quinta-feira, 14 de maio de 2015

Fica para a próxima

Por 11 horas seguidas os Senadores da Comissão de Constituição e Justiça sabatinaram, por vezes até de forma severa, o Professor Luiz Fachin, indicado pela Dilma para Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Essas sabatinas, de algum modo, já não fazem tanto sentido porque a tendência hoje nos Tribunais é o compartilhamento cada vez mais frequente das decisões dos Ministros, e também dos Desembargadores, com os seus assessores, que assim vão se tornando mais influentes.
É raro hoje em dia um Ministro ou Desembargador receber um advogado em luta pelo direito que não o seja na companhia de algum assessor.
A justificativa para tanta delegação é o desumano acumulo de processos nos Gabinetes, o que tem feito com que os Ministros, e também os Desembargadores, acabem não se envolvendo de forma mais pessoal na maior parte das demandas. 
Até mesmo os votos que alguns apresentam em plenário na condição de Relatores são, na maioria, obras de sacrossantas doutrinas da inspiração divina de suas assessorias.
Exceções honrosas, como em toda regra, existem. São publicas e notórias, admiráveis e respeitáveis, essas exceções.
Daí que a primeira pergunta a ser feita a todo e qualquer sabatinado pela CCJ do Senado deve ser – quem serão os seus assessores? Depois da sabatina do candidato a Ministro por que não sabatinar então,  um por um por um, os seus futuros assessores?
Afinal, dessa engenharia jurídica é que saem muitas decisões equivocadas para não se dizer injustas, algumas vezes até constrangedoras para alguns magistrados novatos.
No exercício profissional da judicatura quanto na advocacia há fronteiras que não podem nem devem ser ultrapassadas. O respeito mútuo é para mim a principal delas.
Pense aqui só nesta cena num Tribunal de um Estado que em respeito ao seu Povo apenas indico no mapa onde fica - na região sul.
Enquanto o advogado fazia sustentação oral a presidenta da sessão, uma aparentemente provecta desembargadora, levantou-se inopinadamente deixando o recinto, no mais bem imitado estilo Dilma quando faz cara de poucos amigos. Nem transferiu a presidência a outro magistrado.
Minutos depois retornou sobranceira para advertir o advogado quanto ao tempo da sustentação. Não havia ali taquigrafia, nem gravadores, nem relógios visíveis. A desembargadora presidenta era ali a dona de tudo - da memória sem registros e do tempo sem horas aprisionado no divino conteúdo que a sua toga ocultava.
Não são poucos os donos de arrogâncias, as quais nunca se compatibilizam com o humor de quem exerce em qualquer nível uma função de autoridade.
A arrogância dos superiores contagia por escalas a toda hierarquia no sistema. Aquele conto do Artur Azevedo sobre o Chefe de Gabinete que levou um esporro do Ministro e, no fim, sobrou para o cachorro do porteiro, diz tudo.
Hoje em dia não é raro a gente ver pelos corredores dos tribunais ou no entra e sai dos gabinetes figuras emproadas que por vezes até lembram o dono da farmácia única de São Bento que toda tarde vestia um terno branco, pegava uma mala e ficava por trás do balcão andando o tempo do todo de um lado para o outro, isto porque sonhava um dia viajar para a Capital e pelo sim, pelo não, já estava treinando.
Melhor fez o Juruna, o índio saído das entranhas mais distantes do Xingu que, contestando maus costumes dos civilizados como não cumprir com a palavra, passou a andar pelos gabinetes de Brasília gravando tudo que os grandes falavam. Por influencias do Darci, acabou eleito Deputado Federal pelo pessoal da PUC e de Ipanema, mesmo sem  ter noção alguma do que era aquilo.
Na Câmara, criaram a Comissão Especial do Índio e Minorias Raciais e deram a Presidência ao Juruna. Quando recebia alguém numa audiência, fosse advogado ou doutor do que fosse, saia-se bem sempre com esta:
- Juruna não sabe dessas coisas. Quem fala por Juruna é assessor de Juruna...

domingo, 10 de maio de 2015

Nuvens no sossego

Não que o pai tivesse largado a mãe como quem, na canção popular, bate o portão sem fazer alarde com a leve impressão de que já vai tarde.

Nem chegou a conhecer o pai porque três meses antes de nascer ele havia morrido num acidente de carro.

Sem ter com quem deixar o menino, a jovem viúva, enfermeira por profissão, passou a leva-lo para os plantões a que era obrigada nos hospitais.

Filho único, cercado de amor materno por todos os lados, o menino foi crescendo suave, embalado pelas notas musicais ao derredor.

Na banda da escola revelou-se exímio saxofonista ancorado na ilusão de um dia formar sua banda de rock e ganhar o mundo tocando.

Os melhores alunos formavam um grupo que, uma vez por ano, era levado à capital podendo conhecer inclusive a casa do Presidente.

Passeavam pelo jardim da casa quando o Presidente passando casualmente viu aquele rapaz de pele vermelha, o rosto sardento, um tanto diferente dos demais, e lhe estendeu a mão num cumprimento.

De volta pra casa, falou para a mãe que mudara de ideia. Não queria mais ser roqueiro. Queria ser Presidente da República.

A seu favor, tinha o tempo. Trabalhou como office-boy e até como barmen sobrevivendo sabia a mãe como. Chegou ao topo nos estudos. Foi Advogado, Professor de Direito, Procurador do Estado, Governador, Presidente da República.

