domingo, 2 de outubro de 2022

Uma prova de fogo para a democracia brasileira

Em ampla desvantagem nas pesquisas, Bolsonaro aposta suas fichas na desestabilização do processo eleitoral. Para analistas, instituições têm força suficiente para suportar pressão, mas serão testadas.

Embora tenha tentado brevemente vender uma imagem "paz e amor", o presidente Jair Bolsonaro, em ampla desvantagem nas pesquisas de intenção de voto, parece seguir apostando suas fichas na desestabilização do processo eleitoral. A democracia brasileira vive o que analistas consideram um estresse inédito desde o fim da ditadura militar, e suas instituições serão testadas.

Em meio a repetidas investidas contra o sistema eleitoral, no dia 13 de setembro, Bolsonaro causou surpresa ao dizer, em um podcast, que aceitaria o resultado das urnas em caso de derrota. Analistas especularam que talvez o presidente modulasse o discurso para atrair eleitores moderados.

No entanto, menos de uma semana depois, no Reino Unido, Bolsonaro retomou a retórica habitual contra a segurança das urnas. A uma televisão brasileira, disse que "algo de anormal" terá acontecido dentro do TSE se ele não vencer a eleição no primeiro turno.  

Na última quarta-feira (28/09), a campanha do presidente lançou uma ofensiva contra o sistema eleitoral. Seu partido, o PL, divulgou uma nota na qual afirma haver sérias falhas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que podem afetar o resultado das eleições, tendo como base auditoria feita pelo próprio PL. Pouco depois, o TSE divulgou uma nota oficial afirmando que as conclusões do PL são "falsas e mentirosas, sem nenhum amparo na realidade".

À noite, em sua live, Bolsonaro ameaçou determinar às Forças Armadas o fechamento de seções eleitorais, com base em um factoide. O presidente insinuou que eleitores vestindo verde e amarelo seriam proibidos de votar, embora não tenha havido nenhuma decisão do TSE nesse sentido. "Vou determinar às Forças Armadas, que vão participar das seguranças, qualquer seção eleitoral em que for proibido entrar com a camiseta verde e amarela, não vai ter eleição naquela seção", ameaçou Bolsonaro.

No último debate entre os presidenciáveis, organizado pela TV Globo nesta quinta-feira, Bolsonaro fez mais uma breve pausa em sua ofensiva antidemocrática. E a postura golpista do presidente em relação ao processo democrático praticamente não foi abordada; apenas a candidata Soraya Thronicke (União Brasil) questionou se ele pretendia liderar um golpe caso seja derrotado, mas Bolsonaro se esquivou.

Assim como o presidente, apoiadores questionam pesquisas

Embora Bolsonaro alegue ter a maioria dos eleitores ao seu lado, citando o que chama de "datapovo", as pesquisas dos institutos mais respeitados, como Ipec e Datafolha, mostram o seu oponente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na frente, com ampla vantagem. Somente o petista tem condições de liquidar a eleição já no primeiro turno, segundo os levantamentos.

Entre os seguidores do presidente, é generalizada a crença no descrédito dos institutos de pesquisa, bem como do sistema eleitoral.

"Essas pesquisas são mentirosas", afirmou o comerciante Ezequiel Siqueira no desfile cívico-militar do 7 de Setembro no Rio de Janeiro, palco de um comício do presidente em busca da reeleição. "O brasileiro que está na rua hoje é Bolsonaro, aqui não tem um petista. Então, como o Lula está lá em cima na pesquisa? Somos um número muito maior, expressivo", disse.

Ezequiel, que veio de Juiz de Fora para participar do 7 de Setembro no Rio, defende abertamente uma reação caso o resultado das urnas mostre uma vitória do petista. "Eu vou ser sincero: eu acho que a gente tinha que quebrar o Brasil, quebrar tudo."

A caminho do festejo patriótico, ornamentada com um arco verde e amarelo, Denise Wanderley dizia acreditar que Bolsonaro só perde se houver fraude nas urnas eletrônicas, motivo de preocupação para a aposentada.

"Não tem um lugar aonde ele vá que não seja aclamado pelo público. Eu não vou aceitar. Dou minha vida pelo Bolsonaro", falou, com endosso de familiares e amigos que a acompanhavam.

Instituições sob pressão

Embora não seja possível prever a reação do presidente e seus apoiadores no caso de um resultado desfavorável nas urnas – seja a derrota para Lula no primeiro turno ou a ida para um segundo turno em ampla desvantagem –, há indícios claros de que as instituições serão pressionadas.

"As instituições brasileiras têm atuado de maneira deficitária no controle dos atos do Executivo, mesmo os mais arbitrários", afirma Eloísa Machado, professora de Direito Constitucional na FGV Direito SP.

A advogada pondera que uma eventual insurgência golpista exigiria uma reação mais rápida, contundente e coesa das instituições judiciais e políticas, a qual não se observou até aqui.

"Porém, há leis, procedimentos (como a Lei de defesa das instituições democráticas) e atores (como as cortes superiores e o Congresso Nacional) aptos a reagir, ou seja, existe uma institucionalidade para isso", diz Machado.

A professora da FGV avalia que a sociedade civil mostrou ampla mobilização e adesão à pauta democrática, rechaçando qualquer tentativa de golpe. Uma das principais demonstrações de força foi a leitura da Carta pela Democracia em diversas capitais, em agosto.

Aos 83 anos, o advogado José Carlos Dias foi um dos articuladores da mobilização. Ex-ministro da Justiça no governo Fernando Henrique e presidente da Comissão Arns, ele defendeu mais de 500 presos políticos durante a ditadura militar. Em entrevista recente à DW Brasil, ele disse ter confiança nas instituições.

"Eu acredito que nós temos que confiar na posição firme dos governadores, dos parlamentares sérios − graças a Deus, eles existem − e principalmente do STF e do TSE. Essas instituições todas estão muito fortes para defender a democracia brasileira", declarou.

Para o ex-ministro, um intento golpista de Bolsonaro seria escandaloso perante as instituições brasileiras e à comunidade internacional. "Não vejo como isso pode acontecer, mas que eu tenho receio, tenho", disse. "Ele tem instrumentos, milícias e parte das Forças Armadas, que poderão apoiar esse gesto de loucura."

Para o pesquisador Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, as eleições presidenciais poderão representar um teste para a democracia brasileira, equivalente à invasão do Capitólio nos EUA, em 6 de janeiro de 2021.

"As instituições estão super estressadas e pressionadas, mas foram capazes de conter isso até aqui. Temos que garantir que elas consigam resistir a um teste como o 6 de janeiro brasileiro, que irá provar se nossas instituições teriam essa capacidade. O principal ponto de atenção seriam as Forças Armadas e as forças policiais", avalia.

Exército sinaliza neutralidade

Uma reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo nesta sexta-feira informa que o Alto Comando do Exército teria firmado posição em prol do resultado das eleições presidenciais. A posição pode reduzir o impacto de uma polêmica auditoria das urnas pelos militares, que não deverá mais ter a finalidade de atestar a confiança nas eleições.

Uma possível insurreição golpista incentivada por Bolsonaro seria a participação de policiais de demais agentes das forças de segurança é um dos principais fatores de preocupação. Para o pesquisador Arthur Trindade, que coordena o Núcleo de Estudos sobre Violência e Segurança da Universidade de Brasília (NEV-UnB), a possibilidade é remota.

"O Poder Judiciário dispõe de leis e outros instrumentos legais para processar e punir policiais amotinados. E de fato, policiais amotinados têm sido punidos. Entretanto, ao longo das últimas décadas, o Congresso Nacional tem sistematicamente anistiado os policiais insurgentes e anulado as punições. Esse cenário mudou durante o governo Bolsonaro", explica.

Em 2019, policiais militares do Ceará se amotinaram contra o governador, com apoio explícito do presidente. Governadores de 19 estados se uniram para impedir qualquer tentativa de anistiar os revoltosos. Após esse episódio, juízes e governadores aumentaram sua capacidade de coibir motins e insurreições.

"Dificilmente as polícias militares se envolveriam nesse tipo de movimento insurgente. As policiais têm dado demonstrações de cumprimento das suas obrigações funcionais e subordinação dos governadores de estados", avalia Trindade.

O pesquisador da UnB lembra que, nos preparativos para o Dia da Independência em Brasília, Bolsonaro cobrou do governador Ibaneis Rocha, seu aliado, a liberação de caminhões da polícia para participar do desfile – o que é proibido por lei. Rocha se opôs. Apesar da forte adesão ao bolsonarismo, a Polícia Militar seguiu à risca as ordens do governador.

"Desta vez, não haverá anistia"

A professora Eloísa Machado, da FGV, explica que as forças de segurança pública são subordinadas ao poder político constituído, e qualquer insurgência representará um crime contra as instituições democráticas, passível de imediata repressão (como a destituição dos cargos de comando) e responsabilização, com atuação do sistema de justiça e das corregedorias internas.

"O caso das Forças Armadas é ainda mais evidente: a Constituição repudia qualquer interferência militar na política e qualquer comandante poderá ser responsabilizado por atos golpistas, seja na Justiça comum e também perante a Justiça militar", afirma a advogada.

Para a professora, uma parte das Forças Armadas é desleal à Constituição desde 1988. "Mas é bom que saibam que, desta vez, não haverá anistia".

Machado afirma que a ameaça do presidente Bolsonaro de fechar seções eleitorais com uso das Forças Armadas configura crime eleitoral e abuso de poder político.

"Sem mencionar eventuais repercussões criminais, insertas na Lei de Defesa das Instituições Democráticas. Tudo fica ainda mais grave se pensarmos que o candidato a vice-presidente [o general da reserva Walter Braga Netto] é militar e que as Forças Armadas fazem parte deste governo desde seu início", conclui.

João Pedro Soares, do Rio de Janeiro, RJ, para a Deutsche Welle Brasil, em 01.10.22.

Brasil vai às urnas em eleição decisiva para a democracia

Pesquisas indicam que social-democrata Lula está no limiar de vencer pleito no 1° turno e impor derrota à extrema direita. Acuado, Bolsonaro sinaliza que não deve aceitar fracasso nas urnas.


O favorito: candidatura de Lula tem recuperado terreno perdido pelo PT em 2018 (Foto: Victor R. Caivano/AP/picture alliance)

Quatro anos após a onda de direita que virou de cabeça para baixo o mundo político brasileiro, os eleitores voltam às urnas neste domingo (02/10) para votar numa disputa que pela primeira vez na história brasileira reúne um ocupante do Planalto em busca da reeleição e um ex-presidente.

Apesar de contar com 11 candidatos, a campanha se desenhou para um duelo sobre duas personalidades que não poderiam representar projetos mais antagônicos: o extremista de direita de Jair Bolsonaro (PL) e o social-democrata Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

É o duelo que não aconteceu em 2018.

Representante de uma agenda que mescla ultranacionalismo, fundamentalismo cristão, desprezo pela separação de Poderes, rejeição a valores progressistas, promoção do armamento da população e flexibilização de regras ambientais, Bolsonaro já não pode se apresentar como "outsider" a exemplo do que ocorreu na eleição passada. Seus quase quatro anos de governo foram marcados por problemas econômicos e sanitários, isolamento internacional, aumento da pobreza e sucessivas crises políticas.

Apesar de tudo isso, o presidente ainda conta com uma parcela significativa de apoiadores ferrenhos, ainda fiéis à sua agenda moral, especialmente entre o eleitorado evangélico e setores mais ricos. No entanto, ele perdeu boa parte dos eleitores de centro que há quatro anos haviam aderido de maneira decisiva à sua candidatura em nome do antipetismo.

Lula, por sua vez, lançou-se à corrida apostando na nostalgia pelos seus dois bem-sucedidos mandatos à frente da Presidência (2003-2010). Sua popularidade persistente, especialmente entre as camadas mais pobres, posicionou o petista como favorito para vencer o pleito desde a divulgação das primeiras pesquisas em 2021.  

Uma eventual vitória de Lula pode marcar ainda a volta da esquerda ao poder do maior país da América do Sul seis anos após a derrocada de Dilma Rousseff, apadrinhada de Lula que sofreu um impeachment em 2016 na esteira de uma série de escândalos de corrupção, má gestão econômica, perda de apoio parlamentar e acirramento do antipetismo – especialmente entre a classe média.

