quarta-feira, 21 de março de 2018

Esqueçam o Lula


Por Edson Vidigal
Entre o Estado em dívidas e a Nação dividida, de um lado o ativismo da intolerância barulhenta e do outro o silêncio quase omissivo de uma maioria que só olha de lado, até parece que os eflúvios da próxima semana, a semana santa, sonegarão desta vez a corações e mentes os sentimentos da misericórdia que na reflexão destes dias nos elevam perante Deus e a nós mesmos como cristãos.
O Supremo Tribunal Federal não pautou para a sessão plenária de hoje algo como que, revolvendo o dilema bíblico que a turbinha de Caifás atirou no colo de Pilatos, tenha que optar entre conceder a ordem de habeas corpus unicamente a Cristo ou a Barrabás.
No presente caso, como uns gostam de escrever em seus relatórios e votos, trata-se de um réu já condenado em segunda instância, o qual será imediatamente recolhido à prisão tão logo sejam rejeitados, ou seja, na próxima segunda feira, os embargos de declaração opostos por sua defesa perante o Tribunal Regional Federal-4, sediado em Porto Alegre, RS.
Como lembrou Celso Láfer em artigo no Estadão do último domingo (Incerteza Jurídica, pág. A-2), a propósito de o  Supremo Tribunal Federal (STF) ser o guarda da Constituição, a Corte, no entanto, no exercício dessa função, “não vem construindo a autoridade de uma instituição colegiada”.
“Essa auctoritas, no meu entender – esclarece o Professor Láfer – tem um feitio de poder moderador. Resulta de uma contínua e coerente ação conjunta, voltada para supervisionar a manutenção da independência e harmonia dos outros Poderes da República, impedindo seus abusos e mantendo o seu equilíbrio, concorrendo dessa maneira para o bem estar nacional”.
Nem tanto quanto na Argentina, onde a Corte Suprema resvalou para dividir-se em vários Supremos no qual cada Ministro atua como se concentrasse em si todo poder constitucional atribuído à instituição, o nosso Supremo Tribunal Federal, certamente pela carência de uma maior coesão interna, tem se arranhado muito nas divergências que seriam naturais e até enriquecedoras como as que, no começo das coisas, travaram Pedro Lessa, um luminar paulista extremamente vaidoso, e Enéas Galvão, um gaúcho de admirável cultura jurídica que transpirava humanismo.
Os duelos que esses verdadeiros titãs do oficio de julgar – Pedro Lessa e Enéas Galvão – travavam, incansáveis quando a Corte era convocada a decidir sobre o direito à liberdade, moldaram o habeas corpus como instituto garantidor da cidadania contra ilegalidades ou abusos de poder.
O que está posto em questão é a interpretação que se deve dar corretamente a um mandamento da Constituição da República, inscrito no Art. 5º, Inciso LVII, - “ninguém será considerado culpado antes do trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.
Então o Estado Democrático de Direito por seus Juízes sentencia e muito antes do transito em julgado da condenação prende o acusado a título de cumprimento provisório da pena e isso é possível se não há ainda a culpa formada?
Quer dizer que no nosso Estado Democrático de Direito é licito prender quem não é ainda culpado?
O que o Supremo Tribunal Federal vai decidir logo mais, se não houver pedido de vista, é se o que está prescrito na Constituição da República (Art.5º, Inciso LVII) vale como de fato e de direito se conclui lendo ou se a maioria formada por apenas um voto a mais, ao entender diferente, é quem está certa.
Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.

quarta-feira, 14 de março de 2018

Morre Stephan Warking

Stephen Hawking estava preso a um corpo paralisado por uma doença neuromotora, mas isso não o impedia de nos ajudar a compreender a vastidão do Universo. 

O famoso físico britânico morreu aos 76 anos nesta quarta-feira, deixando ao mundo memoráveis reflexões sobre diferentes questões - da existência de Deus à origem do mundo.
Dependente de uma cadeira de rodas e impedido de falar, ele transmitia grande parte das suas ideias por meio de um sistema de computador que captava o movimento de seus olhos.
Das explicações para a existência do Universo aos aspectos negativos da fama, conheça algumas das mais famosas frases do cientista, que se dedicou a aproximar a Ciência do grande público.
Sobre buracos negros: "Einstein estava errado quando disse que 'Deus não joga dados'. A existência dos buracos negros sugere não apenas que Deus brinca de dados, mas também nos confunde ao jogá-los onde não podem ser vistos"- no livro A Natureza do Espaço e do Tempo, publicado em 1996.
Sobre as razões para a existência do Universo: "Se encontrarmos uma resposta para isso, será o maior triunfo da razão humana, porque conheceríamos a mente de Deus"- no livro Uma Breve História do Tempo, publicado em 1988.
Sobre Deus: "Não é necessário invocar Deus para iniciar uma reação e fazer o Universo funcionar"- no livro O Grande Projeto, publicado em 2010.
Sobre sucesso comercial: "Eu quero que meus livros sejam vendidos em lojas de aeroporto"- em entrevista ao jornal americano The New York Times, em dezembro de 2004.