Nome da enfermeira – Virginia Cassidy Clinton. Mãe de William Jeferson Clinton, Presidente dos Estados Unidos por duas vezes.

Essa história tem a ver com o Dia das Mães? Também.

Entre nós, no Brasil, geralmente, quando se pergunta a um menino o que quererá ser quando crescer, os modelos não variam tanto – jogador de futebol, policial, empresário rico.

Já as meninas sonham em ser artista da novela ou modelo de desfiles de modas. São poucas as que sonham em serem médicas, dentistas ou enfermeiras.

Passada essa transição, liberados das ilusões da adolescência, não sei de ninguém que tenha dito à mãe ou a pai que vai estudar para ser Ministro do Supremo Tribunal Federal.

Essa é uma ambição que, se latente, só revelará forte, sem freios, se por seus méritos o rapaz ou a moça se vir um dia, por exemplo, na condição de Ministro ou Ministra do Superior Tribunal de Justiça.

É do STJ o principal forno de onde costumam sair quentinhas as grandes vocações para a magistratura suprema. É chegar lá e logo se lhe acerca uma tentação divina para ficar peruando toda vaga a caminho.

E isso é horrível até pelo que vai aflorando em quebra da coesão interna indispensável à formação de juízos sossegados na reflexão para a mais prudente realização da Justiça não obstante o turbilhão de leis mal feitas.

Exaustos com a senhora outroramente cognominada a “mãe do PAC”, rejubilemo-nos agora a com o “Pai da PEC”. Sim, essa PEC da bengala. (O pai da ideia foi o Senador Pedro Simon, indignado com a aposentadoria compulsória do Ministro Paulo Brossard no STF quando com a saúde plena ainda tinha muito a contribuir em favor da Justiça no País).

Quanto sossego a partir de agora a sobrestar obsessões, conquanto nobres e lúdicas,  que em nada acrescentam à escalada republicana e democrática do País.

É sempre bom lembrar o poeta – “o mundo é para quem nasce para o conquistar e não para quem sonha em poder conquista-lo. Ainda que tenha razão”. (Fernando Pessoa).

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Mais um rombo

Cerca de 70 mil empregados da ECT, a empresa estatal dos correios, estão sob a séria ameaça de ficarem sem suas aposentadorias. Ora, por que?

Simples explicar. O rombo por lá está na faixa dos 5 bilhões e 600 milhões. Para onde foi essa dinheirama toda não é difícil imaginar.

Vingou a Bengala

Congelada há anos na Câmara depois de aprovada pelo Senado, a proposta de emenda constitucional, conhecida como PEC da Bengala, aumentando para 75 anos o limite para aposentadoria compulsória, quer dizer, expulsória, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça,Tribunal Superior do Trabalho, Tribunal Superior Militar e também Tribunal de Contas da União foi aprovada ontem à noite por expressiva maioria.

Logo será promulgada passando a valer de imediato.

Assim, a Dilma que tinha a expectativa – caso cumpra seu atual mandato até o fim – de nomear mais 6 Ministro para a suprema Corte e, mínimo, uns 10 para os outros tribunais manterá sua caneta, a partir de agora, bem longe dessas responsabilidades.

Da atual composição do STF apenas os Ministros José Celso de Mello e Marco Aurélio de Mello não foram nomeados nos governos do PT – José Celso por Sarney e Marco Aurélio por Collor.

Enganoso

-“Se os órgãos de defesa do consumidor tivessem poder, o marqueteiro João Santana seria proibido de exercer a profissão pela propaganda enganosa que foi a campanha da doutora Dilma à reeleição”. – Elio Gaspari, Jornalista, com quem, nesta constatação, estamos todos de acordo. Nós aqui e a grande maioria do povo brasileiro.

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Dizer, o que?

A multidão lotando as arquibancadas irrompia em vivas e aplausos como se o Vasco, o dono do estádio, tivesse feito mais um gol. Nada disso.

Era o Getúlio chegando num carro aberto. Baixinho, no banco de trás, precisava ficar em pé para ser visto pelo Povo. Completada a volta olímpica, agora no palanque:

- Trabalhadores do Brasil!

O estádio, até então o maior do Brasil, espocando alegrias, parecia ir abaixo, tamanhas as emoções que se espraiavam.

Quando, em sua anterior Presidência, deu aumento de 100% no salário mínimo, sofreu pressões militares por não ter estendido o mesmo percentual aos quarteis. Não havia reservas no caixa para isso. Sem outra saída para conter a crise, Getúlio preferiu renunciar. Voltava à Presidência da República agora pelo voto direto:

Eis-me aqui outra vez ao vosso lado para falar com a familiaridade amiga de outros tempos, para dizer que voltei a fim de defender os interesses mais legítimos do Povo e promover as medidas indispensáveis ao bem estar dos trabalhadores.

Foram os franceses, querendo que ninguém esquecesse o massacre que policiais e capangas de patrões fizeram em Chicago, Illinois, (USA), em 1886, contra trabalhadores que só pediam melhores condições de trabalho e salários justos, quem instituíram o 1º de maio como o Dia do Trabalhador.

Coincidentemente, era o Dia de São José, o operário carpinteiro, data que já estava na liturgia católica. Depois da França, seguiu-se a mesma celebração nos calendários mundo afora.

No Brasil, o Dia do Trabalho foi instituído pelo Presidente Artur Bernardes, aquele que diante de tantas pressões e crises governou por quase o mandato inteiro sob o estado de sitio (15-11-1922 a 15-11-1926).