Nos últimos dias, a campanha de Lula tem investido na pressão do "voto útil", tentando liquidar a eleição ainda no primeiro turno. Segundo levantamentos divulgados no sábado, o petista conta com 50% a 51% das intenções de votos uteis. Para vencer são necessários 50% mais um. No entanto, por causa da margem de erro de dois pontos percentuais e fatores como abstenção, a possibilidade de um segundo turno entre Lula e Bolsonaro permanece em aberto.

Campanha começou ainda em 2021

Oficialmente, a campanha presidencial teve início em 15 de agosto, mas o pontapé inicial da disputa foi dado em março do ano passado, quando o Supremo Tribunal Federal anulou todas as sentenças contra o ex-presidente Lula, devolvendo ao petista seus direitos políticos – e consequentemente o cacifando para concorrer novamente à Presidência, ao contrário do que ocorreu em 2018, quando ele foi barrado.

Desde então, Lula foi o único candidato que demonstrou nas pesquisas capacidade de frear o bolsonarismo, diante do fracasso de uma série de postulantes que tentaram se posicionar como "uma terceira via". Ao longo de um ano, nenhum candidato fora de Lula e Bolsonaro conseguiu romper a barreira dos dez pontos nas pesquisas.

Em um comício em Curitiba no mês de setembro, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, classificou a volta por cima de Lula como uma "redenção". Após passar 580 dias na prisão, Lula voltou à antiga "capital da Lava Jato" com chances de vencer a eleição ainda no primeiro turno.

Bolsonaro, por sua vez, também lançou mão de todo o tipo de tática em busca da sua própria "redenção" e tentar reverter sua impopularidade. Seu governo promoveu a criação de uma série de benefícios sociais em pleno ano de eleições e ainda transformou o bicentenário da Independência em comícios a favor da sua reeleição. Com o objetivo de tentar reverter sua alta rejeição entre o eleitorado feminino, Bolsonaro também arregimentou a primeira-dama, Michelle, para participar da campanha.

Ao longo da campanha, Bolsonaro ainda tentou pintar a disputa como uma "luta do bem contra o mal" e lançou uma série de ataques contra seu principal rival, especialmente no último debate televisivo. Assim como ocorreu em 2018, a base do presidente também fez uso extensivo de distribuição de fake news contra adversários.

No entanto, as táticas não haviam revertido até a véspera da eleição a posição de desvantagem de Bolsonaro em relação a Lula. No último Datafolha, o presidente permanecia 14 pontos atrás do petista. 

Na reta final, o presidente pareceu abdicar de tentar virar votos de eleitores que não apoiam o governo, viajando a uma "zona de conforto": o estado de Santa Catarina, no qual possui uma esmagadora maioria das intenções de voto, em vez de se concentrar em colégios eleitorais maiores nos quais Lula aparece à frente.

O risco Jair Bolsonaro

Se o pleito de 2018 já havia sido marcado por um clima de acirramento político jamais visto desde a volta das eleições diretas para presidente em 1989, com o próprio Bolsonaro sendo alvo de um atentado, a disputa deste domingo também desperta temores de violência.

Nos últimos meses, ganharam destaque casos como o assassinato de um dirigente petista para um apoiador de Bolsonaro em Foz do Iguaçu. Entrevistadores de institutos de pesquisa foram agredidos nas ruas e jornalistas foram novamente alvo de assédio por parte de membros da base radical do presidente.

Nos últimos anos, o governo Bolsonaro também flexibilizou o acesso a armas de fogo no país. Como resultado: a venda explodiu e milhares de apoiadores do presidente correram para se armar. Durante a pandemia, Bolsonaro já havia defendido armar a população para que ela se insurgisse contra governadores e prefeitos que haviam implementado medidas de isolamento.

Se o clima nas ruas já é suficiente para causar preocupação, as atenções também se voltam para o Planalto. Segundo as últimas pesquisas do Ipec e do Datafolha, Bolsonaro pode perder a eleição já neste domingo. Caso ainda consiga passar para o segundo turno, sua derrota se desenha praticamente certa, segundo os institutos, diante da alta rejeição que seu nome provoca entre a maioria do eleitorado.

Jair Bolsonaro reconhecerá o resultado? O presidente já sinalizou diversas vezes que não pretende conceder uma eventual derrota. Ele ainda insinuou que pode estimular uma ofensiva semelhante àquela lançada pelo seu ídolo, o ex-presidente americano Donald Trump, que em janeiro de 2021 instigou a invasão da sede do Congresso americano por uma turba de apoiadores radicais – tudo com o objetivo de tentar impedir a oficialização da sua derrota e a vitória do democrata Joe Biden. "Aqui no Brasil se tivermos o voto eletrônico em 22 vai ser a mesma coisa, a fraude existe", disse Bolsonaro em janeiro, em mais uma das suas falas contra o sistema de votação no Brasil.

Ainda em 2018, antes de tomar posse, Bolsonaro já vinha desenhado essa estratégia, ao afirmar que só não havia ganhado no primeiro turno daquele ano por causa de supostas "fraudes" nas urnas. Posteriormente, as maquinações se tornaram mais amplas e ele chegou a incentivar as Forças Armadas a participarem da fiscalização processo eleitoral, levantando temores de interferência. O presidente também afirmou há duas semanas de maneira ameaçadora que "se não ganhar no primeiro turno" com "60%" dos votos, algo de "anormal" terá acontecido "dentro do TSE".

Apesar de ter condicionado sua base radical a duvidar dos números de pesquisas e da segurança das urnas eletrônicas, o presidente tem encontrado pouco apoio na classe política tradicional para suas falas golpistas. Seus principais aliados do Centrão na Câmara e no Senado vêm evitando endossar as ofensivas do presidente contra o sistema eleitoral e alguns já demonstram sinais de resignação com uma provável derrota de Bolsonaro e ensaiam a construção de pontes com um eventual governo Lula.

Governos estrangeiros, incluindo o dos EUA, também já avisaram que têm confiança no sistema eleitoral brasileiro e que vão reconhecer sem demora o vencedor da eleição. Em julho, Bolsonaro chegou a reunir dezenas de embaixadores em Brasília para lançar ataques às urnas eletrônicas e ao STF, mas o encontro só explicitou ainda mais o isolamento internacional do presidente.

Diversos chefes de Estado ou governo do exterior não escondem sua preferência por Lula. No ano passado, ainda na posição de pré-candidato, o petista foi recebido com honras de chefes de estado pelo presidente francês Emmanuel Macron e se encontrou com Olaf Scholz, quando o atual chanceler federal da Alemanha ainda costurava a montagem do seu governo.


Jair Bolsonaro conseguiu manter uma base leal ao longo de quase quatro anos de governo, mas fatia não deve ser suficiente para garantir reeleiçãoFoto: Marcelo Chello/AP/picture alliance

A "frente ampla" de Lula

Nos últimos dias, a campanha de Lula passou a receber apoio até mesmo de antigos adversários, incluindo um dos autores do impeachment de Dilma, o jurista Miguel Reale Jr., e o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, relator do julgamento do Mensalão. Um total seis ex-ministros do Supremo declaram apoio ao petista.

Em contraste com o que ocorreu na campanha de 2018, quando o PT foi representado pela candidatura de Fernando Haddad, Lula conseguiu formar uma ampla rede de apoios de diferentes atores do espectro político. O carro-chefe dessa estratégia foi a escolha do seu vice, o ex-governador e ex-rival Geraldo Alckmin, cuja presença na chapa foi o gesto mais explícito para atrair o eleitorado de centro-direita e reforçar a campanha petista em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país.

O petista ainda fez as pazes com ex-aliados, notadamente a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles (União Brasil). "Existem momentos na história em que há algo muito forte em jogo", disse Marina Silva ao anunciar apoio a Lula.

A terceira via que nunca decolou

Desde que Lula recuperou seus direitos políticos em 2021, o Brasil passou a assistir uma série de tentativas de viabilizar uma "terceira via" para fazer frente ao petista e a Bolsonaro. Alimentada pela imprensa e por parte da elite política, a procura envolveu nomes como os ex-governadores João Doria, Eduardo Leite, os senadores Alessandro Vieira e Rodrigo Pacheco e os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Sergio Moro. Nenhum decolou nas pesquisas. Moro, o ex-juiz responsável por tirar Lula da disputa de 2018, posteriormente se viu obrigado a disputar uma vaga ao Senado pelo Paraná, após se envolver uma série de imbróglios com diferentes partidos e a Justiça eleitoral.

No final, da "terceira via", só sobraram dois candidatos que não registram traço nas pesquisas: Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB), que aparecem com entre 5% e 6% das intenções de voto.

Ao longo da campanha, Ciro insistiu em uma estratégia de pintar Lula e Bolsonaro como equivalentes, representantes do mesmo sistema que, na sua visão, levou o Brasil à ruína. Paralelamente, Ciro fez acenos à direita e passou a reforçar mensagens nacionalistas, o que levantou especulações de que ele pretende lançar um movimento para reunir radicais eleitores órfãos de Bolsonaro durante um eventual governo Lula. A tática, por enquanto, não tem dado certo. Ao lançar ataques até mesmo pessoais contra Lula, Ciro acabou afastando parte dos seus eleitores progressistas. Nos últimos levantamentos do Ipec e do Datafolha, ele oscilou negativamente e apareceu empatado ou até mesmo atrás da senadora Simone Tebet, outra política que tentou se viabilizar como "terceira via".

Jean-Philip Struck, Repórter, para a Deutsche Welle Brasil, em 02.10.22

Lula acaricia a volta ao poder no Brasil pela porta da frente

A vitória da ex-presidente significaria a superação do trauma do impeachment de Dilma Rousseff e a culminância da virada à esquerda da América Latina. A principal questão é se ele vence no primeiro turno ou tem que esperar até 30 de outubro

O ex-presidente Lula, de esquerda, e o presidente Bolsonaro realizaram dois atos eleitorais neste sábado em São Paulo. (AFP)

O filho de Dona Lindu fez história há duas décadas, quando se tornou o primeiro presidente do Brasil sem diploma universitário, o primeiro trabalhador no auge do poder em um país desigual e classista como poucos. Agora você tem a oportunidade de oferecer aos seus compatriotas um novo horizonte e reescrever o último capítulo de sua história. Luiz Inácio Lula da Silva (76 anos, Garanhuns, Pernambuco) acaricia seu retorno à presidência pela porta da frente neste domingo. Se o retrato que emana das pesquisas há meses estiver correto, o esquerdista derrotará o presidente Jair Messias Bolsonaro, 67, da extrema direita. Significaria a volta dos progressistas ao governo após o trauma do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, em 2016, e o grande culminar davirar à esquerda da América Latina, na esteira da Colômbia, Chile, Argentina e México.

A questão principal é se Lula obtém 50% mais um dos votos válidos —sem nulos ou em branco— que precisa para sentenciar a disputa neste domingo ou tem que ir para segundo turno com Bolsonaro —ex-militar que flerta com o golpe — dentro de quatro semanas. Muito provavelmente, os brasileiros voltarão às urnas eletrônicas em 30 de outubro. A última pesquisa deu à esquerda neste sábado 50% e à extrema direita 36%.

Se Bolsonaro marcou um gol ao fazer Neymar pedir voto nele no TikTok, a rede que está na moda entre os jovens, o compositor Chico Buarque apelou neste sábado no Instagram para que "quem não gosta de Lula" peça a eles votar porque "se trata de salvar a democracia". Os pais do cantor participaram da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT) durante a ditadura.

Outra grande incógnita é como o líder de extrema-direita reagirá à derrota prevista pelas pesquisas diante da grande campanha que está promovendo contra o sistema eleitoral , que minou a credibilidade das urnas eletrônicas, que o Brasil utiliza há 25 anos. Boa parte dos bolsonaristas —um terço do eleitorado— se declara convencido de que tudo é fraudado para roubar a vitória de seu líder. O assunto é técnico e delicado. O medo de um colapso da ordem constitucional e as especulações sobre isso estão no ar há meses. Os fiéis a Bolsonaro também não confiam nas pesquisas. Seus constantes ataques ao judiciário, à imprensa e a quem discorda - a quem considera um inimigo - corroeram a democracia brasileira, uma das maiores do mundo.