Stephen HawkingDireito de imagemGETTY IMAGES

Sobre a fama: "O aspecto negativo da minha fama é que eu não posso ir a qualquer lugar do mundo sem ser reconhecido. Não adianta eu usar óculos escuros e peruca. A cadeira de rodas me entrega"- em entrevista a um programa de TV israelense em dezembro de 2006.
Sobre a imperfeição do mundo: "Sem imperfeição, você e eu não existiríamos"- no documentário O Universo de Stephen Hawking, transmitido pelo Discovery Channel em 2010.
Sobre eutanásia: "A vítima deve ter o direito de acabar com a própria vida, se ela quiser. Mas eu acho que seria um grande erro. Por pior que a vida pareça, sempre existe algo que você possa fazer e ser bem-sucedido. Enquanto há vida, há esperança"- fala citada no site de notícias People Daily Online, em junho de 2006.
Sobre a possibilidade de contato entre seres humanos e extraterrestres:"Acho que seria um desastre. Os alienígenas provavelmente estão bem mais avançados que nós. A história do encontro entre civilizações mais avançadas com povos primitivos neste planeta não é muito feliz, e eles eram da mesma espécie. Acho que devemos manter a cabeça baixa"- no programa In Naked Science: Alien Contact, do canal National Geographic, em 2004.
Sobre ser diagnosticado com uma doença neuromotora: "Minhas expectativas foram reduzidas a zero quando eu tinha 21 anos. Tudo desde então tem sido um bônus"- em entrevista ao The New York Times, em dezembro de 2004.
Sobre a morte: "Eu tenho vivido com a perspectiva de morrer cedo nos últimos 49 anos. Não tenho medo da morte, mas não tenho pressa para morrer. Eu quero fazer muita coisa antes disso"- em entrevista ao jornal britânico The Guardian, em maio de 2011.

(Texto e foto da BBC Brasil).

A ilha alagada por dentro e ao derredor

segunda-feira, 12 de março de 2018

Lava Jato e Judiciário, Datena entrevista a Ministra Eliana Calmon, ex-Corregedora do CNJ

Eliana Calmon explica blindagens na lava jato

Repercutiu muito a fala da ministra aposentada do STJ e ex-corregedora do CNJ, Eliana Calmon, sobre a impossibilidade de a operação Lava Jato atingir o Judiciário. 

A ex-ministra falou à TV Migalhas, na XVI Conferência da Advocacia Mineira, em Juiz de Fora, que muitas vezes são os advogados dos colaboradores que impedem que os delatores falem de integrantes do Judiciário.

quinta-feira, 8 de março de 2018

Sinuca de bico



Por Edson Vidigal

Precedentes jurisprudenciais são encontráveis em porções apreciáveis conforme o foco que se queira dar à questão do momento.
Não penso que isso seja bom porque, no mínimo, não ajuda a segurança jurídica, essencial à estabilidade democrática.
Precedentes jurisprudenciais não devem ser evocados como se apanhados num cisqueiro e atirados às agendas das discussões só para tumultuar os encadeamentos.
Direito, afinal, para realizar a Justiça não prescinde de generosas doses de lógica aliada a inquestionável bom senso.
Precedentes, meros precedentes, não se confundem com sumulas vinculantes, eis que estas sim é que produzem, por obvio, efeitos obrigatórios. Nesse ponto, o Ministro Pertence, tem toda razão.
No campo do habeas corpus, por exemplo, nossas principais Cortes, tanto a Suprema quanto a Superior, estão a exarar nos últimos tempos, e mais ainda nestes estranhos tempos, os mais conflitantes entendimentos.
Não são poucas as vezes em que nos assustam com decisões conflitantes em situações semelhantes, umas indeferindo, outras concedendo, muitas nem conhecendo.
O medo do apocalipse se transmuda em alívio ao constatarmos que o remédio heroico do habeas corpus não sucumbirá contaminado pelas intolerâncias e ineficácias de precedentes que afoitamento vão se desintegrando do ordenamento jurídico podendo adoecer por anemia e fraqueza a Constituição, quiçá a República!
Tudo bem, nada mal. Como diria Winston Churchill, “não há mal nenhum em mudar de opinião. Contanto que seja para melhor”. Felizmente, há uma maioria pensando assim no STF e no STJ. Teimando como Churchill.
O ânimo da mudança para melhor não vem só do grande estadista e Nobel de Literatura inglês.
Da França já aconselhava o grande Vitor Hugo – “mude suas opiniões, mantenha seus princípios. Troque suas folhas, mantenha suas raízes.
Também Marco Aurélio, o exemplar Imperador e filosofo romano – “mudar de opinião e seguir quem te corrige é também o comportamento do homem livre.
E encerrando o desfile, um dos principais da literatura e do jornalismo português, Alexandre Herculano – “Eu não me envergonho de corrigir os meus erros e de mudar de opinião, porque não me envergonho de raciocinar e aprender”.
O Direito é uma ciência andante pari passo com a Realidade Social. Nem sempre a norma saída da fornalha do legislador toca na Realidade Social.
Daí a necessidade de um ser, encontrável in natura unicamente entre os racionais na natureza humana, passível, por conseguinte, de muitos erros e grandes acertos, na função quase divina de realizar a Justiça, declarando a cada um o que é seu segundo uma igualdade.
Numa sociedade democrática, a busca para a realização da Justiça focando a lanterna de lentes fortes do Direito sobre o fato típico da complexa Realidade Social não é tarefa que se entregue aos que, por mais hermeneutas que se mostrem, carecem de coragem, a coragem para conceder ou negar, e em especial, a coragem para mudar. Para melhor, é claro.
Não são poucos os entendimentos do passado, que pareceram pétreos, que o próprio STF recolheu depois à memória dos arquivos, não se deixando seguir pela bussola dos precedentes enferrujados.
A Constituição da República já não é mais adolescente. Vai para 30 anos, como diria Sartre, a idade da razão.
O princípio segundo o qual é assegurado a todo acusado o direito de ser presumido inocente, estado de inocência esse que só se extingue com o trânsito em julgado da decisão condenatória, é uma garantia mesmo ou jujuba para tingir de esperanças petições de defensores públicos e de advogados?
Sei, não. Mas o que se diz por aí sobre o “habeas corpus” negado pelo STJ ao ex-Presidente Lula acabou empurrando para uma sinuca de bico a maioria ínfima da Corte Suprema em cujos precedentes o STJ se escorou com brilho, respeitável brilho, dos 5 Ministros da 5ª. Turma.
Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal. E Professor de Direito na Universidade de Brasília.
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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Depois de 3 mandatos de Senador, Sarney se despede do Amapá