Juscelino foi outro a brilhar unindo seu sorriso aos dos trabalhadores no 1º de maio no estádio do Vasco da Gama.

Jango, mesmo sem os seus poderes presidenciais , que nem a Dilma hoje, sob um parlamentarismo pra inglês ver, celebrou o Dia do Trabalho com os operários na Usina Siderúrgica de Volta Redonda.

A reforma eleitoral, disse Jango, impõe-se para formar cada vez mais autêntica a voz do Povo no Parlamento, evitando-se injunções estranhas e inadmissíveis – demagógicas ou financeiras – na formação das assembleias populares.

Até os generais de plantão na mais longa das ditaduras não se esquivaram a dizerem algumas coisas aos trabalhadores no 1º de maio.

O mais durão deles, o General Médici, por exemplo, se disse empenhado pelo fortalecimento do sindicalismo e pelo crescente bem estar da família operária.

Sob Figueiredo, o do prendo e arrebento quem for contra a abertura, foi que a direita dos quarteis aprontou o atentado do Rio Centro, onde havia uma celebração pelo Dia do Trabalho. Morreu um sargento em cujo colo a bomba explodiu, antecipadamente.

Getúlio profetizou que ‘um dia um de vocês, trabalhadores, chegará a este lugar onde hoje eu estou “ e esse dia chegou com Lula Presidente, ao qual nunca faltou o que dizer dia nenhum, principalmente no Dia do Trabalho.

Dou razão à Dilma.

No Brasil de agora, 61% das famílias estão endividadas. A renda do trabalhador caiu 2,8%, a maior nos últimos 12 anos. A inflação está em 8,3%, o que aumenta os preços dos alimentos e dos remédios e também os lucros dos supermercados e da indústria farmacêutica. Carestia de 3,2 pontos acima dos chamados reajustes salariais.

Não escapam nem as esperanças dos que sonham em ganhar na mega sena. A aposta mínima fica 40% mais cara a partir de hoje. Com isso o Governo que não cai com nada vai ter um ganho extra de mais de 1 bilhão de reais. Mais da metade do que precisa para pagar os juros da dívida externa.

Os juros para empréstimos e impostos parcelados estão na maior taxa desde 2008 (Selic em 13,25%) e os lucros dos bancos, como o Santander, indo a 31,9% no trimestre. E o Bradesco lucrando 4 bilhões e 200 milhões de reais líquidos nos últimos 90 dias. Muito mais que os 3 bilhões e 44 milhões do 1º trimestre do ano passado.

E as roubalheiras? Petrobrás, grandes sonegadores pagando propinas milionárias a conselheiros da receita, superfaturamentos em obras, serviços públicos de péssima qualidade, crianças e jovens sem escolas, ensino superior deficiente, zero em ciência, zero em tecnologia, zero em saúde, zero em segurança pública – ah ninguém aguenta mais ouvir essas coisas de todo o dia na nossa indignação.

Tem razão a Dilma, razão só pra ela, é claro, em não aparecer em lugar nenhum, nem mesmo na televisão, para saudar a magna data do trabalhador brasileiro. Se aparecer pessoalmente, vai ser vaia na certa. Se aparecer na televisão, vai ter panelaço nas janelas do País inteiro.

Ah coitada. Vai estar amanhã, 1º de maio, como o velho da canção do Chico, ah de novo o Chico – “e diga agora o que é que eu digo ao Povo / o que é tem de novo pra deixar? / nada, só a caminhada longa pra nenhum lugar” (...)

A Dilma não tem o que deixar e  nem o que dizer.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Olha quem fala

O PT exauriu-se, esgotou-se. Olha o caso da Petrobrás. A gente não acha que o PT inventou a corrupção, mas roubaram demais. O projeto deles virou projeto de poder pelo poder”.

“Isso é a sociedade dizendo para a gente. Ou vocês aprendem a nos respeitar, ou nós vamos sacanear vocês, porque vocês sacaneiam a gente. Essa é a minha leitura. Não é pesquisa. E se a gente não entender isso, assimilar isso, e dar a resposta, nós não vamos avançar. E para isso nós temos que ter uma organização que chegue nessa base da sociedade, e que ela entenda...

“Acho que a gente vai  levar um tempo, mas se a gente não acordar para isso daqui a pouco a população vai fazer como juiz de futebol. Vai dar cartão vermelho para a gente, para muitos já está dando.

“Tirou milhões da miséria, isso é bom pra caramba. O nordeste é outro, é verdade. Quem não vê isso é mentiroso, nojento. Eu tenho raiva deles. Mas criou também uma dependência. Eu vejo gente que não quer trabalhar para manter o Bolsa Família, isso está errado. O programa tem que ser instrumento para tirar da miséria, não para manter a miséria.

“Eu não vi ate hoje eles questionarem o modêlo econômico. Eu não vi até hoje eles dizerem que para tirar o Brasil da miséria, fazer um acordo para não pagar divida. Pelo contrário, eles estão preocupados com o superávit primário.

“A conversa com o PT, com o meu amigo Lula e com a presidente Dilma, é qual naco de poder que fica com cada um. Para mim, isso não basta. Eu não quero um pedaço de chocolate para brincar como criança que adoça a boca, eu quero ser sócio da fábrica, eu quero ajudar a fazer chocolate.

“A gente não quer ser rato, que foge do porão do navio quando entra a primeira agua, mas também não queremos ser o comandante do Titanic, que ficou no barco até ele afundar. 

