razão. Aí estão os vetores que amparam a lógica da administração. Os generais no entorno exercem a função de poder moderador. Tentam segurar o cavalo bravo. A área econômica, sob o comando de Guedes, tem um time de grande qualidade. Na infraestrutura, o ministro Tarcísio Freitas é uma ilha de excelência. E o programa de privatizações poderá puxar os investidores internacionais. Os programas sociais, mesmo diminuídos, completam a parte esquerda do cérebro.

O cérebro direito

Esta esfera é a da emoção. Junta uma coleção de vetores que dão sustentação à base emotiva do governo, a começar pelos filhos do presidente, com suas tiradas, ataques e flechadas contra os quadros de bom senso, dentre eles o vice-presidente Hamilton Mourão. Os valores conservadores - a ideologia de gêneros, a escola sem partido, a questão do aborto, a ministra Damares e o ministro Ernesto Araújo, o chanceler - formam o polêmico pacote emotivo. A disposição de armar a população e evitar a criminalização de proprietário rural que atire em invasores completam a cadeia emotiva. Portanto, parcela vital do cérebro é governada sob a égide das emoções, que se distribuem em outros órgãos do corpo, adiante.

O coração

O coração da administração bombeia o sangue de algumas fontes: o grupo familiar, radical, conservador e emotivo; a identidade militar do capitão, que forma sua expressão e puxa temas pertinentes aos tempos de chumbo; as bancadas temáticas - BBB, Boi, Bíblia e Bala - que, mesmo afinadas ao espírito governamental, começam a retirar o incondicional apoio; e a influência do guru, o senhor Olavo Carvalho, um polemista escritor que vive nos Estados Unidos e ganha dinheiro com cursos dados à distância via redes sociais.

O fígado

É donde escorre a bílis que irriga o sangue do presidente. Deste órgão, nasce a "guerra fria" de Bolsonaro. Contra o comunismo, contra o socialismo, coisas que, segundo o guru Olavo, dominam o Brasil. Do fígado é que se expele a ideia de que o nazismo é praticado pela esquerda. O autor da "pérola"? O chanceler Araújo. O petismo/lulismo também é alvo da "guerra" travada por Bolsonaro, filhos e seguidores. Pode-se incluir também entre os alvos a área artística. A bílis é farta.

O estômago

O estômago recebe alimentos de três grandes roças: a corporação militar, que veste o presidente com uma armadura inquebrantável, com a qual atira expressões mortíferas contra desafetos; o habitat dos simpatizantes, que frequentam redes sociais e batem forte em adversários; e o corpo de parlamentares do PSL, um partido estreito que se tornou largo, hoje com 55 parlamentares. Trata-se de uma agremiação em querelas internas e cheio de perfis que disputam as luzes da fosforescência midiática.

O pulmão

Este órgão bombeia o ar que o governo respira. E é responsável por uma forte alteração no fluxo das comunicações governamentais. Como se sabe, o processo de comunicação é composto por fontes, que expressam mensagens, transportadas por meios e que chegam até os receptores. No governo Bolsonaro, ele, o presidente, é fonte e usa os seus próprios meios para fazer chegar suas ideias aos receptores. Em vez de usar a mídia tradicional - jornal, revista, rádio e TV - Bolsonaro adota o Twitter para avisar sobre quadros que escolheu ou demitiu, para atirar contra desafetos ou elogiar aqueles que frequentam seu coração. As redes sociais, portanto, exercem importante operação de bombeamento do oxigênio governamental.

Braços e pernas

Constituem os eixos da estrutura governamental, propiciando a locomoção do governo e as ações de movimento. São ministérios, empresas, autarquias, associações e conselhos. Estes últimos integram o esforço de uma incipiente democracia participativa, eis que são entidades que contam(vam) com a participação de membros da sociedade civil. Pois bem, o governo, com um só golpe, aliás, uma só canetada, cortou centenas desses braços da sociedade. A estrutura governamental mostra-se sem conjunto, desequilibrada, sem metas e rumos. Nesse cenário, o braço social que transparece é o de Rodrigo Maia, presidente da Câmara, que determina a agenda parlamentar e exibe força de primeiro ministro de um presidencialismo desengonçado.