Mensagem ao povo do Amapá
José Sarney


Dirijo-me às minhas amigas e aos meus amigos do nosso querido Estado do Amapá, bem como a todo seu povo para lembrar que encerrei a minha vida política com a decisão tomada, desde a eleição passada, de não concorrer a mais nenhum cargo eletivo, em razão da minha idade e das dificuldades que tenho hoje para atender, plenamente, às obrigações para com o Estado do Amapá.
Como todos sabem, tenho residência em Brasília, no Maranhão e no Amapá. Pela lei, não tenho mais obrigatoriedade de votar. Assim, achei ser do meu dever transferir o meu título eleitoral para onde reside a minha família, que não é formada apenas por mim e minha mulher, mas também por filhos, netos, bisnetos, além de onze irmãos, dos quatorze que possuía.
Diante do fato de vivermos um ano eleitoral, de ter tido insistente apelo a uma possível candidatura minha e de aparecer em grande preferência nas pesquisas eleitorais no Amapá, não quero frustrar nem uns nem outros mantendo falsas expectativas, o que seria certa falta de consideração para com os que sempre estiveram comigo e me apoiaram, que têm o direito de novas oportunidades.
Assim, sem abandonar os meus vínculos e os meus deveres para com esse querido Estado, que me acolheu e me deu três mandatos de Senador, resolvi transferir o meu domicílio eleitoral para a cidade de São Luís, de onde saí.
Eu não digo “Adeus”, digo “Até logo”, pois meus vínculos com essa terra jamais se dissolverão, uma vez que a ela estou ligado por todos os laços, e não por domicílio eleitoral.
Tenho a consciência de que o Amapá hoje tem um grande futuro e está preparado para ser um importante Estado, sobretudo com as portas abertas para a juventude, que, quando aí cheguei, não tinha horizontes.
Assim é que deixo, como parte do meu trabalho, toda a infraestrutura do Estado do Amapá apta para seguir seu grande caminho.
A Zona de Livre Comércio, que ajudei a construir, deu uma nova perspectiva ao Estado e é hoje sua maior fonte de empregos e de desenvolvimento, tendo definido a sua História em dois momentos: antes e depois de existir.
Encontrei o Amapá com motores a óleo diesel e racionamento de energia elétrica durante todo o dia. Hoje o Estado é um exportador de energia, com as Usinas do Caldeirão, de Ferreira Gomes e de Santo Antônio. Além de uma coisa que nem eu mesmo acreditava que pudesse conseguir: influir para que o Linhão do Tucuruícolocasse o Amapá no Sistema Elétrico Nacional.
Deixo também a Zona Franca Verde, cujos primeiros projetos já estão sendo aprovados, que será, sem dúvida nenhuma, a complementação para a economia industrial do Amapá.
Consegui, por outro lado, salvar o Projeto Jari, uma das alavancas da economia de mercado de trabalho para o sul do Estado; que fizessem o Hospital Sarah Kubitschek, que tão grandes serviços tem prestado aos que mais precisam de ajuda, sobretudo às crianças – somente suas mães sabem o que isso significa para elas; em um Estado que não tinha terras, que fossem passadas terras da União para o Amapá; fundei a Universidade do Amapá, que sempre ajudei, e levei para o Estado as escolas profissionais de Porto Grande, de Macapá, de Santana, do Laranjal do Jari e do Oiapoque, com sua grande estrutura de ensino moderno, que se formaram com a criação de recursos humanos.
Foi importante a ajuda que dei ao prosseguimento dos estudos — que comecei ainda como Presidente da República, na época do Governo Nova da Costa — para a construção da ponte sobre o rio Araguari, a ponte sobre o rio Oiapoque e os recursos para a ponte sobre o rio Jari, que por três vezes foram mandados por mim e constitui uma grande frustração que ainda não tenha sido concluída.
Toda a minha atuação foi em obras estruturantes, que duram para sempre. É como dizia Rui Barbosa: “Plantar carvalho, que dura séculos, e não couve, que morre em 48 horas.”
Em todos os momentos, impedi que se cometessem injustiças ao funcionalismo, civil e militar, que defendi com todas as forças. Nunca deixei de defender as causas dos servidores, que passaram a receber o décimo terceiro salário porque o criei quando exerci a Presidência da República.
Não quero fazer um relatório do que deixo, porque não deixarei nunca de trabalhar pelo Estado do Amapá, pelo qual lutarei até a morte.
Devo ressaltar que, do meu lado intelectual, também criei duas obras definitivas para o Estado: a primeira é a história do Amapá — “Amapá, a terra onde o Brasil começa” —, que escrevi e que hoje é a única obra à disposição de estudantes e intelectuais. E a segunda: no meu romance “Saraminda”, a ação se passa numa área do Amapá — esse livro hoje é referência na literatura brasileira e na mundial, para a qual foi traduzido em 12 línguas.
Trabalho ainda e, se Deus me permitir com alguns anos mais pela frente, entregarei um Guia Sentimental do Amapá, para o qual venho colhendo notas e trabalhando há tempos.
A todos que me apoiaram, que me deram três vitórias, a minha mais comovida gratidão.
Agora que estou desobrigado de votar, quero, simbolicamente, eleger o Estado do Amapá como grande destinatário do meu trabalho