Carlos Lupi, presidente nacional do PDT e ex-Ministro do Trabalho (Governos Lula e Dilma) em fala aos companheiros em S. Paulo, segundo o jornal o Estado de S. Paulo.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

O Homem da Rua

Como dizia a doutora Maria Inês, uma das pioneiras do colunismo social na televisão – e agora vamos às notiças.

Era assim com cê cedilha por conta de um probleminha na dicção, mas que até soava normal. Na TV, o Governador da época só conseguia dizer – sinhoires tretespectadoires...

Os visitantes estrangeiros que aportavam em São Luís do Maranhão eram classificados pela doutora na categoria especial - turistas de fora.

Então, vamos às notiças, segundo os jornais matinais da televisão.

Oito mortos numa chacina em São Paulo. Homens foram mortos à queima roupa na sede da torcida do Corintians.

Em Porto Alegre três homens armados invadem um ônibus e o incendeiam.

Acidente em estrada no Paraná deixa oito mortos.

Casal e filho de oito meses morrem em acidente em estrada nas proximidades de Redenção do Norte, em São Paulo.

Dengue mata mais pessoas agora também no interior de Minas. Prefeitura de São Paulo vai chamar o Exército para o combate ao mosquito.

Médicos da rede municipal de saúde em Goiânia, Goiás, começam a greve geral.

Pesquisa encomendada pela Federação do Comercio de São Paulo mostra que os brasileiros estão lendo menos. Sete em cada dez não havia lido um livro no ano passado.

Cresce o pessimismo no mercado em relação à inflação nos próximos meses no País.

Dois adolescentes morrem afogados numa praia em Fortaleza.

Pesquisa indica que setenta e quatro por cento dos brasileiros não assistiram a qualquer filme no ano passado.

Não param de chegar carros apreendidos pela Policia Federal e não há mais onde guarda-los. Já são mais de cem carros de luxo.

(Preciso sair dessa editoria de catástrofes. Salto os canais. A mesma coisa. Desligo o som. Fico só com as imagens. Assistir televisão como cinema mudo é muito engraçado.

Se é um politico defendendo o atual Governo ou algum economista tentando explicar o atual Governo, mantenha o som em off e preste atenção na linguagem corporal.

Sim, o corpo fala e em ocasiões como essas o idioma bate de longe, em compreensão, o dilmês. Veja a emissão cursiva, o movimento labial, os argumentos enumerados pelo toque das pontas dos dedos de uma mão nas pontas dos dedos da outra mão.

O que é mais intragável num amanhecer? O desfile de notícias ruins em vozes femininas quase gritadas ou os comerciais dos feirões de eletrodomésticos ou de automóveis mostrando que os publicitários desses comércios nos tomam como uns brocos ou idiotas?

Classificada por Stanislaw Ponte Preta como maquina de fazer doidos, a televisão brasileira parece não haver encontrado ainda quem pudesse juntar talentos no nível de um Rubem Braga, de um Oto Lara Rezende, de um Paulo Mendes Campos, de um Nelson Rodrigues ou de uma Clarice Lispector para investir em editorias mais suaves que, contrastando com as imitações da vida mostradas nas novelas, apresentem em cada amanhecer noticias mais agradáveis, ainda que no formato de fábulas ou histórias infantis.

No tempo do seu começo, Chico Buarque fez um poema sobre a solidão de um homem que preferia ficar na rua até tarde sem companhia, mas pra casa não ia não.

Se bem me lembro, começa assim - "O homem da rua / Fica só por teimosia / Não encontra companhia / Mas pra casa não vai não / Em casa a roda / Já mudou, que a roda muda / A roda é triste,a roda é muda / Em volta lá da televisão".

Se naquele tempo já havia sofredor por isso, imagina...

sábado, 18 de abril de 2015

Quer não

Defensor intransigente do financiamento de campanhas eleitorais com dinheiro público exclusivamente, - o que já vinha ocorrendo de forma camuflada com a movimentação de bilhões de reais desviados em contratos superfaturados - o PT informa não querer mais doações de empresas.
A direção nacional petista sinaliza agora a volta da arrecadação para suas campanhas aos tempos em que a militância vendia bonecos barbudos e broches com a estrela vermelha. A desistência às contribuições de empresas, porém, ainda será debatida pelas inúmeras instancias do partido.

Quem manda?

Tem aquela do elefante que depois de um tempo vagando a sua grandiloquência e vendo ao redor todos os bichos assustados foi se achando o mandão até que um felino encorpado, barbudo, nada abstêmio e nunca vegetariano, foi se aproximando.

Notando que os bichos todos se aquietavam como a reverenciar o gatão recém chegado, o elefante que ainda não havia decidido se aderia ou não à ultima dieta da moda, quis saber:

- Afinal, quem manda aqui floresta?

O felino encorpado deu uns passos atrás e ficou encarando o desengonçado elefante por um bom tempo. Depois mandou chamar o Levy para cuidar da economia e o Temer para cuidar da politica. Todo bicho sabe que sem economia e sem politica não há Estado que funcione.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Riscos Calculados

Claro que não é só a vontade de assegurar a continuação de programas que, se interrompidos ou extintos, resultará em danos irreparáveis ao povo em geral o que leva um governante a fazer o diabo numa campanha eleitoral e, por conseguinte, o seu sucessor.

A catapora das reeleições sem limites que por contágios bolivarianos grassara em alguns mapas aqui do lado debaixo do equador encontrou um Lula nadando de braçadas num segundo mandato e, ao mesmo tempo, instituições republicanas fortemente imunizadas contra qualquer quebra da ordem constitucional.