Coluna vertebral

Por último, a coluna vertebral, que se traduz como a identidade do Governo. Integram a coluna estes eixos: o liberalismo que puxa a área econômico-financeira; a área da segurança pública e a identidade militar, caracterizada não apenas pelo posto de capitão reformado do presidente, mas pelo conjunto de generais e coronéis que atuam na administração. E, claro, ainda compõem a coluna vertebral os valores conservadores (a direita). O presidente vem da classe média-média, posicionando-se como um antielitista.

Chegará ao final

Essa anatomia tem condições de atravessar o deserto e chegar à terra prometida? Depende de três fatores: 1. Uma boa articulação com a esfera política; 2. Uma boa articulação com o universo social; 3. Essa segunda hipótese dependerá da equação que este analista construiu e costuma pinçar para demonstrar a viabilidade de governos- a equação BO+BA+CO+CA= Bolso, Barriga, Coração, Cabeça. Explicando: Bolso farto, Barriga cheia, Coração agradecido, Cabeça aprova o governo que propiciou a felicidade.

Torquato Gaudêncio, Professor Titular na Universidade de São Paulo, é cientista político e consultor de marketing político.

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Livro Porandubas Políticas

A partir das colunas recheadas de humor para uma obra consagrada com a experiência do jornalista Gaudêncio Torquato.

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Já fui vice, eu sei

Por Edson Vidigal 

Lembro de Fernando Ferrari, um jovem Deputado do PTB gaúcho que rompendo com Jango do mesmo partido saiu para fundar o MTR – Movimento Trabalhista Renovador acolhendo surpreendentes dissidências pelo País por onde andou.

Ferrari era um orador brilhante. Queria um novo trabalhismo. Sua candidatura a Vice não estava atrelada a nenhum cabeça de chapa de qualquer partido.

Os dois partidos de maior densidade nacional, o PSD e PTB, ambos inventos de Getúlio, saíram em dobradinha com o Marechal Lott para Presidente e Jango para Vice.

Jânio recusou o Vice que a UDN lhe entregara, o Senador Leandro Maciel, de Sergipe. Ele queria o ex-Governador de Minas, o jurista Milton Campos.

Doutor Milton foi aquele Governador que em meio a uma greve de professores no interior recusou enviar tropas policiais para acalmar os grevistas, questionando – e por que em vez polícia, não mandamos o trem pagador?

Jango àquela altura, Vice de Juscelino, buscava um segundo mandato de Vice. O Marechal Lott, seu cabeça de chapa, não decolava. Ferrari correndo por fora, via seu nome enganchar em Jânio.

O pessoal do Jango, discretamente, acolheu a ideia de uma chapa JAN-JAN (Jânio e Jango). Cada um com os seus próprios votos, ambos eleitos. Foi a vontade da grande maioria do Povo. Pessoalmente, Jânio e Jango não se gostavam.

Daí que derrubado Jango em 1964, ele próprio o Vice eleito que sucedeu a Jânio após a renúncia, o Marechal Castelo Branco, que já estava escolhido para ser o novo Presidente apenas para completar o mandato de Jango, mas tendo que ser formalmente eleito pelo Congresso, precisou de um Vice para completar a sua chapa, antemão vitoriosa.

Instaurou-se a fórmula norte americana, que vigora ainda hoje no Brasil. A eleição do Presidente da República importará a do Vice Presidente com ele registrado. O Deputado José Maria Alckmin, do PSD de Minas, foi assim o Primeiro Vice Presidente eleito pelo novo sistema.

E de lá pra cá tem sido assim. A Constituição da República em seu Art. 79, Parágrafo único, é explicita – O Vice Presidente da República, além de outras atribuições que lhe forem conferidas por lei complementar, auxiliará o Presidente, sempre que for por ele convocado.

Sabem vocês onde está essa lei complementar? Em lugar nenhum. Entram Presidentes e saem Presidentes e ninguém se lembra de que o Vice para melhor servir precisa de uma Lei Complementar especifica para suas atribuições.

A Vice Presidência não foi imaginada para ser um banco de reserva inspirador do ócio. Por mais criativo que possa ser esse ócio. Basta ver o modelo original, o norte americano, que inspirou o nosso caso. O Vice Presidente tem papel ativo como auxiliar direto, o mais credenciado, dentre os servidores da República.

Desdenharam do Itamar e ele foi um grande Presidente.

Edson Vidigal, Advogado,  foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.

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