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

O direito de Importunar

No caso aqui não há o risco de liminar. Catherine Deneuve mora na França, agora sob novos oxigênios de liberdades e esperanças reinventadas.
Na contramão do que vem rolando nos Estados Unidos contra pessoas do mundo das artes cênicas, acusadas de assédio sexual, celebridades francesas, dentre elas Deneuve, divulgaram um manifesto em defesa dos direitos à paquera reciproca.
O tema, aliás, já havia sido abordado num filme de 1994 em que Demi Moore, na época emparelhando com Vera Fischer, instigavam em Zeca Baleiro inspirações apaixonadas.
Na trama, Tom, personagem de Michael Douglas, é preterido por Meredith, personagem de Moore, que frustrada em suas investidas passa a persegui-lo, ameaçando destruí-lo no emprego.
As francesas, em mais de uma centena, incluindo escritoras, atrizes e acadêmicas, sustentam que nós, os homens, temos de ser “livres para abordar” mulheres.
O movimento que tem ocupado os noticiários sobre os assédios, principalmente em Hollywood, a meca do cinema, são definidos pelas francesas como “caça às bruxas”, uma ameaça à liberdade sexual.
“Seduzir alguém, ainda que de forma insistente – afirmam – não é crime. Crime é o estupro”. Elas vêm à frente um novo inimigo – os extremistas religiosos e reacionários, “inimigos da liberdade sexual.
Deneuve, hoje com 74 anos, celebrizada por sua personagem em “A Bela da Tarde”, (“La Belle d´Jour”), de Luis Buñuel (1967), se opõe aos métodos das militantes do movimento “#MeToo” (eu também) de oposição à onda de assédios. “É excessivo”.
- “Nós defendemos a liberdade de importunar, indispensável à liberdade sexual”, é o título do manifesto no qual lamenta-se a onda de repreensões públicas que vieram à tona após os escândalos envolvendo produtores, atores e diretores nos Estados Unidos.
O manifesto foi divulgado menos de 72 horas depois da festa de premiação do Globo de Ouro onde atrizes famosas e outras celebridades compareceram vestidas de preto, o que levou a nossa Danuza Leão a dizer que o clima lembrava um velório.
Elas, as francesas, ressalvam que consideram legitimo e necessário protestar contra o abuso de poder por parte de alguns homens, mas consideram que as constantes denúncias saíram do controle.
“Os homens têm sido punidos sumariamente, forçados a sair de seus empregos, quando tudo que fizeram foi tocar o joelho de alguém ou tentar roubar um beijo” (...) “Cavalheirismo não é uma agressão machista”.
As autoras e signatárias do manifesto francês denunciam o que entendem como um novo puritanismo no mundo. “Essa febre de enviar porcos ao matadouro, longe de ajudar as mulheres a serem mais autônomas, serve realmente aos interesses dos inimigos da liberdade sexual, dos extremistas religiosos, dos piores reacionários”.
Segundo elas, a onda de acusações induz à percepção de que as mulheres são impotentes e eternas vítimas. “Como mulheres, não nos reconhecemos neste feminismo que, além de denunciar o abuso de poder, incentiva um ódio aos homens e à sexualidade”.
Não tive acesso à integra do manifesto das mulheres francesas. O que transcrevo aqui decorre de leituras e anotações tiradas de fontes como a BBC Brasil, a mais importante e de maior credibilidade. Na minha opinião.
Penso que em tudo não devemos perder de vista os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Quem levar em conta esses princípios não defere liminar. E no mérito, nem pensar.
Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.


Porandubas Políticas

Por Torquato Gaudêncio

Abro a Coluna com as coisas engraçadas do mineiro.

Da burrice e da engenharia

Era uma vez.....

Viajando pelo interior de Minas, o arquiteto Marcos Vasconcelos encontrou um grupo de trabalhadores abrindo uma estrada:

– Esta estrada vai até onde?

– Muito longe, muito longe, doutor. Atravessa o vale, retorce na beirada da serra, quebra na esquerda, retoma pela direita, desemboca em frente, e vai indo, vai indo, até chegar a Ponte Nova, passando por baixios e cabeceiras.

– Vocês têm engenheiro, arquiteto, teodolito, instrumentos de medição?

– Num tem não, doutor. Nós tem um burro, que nós manda ir andando, andando. Por onde ele for, aí é o melhor caminho. Nós vai picando, picando.

– E quando não tem burro?

– Aí não tem jeito, doutor; nós chama um engenheiro mesmo.

O arquiteto seguiu adiante filosofando sobre as artes da burrice e da engenharia.

O ano eleitoral

Esta é a primeira coluna do ano. O compromisso deste espaço é o de fazer uma leitura acurada e apurada do ambiente social, político e econômico. Claro, pelas características do ano, darei ênfase à abordagem eleitoral. Pretendo ajudar os leitores e protagonistas da política a entender o que se passa a seu redor. E vou começar analisando as chances de eventuais candidatos à presidência da República, com os prós e contras que balizam seus perfis.