Diferente do cenário tropical em que se bronzeava o Lula foi o que se deu bem antes com Juscelino, eleito num único turno sem a exigência de maioria absoluta e que só tomou posse porque teve ao seu lado, nos golpes e contragolpes indispensáveis à ordem constitucional, o General Lott, um soldado exemplar.

Vargas, o verdadeiro criador do Estado brasileiro, pensou em Juscelino, então Governador de Minas, para sucedê-lo e, assim, não deixar caírem as conquistas sociais, dentre outras, no campo econômico e na produção industrial, que com mãos firmes e coração largo lograra implantar.

Vendo da sua janela no Palácio do Catete que uma simples greve de estudantes contra o aumento nas passagens de bondes o imobilizava no Rio de Janeiro passando incertezas ao País, Juscelino caiu fora e tratou de construir Brasília.

Brasília deu o mote do que ainda faltava em forma física ao sonho de Vargas – a inderrogável integração nacional.

A realidade dos custos arregalou os olhos dos críticos da economia, mas nem por isso, inclusive inflação alta, Juscelino decaiu na popularidade.

Tinha votos no Congresso para aprovar uma emenda de reeleição e votos populares para ser reeleito. Não aceitou. Ainda tinha capital de tempo. Poderia voltar a ser Presidente dali a cinco anos.

Juscelino, que como todo bom mineiro de bobo não tinha nada, sabia em cálculos exatos do turbilhão que viria a espalhar desafios pelo período seguinte.

Lançou o General Lott para Presidência tendo como Vice outro grande brasileiro – Osvaldo Aranha, braço direito de Getúlio. Ambos sem chances ante o Jânio, que empunhando uma vassoura prometia varrer a bandalheira.

Juscelino então calculou o risco – esse maluco ganha, não vai dar conta do recado, será melhor para eu voltar que os meus candidatos percam.

O maluco venceu e não aguentou sete meses. As esquerdas que mantinham distância do Jânio não deixaram o Jango governar. Em 1964, veio o golpe militar que deu no que deu. Juscelino foi cassado, preso, exilado, morto num acidente controvertido.

E o Lula o que fez? Pensou – eu ponho no meu lugar essa mulher que não sabe nada de politica e vou dar as cartas. Daqui a quatro anos eu volto. Nem ele deu as cartas, nem ela abriu mão da reeleição. Foi reeleita e pela Operação Lava Jato já se sabe como.

Num recente encontro à noite no Palácio da Alvorada entre Lula e Dilma na conversa entre os dois houve uma subida de tom. Ministros na sala ao lado ouviram a voz rouca, inconfundível, perguntar a Dilma – você sabe a coisa errada que eu fiz, não sabe? Foi botar você aí..."

Pensa agora Lula em voltar. Pensa.

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Pause

Todos os depoimentos agendados para esta semana na Operação Lava Jato serão suspensos e retomados a partir da próxima segunda feira.

A pausa é para ajustes de estratégias que sem sintonia fina entre a Polícia Federal e o Ministério Público desperdiçavam tempo. 

Sete inquéritos abarcam os depoimentos suspensos vinculados, inclusive, a investigações em torno de Vacari, tesoureiro do PT que foi preso hoje e, ainda, de Renan e Lobão

terça-feira, 14 de abril de 2015

Maçonaria

Instituição secular e de muito respeito, a Maçonaria foi de grande peso em dois importantes momentos da história do Brasil – a declaração da Independência e a proclamação da República.

Não só. Atuante e vigilante tem acompanhado pari-passo os acontecimentos políticos, intervindo abertamente sempre que há ameaça de ruptura democrática.

Dilma recebeu uma dura carta das lideranças maçônicas, que – segundo registro do repórter Leonel Rocha, de Época, representam mais de 300 mil brasileiros. Pedem que Dilma renuncie. 

Habemus Fachin

Só depois do okey de Renan, Dilma se sentiu segura e anunciou que indicará ao Senado o nome de Luiz Edson Fachin, advogado e professor de direito no Paraná, para Ministro do Supremo Tribunal Federal na vaga aberta há nove meses com a aposentadoria do Ministro Joaquim Barbosa.

Embora apoiado abertamente pelo Senador Álvaro Dias (PSDB-PR), Fachin vinha sofrendo restrições do PMDB por supostas ligações com o PT e seus movimentos sociais como CUT e MST.

Depois de sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, onde pelo acordo de Renan com Dilma não sofrerá resistências, Fachin precisará ainda dos votos da maioria absoluta do plenário do Senado, o que também já lhe está assegurado.

Segundo o Senador Álvaro Dias, Fachin é um competente, suprapartidário e valorizará a Suprema Corte do País. O consagrado jurista trocará uma das mais movimentadas bancas de advocacia do Paraná por uma rotina insana de trabalho e um contracheque mensal de menos de 30 mil reais líquidos.

Canalhice

Há um assanhamento como se fosse de marimbondos sempre que se abre uma vaga de Ministro no Supremo Tribunal Federal.

O vale tudo se aprofunda quando há alguma demora na indicação, o que enseja mais golpes entre os pretendentes e seus apoiadores, inclusive rasteiradas sem precedentes.

Há pouco se soube que um dossiê contendo votos do Ministro Mauro Campbell no STJ contra recursos, aliás, descabidos e meramente protelatórios, da Fazenda Nacional foi entregue por mãos anônimas entre aspas no gabinete da Dilma, a quem cabe única e exclusivamente escolher um nome e indica-lo à aprovação do Senado.