Para Lula, é uma disputa entre democracia e barbárie. Para Bolsonaro, uma luta entre o bem e o mal. O eleitorado —156 milhões de pessoas— também vota na Câmara dos Deputados e em um terço do Senado, além dos governadores e das assembleias parlamentares dos 27 estados.

O complicado regulamento eleitoral brasileiro impede comícios a partir de sexta-feira, mas não caminhadas. Por isso, neste sábado, Lula apareceu em uma espécie de papamóvel na principal avenida de São Paulo, a Paulista. E Bolsonaro tem circulado pelo norte da metrópole à frente de um grupo de motociclistas.

A biografia do esquerdista é extraordinária, mas ele foi arrastado para a lama pelo escândalo de corrupção da Lava Jato, que varreu políticos e empresários intocáveis . Ele ficou preso por mais de 20 meses, condenado por corrupção. Essas penas, agora anuladas por razões processuais, impediram-no de disputar as eleições anteriores , em 2018, nas quais também era favorito. Ele sempre defendeu sua inocência.

Filho de pais analfabetos e caçula de sete filhos, nasceu em Pernambuco, no mais pobre do Brasil, o Nordeste, historicamente assolado pela seca. Era criança quando emigrou em família numa viagem de 13 dias para São Paulo, onde se reencontraram com o pai, Aristides, que sempre se esforçou para garantir a alimentação, mas que maltratava as crianças até que um dia a esposa agarrou eles e o levaram embora eles abandonaram Ela protagoniza muitos de seus discursos.

Lula — que nunca foi bom aluno, mas sempre exibiu desenvoltura e carisma — soube aproveitar as oportunidades oferecidas por São Paulo. Quando criança, trabalhou como engraxate antes de ingressar em uma escola técnica que abriu as portas para um emprego permanente na metalurgia. Lá, ele perdeu o dedo mindinho esquerdo, razão pela qual Bolsonaro o chama de "nove dedos".

Greves Contra a Ditadura

O turner tornou-se um líder sindical. E ele, que não desacreditou que os militares tomaram o poder em 1964 para trazer ordem ao Brasil, segundo a biografia de Lula, Volume I, liderou as grandes greves contra a ditadura. Desde a primeira tentativa, em 1989, perdeu três vezes antes de chegar à presidência e ser reeleito. Seus oito anos no poder (2003-2010) foram um período de prosperidade graças à demanda chinesa por matérias-primas. Ele foi capaz de implementar programas sociais ambiciosospara os historicamente deserdados. "Colocamos os pobres no orçamento", ele costuma dizer. A vida de milhões de pessoas melhorou como nunca antes. A eletricidade, a geladeira, a máquina de lavar chegaram para muitos... Os filhos das empregadas domésticas entraram na universidade. Ele levantou bolhas. As elites consideraram que deslocaram seus filhos. Graças a essa prosperidade, muitos pobres, negros e mestiços, voaram de avião.

Foi o Brasil que seduziu o mundo e Barack Obama. Nos aglomerados de um G-20, o então presidente dos Estados Unidos disse: “Eu adoro esse cara. Ele é o político mais popular do mundo!” No ano seguinte, Lula deixou o poder com 87% de popularidade.

Esse é o Brasil que ele vendeu nesta campanha, não aquele que veio depois, com Dilma Rousseff, a quem elegeu como herdeira política. O da corrupção sistêmica e da recessão que levou ao impeachment que encerrou 14 anos de governos progressistas. Nesse terreno fértil, germinou um ódio feroz contra os políticos em geral e o PT em particular, onda que Bolsonaro, deputado medíocre, habilmente montou para se tornar a surpresa das eleições de 2018.

Agora, a situação econômica é sombria. Mais de 33 milhões de brasileiros passam fome, o desemprego gira em torno de 9%, a inflação chega a 8,7% e o Fundo Monetário Internacional calcula que o PIB fechará este ano com alta de 1,7%.

Se perder, Bolsonaro será o primeiro presidente a não ser reeleito até agora neste século. Sua gestão desumana e desastrosa da pandemia , que já matou 670.000 brasileiros, é a principal razão pela qual muitos daqueles que apostaram nele como o salvador lhe viraram as costas. Para sobreviver no cargo, ele se jogou nos braços da velha política, dos partidos que oferecem apoio parlamentar ao maior lance e promoveu um generoso programa de ajuda econômica a 20 milhões de pobres. A economia resistiu ao puxão após a pandemia.

Nostálgico da ditadura, ultraconservador, machista, ele cumpriu sua promessa de desmantelar a política ambiental, facilitar a venda de armas e colocar um juiz “terrivelmente evangélico” no STF, como disse Bolsonaro. Com ele, o desmatamento acelerou , o Brasil é visto como um vilão ambiental e está diplomaticamente mais isolado do que nunca.

Aos olhos de muitos, o líder do PT é o novo salvador. Outros vão votar nele com relutância ou tapando o nariz porque o consideram o único capaz de expulsar Bolsonaro. Desta vez, para melhorar suas opções, ele tem Geraldo Alkcmin, uma ex-figura clássica de centro-direita e acérrimo defensor do impeachment de Dilma Rousseff , como seu candidato a vice-presidente. Agora, o público dos comícios lulista aclama.

Lula oferece a volta a um Brasil feliz e próspero, onde todos podem fazer churrasco e uma cerveja nos finais de semana sem entrar em detalhes incômodos sobre como pretende ressuscitar uma economia que tem crescimento estagnado há quase uma década e de onde virá o dinheiro pagar por isso, a inclusão dessa maioria pobre.

O time de Lula reservou a Avenida Paulista para a noite de domingo, mas Lula só será visto se vencer no primeiro turno. Caso contrário, será reservado. Os bolsonaristas também queriam se encontrar lá, mas só poderão fazê-lo no improvável caso de o presidente ser reeleito naquela mesma noite. Espera-se uma contagem rápida graças às urnas eletrônicas, que agora são apenas um orgulho nacional para metade do Brasil.

Naiara Galarraga Gortazar, de S. Paulo para o EL PAÍS, em 02.10.22, às 04h:25. Naiara, a autora deste artigo, é correspondente do EL PAÍS no Brasil. Anteriormente, ela foi vice-chefe da seção Internacional, correspondente de migração e enviada especial. Trabalhou nas redações de Madri, Bilbao e México. Durante uma pausa em sua carreira no jornal, foi correspondente em Jerusalém da Cuatro/CNN+. É licenciada e mestre em Jornalismo (EL PAÍS/UAM). 

Presidente Bolsonaro em 12 frases: gripezinha, jacaré, bicha, 'imbrochável'...

O presidente de extrema-direita segue fiel ao estilo que conquistou milhões de brasileiros apesar do conselho de seus aliados da "velha política" de moderar o tom

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro anda a cavalo durante uma feira de gado em agosto. (Foto: André Penner (AP)

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro é uma metralhadora para as manchetes, e seu palavreado aparentemente incontrolável é parte fundamental de seu capital político. Ao seu histórico de frases racistas, misóginas, machistas, autoritárias ou nostálgicas da ditadura militar de seu tempo como deputado e bem conhecidas antes de chegar à presidência, em 2018, uma longa lista foi acrescentada agora que ocupa a chefia de Estado. São frases diversas, desde o negacionismo pandêmico e ambiental até todo tipo de ataque às instituições democráticas. Estes serão alguns dos mais lembrados:

"No meu caso específico, devido ao meu histórico como atleta, se eu fosse contaminado pelo vírus não precisaria me preocupar, não sentiria nada, no máximo um pouco de gripe ou um pouco de resfriado." (março de 2020)

O Brasil registrou os primeiros casos de covid-19 e, embora tenha questionado anteriormente a virulência do vírus, essa frase, proclamada com a solenidade de um discurso televisionado à nação, foi a pedra fundamental do negacionismo que marcaria toda a sua gestão do crise de saúde. A partir de então, a falta de sensibilidade para com as vítimas e a desinformação sobre medicamentos e vacinas foram uma constante.

"Y? Desculpe, o que você quer que eu faça? Eu sou o Messias, mas não faço milagres” (abril de 2020)

Mais uma resposta agressiva à imprensa quando o Brasil chegou a 5.000 mortes. Hoje, o país tem quase 700 mil mortes por covid-19, bem acima da média mundial em número de habitantes.

“Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Temos que deixar de ser um país de queers” (novembro de 2020)

Bolsonaro sempre foi contra as medidas de isolamento social para conter a propagação do vírus. Homofobia e masculinidade tóxica também são marcas da casa.

"Se você vira jacaré, problema é seu" (dezembro 2020)

Assim, ele criticou que a farmacêutica Pfizer não tenha sido responsável pelos possíveis efeitos colaterais da vacina contra a covid-19. O governo atrasou as negociações com os laboratórios, mas quando os brasileiros finalmente conseguiram aderir com entusiasmo à campanha de vacinação, muitos foram para a fila vestidos de jacarés. O recém-destituído presidente da Petrobras foi se imunizar naquela época com uma camisa polo verde da Lacoste com o logo do crocodilo.

"Acabou-se. Não vou esperar que minha família seja ferrada de má fé, ou um amigo meu só porque não posso trocar alguém de segurança que pertence à estrutura. É mudado; se você não pode, você muda o chefe, se você não pode mudar o chefe, você muda o ministro. E ponto final, não estamos aqui para uma brincadeira” (abril de 2020)

Com o país imerso no caos da pandemia, veio à tona o vídeo de uma reunião do conselho de ministros em que Bolsonaro reclamou por não conseguir proteger seu meio ambiente veio à tona por meio de uma audiência judicial . Pouco depois, o então ministro da Justiça, Sérgio Moro, pediu demissão acusando-o de interferir na liderança da Polícia Federal para proteger seus filhos de vários escândalos de corrupção.

“Pode ir se foder, imprensa de merda, pode enfiar todas essas latas de leite condensado no cu” (janeiro de 2021).

Os ataques a jornalistas têm sido recorrentes. Nessa ocasião, ele acusou a imprensa por ter revelado uma compra inusitada de grandes quantidades de leite condensado pelas Forças Armadas.

“Pirata-te, Alexandre de Moraes, deixa de ser canalha” (setembro 2021)

Os ataques a esse juiz do Supremo Tribunal Federal, que tem Bolsonaro no centro das atenções por seus contínuos ataques às instituições democráticas, são um clássico dos círculos mais radicais de Bolsonaro. Atualmente, o juiz Moraes preside o Tribunal Superior Eleitoral, que adquiriu um papel inusitado nessas eleições.

“A Amazônia não está queimando. Você pode jogar uma lata de gasolina na selva, que não queima, a selva é úmida” (dezembro de 2021)

Bolsonaro repetiu essa ideia dezenas de vezes, apesar de durante seu governo o desmatamento e as queimadas na floresta tropical terem batido todos os recordes. Ele também repete com frequência que a vegetação nativa do Brasil está intacta, como encontrada pelo português Pedro Álvares Cabral em 1500.

“Juntos, com fé, alcançaremos nossos objetivos. É uma missão que tenho e só Deus me tira dessa cadeira (da Presidência da República)” (maio de 2022)

Citações bíblicas e menções a Deus estão no DNA do bolsonarismo, assim como o desprezo pelas regras do jogo democrático. Em outras ocasiões, ele também disse que só pensa em deixar o poder "prisioneiro ou morto".

"Os resultados das urnas serão respeitados se as eleições forem limpas e transparentes" (agosto de 2022)

Ao tentar dar uma trégua em sua escalada para questionar a confiabilidade do sistema de votação eletrônica sem provas, Bolsonaro diz que aceitará o resultado “se” as eleições forem limpas, dando a entender que essas condições não existem hoje.

“Existem pessoas que passam mal? Sim, tem gente que passa mal no Brasil. Alguém viu alguém pedindo pão na porta da padaria? Isso não existe, caramba” (agosto de 2022)

Nas ruas das principais cidades do Brasil não é difícil ver pessoas que até vasculham o lixo em busca de comida. Quase 33 milhões de brasileiros passam fome, segundo relatório publicado em junho pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar.