Lula I

É o maior líder político do país. Tem perfil encravado na ponta esquerda do arco ideológico. É o que mais assume a condição populista. Exerce influência sobre as massas. Principalmente as incautas. Mas causa medo a importantes grupamentos sociais, a partir das classes médias. Lula está no epicentro da Lava Jato. Tenta se desvencilhar do rolo em que está metido. Será julgado. Com alta possibilidade de ser condenado pela 2ª. instância - o TRF da 4ª Região. Deverá se vitimizar. Dizer-se vítima dos poderosos e da Justiça. A militância se prepara para fazer barulho em 24 de fevereiro.

Lula II

Lula não mais mantém poder de incendiar o país. Porque, nos últimos tempos, ele e outros quadros do PT têm sido alvo de intenso bombardeio. Da mídia e de setores organizados. O mercado reage a ele negativamente. Carrega forte poder eleitoral no Nordeste, mas perde espaço no Sudeste. Está, hoje, na dianteira das pesquisas. Amanhã, tende a cair. A campanha deverá atirar pesado sobre ele. Alijado, escolherá um substituto. Que pode ser Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo. Um desempenho fraco.

Alckmin I

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deverá ser o candidato tucano. Seu desafio: atrair para sua aliança os grandes partidos, a partir do MDB. Geraldo é portador da síndrome do muro: é criticado pela mania de ficar no meio do problema, sem decidir por um lado ou por outro. O MDB desconfia dele. Alckmin sabe que só terá sucesso se for o candidato das maiores forças do centro. Se o centro se diluir e apresentar outros candidatos, a fragmentação acabará beneficiando os perfis das pontas esquerda e direita. São Paulo será o grande avalista do governador. Se sair daqui com enorme bacia de votos, terá vantagem. O maior colégio eleitoral do país poderá se transformar em fator de diferença.

Alckmin II

Geraldo Alckmin encontrará desafios pela frente: além de convencer partidos a caminharem juntos com o PSDB, terá de escolher o candidato ao governo de São Paulo. Quem? Marcio França, o vice-governador, que assumirá o governo em abril? João Doria, o prefeito e pupilo que continua com seu nome na parada? José Serra, o senador? Um passo falso nessa vereda pode diminuir as chances de Alckmin. É vital ganhar em São Paulo. João Doria poderia ser a opção. Até pode fechar as portas do PSB, mas tem condições de abrir as portas de outros partidos, como o PSD de Kassab. Basta que este seja o vice na chapa de Doria.

Bolsonaro

Jair Bolsonaro existe como candidato à presidência da República por ter destemido exército nas redes sociais. O capitão é a gripe da estação. Que tende a passar. Principalmente quando for exposto por inteiro pela mídia massiva. Não resistirá ao foguetório que se abaterá sobre ele (mas em política, o imponderável costuma dar as caras. Bolsonaro pode ser o imponderável? É possível). Terá curtíssimo tempo de exposição na TV. A conferir.

Álvaro Dias

Podemos ou não podemos? Senador Álvaro, acho que, desta feita, o senhor não deverá sentar na cadeira presidencial. Seu perfil é muito regional, limitando-se ao Paraná e adjacências. A não ser que consiga ser o único candidato das forças do Centro. Abro, portanto, uma fresta, senador. Podemos, seu partido, ainda é uma pálida alternativa para poder (?) viabilizar uma candidatura presidencial.

Henrique Meirelles

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, deverá carrear prestígio na esteira da recuperação da economia. Pode ser o candidato das forças governistas. Mas enfrenta imensa dificuldade: não tem traquejo político. Poderia se enrolar no pacote de alianças. E não tem carisma. Com sua fala difícil de ser compreendida, pode ser um perfil a não deslanchar. Meirelles terá até abril para se viabilizar como candidato dos partidos governistas.

Rodrigo Maia

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, tem grande potencial. Demonstrou ser um líder capaz de mobilizar a esfera política em sua gestão como presidente da Câmara. As vitórias do governo – reformas – na Câmara se devem muito ao comando de Maia. Que pode ser um candidato mais palatável das forças de centro. É mais jovem que Meirelles, faz parte do jogo político, exibe flexibilidade para a formação de parcerias e alianças.

Marina Silva

A ex-senadora Marina Silva continua tendo uma imagem limpa, asséptica, despojada, simples. Mas passa a impressão de não ter forças para resistir ao rolo compressor da política. Exibe algum grau de ingenuidade. A pureza que emoldura seu perfil pode ser devastada pelo jogo sujo da política. Seu partido – Rede Sustentabilidade - ainda não tem estrutura para aguentar, sozinho, uma campanha. E terá dificuldades para fazer alianças, a par de reduzido tempo de rádio e TV.

Ciro Gomes

O PDT embarca com o nome do ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes. Como é sabido, Ciro porta uma metralhadora ambulante. Fala o que muitos ouvidos não querem ouvir. É o mais combativo dos perfis que desfilam no cenário presidencial. O PDT tende, porém, a se isolar. Se Lula for impedido de ser candidato, a situação de Ciro melhora bem. No Nordeste, ele poderá ser bem votado. Trata-se de pessoa bastante conhecida na região. Mas no Sudeste, o maior colégio eleitoral, o pedetista não empolga.