As cópias dos votos recolhidos num julgamento ali ou em outros acolá seriam as provas de que o Ministro Campbell não costuma votar com o Governo no STJ.

Nada mais vergonhoso, anti-republicano e canalha. A vaga aberta com a aposentadoria do Ministro Joaquim Barbosa é para ser preenchida por alguém que preencha os requisitos constitucionais – ilibada reputação moral e notável saber jurídico. Cabe à Presidente avaliar e ao Senado confirmar ou não.

Para se ter uma ideia do desmantelo institucional também nessa área tão sensível é público e notório que a demora na definição do nome para o STF tem a ver com o receio da Dilma de contrariar o PMDB no Senado.

Até aqui os julgamentos nos Tribunais Superiores do Brasil ainda estão a cargo de Juízes como Mauro Campbell, não cabendo, ainda, essa função a comissários ou delegados de facções políticas.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Assim é se lhe parece

Felipão, no auge da fama como técnico da seleção brasileira, contou que estando num restaurante em Nova Iorque, Estados Unidos, começou a ser assediado e achando que eram admiradores do seu trabalho correspondeu com gestos de simpatia.

Lá para as tantas alguém perguntou se ele era mesmo o Gene Hackman, aquele ator que sempre se sai bem quando interpreta personagens malvados. Confirmou. Sim, o Felipão era Gene Hackman.

Houve fila na mesa do restaurante de pessoas pedindo autografo e fotos. E se o verdadeiro Gene Hackman entrar aqui de repente, como vai ser? Era só no que pensava o Felipão. Isso não aconteceu.

O que aconteceu no domingo em Belo Horizonte durante a passeata do “Fora Dilma” foi que o fotografo conhecido como Beto, que já havia se tornando celebridade nesses anos todos de governos do PT tamanha a sua semelhança física com o Lula, já acostumado a posar para fotos com fãs do ex-Presidente, estava de serviço cobrindo a passeata para um jornal quando alguém apontou – olha ali o Lula, disfarçado de fotografo!

O resultado não poderia ter sido outro. Avançaram no coitado do Beto achando que ele fosse mesmo o Lula e deram-lhe tanta porrada que só com  a intervenção pra valer da turma do deixa disso tudo então se esclareceu.

Coléricos

Tem gente que não se segura. Ademar de Barros era desbocado, mas não perdia o bom humor. Achando que iria agradar ao General Dutra colocou como seu Vice o genro do Presidente, um sujeito chamado Novelli Junior.

Não demorou e o Vice contando com a força do sogro achou que poderia depor Ademar.

“Para me tirarem daqui vão precisar de quatro homens fortes, mas pensando bem como sou muito pesado vão precisar de mais homens e nenhum será esse Novelli”.

Mais tarde vendo que o Presidente não dissuadia o genro da perigosa aventura, Ademar interrompeu uma reunião em seu Gabinete e indagou solene:

“Sabem como se escreve Dutra em japonês?”

Pegou uma folha de papel, escreveu e temendo estar sendo gravado exibiu em silêncio:

- Tacomkunacara...

Outro famoso por suas explosões, tendo mandado inclusive o Ministério Público tomar naquele lugar e isso bem alto para todo mundo ouvir no cafezinho da Câmara, o nosso estimado Ciro Gomes reconhece o destempero verbal como seu pior defeito como político.

Uma vez me disse que antes de se lançar em outra campanha presidencial iria fazer um curso socila de linguagem. Quer dizer, um curso de boas maneiras verbais. Para quem não sabe, socila era uma escola carioca que preparava moças ao fino trato para diversas finalidades, dentre as quais o casamento.

Agora, ainda que com algum certo atraso, ficamos sabendo hoje, através do Noblat em O Globo, de mais uma encolerizada da Dilma.

Porque não gostou do modo como um vestido seu havia sido pendurado num cabide a Presidenta teve um ataque de nervos xingando a arrumadeira de nome Jane de tudo quanto foi nome feio.

Em seguida, passou a atirar cabides contra a coitada da funcionária, a qual não deixou por menos – devolveu os cabides um a um voando... Claro que a Jane foi demitida do emprego no Palácio da Alvorada.

Como a campanha para a reeleição da Dilma iria começar, alguém se lembrou do episodio e lá se foram os marqueteiros atrás da Jane para ela não falar nada daquilo que alguns do circuito íntimo da Dilma já sabiam.

Ofereceram a Jane uma casa e um bom dinheiro. Ela topou.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Qui mai qui tu quer?

Há um encanto irresistível na ilha, não saberia definir direito nem dizer bem por que, mas noto que muitos dos que por aqui aportam, e se ficam uns dias a mais, logo se enamoram e se enturmam e vão ficando.

Diferente um pouco do que se sucedeu àquele jovem navegante chamado Robson Crosué, o qual depois de se engalfinhar zangado medindo forças com o capitão do navio foi por este largado sozinho na primeira ilha que apareceu.

Não tendo certeza se essa ilha foi ou não a de São Luis do Maranhão, Daniel Defoe não omite que Robinson Crusoé viveu por uns tempos no nordeste brasileiro como um próspero dono de plantações de cana – de - açúcar.

O que importa aqui é registrar o contraste.

Enquanto Crusoé teve que cumprir a pena de cinco anos de degredo numa ilha onde faltava tudo, tendo ele que viver se agarrando aos gatos que usava como escudos contra os ratos cuja população só aumentava a cada dia, os que por aqui foram aportando, incluindo nós outros, e hoje já somamos um milhão na demografia, nunca tivemos, nem temos hoje, absolutamente nada do que nos queixar.