"'Imbrochavel, Imbrochavel!" (setembro de 2022)

Difícil de traduzir para o espanhol, um "imbrochável" seria um homem que não tem problemas de disfunção erétil. Bolsonaro cantou a favor de seu suposto poder sexual em ato diante de milhares de seguidores durante as comemorações do bicentenário da Independência, em 7 de setembro. Ao seu lado, sua esposa, Michelle, seu grande trunfo eleitoral para atrair o voto das mulheres evangélicas.

Joan Royo Gual, do Rio de Janeiro - RJ para o EL PAÍS, em 01.10.22, às 19h32

Moscou ordena a retirada de suas tropas da cidade-chave de Liman, cercada por forças ucranianas

A tomada deste bastião na região de Donetsk representa um sério revés para a Rússia, que o utilizou como centro logístico para abastecer suas tropas



Um soldado ucraniano olha para um lançador de foguetes múltiplos russo destruído perto de Sosnove, na província de Donetsk, na sexta-feira. (Foto: Anatólio Stepanov (AFP)

A Ucrânia garantiu neste sábado que conseguiu fechar a cerca em torno da cidade de Liman , no norte da província oriental de Donetsk. Há dúvidas sobre quantos soldados russos conseguiram escapar desse cerco e quantos permaneceram cercados naquela cidade onde até poucos dias atrás havia mais de 5.000 soldados das tropas invasoras, segundo Kyiv. O Ministério da Defesa russo relatou a retirada de suas tropas deste local antes de serem bloqueadas pelo inimigo. Este importante baluarte é estratégico para o Kremlin, que o utiliza como centro logístico e de transporte, pois abriga um entroncamento ferroviário crucial para o abastecimento de tropas russas.

“Devido ao risco de serem cercados, as forças aliadas foram retiradas da cidade de Liman para posições mais vantajosas”, informou o porta-voz da Defesa russa, Igor Konashénkov, em entrevista coletiva, segundo a agência Tass. A parte militar deste sábado do Ministério da Defesa russo indica que as unidades ucranianas tiveram superioridade tanto em homens como em armas, e acrescenta que a artilharia russa causou inúmeras baixas em duas brigadas mecanizadas ucranianas, além de destruir tanques e outros veículos militares. . A parte admite que "apesar das perdas sofridas, tendo superioridade em forças e recursos, o inimigo introduziu reforços e continuou sua ofensiva naquela direção".

A retomada de Liman (cerca de 20.000 habitantes, antes da invasão de fevereiro) é um passo fundamental nas tentativas de Kiev de recuperar 15% de seu território das quatro províncias ucranianas - Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhia - cuja anexação ilegal à Federação Russa proclamou O presidente Vladimir Putin em Moscou na sexta-feira , em uma cerimônia definida como uma farsa pela Ucrânia e pelo Ocidente. Na sexta-feira, o líder pró-russo da autoproclamada República Popular de Donetsk, Denis Pushilin, admitiu a situação "difícil" das tropas russas em Liman e que essas forças estavam "parcialmente" cercadas.

Em um vídeo postado por Andrii Yermak, chefe de gabinete do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, dois soldados ucranianos sorridentes colam a bandeira nacional azul e amarela na placa de boas-vindas da cidade com seu nome, Liman. As imagens se espalharam como fogo ao longo da manhã de sábado. "01 de outubro. Estamos desfraldando nossa bandeira nacional e estabelecendo-a em nossa terra. Liman será a Ucrânia”, diz um dos soldados, de pé no capô de um veículo militar.

Ramzan Kadyrov, presidente da República Russa da Chechênia, reagiu à retirada de Liman com uma mensagem no Telegram: "Minha opinião pessoal é que medidas mais drásticas devem ser adotadas, desde a declaração da lei marcial na área de fronteira até o uso de armas nucleares de baixa intensidade". Kadyrov responsabilizou o Coronel General Olexander Lapin pela perda de Liman. O líder checheno garantiu que Lapin enviou os combatentes para Liman "sem as comunicações, suprimentos e munição necessários". “Se dependesse de mim, rebaixaria Lapin a soldado, tiraria suas medalhas e o enviaria para a frente com uma metralhadora na mão para limpar sua vergonha com sangue”, acrescentou Kadyrov. O autoritário presidente checheno acrescentou que o chefe do Estado-Maior, Valeri Gerasimov, lhe garantiu recentemente que não vê uma possível retirada de Liman. “O nepotismo militar não nos levará a nenhum lugar bom. No exército, os comandantes devem ser nomeados com um carácter firme, corajoso e de princípios, que se preocupem com os seus homens”, sublinhou.

Serhii Cherevatii, porta-voz das forças militares ucranianas no leste do país, confirmou na televisão que o exército russo na área de Liman "está cercado". Segundo Cherevatii, a Rússia tinha entre 5.000 e 5.500 soldados naquela cidade, mas o número de tropas cercadas pode ser menor devido às baixas sofridas nos combates. "Já estamos em Liman, mas ainda há luta", anunciou Cherevatii.

A tomada deste importante centro estratégico marca a maior vitória da Ucrânia no campo de batalha desde a contra-ofensiva relâmpago com a qual recapturou mais de 8.500 quilômetros quadrados da região de Kharkov, segundo fontes ucranianas, em setembro. O porta-voz militar assegurou que a captura de Liman permitirá que Kiev avance na província de Luhansk, cuja captura total Moscou anunciou no início de julho , após semanas de lento progresso.

“Liman é importante porque é o próximo passo para a libertação do Donbas ucraniano. É uma oportunidade de ir mais longe em direção a Kreminna e Severodonetsk , e é psicologicamente muito importante", disse Cherevatii, que especificou que a operação ainda está em andamento e que as tropas russas continuam tentando quebrar o cerco de Liman sem sucesso. "Alguns estão se rendendo, têm muitos mortos e feridos, mas a operação ainda não terminou", disse. O governador ucraniano de Lugansk, Serhii Haidai, afirmou, por sua vez, que as tropas russas pediram uma saída segura, mas que a Ucrânia rejeitou esse pedido. "Eles só têm três opções, tentar quebrar [a cerca], render-se ou morrer", disse Haidai.


Um soldado ucraniano em um tanque perto da frente de Liman no final de abril. (Foto: Jorge Silva, Reuters)

As províncias de Donetsk e Lugansk compõem a vasta região histórica de Donbas, o alvo número um do Kremlin, segundo declarações do próprio Putin e seus assessores, desde o início da invasão em 24 de fevereiro. Na sexta-feira, o presidente russo proclamou Donetsk e Lugansk, bem como as províncias do sul da Ucrânia de Kherson e Zaporizhia, como parte da Rússia. A Ucrânia, a União Europeia, os Estados Unidos e o resto dos aliados ocidentais classificaram a anexação como ilegal e afirmaram que nunca a reconhecerão. Kiev também respondeu prometendo continuar liberando seu território das forças russas e descartando qualquer possibilidade de negociações de paz com Moscou enquanto Putin permanecer como presidente.

Luís de Vega, de Zaporizhia / Kyiv para o EL PAÍS, em 01.10.22 às 17h02 

Por que a anexação de quatro províncias ucranianas pela Rússia é ilegal

A incorporação desses territórios viola o direito internacional. Kyiv também denuncia irregularidades, violência e coerção nos referendos ilegais em Donetsk, Lugansk, Zaporizhia e Kherson promovidos pelo Kremlin

O presidente russo, Vladimir Putin, declarou esta sexta-feira a adesão das províncias ucranianas de Donetsk, Lugansk, Zaporizhia e Kherson ao território da Federação Russa. O processo formal de anexação ficará concluído na próxima terça-feira com a sua aprovação em sessão de urgência na Duma. Este é um passo unilateral e ilegal que vem após a realização entre 23 e 27 de setembro de referendos sem garantias democráticas. As autoridades impostas por Moscou nestas quatro províncias parcialmente ocupadas apresentaram os resultados da votação ao Kremlin na quarta-feira, que mostrou, segundo dados não corroborados por fontes independentes, apoio à anexação entre 87% e 99%.

Contra a Carta da ONU

José Antonio Perea Unceta, escritor e professor de Direito Internacional Público na Universidade Complutense de Madrid, afirma em conversa telefónica que os referendos promovidos pelas forças pró-Rússia são ilegais “porque o soberano é o Governo da Ucrânia e não existe norma que contemple a secessão”. Alfonso Iglesias Velasco, professor de Direito Internacional da Universidade Autônoma de Madri, aponta em uma troca de e-mails que a anexação territorial assinada por Moscou é ilegal porque provém do uso da força e, portanto, viola a Carta das Nações Unidas de 1945 , do qual a Rússia e a Ucrânia, como membros da ONU, são signatários.

Este, no artigo 2º do primeiro capítulo, diz o seguinte : "Todos os membros abster-se-ão nas suas relações internacionais de ameaça ou uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado, ou de qualquer outra forma incompatível com os fins das Nações Unidas”. Donetsk, Luhansk, Zaporizhia e Kherson fazem parte da integridade territorial da Ucrânia.

Para lhe conferir legitimidade interna, Moscovo utilizou nestes quatro casos a mesma fórmula que utilizou para selar a anexação da Crimeia em março de 2014: reconhecimento da independência dos territórios sujeitos a anexação e, posteriormente, consulta sobre a anexação à Rússia Federação.

A comunidade internacional se manifestou desde o início contra o reconhecimento dessas consultas de anexação. Josep Borrell, chefe da diplomacia da União Europeia, declarou na terça-feira que os referendos teriam consequências negativas para seus promotores, um ponto que os Estados Unidos também compartilham. Perea Unceta acredita que países que mantêm relações com a Rússia como Sérvia, China ou Cazaquistão “não têm intenção de apoiar a anexação”. Pelo contrário, o especialista acredita que outros na órbita de Moscou, como Cuba, Síria, Eritreia ou Etiópia, podem fazê-lo.

Sem Censo e Sob Pressão

As Nações Unidas e a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que supervisionam os referendos a nível nacional e regional, são contra a realização de eleições em áreas em contexto de guerra, como a vivida atualmente pelos cidadãos de Donetsk, Lugansk, Zaporizhia e Kherson. “A OSCE tem algumas regras básicas para garantir a legalidade dos referendos, por exemplo, que haja um órgão eleitoral com controle judicial; um debate eleitoral em que a liberdade de expressão é garantida; que os cidadãos possam acessar a imprensa e a televisão para escolher entre sim e não. Coisas que aqui [nessas quatro regiões ocupadas] não existiram”, descreve Perea Unceta.

Outro ponto-chave em qualquer eleição com garantias é o censo eleitoral. Nesse caso, não havia registro censitário - a lista que reúne o número de pessoas com direito a voto e que fica sob o poder dos auditores -, requisito essencial para a realização de uma consulta. A isso se soma que a população votou sob coação, conforme relatado pelo governo ucraniano de Volodímir Zelenski. Kyiv denunciou que os militares foram às casas, locais de trabalho e hospitais para forçar a votação dos cidadãos. Da mesma forma, as autoridades ucranianas lamentaram a presença de pessoas armadas que esperavam com os portadores das urnas.

Alteração Demográfica

Rosa Fernández Egea, médica e professora de Direito Internacional Público da Universidade Autônoma de Madri, explica por telefone que esses plebiscitos, além de ilegais, foram realizados em "espaços ocupados" que sofreram profundas mudanças demográficas desde o início do invasão russa. Fernández Egea destaca que parte da população atual "foi importada pela Rússia" e que muitos dos ucranianos que ali viviam fugiram desde o final de fevereiro. A sua colega Perea Unceta define esta situação como uma “alteração artificial da população”.

Nos sete meses que dura o conflito, uma parte dos cidadãos ucranianos teve que deixar suas casas. Neste momento, mais de sete milhões de pessoas solicitaram asilo fora do país, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) . Além disso, segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), há outros sete milhões de deslocados internos.

Em seu último relatório, datado de 26 de setembro de 2022, a ONU estima o número de civis mortos como resultado do conflito em 5.996 desde o início da ofensiva em fevereiro passado.