E O MDB?

Em São Paulo, o MDB tende a caminhar com Paulo Skaf. Um candidato com o letreiro na testa: sou presidente da FIESP e quero governar São Paulo. O fato é que Skaf terá muitos poréns a enfrentar. Passa imagem de aproveitador do sistema SESI, acha-se poderoso. Mesmo assim, parece ter conquistado a boa vontade de Baleia Rossi, presidente do MDB estadual e de próceres do partido. O presidente da FIESP sairia melhor como candidato ao Senado. Sem carisma, mas pessoa obstinada. No Plano nacional, o MDB deverá coordenar o esforço para encontrar o candidato das forças centristas: Alckmin? Meirelles? Maia?

O DEM

Fará aliança com os partidos de centro. E poderá ceder um de seus quadros para ser vice da chapa presidencial. O nome mais visível e forte para ser vice de Alckmin, por exemplo, é o do prefeito de Salvador, ACM Neto. Que faz boa gestão. Sairia da Bahia, o quarto maior colégio eleitoral do país, vestindo o manto da jovialidade.

PT contra Globo?

O PT entrou na Justiça contra a TV Globo. Tenta processar o canal por causa da entrevista de Luciano Huck ao Faustão, domingo passado, dizendo que o animador estaria fazendo campanha eleitoral. É para gargalhar. Huck não se apresentou como candidato. Negou, até, a possibilidade, dizendo querer ajudar o país incentivando o eleitorado a escolher melhor seus candidatos. Enquanto isso, Lula corre o país, diz ser candidato, anuncia que será eleito etc. Ou seja, faz campanha prévia. O que é proibido. Mas o PT nega isso. Gleisi, a presidente do PT, e Lindenberg Faria, líder do partido no Senado, são mesmo "cara de pau".

4 milhões de votos a mais

No mais recente levantamento do TSE, realizado em novembro de 2017, o Brasil contava com 146.717.893 eleitores, um crescimento de 2,65% na comparação com outubro de 2014, data da última eleição presidencial no país. São 3,9 milhões de votos a mais daquela época, quando o eleitorado somava 142,8 milhões de pessoas.

Mulheres, maioria

Dentre o último número de eleitores apurado, 76,88 milhões são mulheres (52,4%); 69,75 milhões são homens (47,54%), e 0,05% (78 mil eleitores) não declararam o sexo. Em 2014, a parcela de homens era de 47,79%, mulheres 52,13%, e eleitores sem sexo declarado, 0,08%.

Em 24, 34 milhões

Ainda nos dados mais atuais, somente 24 municípios do País somam, juntos, 34 milhões de votos (23,9% do total de eleitores). Essas cidades contam com mais de 500 mil eleitores cada. Na ponta contrária, 92% dos municípios do Brasil possuem, juntos, 58 milhões de pessoas. São 5125 cidades com até 50 mil eleitores cada.

Biometria

Um dado curioso é a expansão do número de urnas biométricas. Nas eleições presidenciais de 2014, 23,8 milhões de pessoas votaram com biometria, enquanto que 118,6 milhões não puderam utilizar essa identificação. O número avançou – quase o dobro – nas eleições municipais de 2016, quando as urnas biométricas alcançaram 46,3 milhões de eleitores, um aumento de 94%.

Justiça Trabalhista

O ano foi bastante intenso na Justiça do Trabalho. Somente na vice-presidência do Tribunal Superior do Trabalho, até dezembro, foram proferidos mais de 70 mil despachos e 4,1 mil julgados no Órgão Especial. Segundo o ministro vice-presidente do TST, Emmanoel Pereira, o total de soluções da atual gestão ultrapassa 112 mil, média em torno de 5 mil por mês.

Conciliações

Em tempos de crise e de reivindicações, trabalhadores de diversos setores da economia buscam seus direitos por meio de greves e manifestações. De acordo com a vice-presidência do TST, os acordos mais significativos firmados por meios da atuação conciliatória em 2017 foram com os empregados da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, com os trabalhadores dos Correios e com os aeronautas. Certamente tais acordos evitaram transtornos ainda maiores para toda a sociedade.

Fases da campanha

As principais armas de um profissional de marketing político para ajudar uma campanha são: capacidade e sensibilidade para captar, com muita propriedade, as indicações das pesquisas; visão abrangente de todos os eixos de uma campanha, não se atendo apenas aos programas de TV, como muitas vezes ocorre com os publicitários engajados nas campanhas; poder de influência sobre o candidato, principalmente no que concerne ao foco do discurso; ter noção adequada do timing de campanha, ou seja, das seguintes fases: lançamento do candidato (junho), crescimento (julho), consolidação (agosto/setembro), auge/clímax (final de setembro/semana da eleição), declínio. Este é o ciclo de vida de uma campanha. Se o declínio ocorrer antes da semana da eleição, não tem quem sustente a posição do candidato. Um candidato que se preocupa apenas com o primeiro turno, poderá morrer antes de chegar à praia. É preciso saber ouvir o som do vento. Quando o vento sopra numa direção, na direção de crescimento, por exemplo, não há força que consiga deter seu rumo.



Torquato Gaudêncio, cientista politico e consultor de marketing, é Professor Titular na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo - USP.


quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

No limiar do ano velho

O gordinho da Coreia do Norte, por exemplo, daria um bom Papai Noel? Claro que não. Comuna de verdade lá quer saber desse negócio de Papai Noel, compras e mais compras, presentes, votos de boas festas, em especial nesta época do ano, quando o capitalismo disfarçado de bom velhinho mostra a sua cara e pior - não há por aqui um Cazuza a lhe instar a que diga qual é o seu negócio, o nome do seu sócio e tal.