Muito sol, muita chuva, muita praia, muita alegria, dentro da ilha e no seu derredor é tudo muito farto.

Só os que não sendo cegos que nem eu, mas que exatamente por isso insistem querendo enxergar demais, se queixam da farta de água, da fartura dos mosquitos e das muriçocas, da farta de iluminação publica nas ruas por onde ninguém passa mais, da farta de transportes, da farta de limpeza publica, da fartura de buracos, da farta de empregos, da farta de segurança, da farta de vagas nas escolas publicas, da farta de atendimento nos hospitais, da farta de dinheiro para comprar remédios, só esses doentes acometidos de incapacidades para silenciarem suas aspirações cidadãs, não se fartam nessas farturas.

Só esses tarrabufados que nem eu que se embebedam de idéias por aqui de há muito decaídas como as republicanas e outras defasadas chamadas de democráticas, falando em alternância no poder, talvez pensando que por serem maioria quase absoluta nas contas demográficas acham que podem dar algum palpite nas coisas.

A ilha não é deles. Mas quem somos nós, primos?

E o que fazer se a ilha faz parte do Maranhão, portanto muito bem representativa para ser a Capital desse estado de coisas?

Isso me faz lembrar o nosso querido e o não menos saudoso Professor Solano, dono do Ateneu, quando uma vez de dedo em riste para o meu nariz me fez lembrar que o colégio era dele e que os estatutos que eu invocara na condição de Presidente do Grêmio dos alunos eram ele, e ponto.
Assim também esse milhão de Crusoés abobalhados.

O que querem mais? Não já alcançaram a ilha? Já não assistem novela de graça, não tem carnaval de graça, regue de graça, opa regue de graça não, bumba meu boi de graça, já não são feitos de bobos e tratados como idiotas de graça?

Não já moram na ilha respirando essa brisa inigualável e se enlevando pelos encantos encantadores e também de poetas, de jovens mucuras e de velhas raposas em domínios nunca dantes imaginados? Alguns podem até se candidatar às proximas eleições ainda que só para não as vencerem, mas e daí podem ser candidatos, e então o que querem mais?

Como pergunta o Baleiro na canção, - qui mai que tu quer? Cachaça, samba, viola, mariola, gaita, fumo e muier? Qui mai qui tu quer?

Dizer que ama é para uns doentes uma forma de mascarar a dependência.

Quando dizemos ao mundo que só não abandonamos a ilha indo nos embora para bem longe dos donos daqui porque a amamos demais estamos, sim, na verdade, mascarando essa nossa dependência talvez já bastante doentia.

Dependência dessas coisas do presente cotidiano nos mesmos cenários e onomatopéias que nos entristecem e nos revoltam, mas também nos divertem.

Quem é que está muito doente de loucura abissal para querer ir se embora agora de vez desta ilha do amor, gente? 

quinta-feira, 2 de abril de 2015

Reinaldo para o STJ

Receando que alguma indicação sua ao STF ou a STJ, onde ainda há vagas, pudesse esbarrar na contramão do PMDB ultimamente em brincadeira de cabra cega com o Governo, a Dilma foi cautelosa procurando antes saber quem passaria com menos dificuldades pelo crivo daqueles aliados na CCJ e no plenário do Senado. 

Do apurado, prevaleceu a sugestão do ex-Presidente José Sarney e o nome que será publicado amanhã como o indicado à sabatina e depois à maioria absoluta do plenário é o do Desembargador Federal Reinaldo Soares Fonseca, 52 anos, maranhense de São Luis. 

Não há duvidas que o Desembargador Reinaldo pulará sem dificuldades as duas fogueiras que serão acesas contra a Dilma no Senado. 

De uma família bem estruturada e muito querida, Soares pelo lado da mãe professora e Fonseca pelo lado do pai advogado de muito prestigio e juiz eleitoral pela classe dos juristas, Reinaldo é do tipo respeitoso, muito bem educado, conciliador como convém a um bom juiz, sendo um dos mais cultos operadores do direito da sua geração.

Foi Procurador em Brasília, Professor de Direito e Juiz Federal no Maranhão. Por merecimento foi promovido a Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 1ª Região. É doutor em Direito devendo acrescentar seu conteúdo doutrinário e senso prático de Justiça numa das Turmas especializadas em Direito Penal do STJ.

Mesmo que seja aprovada a PEC da Bengala, que reduzirá a marcha da fila para as expulsórias do serviço ativo, Reinaldo Fonseca, porque ainda é muito jovem, será o segundo maranhense a presidir a principal Corte infraconstitucional do País.

quinta-feira, 19 de março de 2015

A Palmatória das Ruas

A nossa querida Presidenta, atualmente nem tão querida assim, que nunca antes se candidatara em qualquer eleição nem mesmo em tempos mais formosos para Rainha das Rosas, já estava no lucro ao fim do primeiro mandato e teria feito bonito se tivesse chamado o Lula para ser o candidato a sucedê-la.  

A farofa que ela espalhou no ventilador da economia, o que acabou levando o País a temer o dia seguinte, sobraria para o Lula caso fosse ele o eleito ou para outro da oposição em condições ate mais cômodas de limpar o cenário.

Não se recandidatando não só estaria no lucro como também iria usufruir na história as loas pelo bom exemplo de desprendimento pessoal às etéreas conquanto solúveis missangas do poder.