José Sanz Sainz, de Madri para o EL PAÍS, em 30.09.22

sábado, 1 de outubro de 2022

Bolsonaro, a destruição como estratégia

Antes de chegar à presidência do Brasil em 2018, o atual presidente foi deputado por 27 anos; sua chegada ao poder não moderou suas explosões, nem seu caráter desconfiado, nem seu olhar maniqueísta sobre o mundo

Sciammarella

O acontecimento que provavelmente marcou a vida de Jair Messias Bolsonaro de forma mais intensa ocorreu em 1970 na pequena cidade onde morava com seus irmãos e seus pais, um dentista sem licença que, para ganhar a vida, aventurou-se como garimpeiro e dona de casa que teve uma gravidez tão ruim que ela quis batizá-lo como Messias porque ele considerava seu nascimento um milagre. O nome dado, Jair, é para um jogador de futebol.

Bolsonaro era um adolescente de 15 anos – e o Brasil uma ditadura – quando um enorme destacamento militar abalou a rotina tediosa de Eldorado, 180 quilômetros ao sul de São Paulo. Um contingente de soldados desembarcou ali em busca de Carlos Lamarca, capitão desertor que se juntou aos insurgentes, e em sua fuga se envolveram em um tiroteio com a polícia na praça. O desembarque de soldados, os bloqueios e buscas impressionaram aquele menino nascido em Glicério (São Paulo). Com o tempo, ingressou relutantemente no Exército, saiu da instituição pela porta dos fundos, teve uma longa e medíocre carreira como deputado e, para surpresa de muitos de seus compatriotas que durante anos o ignoraram ou desprezaram, tornou-se presidente da República . em 2018.

Como primeiro presidente, o extrema-direita - 67 anos e pai de cinco filhos com três esposas - quebrou muitas promessas econômicas, mas promoveu um pagamento aos pobres que chega a mais pessoas e com mais dinheiro do que o antigo programa Bolsa Família , fez a venda de armas e desmantelou a política ambiental do Brasil. Favorito dos eleitores mais conservadores graças à sua firme oposição à expansão do aborto ou direitos LGBT+ e ídolo do Brasil que abomina o “comunismo” e as políticas de igualdade de gênero, ele aspira a conquistar mais um mandato nas eleições de 2 de outubro contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 76 anos.

Perfil de Jair Bolsonaro

Apesar da crise econômica e da gestão desastrosa da pandemia, Bolsonaro manteve o apoio inabalável de um terço do eleitorado durante esses quatro anos.

Há meses, Lula lidera algumas pesquisas cujas previsões o presidente e os bolsonaristas consideram manipuladas e mentirosas. Como se estivessem preparando o terreno para questionar o resultado eleitoral emulando seu admirado Donald Trump nos Estados Unidos. Seria o culminar de uma estratégia de ataques sustentados a instituições como o Supremo Tribunal Federal, seu principal contrapeso durante este mandato, embora também tenha sido acusado de cometer excessos nesse esforço. A erosão da democracia brasileira é evidente.

A jornalista Carol Pires, 36 anos, autora de um fascinante perfil sonoro de Bolsonaro intitulado Retrato Narrado , descobriu durante sua investigação o significado daquele episódio ocorrido há meio século em Eldorado. Para ela, a principal característica da personalidade de Bolsonaro é que "desde jovem foi um homem paranoico, dado a conspirações". Seus colaboradores defenestrados "dizem que passaram de aliados a inimigos em um piscar de olhos com explicações de conspiração". A mudança de ministros tem sido constante. Em plena pandemia, trocou de ministro da Saúde quatro vezes .

“Durante seus 27 anos como deputado federal, Bolsonaro contou essa história (da caça à guerrilha) de diferentes maneiras”, explica Pires, repórter e roteirista. Versão a versão, a participação deles cresceu. Ganhou destaque. Primeiro, que a batida o pegou na escola; então, que ele testemunhou o tiroteio; depois, que se juntou aos soldados na busca... Acrescenta o jornalista que, a partir de então, introduziu teorias da conspiração. Dizia, sem provas, que o guerrilheiro Lamarca estava na área financiada pelo prefeito de Eldorado, pai de Rubens Paiva, deputado desaparecido durante a ditadura. Décadas depois, Bolsonaro introduziu a ex-presidente Dilma Rousseff, que era guerrilheira, na história para implicá-la falsamente no desaparecimento daquela parlamentar. Puro Bolsonaro.

Em 2016, na tumultuada sessão em que os deputados tiveram que votar o impeachment da esquerdista Dilma Rousseff, a extrema-direita dedicou seu voto sim a um repressor que a torturou quando foi detida. O gesto assustou alguns brasileiros, mas para muitos foi mais uma das provocações e desabafos do deputado Bolsonaro. Como as fotos dos ditadores que governaram entre 1964 e 1985 penduradas em seu gabinete no Congresso. Eles ainda estão lá: um deputado bolsonarista os herdou.

Para o presidente Bolsonaro, esta eleição é um duelo entre o bem e o mal. Ele também recorre ao discurso messiânico para explicar sua chegada à presidência, cargo para o qual considera ter sido nomeado por Deus após sobreviver às facadas de um louco que quase o matou na campanha eleitoral anterior. Foi um divisor de águas. Isso desencadeou sua fama e o separou dos debates eleitorais.

Durante esses quatro anos no topo do poder, ele negou aqueles que previam que ele seria moderador no cargo. O presidente Bolsonaro é bastante parecido com o candidato ou deputado Bolsonaro. Sua absoluta falta de empatia com as vítimas do covid lhe custou caro, com comentários como "meu nome é Messias, mas não faço milagres" ou sua resposta de "e o que você me diz, estou não um agente funerário!". Essa insensibilidade e a demora na compra da vacina , com a consequente perda de vidas evitáveis, é um dos motivos mais citados pelos eleitores que apostam nele como a personificação da mudança e agora vão optar por candidatos da chamada terceira via ou mesmo por Lula.

Embora a pandemia tenha representado um desafio de calibre que seus antecessores não tiveram que enfrentar, a verdade é que a gestão do presidente se caracteriza mais pelo desejo de destruir do que pela determinação de construir. “Bolsonaro nunca teve um projeto político, nunca foi deputado com propostas de políticas públicas”, enfatiza o jornalista Pires. “Suas declarações mais conhecidas são invariavelmente agressivas contra mulheres, homossexuais, negros. Sempre focado na aniquilação do diferente. Sua lógica é que quem discorda dele é mau e deve ser destruído. O que você quer colocar em seu lugar? Ele nem mesmo sabe disso", diz. A tudo isso, os admiradores de Bolsonaro chamam de “franqueza”.

O capitão, como é conhecido na família, é o patriarca e líder de um clã político. Ele lidera um grupo compacto formado pelos três filhos mais velhos , estrategicamente colocados em diferentes centros de poder: Flávio, o primogênito, conhecido como 01, é senador; O vereador carioca Carlos, 02, é o cérebro da estratégia nas redes sociais e o deputado Eduardo, 03, o elo com a extrema direita iliberal do resto do mundo, de Trump aos espanhóis do Vox ou à italiana Giorgia Meloni.

Para quem o conhecia – minoria, quem acompanha de perto a política parlamentar – Bolsonaro era aquele deputado irrelevante, motivo de chacota que em três décadas não havia aprovado uma única lei. Lembrada por ter dito na década de 1990 que "o regime militar deveria ter terminado o trabalho matando cerca de 30 mil" ou dizendo a uma deputada de esquerda que ela era "feia demais para ser estuprada".

Bolsonaro soube ver seu momento após a vitória eleitoral de Trump nos Estados Unidos. Ele habilmente capitalizou o cansaço com a corrupção, a violência e o descontentamento com os políticos ao longo da vida, mesmo que ele fosse um deles. E seu filho Carlos, 02 anos, idealizou uma campanha nas redes sociais que foi extremamente eficaz.

O patriarca tirou 10 pontos do candidato do PT no segundo turno porque soube aproveitar a situação, além de forjar alianças com evangélicos, policiais e soldados. Dois em cada três brasileiros e sete em cada dez protestantes votaram nele. No interior do Brasil, seu discurso de priorizar o desenvolvimento econômico extrativista, desconsiderando os danos ao meio ambiente ou às comunidades indígenas, também foi entusiástico. Isso lhe deu o apoio do setor econômico mais próspero, a agroindústria, ao mesmo tempo em que apontava ONGs, povos indígenas, ambientalistas e outros setores como culpados de impedir o desenvolvimento econômico que beneficiaria os habitantes locais.

Quatro anos depois, se as previsões das pesquisas se confirmarem, ele será o primeiro presidente que o Brasil não reelegeu até agora neste século.

Impossível entender Bolsonaro sem ter em mente que ele foi formado na academia militar durante os anos de liderança da ditadura e que deixou a instituição justamente quando o Brasil voltava ao caminho da democracia, em 1988. Ele foi convidado a voltar à vida civil. vida após contar à revista Veja sobre seus planos de plantar uma bomba para protestar contra os baixos salários dos soldados. O autor do perfil sonoro de Bolsonaro sustenta que “ele traz para a política aquela mentalidade de exército golpista”. Sua conclusão, depois de muitos meses imerso nos cantos e recantos da vida do presidente, é que "ele foi um mau soldado, um mau deputado e um mau presidente".

O direitista e seus seguidores insistem que as pesquisas o subestimam novamente como em 2018. Eles sustentam que a mídia e as autoridades eleitorais estão em conluio para expulsá-lo e que Lula vença. A prova, dizem, é que basta dar uma olhada nas multidões que ele reúne em seus eventos —famílias tradicionais, entusiastas de motos e armas— para ter certeza de que a vitória do capitão está ao seu alcance, na primeira volta. A incógnita é o que acontecerá se as autoridades eleitorais certificarem que a maioria dos brasileiros prefere seu oponente.

Naiara Galarraga Gortazar, a autora deste artigo, é  correspondente do EL PAÍS no Brasil. Anteriormente, ela foi vice-chefe da seção Internacional, correspondente de migração e enviada especial. Trabalhou nas redações de Madri, Bilbao e México. Durante uma pausa em sua carreira no jornal, foi correspondente em Jerusalém da Cuatro/CNN+. É licenciada e mestre em Jornalismo (EL PAÍS/UAM). Publicado em 01.09.22.

Lula, uma ressurreição

O primeiro trabalhador a chegar à Presidência do Brasil, tirou milhões da pobreza e passou 20 meses na cadeia acaricia um terceiro mandato aos 76 anos nas eleições de domingo

Uma ilustração de Lula da Silva. (Sciammarella)

Poucas pessoas viajaram tanto pelo mundo e viram tão pouco fora de hotéis, palácios e escritórios como Luiz Inácio Lula da Silva (76 anos, Garanhuns, Pernambuco). Ele já era o ex-presidente do Brasil quando, em viagem oficial à Índia, não reservou um momento fora da agenda oficial, nem mesmo para fazer uma breve escapada e visitar um dos mais belos monumentos do mundo. “Nos últimos anos, Lula não fez nada além de política. Ele não aproveita nenhuma viagem para ver nada. Na Índia, ele nem viu o Taj Mahal. Ficou no hotel a receber políticos”, revela o seu biógrafo e amigo Fernando Morais, que há uma década segue os seus passos, por telefone.

A política é o combustível que alimenta esse homem pragmático e camaleônico que, após sua queda em desgraça, protagoniza a mais inesperada ressurreição política dos últimos tempos. Ele acaricia um terceiro mandato à frente da primeira potência da América Latina, que governou entre 2003 e 2010.

Imaginar o cenário atual soaria delirante há quatro anos, quando o metalúrgico que virou dirigente sindical que fundou o Partido dos Trabalhadores (PT) era praticamente um cadáver político. Preso por corrupção seis meses antes das eleições, não pôde nem votar nas eleições vencidas por um político de extrema direita nostálgico da ditadura, Jair Bolsonaro, 67 anos. Lula já havia conhecido a prisão durante o governo militar.