Há um consenso de que a China, outrora dragona do comunismo sob a batuta de Mao, só passou a ver mesmo "a força da grana, aquela que ergue e destrói coisas belas" (Caetano), depois que se assumiu como capitalismo de estado. Daí os espaços conquanto ainda parcos para uns pálidos e tímidos bons velhinhos em seus trajes vermelhos e sacos de presentes.

As desavenças entre o gordinho malvado da Coreia do Norte e o fogoió maluco da Casa Branca já convenceram a China de que as coisas podem se desarrumar a qualquer hora entre o mar do Japão e uma base americana que fica numa ilha ali por perto. Daí que, prevendo a debandada de milhares de norte-coreanos, começou a construir campos e mais campos de refugiados.

É possível que num cenário desse ninguém ouse ser voluntário para vestindo o macacão vermelho, cor que, aliás, tem algo a ver, desfilar carregando um saco cheio e acenando às crianças que não precisam de ninguém que lhes deem  lições de esperanças.

Quando eu era criança, em Caxias, vi um Papai Noel pela primeira vez. Não tinha a barrigona que para alguns ainda hoje no Maranhão é sinal de poder politico e de prosperidade financeira. Também não tinha bundão flácido, outro atributo.

Da carroceria de uma camionete o Papai Noel magrelo dava bombons ou picolés à criançada. Um alto-falante sobre a boleia anunciava que ele era de carne e osso. Ensimesmado, sem interesse algum nos bombons e picolés, fitava-o imaginando como deveria ser o Papai Noel sem carne e osso. Então, o Papai Noel feito de gente só poderia ser aquele.

Aos poucos, fui diferenciando o Papai Noel gordão e bundudo do Papai Noel de carne e osso, o Papai Noel igual a gente. Anos depois descobri que aquele Papai Noel era o Elmar, o locutor do Gigante do Ar, o serviço de Alto-falante da Babilônia, o que viria a ser um shopping para a época, do José Delamar.

Ontem, quarta feira, em Itatiba, cidade do interior paulista um pouco maior que Barra do Corda ou Caxias, um Papai Noel muito conhecido da população foi atacado por crianças a rebolos e pedradas quando o saco de bolos e bombons se esvaziou.

Todo ano, nessa época do ano, seu Luizão, o dono de uma funerária, veste-se como o bom velhinho, instala-se num trenó e com a ajuda três amigos desfila pelos bairros distribuindo agrados à criançada.

Ontem como se fosse um dia de tenebrosos tempos, seu Luizão escapou ao ver-se acuado por aqueles pelotões armados com paus e pedras, tudo criança entre 9 a 12 anos de idade. Oh tempos, afastem de nós esses graneleiros de maus exemplos! Oh meu Deus, quanta violência se esparramando por este mundo!

“Vinde a mim as criancinhas”? Okey, vinde a mim.

Seu Luizão nunca foi politico, não é politico, não quer ser politico. Anunciou que “sem ressentimentos” voltará às ruas dos subúrbios desfilando no seu trenó com o seu saco de bombons e outros doces para a criançada.

Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Haroldo Olímpio, um fazedor da Ilha, antevia o futuro sem medo

Há 17 anos, pouco antes das festas de fim de ano, o engenheiro Mauro Fecuri, criador da Universidade CEUMA, reune em São Luis do Maranhão os seus amigos, desde os que como ele formavam o time de basquetebol nos tempos de faculdade em Fortaleza - Ceará aos que com o tempo ele foi agregando ao elenco do seu afeto.

Na ultima semana, sabado, dia 09.11., Mauro homenageou Haroldo Tavares, Secretário de Viação e Obras Públicas do Governo José Sarney (1966-70) e Prefeito de São Luis no Governo Pedro Neiva de Santana (71-75). 


Haroldo Olímpio Lisboa Tavares entre os seus companheiros de equipe 


Naquele tempo, os Governadores do Estado e os Prefeitos da Capital tinham em suas linhas de frentes jovens técnicos de todas as áreas indispensáveis ao serviço público. 
Haroldo Tavares foi um dos que se destacaram por suas qualidades de liderança, espirito público e iniciativas arrojadas.



No campus da Universidade CEUMA foi inaugurada a Praça Prefeito Haroldo Tavares. 

Presentes, além dos familiares do homenageado, os seus antigos colegas de equipe e o Governador e depois Senador e Presidente da República José Sarney.

O engenheiro e professor Luiz Raimundo Carneiro de Azevedo, parceiro nas ideias e na execução dos sonhos que ele e Haroldo sabiam sonhar acordados, foi o único orador da solenidade.

Seu discurso diz tudo sobre quem foi a pessoa do homenageado.

"Amigas, Amigos:

Li numa placa na Universidade de Catânia na Itália, esse dístico atribuído a EPICURO, filosofo grego e o copiei:

“As pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o tempo presente e encaram o futuro sem medo. ”

Estamos hoje a celebrar a Gratidão e o Reconhecimento, duas das maiores virtudes dos homens de boa vontade. Dois maranhenses por adoção com seu coração voltado para essa nossa terra. Um era baiano de nascimento, outro acreano, ambos engenheiros, os dois educadores e empreendedores, um deles fundador da nossa Escola de Engenharia do Maranhão, que completa 50 anos, o outro da Universidade CEUMA.