Lula só por ser o candidato a sucedê-la nunca diria o que tem pensado ultimamente em arrependimentos algumas vezes em voz alta. Muito ao contrário discursaria louvações ao seu charme de mulher brasileira.

Na sala de espera de um gabinete num Tribunal encontrei um experiente advogado radiante com a Presidenta que, horas antes, acabara de conhecer pessoalmente numa audiência que ela concedera a uns dirigentes da OAB.

Na avaliação do colega, a mulher que aparece durona passando tanto insegurança quanto arrogância quando fala na televisão é outra sem nada a ver com aquela que ele acabara de conhecer na audiência.

Contou que a mulher é uma pessoa humilde, que ouve e anota, deixando o interlocutor à vontade e seguro de que ela está mesmo dedicando toda a atenção ao momento. E olha que esse colega não é de tietagens soltas pela aí. Nem com a Gal Costa.

Mudou o natal ou mudei eu? Nem o próprio autor, Machado de Assis, nos legou resposta clara a tão sempre atual dúvida.

De fato, eu lera na véspera, em O Globo, num texto de Alan Gripp, que "se por alguma razão, um brasileiro tivesse ficado completamente fora do ar nas ultimas 48 horas não reconheceria a presidente Dilma Roussef que reapareceu ontem, depois das manifestações que levaram multidões às ruas." Etcétera.

Uai, não está sendo agora voz geral que ela tem que mudar não só os rumos da economia, mas também economizando palavrões e suavizando cinquenta tons do seu jeito de ser, melhorar seu trato com os empresários e a base aliada?

Pura maldade com uma pessoa que nunca pensou em ser Presidenta e porque nunca pensou nisso também nunca se preparou para isso.

Se a Presidenta fosse uma atriz de novela e estivesse encarnando um papel, por exemplo, de menina malvada, talvez até convencesse mais.

Ora, ninguém muda ninguém da noite para o dia no que a pessoa carrega, desde a infância, dentro de si no seu jeito de ser, de pensar e de agir.

Mas a ordem do criador, no caso o Lula, é amansar lapidando a criatura. Talvez seja o caso de pedir autorização ao Brizola para mandar de volta o Darcy Ribeiro.
-o0o-

quarta-feira, 4 de março de 2015

Tudo Embaralhado

Quem passando ali defronte ao Palácio do Planalto, onde os grandões da República cuidam dos seus afazeres, tem a atenção voltada para aqueles rapazes perfilados em duas fileiras na imensa rampa a lembrarem pelo fardamento à moda antiga que seguimos sendo perante Portugal um Brasil independente.

Chova ou faça sol eles se alternam compondo a mesma paisagem. Quem estando em Brasília pela primeira vez resiste à ideia de um selfie com eles, os Dragões da Independência,  ao fundo?

Quando os ventos escasseiam e a secura se impõe ao clima do planalto há, em cada rodizio entre os Dragões, um deles desmaiando. Fazem um trabalho difícil, quase de estátua. E como é difícil ser estatua...

Embora vistos de longe até pareçam estátuas, mas são gente em carne e osso e neurônios. Noventa bilhões de neurônios se entendem ou não uns com os outros em cada cérebro daqueles.

Li que as conexões entre os neurônios, chamadas de sinapses – e elas somariam mais de cem trilhões – podem determinar  ao nosso cérebro reações de êxtase ou de inibição.

O ponto de equilíbrio é o controle emocional, também chamado de freio por ser o que nos impede de num impulso transpor fronteiras como as da razão, da ética, da moral, da tolerância.

Não nos tem passado despercebidas no cenário nacional desta atual Pátria Educadora situações no mínimo inusitadas a nos levarem a uma busca obrigatória para entendermos o que realmente está acontecendo, até mesmo para nos imantarmos de alguma certeza de que não somos nós os menos certos.

No campo da psicologia há quem afirme que o maior ou menor numero de sinapses nos cérebros das pessoas tem a ver com o exercício profissional de determinados afazeres.

A pesquisa de James E. Black, porem, não assegura se o trabalho extra, aquele que se faz fora do campo estritamente profissional, desencadeia novas sinapses ou se os que as tem em maior quantidade são os que se sentem mais atraídos a ações mais desafiadoras.

O soldado do Batalhão da Guarda Presidencial, também conhecido como Dragões da Independência, disse que nunca havia pensado nisso antes, mas que pela primeira vez sentiu uma vontade irresistível de roubar alguém. Daí planejou o assalto.

Pegou um revolver de brinquedo e sem pensar mais em nada, movido apenas pelo piloto automático do cérebro, escolheu a vitima. Anunciou o assalto e o assaltado se anunciou como Delegado da Policia Federal e lhe deu voz prisão, entregando-o à Delegacia mais próxima.

O soldado tem 21 anos de idade. Está preso agora no batalhão da Guarda Presidencial e após o inquérito administrativo que concluirá por sua expulsão, o que será de sua vida?

Com a breve biografia manchada por um antecedente desse jaez precisará, com certeza, de tratamento psiquiátrico adequado que o restituirá à sociedade devidamente ressocializado.

O erro do jovem Dragão foi, talvez, acreditar que de tanto ler e ouvir falar em traficâncias dos grandes ele também, embora sendo um menor na hierarquia do poder, embora sendo um guardião da entrada do Palácio do Governo, poderia ele também inventar a sua própria contribuição ao atual momento.

A propósito, sabes como reagiu ao ser preso o ultimo diretor da Petrobrás?

- Que País é este?

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