Agora, quatro anos depois, as pesquisas colocam o pernambucano 12 pontos à frente da extrema-direita antes das eleições de 2 de outubro, nas quais o Congresso, governadores e parlamentos estaduais também são eleitos. Se nenhum candidato obtiver metade mais um dos votos válidos, haverá um segundo turno quatro domingos depois. Os dois favoritos são velhos conhecidos do eleitorado. Para Lula —que significa lula em português— é sua sexta escolha porque, antes de ganhar duas vezes , perdeu três. Ele estava prestes a sair, mas o cubano Fidel Castro o convenceu com o argumento de que não poderia trair a classe trabalhadora.

Perfil de Lula da Silva


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Fidel Castro conversa com Luiz Inácio Lula da Silva durante manifestação em Havana (Cuba), em 27 de novembro de 2000. (Getty Images)

Lula entrou para a história em 2003, quando se tornou o primeiro – e até agora único – trabalhador a presidir este país classista e desigual como poucos. Para uma parte de seus compatriotas, ele é o herói que tirou milhões da pobreza e lhes deu oportunidades inimagináveis ​​para os mais velhos. Para outros, o líder de uma quadrilha de saqueadores de dinheiro público na petroleira Petrobras (embora as condenações por corrupção que levaram a 20 meses de prisão tenham sido anuladas ou arquivadas). Ele sempre proclamou sua inocência e sua confiança na justiça.

Por mais de três décadas, ele tem sido a figura central da política brasileira. Para melhor ou pior, quase tudo gira em torno dele. Dificilmente alguém contesta que ele é um hábil negociador, carismático, empático, astuto e um grande contador de histórias. Na escola já se destacava pela expressão oral e escrita, embora não fosse um bom aluno, segundo seu biógrafo.

O PT é o partido mais sólido do Brasil, mas não é mais a poderosa máquina eleitoral dos melhores anos de Lula. Seu poder territorial vem diminuindo desde o impeachment de Dilma Rousseff em 2016. Ele ou seus aliados governam cinco estados, todos no Brasil mais pobre, e desde os últimos municípios não administram uma única das capitais ; apenas um punhado de municípios totalizando quatro milhões em uma população de 210 milhões. A festa, afinal, é uma formação pessoal. Seu grupo parlamentar, um dos maiores com 56 cadeiras, não conseguiu se firmar como uma oposição poderosa ao bolsonarismo. Esse papel foi assumido por Lula quando foi solto.

Seus discursos incluem referências constantes a Dona Lindu, sua mãe. Aquela mulher analfabeta e severa que conseguiu criar seus sete filhos depois de deixar um marido abusivo se chamava Eurídice Ferreira de Melo. E quando os jornalistas lhe perguntam sobre o teto de gastos, Lula costuma fugir e diz que aprendeu a administrar o dinheiro graças a essa dona de casa em um lar pobre. Embora o poder econômico o temesse como radical, ele era bastante ortodoxo, embora implementasse políticas para uma distribuição de renda um pouco mais justa: com os governos progressistas, a renda média dos brasileiros subiu 38% mais que a inflação, mas a dos mais pobres aumentou muito mais, 84%, segundo o Partido dos Trabalhadores.


Cartaz de Lula da Silva na sede do PT (Partido dos Trabalhadores) em Brasília, em 20 de setembro de 2022. (Gustavo Minas / Getty Images)

Para muitos dos brasileiros mais necessitados, Lula é um deles porque conhece a miséria. Nascido no interior de Pernambuco, terra devastada pela pobreza e pela seca, ele tinha sete anos quando, em 1952, viajou com a mãe e os irmãos em uma van por 13 dias para chegar à pujante São Paulo em um êxodo de nordestinos para o sul. Eles se estabeleceram com a segunda família criada por seu pai, Aristides, um estivador que se esforçava para alimentar todos os seus filhos enquanto os tratava com uma crueldade que beirava o sadismo, conta Morais em Lula, Biografia Volume 1(Planeta em espanhol; Companhia das Letras, em português). A vida era dura, mas havia oportunidades. Lula se aproveitou deles. Ele trabalhou como engraxate e menino de recados antes de entrar em uma escola profissional, seu trampolim para o emprego de torneiro. Nessa tarefa, ele perdeu o dedo mindinho esquerdo. Bolsonaro costuma chamá-lo de “nove dedos” .

Ele gosta de ouvir inúmeras opiniões antes de decidir. Ele lida bem com a ambiguidade e é um político que se move entre pobres, banqueiros ou reis sem parecer um impostor. A sua é "uma personalidade múltipla", sublinha Morais, que também destaca a sua capacidade de não guardar rancor. Nem mesmo seu tempo na prisão azedou seu caráter. "Ele tem mais capacidade de fazer alianças com ex-inimigos do que a maioria das pessoas que conheço", diz ele sobre seu amigo.

Basta olhar para quem ele escolheu como seu companheiro de viagem . Seu candidato à vice-presidência é Geraldo Alckmin, ex-adversário na disputa presidencial de 2006, figura histórica da centro-direita, de 70 anos, que na campanha eleitoral anterior chegou a dizer dele: "Depois de arruinar o país, Lula quer voltar ao poder, ao local do crime”, frase que Bolsonaro usa agora para atacar a dupla.

Lula também é “teimoso”. Ele ainda estava preso quando disse: "Vou sair daqui para disputar a Presidência da República", lembra o jornalista que conversa com ele ainda nesta reta final da campanha.

Quando entrou na prisão em 2018, Lula pensou que seria uma questão de dias, mas foram 20 meses. Tempo suficiente para escrever centenas de cartas à namorada Rosángela Silva, Janja , 55 anos, com quem acabou de se casar . E para ler como nunca antes, com um dicionário de português e um atlas. Essas leituras que “deram consistência aos seus princípios e objetivos”, diz Morais, que acrescenta: “Saiu muito melhor do que entrou”. Ele não tinha medo de fazer perguntas a seus advogados como: "Diga-me uma coisa, que história é essa de política de identidade?" Tampouco digere bem outras questões da modernidade, como o uso de telefones celulares. E o irrita muito que no meio das reuniões os presentes consultem a tela do telefone.

Lula da Silva cumprimenta apoiadores durante comício de campanha no Rio de Janeiro, em 25 de setembro de 2022. (Buda Mendes / Getty Images)

Muito admirado no exterior, Obama disse dele reunido no G20: “Eu amo esse cara. Ele é o político mais popular do mundo!” No ano seguinte deixou o poder com 87% de popularidade, como adora recordar. Depois de percorrer o mundo como ex-presidente, acabou afundado no atoleiro por aquele furacão que foi o escândalo de corrupção da Lava Jato. Amados e odiados, o rancor contra Lula e o PT diminuiu um pouco após sua saída da prisão. Não faltam brasileiros assustados com Bolsonaro que votarão nele apesar de estarem convencidos de que ele não era um político íntegro.

Pai de cinco filhos, a vida lhe deu outros golpes. Sua primeira esposa faleceu junto com o bebê que esperavam. A segunda, Dona Marisa, em plena perseguição judicial. Ele superou o câncer de laringe.

Ele está animado com o calor dos comícios, o contato direto com as pessoas, que a pandemia, e agora a segurança, complicam. Mas ninguém se lembra dele em atividades terrenas como ir ao supermercado, ao cinema, a um restaurante ou ao estádio do Corinthians, time do lendário Sócrates do qual ele é torcedor.

Antes de entrar na prisão, em 2018, ainda jogava alguns jogos de futebol com os amigos (em um conheceu Janja) e alguns sábados organizava um churrasco em sua casa com antigos camaradas dos tempos em que lutavam contra a ditadura pela greve. Nem isso mais. Apenas política. Sempre acompanhado da esposa, ele tem a missão de derrotar Bolsonaro, salvar a democracia e voltar ao poder para "reincluir os pobres no orçamento e que todos os brasileiros comam três refeições por dia". Ele mesmo disse estar ciente da magnitude do desafio nestes tempos, que não são mais os da bonança gerada pelas matérias-primas. "É por isso que faço ginástica todos os dias." Para servir o Brasil. E reescrever sua história.

Naiara Galarraga Gortazar, a autora deste artigo, é  correspondente do EL PAÍS no Brasil. Anteriormente, ela foi vice-chefe da seção Internacional, correspondente de migração e enviada especial. Trabalhou nas redações de Madri, Bilbao e México. Durante uma pausa em sua carreira no jornal, foi correspondente em Jerusalém da Cuatro/CNN+. É licenciada e mestre em Jornalismo (EL PAÍS/UAM). Publicado originalmente em 01.09.22

sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Zelenski pede "adesão rápida" da Ucrânia à OTAN e garante que Kyiv não negociará com Moscou enquanto Putin estiver no comando

 O presidente russo proclama a anexação de Zaporizhia, Kherson, Donetsk e Lugansk: "Esta é a grande missão libertadora do nosso povo" | UE condena manobra da Rússia: "Nunca a reconheceremos"

Stoltenberg sobre o pedido de adesão da Ucrânia à OTAN: "Continuaremos a apoiar o direito da Ucrânia de escolher seu caminho"

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O presidente ucraniano, Volodímir Zelensky, anunciou esta sexta-feira que o país vai pedir uma "adesão rápida" à OTAN depois de anunciar a anexação russa das províncias ucranianas de Zaporizhia, Kherson (ambas no sul do país), Donetsk e Lugansk (leste). "Estamos dando nosso passo decisivo ao assinar o pedido da Ucrânia de adesão acelerada à OTAN", disse Zelensky. Além disso, o presidente ucraniano disse que Kyiv não está disposta a retomar as negociações com Moscou enquanto o presidente russo for Vladimir Putin. O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, também condenou a "tentativa fraudulenta de anexação" e respondeu com novas sanções contra uma centena de funcionários e setores estratégicos (tecnológico e de defesa). Essas reações ocorrem após a cerimônia realizada no Kremlin nesta sexta-feira em que Putin assinou os tratados de anexação. “Esta é a grande missão libertadora de nosso povo”, disse Putin. A incorporação desses territórios à Federação Russa viola a legalidade internacional, uma vez que as consultas foram realizadas em plena guerra, quase sem margem, com parte de sua população exilada e outra mobilizada à força no front para lutar ao lado das tropas russas. A Rússia vetou uma resolução do Conselho de Segurança da ONU contra a anexação. China, Índia e Brasil se abstiveram. dado que as consultas foram realizadas em plena guerra, quase sem margem, com parte da sua população exilada e outra mobilizada à força na frente para combater ao lado das tropas russas. A Rússia vetou uma resolução do Conselho de Segurança da ONU contra a anexação. China, Índia e Brasil se abstiveram. dado que as consultas foram realizadas em plena guerra, quase sem margem, com parte da sua população exilada e outra mobilizada à força na frente para combater ao lado das tropas russas. A Rússia vetou uma resolução do Conselho de Segurança da ONU contra a anexação. China, Índia e Brasil se abstiveram.

Rússia convoca 120.000 recrutas, mas promete não enviá-los para a Ucrânia

A Rússia convocou nesta sexta-feira sua taxa de outono, na qual 120.000 russos são chamados a cumprir seu serviço militar de um ano. Segundo o Ministério da Defesa, a ligação, que é feita duas vezes por ano, "não tem nada a ver" com a invasão russa da Ucrânia, informa a agência pública russa Tass. Todos os russos entre 18 e 27 anos devem prestar serviço militar ou serviço equivalente se forem estudantes do ensino superior. 