Aqueles de quem hoje falo foram ambos prefeitos de São Luís. Um construiu as duas pontes ligando o nosso centro histórico à área de expansão praiana e cuidou do seu urbanismo com a SURCAP. O outro as ligou em avenida, ensejou a saída da linha ferroviária do centro de São Luís e deu prosseguimento aos bons projetos urbanísticos e paisagísticos do homenageado, incluindo as “Maurotonas”, ações de fiscalização de obras e convívio com as comunidades.

Meu compadre Haroldo era uma inteligência absolutamente fascinante; Haroldo Olímpio Lisboa Tavares, foi o melhor prefeito de São Luís nesses últimos 45 anos, sem deméritos para os que o sucederam. É hoje  homenageado e tem seus feitos reconhecidos, por iniciativa de Mauro de Alencar Fecury neste ensolarado dia 9 de dezembro, na data em que acontecem os 27 Jogos Amigos, aqui na universidade CEUMA.

Celebramos a gratidão. O engenheiro Mauro Fecury nos idos de 1973 volta à São Luís depois de bem-sucedida passagem em Fortaleza e Brasília, a convite de Haroldo Tavares (então prefeito) para gerenciar e fazer acontecer um dos seus sonhos: aquele de ver São Luís crescer e pontificar com o turismo nacional e internacional, atividade geradora de emprego e renda.

E lá vem de volta o engenheiro Mauro Fecury, trazendo sua competência técnica para fazer implantar o Hotel Quatro Rodas da Abril e reiniciar a sua saga de todos reconhecida como igualmente profícua.

Repito. Hoje é dia de gratidão, reconhecimento e de alegria com o tempo presente.
Haroldo Tavares, o que ousou sonhar, vive com o reconhecimento de sua portentosa obra por aqueles que lhes são gratos, que compartilharam dos seus sonhos, de sua inteligência e privaram de sua amizade enriquecedora.

Mercê de suas ideias, seus sonhos e realizações, vemos hoje implantada a Universidade Estadual, iniciada com a implantação vitoriosa das escolas superiores de administração pública, engenharia, agronomia e veterinária. Depois com a FESM (Federação das escolas Superiores do Maranhão) e lá um pouco mais à frente com a UEMA.

O Anel Viário o mais racional acesso ao sonhado Porto do Itaqui via BARRAGEM do Bacanga, a transferência de população com a criação da Vila do Anjo da Guarda, a PRODATA com a aquisição do primeiro computador IBM 1130,  a pavimentação asfáltica da BR-135 e da BR-316 ligando São Luís à Teresina, a construção da MA 074 Santa Luzia-Açailândia (hoje BR-222),a  definição do projeto de urbanismo da cidade de São Luís com o concurso do escritório do urbanista Witt Olaf Prochnik,e de arquitetos outros como Sergio Bernardes , Mauricio Roberto  Leônidas Cumplido, obras estruturantes cujo reconhecimento que hoje enfatizamos , consagraram o homenageado Haroldo Tavares.

É longa a trajetória de Haroldo como homem público: O Parque do Bom Menino, o nosso Central Park espaço para manifestações artísticas, culturais e esportivas, Recuperação e restauração do Teatro Arthur Azevedo, do Palácio dos Leões, estes com a prestigiosa participação especial e voluntaria, das senhoras Eney Tavares Neiva de Santana eVera Martins Tavares, ambas de notável sensibilidade artística e cultural, e a implantação do Museu Histórico e Artístico do Maranhão em morada senhorial na Rua do Sol.

Haroldo foi o idealizador e concretizador do projeto Mirante mostrando ,ao Brasil as belezas e a importância cultural de São Luís e Alcântara, por intermédio dos jornalistas do Pasquim- então o celeiro da inteligência jornalística nacional- em pleno Regime Militar. Era a boa estratégia, o alicerce, no rumo do reconhecimento pela UNESCO da condição de patrimônio cultural e arquitetônico da humanidade da cidade de São Luis, mais à frente outorgado.

Eu, engenheiro aqui chegado em 1967 tive a honra de trabalhar e aprender muito do que sei, com o meu amigo Haroldo Tavares. Percebíamos ao participar dessas obras e de outras iniciativas de igual importância no Governo José Sarney que estávamos encarando o futuro sem medo, como nos ensinou o filosofo Epícuro. E erámos pessoas felizes.

Continuo hoje aprendendo, sob a regência do meu colega de Maristas e da Escola de Engenharia no Ceara, meu amigo Mauro e alegro-me com o tempo presente de gratidão, apanágio das pessoas felizes consigo mesmas e que hoje aqui na Universidade CEUMA se reúnem para homenagear Haroldo e demonstrar que a gratidão nos diferencia.

Os grandes vultos como o engenheiro e professor Haroldo Tavares serão sempre lembrados. As novas gerações dos estudantes universitários frequentadores desse local de convívio que é uma espécie de Ágora da CEUMA Renascença, ao perguntar quem foi Haroldo Tavares saberão ter sido ele um Engenheiro, Maranhense, por adoção, e um sonhador –realizador do que há de melhor no Maranhão. EVOEH HAROLDO, que esse teu exilio momentâneo nos seja leve.

Bendita a Gratidão que promoveu esse reconhecimento. Saudades de Haroldo. Como dizia Miguel Nunes, “nada que uma boa taça de vinho não resolva”. Bom dia a todos! "