As autoridades russas de recrutamento já reconheceram que o draft da primavera, que ocorreu em março imediatamente após a invasão da Ucrânia, foi mais difícil de concluir do que em outros anos. O recrutamento "parcial" de reservistas para lutar na Ucrânia, ordenado pelo presidente Vladimir Putin há uma semana, provocou reações violentas, especialmente em regiões onde mais soldados já estão participando da invasão. Alguns escritórios de recrutamento foram incendiados. (Reuters)

O Ocidente denuncia que a anexação russa dos territórios ucranianos representa a escalada mais grave desde o início da guerra

Por Maria R. Sahuquillo, de Bruxelas. O Ocidente se mobiliza para rejeitar o ataque imperialista do Kremlin. Os últimos movimentos do presidente Vladimir Putin, que abalou o mundo em fevereiro com sua guerra na Ucrânia e agora com a anexação ilegal de quatro províncias de seu vizinho, levantaram o alarme da UE e da OTAN. Jens Stoltenberg, secretário-geral da Aliança Atlântica, sublinhou esta sexta-feira que a campanha de recrutamento, juntamente com as ameaças nucleares e a absorção do território ucraniano, representam a "escalada mais grave da guerra" desde o início do conflito. "Esta é a maior tentativa de anexar território europeu pela força desde a Segunda Guerra Mundial", disse ele em entrevista coletiva em Bruxelas. “Outros 15% do território da Ucrânia [além da anexação da Crimeia], uma área aproximadamente do tamanho de Portugal,

Rússia veta uma declaração de condenação no Conselho de Segurança da ONU contra a anexação das províncias ucranianas

Como esperado, a Rússia usou seu direito de veto no Conselho de Segurança da ONU nesta sexta-feira para rejeitar uma declaração condenando a anexação pela Rússia, horas antes, de quatro províncias ucranianas parcialmente ocupadas pelas forças de segurança: Moscou.

China, Índia e Brasil também se abstiveram na resolução, apresentada pela Albânia e apoiada, entre outros, pelos EUA (Reuters)

Os EUA arrastam os pés sobre a candidatura da Ucrânia à OTAN e prometem mais armas

O conselheiro de segurança nacional Jake Sullivan disse sexta-feira em resposta ao pedido da Ucrânia de aderir à OTAN que "a melhor maneira de apoiar a Ucrânia é com apoio prático no terreno" e prometeu mais ajuda militar "imediata", que será finalizada na próxima semana.

Sullivan salientou que, além disso, os Estados Unidos punirão qualquer entidade ou indivíduo que apoie de alguma forma as tentativas de anexar as províncias ucranianas ocupadas pela Rússia, e que apoie a resolução apresentada ao Conselho de Segurança da ONU denunciando a proclamação desta Sexta-feira do presidente russo Vladimir Putin como um "golpe".

O conselheiro de Segurança Nacional também indicou que os EUA ainda não determinaram a responsabilidade pelas explosões nos gasodutos Nord Stream e apontou que os EUA e seus aliados ocidentais “devem se preocupar” com possíveis ataques russos à infraestrutura. Sullivan também reiterou que, embora os EUA levem "muito a sério" as ameaças de Moscou de usar armas nucleares, "por enquanto" eles não estão vendo uma ação ativa da Rússia nesse sentido. (Reuters)

Zelenski afirma que as forças ucranianas conseguiram resultados "significativos" no leste

O presidente ucraniano, Volodímir Zelenski, afirmou esta sexta-feira que as forças de Kiev conseguiram resultados "significativos" no leste do país, mencionando especificamente a cidade de Lyman, ocupada pelos russos, mas não deu mais detalhes. "Esses passos significam muito para nós", disse ele. 

Zelensky fez essas declarações em um vídeo postado em suas redes sociais. Horas antes, o Ministério da Defesa ucraniano havia informado que suas tropas haviam tomado uma cidade perto de Lyman, na província de Donetsk, na região de Donbas. (Reuters)

Biden a Putin: "Os aliados e os EUA não serão intimidados"

O presidente dos EUA, Joe Biden, dirigiu-se ao seu homólogo russo, Vladimir Putin, após o anúncio da anexação de vários territórios ucranianos. “Os aliados e os EUA não serão intimidados. Você não vai nos intimidar com suas ameaças. As ações de Putin são um sinal claro de que ele está passando por um momento difícil. (...) Não vamos reconhecer essa anexação ilegal. O mundo não a reconhecerá. Você não pode tomar o território de seus vizinhos e deixar que nada aconteça", disse Biden. "Os EUA estão preparados para defender cada centímetro de território com a OTAN." 

Biden também se referiu aos vazamentos nos gasodutos Nord Stream. “Houve um ato deliberado de sabotagem e agora os russos estão alimentando as redes com informações erradas. Mas sabemos perfeitamente o que aconteceu e por isso já começamos a ajudar nossos aliados a defender a infraestrutura crítica. (...) Vamos apurar o que aconteceu”, disse o presidente. 

O que aconteceu nas últimas horas

No 219º dia da guerra iniciada pela Rússia contra a Ucrânia, estes são os principais dados às 20h00 desta sexta-feira, 30 de setembro:

Putin assina a anexação dos territórios ucranianos. O presidente russo, Vladimir Putin, alertou que não há volta atrás na anexação dos territórios ocupados na Ucrânia e exigiu de Kyiv "um cessar-fogo imediato e um retorno à mesa de negociações". Da mesma forma, o presidente enfatizou que "a Rússia não abordará o retorno de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhia nas negociações". O presidente assinou na sala de San Jorge do Grande Palácio do Kremlin os tratados de anexação dos territórios que a Rússia ocupa parcialmente na Ucrânia. Estas são as províncias de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhia, cujas autoridades impostas por Moscou também selaram os documentos.

Ucrânia eleva para 30 os mortos no ataque a Zaporizhia.  O chefe da Polícia Nacional da Ucrânia, Ihor Klimenko, atualizou na tarde desta sexta-feira o número de mortos no ataque russo a civis em Zaporizhia. 30 pessoas morreram e 88 ficaram feridas. Entre os mortos estão dois menores: uma menina de 11 anos e um menino de 14 anos. "O exército russo sabia que sempre havia muita gente aqui. Especialmente de manhã. E eles miraram deliberadamente aqui. Este é um assassinato em massa direcionado", denunciou Klimenko.

A Ucrânia pede uma "adesão rápida" à OTAN. O presidente ucraniano, Volodímir Zelenski, anunciou em sua conta no Telegram que o país solicitará uma "adesão rápida" à OTAN após o anúncio russo de que quatro territórios ucranianos serão anexados após a realização de pseudo-referendos. "Estamos dando nosso passo decisivo ao assinar o pedido de adesão rápida da Ucrânia à OTAN", escreveu Zelensky.

Os EUA aprovam novas sanções. Os Estados Unidos impuseram novas sanções contra a Rússia como punição pela declaração de anexação de áreas ucranianas que somam 15% do território do país invadido. As medidas dos departamentos de Comércio e Tesouro afetam os setores de tecnologia e defesa e centenas de políticos russos.

As cargas produzidas pelos vazamentos nos gasodutos equivalem a "centenas de quilos" de explosivos.  Os governos da Suécia e da Dinamarca entregaram um relatório ao Conselho de Segurança das Nações Unidas no qual afirmam que as explosões que causaram os vazamentos nos gasodutos Nord Stream no Mar Báltico foram equivalentes a "centenas de quilos" de TNT. "A magnitude das explosões foi medida em 2,3 e 2,1, respectivamente, na escala Richter, provavelmente equivalente a uma carga explosiva de centenas de quilos", diz o documento. 

Stoltenberg: "Continuaremos a apoiar o direito da Ucrânia de escolher seu caminho." O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, apareceu em Bruxelas na sexta-feira após o pedido da Ucrânia para se juntar à Otan. “Toda democracia na Europa tem o direito de se candidatar à adesão à OTAN e os aliados mantêm esse direito e nossas portas permanecem abertas. Continuaremos apoiando o direito da Ucrânia de escolher seu caminho para o futuro e para que eles decidam quais opções desejam escolher para sua segurança", disse o secretário-geral.

À imagem de Maksim Blinov, celebração em Moscou da anexação dos territórios ucranianos.

Ucrânia aumenta para 30 o número de mortos em ataque em Zaporizhia

O chefe da Polícia Nacional da Ucrânia, Ihor Klimenko, atualizou na tarde desta sexta-feira o número de mortos no ataque russo a civis em Zaporizhia. 30 pessoas morreram e 88 ficaram feridas. Entre os mortos estão dois menores: uma menina de 11 anos e um menino de 14 anos. "O exército russo sabia que sempre havia muita gente aqui. Especialmente de manhã. E eles miraram deliberadamente aqui. Este é um assassinato em massa direcionado", denunciou Klimenko.

Noruega considera se juntar à Finlândia e fechar a fronteira para turistas russos

As autoridades norueguesas informaram esta sexta-feira que estão a ponderar a possibilidade de se juntar à Finlândia e fechar a sua fronteira a turistas russos no quadro da invasão russa da Ucrânia e pouco depois de o presidente, Vladimir Putin, anunciar a anexação de quatro regiões do leste. do país. "Se necessário, fecharemos rapidamente a fronteira. Essas mudanças podem entrar em vigor o mais rápido possível", alertou o Ministério da Justiça e Segurança Pública em comunicado.

No entanto, o Governo salientou que, em comparação com a Finlândia, “poucas pessoas vêm à Noruega, pelo que a situação é diferente no país”. "Há apenas uma passagem de fronteira com a Rússia, a de Storskog", esclareceu antes de esclarecer que "eles estão em contato com a polícia e funcionários da alfândega para resolver a situação na área de fronteira". Isso foi confirmado pela ministra da Justiça, Emily Enger Mehl, que indicou que a medida ocorre depois que Putin anunciou uma mobilização parcial, o que poderia aumentar o fluxo migratório e a entrada ilegal no país de cidadãos da Rússia. "A mobilização na Rússia e a possibilidade de cidadãos russos serem impedidos de sair aumentam esse risco", disse. indicou antes de anunciar o aumento das verificações e vigilância no distrito de Finnmark, implantando helicópteros com sensores. (EP)

Putin: “Somos mais fortes porque estamos juntos”

O presidente russo, Vladimir Putin, garantiu esta sexta-feira num grande concerto na Praça Vermelha que, com a anexação das quatro regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhia, a Rússia fica “mais forte”. “Somos mais fortes porque estamos juntos. A verdade está do nosso lado. E na verdade é a força. E isso significa que a vitória será nossa”, disse Putin do palco montado na Praça Vermelha para celebrar a anexação.

Putin assegurou que foi a Rússia que criou "a Ucrânia moderna, cedendo a ela grandes territórios, o território histórico da Rússia junto com sua população". “Hoje é um dia especial, festivo e, sem exageros, histórico. Um dia de verdade e justiça”, destacou junto com os líderes das quatro regiões separatistas. O líder russo prometeu que Moscou fará "todo o possível" para apoiar os "irmãos e irmãs" das quatro regiões ucranianas anexadas. “Faremos tudo o que pudermos para garantir a segurança deles. Faremos tudo para restaurar a economia e restaurar a infraestrutura", disse ele diante de dezenas de milhares de pessoas. (Ef)

Israel não reconhece anexação

Por  Antonio Pita  (Jerusalém). Israel - que não entrega armas à Ucrânia nem impõe sanções à Rússia para evitar alienar Moscou - não reconhecerá a anexação das províncias ucranianas de Zaporizhia, Kherson, Donetsk e Lugansk, assinada nesta sexta-feira por Vladimir Putin. “Israel apoia a soberania e a integridade territorial da Ucrânia. Não reconheceremos a anexação das quatro províncias pela Rússia. Israel repetiu essa posição clara muitas vezes, inclusive nos últimos dias", disse o Ministério das Relações Exteriores em comunicado.

Israel enviou apenas material de proteção individual para Kyiv para suas forças, como capacetes ou coletes à prova de balas, em uma política criticada em várias ocasiões pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. A última foi na semana passada, quando disse ao canal de televisão francês TV5Monde que não entendia por que não estava fornecendo mísseis antiaéreos. “Israel não nos forneceu nada. Algum. Zero", enfatizou. “Não culpo os líderes, exponho os fatos: houve debates. Você pode ver a influência da Rússia em Israel. Eu entendo que eles precisam proteger seu país, mas de acordo com meus serviços de inteligência eles continuam exportando armas para outros países.” A menção de "influência russa em Israel" está relacionada ao fato de Moscou permitir o bombardeio israelense de milícias pró-iranianas na Síria.

Os Negócios Estrangeiros também publicou uma nota na qual adverte os cidadãos israelenses que também têm nacionalidade russa e "entram, ficam ou vão ficar em território russo" que "serão sujeitos à lei e regulamentos russos, incluindo o alistamento no exército russo ". Após a queda da URSS, mais de um milhão de falantes de russo imigraram para Israel, embora nem todos tenham vindo da Rússia. Alguns voltaram mais tarde.

Além disso, 20.246 russos emigraram no primeiro semestre para Israel, o que automaticamente concede nacionalidade a quem provar ter pelo menos um avô judeu. As autoridades registraram um aumento de pedidos desde o anúncio da mobilização parcial dos reservistas, no dia 21.

Zelensky responde às anexações russas com um pedido de adesão à OTAN pela via urgente

O presidente da Ucrânia, Volodímir Zelenski, exigiu nesta sexta-feira que seu país se torne parte da OTAN pela via urgente. Fê-lo com os cadáveres ainda quentes de 25 civis mortos num bombardeamento da cidade de Zaporizhia e com a crescente ameaça de Moscovo anunciar a anexação de quatro regiões da Ucrânia. O presidente ucraniano também indicou que, neste momento da guerra, eles não pretendem retomar nenhum tipo de negociação com o Kremlin enquanto o presidente Vladimir Putin continuar liderando o país. Por  Luis de Vega  de Zaporizhia. 

Na imagem distribuída pela Reuters, o presidente ucraniano, Volodímir Zelensky, esta sexta-feira no Conselho Nacional de Defesa e Segurança

Stoltenberg sobre o pedido de adesão da Ucrânia à OTAN: "Continuaremos a apoiar o direito da Ucrânia de escolher seu caminho"

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, apareceu em Bruxelas na sexta-feira após o pedido da Ucrânia para se juntar à Otan. “Toda democracia na Europa tem o direito de se candidatar à adesão à OTAN e os aliados mantêm esse direito e nossas portas permanecem abertas. Continuaremos a apoiar o direito da Ucrânia de escolher seu caminho para o futuro e de decidir quais opções desejam escolher para sua segurança. A possibilidade de sua adesão à OTAN é algo que deve ser decidido em consenso com todos os membros da OTAN. No momento, estamos focados em oferecer ajuda à Ucrânia para ajudar na defesa contra a brutal ameaça russa. Essa é a nossa abordagem fundamental agora”, disse o secretário-geral. 

Stoltenberg também condenou a anexação ilegal dos territórios ucranianos. “Essas anexações ilegais não mudam em nada a natureza da guerra que estamos enfrentando”, declarou. “Se a Rússia parar a luta, teremos paz. Se a Ucrânia parar de lutar, deixará de existir como país soberano e independente na Europa. A NATO reafirma o seu compromisso e apoio sem qualquer ambiguidade porque vamos apoiar a integridade territorial e a soberania da Ucrânia enquanto continua a defender o seu território contra a agressão russa”, insistiu. 

Os EUA aprovam novas sanções a funcionários e setores estratégicos da Rússia após o anúncio da anexação

Por Macarena Vidal Liy (Washington). Os Estados Unidos impuseram novas sanções contra a Rússia como punição pela declaração de anexação de áreas ucranianas que somam 15% do território do país invadido. As medidas dos departamentos de Comércio e Tesouro afetam os setores de tecnologia e defesa e centenas de políticos russos.

"Não vamos ficar de mãos dadas enquanto (o presidente russo Vladimir) Putin tenta fraudulentamente anexar partes da Ucrânia", disse a secretária do Tesouro, Janet Yellen, em um comunicado. Os Estados rejeitam inequivocamente a tentativa fraudulenta da Rússia de modificar as fronteiras internacionalmente reconhecidas da Ucrânia, incluindo a realização de referendos ilegítimos".

Especificamente, o Tesouro impôs sanções contra 14 representantes do complexo militar-industrial russo, dois altos membros do Banco Central, parentes de altos funcionários e 278 membros da legislatura russa. Os indivíduos afetados incluem o vice-primeiro-ministro Alexander Novak e a governadora do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiúllina.

Além disso, o Departamento do Tesouro alertou para o risco de sanções para empresas e indivíduos fora da Rússia que possam fornecer assistência política ou econômica a Moscou. Entre as empresas punidas nesta sexta-feira está a chinesa Sinno Electronics, que Washington acusa de auxiliar a empresa Radioavtomatika Defense.

O Departamento de Comércio incluiu 57 outras entidades na Rússia e na península da Crimeia em sua lista de restrições à exportação. E o Departamento de Estado impôs restrições de visto a 910 indivíduos, incluindo membros das forças armadas russas e comandantes militares bielorrussos. "Vamos manter os esforços americanos fortes e coordenados para responsabilizar a Rússia, isolar os militares russos do comércio global e limitar severamente sua capacidade de sustentar a agressão e projetar poder", disse Blinken.

Kuleba: "Nada muda para a Ucrânia: continuamos a libertar nossa terra e nosso povo"

Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba. Ele assegurou esta sexta-feira em sua conta no Twitter que a anexação dos territórios ucranianos encenada pela Rússia nesta sexta-feira "não muda nada" e que o exército continuará trabalhando para restaurar a "integridade territorial". "Nada muda para a Ucrânia: continuamos a libertar nossa terra e nosso povo, restaurando nossa integridade territorial", escreveu Kuleba. “Ao tentar anexar as regiões de Donetsk, Luhansk, Zaporizhia e Kherson da Ucrânia, Putin está tentando tomar territórios que ele nem mesmo controla fisicamente no terreno”, acrescentou.

Biden condena "tentativa fraudulenta de anexação" de Moscou

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, condenou veementemente a "tentativa de anexação fraudulenta" realizada esta sexta-feira pela Rússia das regiões ucranianas de Donetsk, Lugansk, Kherson e Zaporizhia, um gesto de "desprezo" pela paz a que Washington respondeu com novas sanções contra a Governadora do Banco Central da Rússia, Elvira Nabiullina, e membros das duas câmaras do Legislativo do país, entre outros.

"Que ninguém se engane", disse Biden. "Essas ações não têm legitimidade e os Estados Unidos sempre honrarão as fronteiras ucranianas reconhecidas pela comunidade internacional", acrescentou no comunicado divulgado esta tarde pela Casa Branca. Com esta "tentativa de anexação", Biden proclama que a Rússia "viola o direito internacional, atropela a Carta das Nações Unidas e mostra seu desprezo pelas nações pacíficas em todo o mundo".

Assim, e “em resposta às falsas declarações de anexação”, Biden anunciou novas sanções que congelam os bens no exterior, tanto da presidente do Banco Central, como de sua vice, bem como de 169 membros do Conselho da Federação Russa, o equivalente ao Senado, e mais uma centena da Câmara Baixa, a Duma. "Desde que se tornou governador do Banco Central em 2013, Nabiullina supervisionou os esforços para proteger o Kremlin das sanções ocidentais impostas em resposta à ocupação russa da Crimeia na Ucrânia em 2014 e à invasão da Ucrânia em 2022", segundo um relatório. Departamento do Tesouro. declaração que também sanciona a 'número dois' do banco, Olga Skorobogatova, responsável pela supervisão do Sistema Nacional de Pagamentos Mir da Rússia.

As sanções também punem parentes de altos funcionários russos já penalizados pelos Estados Unidos, como a esposa e duas filhas adultas do ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, ou a esposa e dois filhos mais velhos do primeiro-ministro do país, Mikhail Mishustin. “Vamos mobilizar a comunidade internacional para denunciar esses movimentos e responsabilizar a Rússia por eles”, assegurou Biden antes de garantir que seu país “continuará fornecendo à Ucrânia os equipamentos necessários para se defender, sem se intimidar com os descarados esforço da Rússia para redesenhar as fronteiras de seu vizinho." "Peço a todos os membros da comunidade internacional que rejeitem as tentativas de anexação ilegal da Rússia e apoiem o povo da Ucrânia pelo tempo que for necessário", conclui o comunicado.

Zelensky anuncia que enviará um pedido de "adesão rápida" da Ucrânia à OTAN 

O presidente ucraniano, Volodímir Zelenski, anunciou em sua conta no Telegram que o país solicitará uma "adesão rápida" à OTAN após o anúncio russo de que quatro territórios ucranianos serão anexados após a realização de pseudo-referendos. "Estamos dando nosso passo decisivo ao assinar o pedido de adesão rápida da Ucrânia à OTAN", escreveu Zelensky.

Além disso, o presidente ucraniano garantiu que Kyiv está disposto a retomar as negociações com Moscou, que estão paralisadas há meses, mas que não negociará com o presidente russo, Vladimir Putin. "A Ucrânia está pronta para negociações, mas com um presidente russo diferente", disse Zelensky. 

A UE condena a anexação ilegal dos territórios ocupados ucranianos pela Rússia: "Nunca a reconheceremos" 

Os membros do Conselho Europeu divulgaram uma declaração após o anúncio do presidente russo Vladimir Putin sobre a anexação de quatro territórios ucranianos (Donetsk, Luhansk, Zaporizhia e Kherson). "Rejeitamos firmemente e condenamos inequivocamente a anexação ilegal pela Rússia", apontam no texto, no qual acusam Putin de "minar deliberadamente" a ordem internacional e violar "descaradamente" os direitos fundamentais da Ucrânia "à independência, soberania e integridade territorial". ".

"A Rússia está colocando em risco a segurança mundial. Nós não reconhecemos e nunca reconheceremos os referendos ilegais que a Rússia desenhou como pretexto para esta nova violação da independência, soberania e integridade territorial da Ucrânia, nem seus resultados falsificados e ilegais. Nunca reconheceremos essa anexação. ilegal. Estas decisões são nulas e sem efeito e não podem produzir qualquer efeito jurídico."

"Pedimos a todos os Estados e organizações internacionais que rejeitem inequivocamente esta anexação ilegal. Diante da guerra de agressão da Rússia e da última escalada de Moscou, a União Europeia está com a Ucrânia e seu povo. soberania da Ucrânia", eles continuam. "A Ucrânia está exercendo seu direito legítimo de se defender da agressão russa para recuperar o controle total de seu território e tem o direito de libertar os territórios ocupados dentro de suas fronteiras internacionalmente reconhecidas".

"As ameaças nucleares feitas pelo Kremlin, a mobilização militar e a estratégia de tentar apresentar falsamente o território da Ucrânia como russo e fingir que a guerra pode estar ocorrendo agora em território russo não enfraquecerá nossa determinação. medidas contra as ações ilegais da Rússia", apontam os membros do Conselho Europeu, que prometem continuar oferecendo à Ucrânia seu apoio econômico, militar, social e financeiro "pelo tempo que for necessário". (O PAÍS)

Von der Leyen: “A anexação ilegal de Putin não mudará nada. São territórios ucranianos."

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, falou apenas alguns minutos depois que o presidente russo, Vladimir Putin, proclamou oficialmente a anexação dos quatro territórios ucranianos. Von der Leyen enfatizou que esta anexação é ilegal e que a proclamação "não mudará nada". "A anexação ilegal proclamada pelo [presidente russo Vladimir] Putin não mudará nada", disse a presidente em sua conta no Twitter. "Todos os territórios ocupados ilegalmente pelos invasores russos são terras ucranianas e sempre farão parte desta nação soberana", concluiu.

Dinamarca e Suécia revelam que cargas equivalentes a "centenas de quilos" de explosivos causaram vazamentos em gasodutos

Os governos da Suécia e da Dinamarca entregaram um relatório ao Conselho de Segurança das Nações Unidas no qual afirmam que as explosões que causaram os vazamentos nos gasodutos Nord Stream no Mar Báltico foram equivalentes a "centenas de quilos" de TNT. "A magnitude das explosões foi medida em 2,3 e 2,1, respectivamente, na escala Richter, provavelmente equivalente a uma carga explosiva de centenas de quilos", diz o documento. 

"Todas as informações disponíveis indicam que essas explosões são consequência de um ato deliberado", dizem Suécia e Dinamarca em carta endereçada ao secretário-geral da ONU, sem apontar um possível responsável. A fonte e o autor do boicote permanecem um mistério, Washington e Moscou negam responsabilidade. Os vazamentos foram descobertos na segunda-feira em águas internacionais a leste da ilha dinamarquesa de Bornholm. Dois dos vazamentos estão localizados em águas suecas e os outros dois em águas dinamarquesas. (AFP)

ALEXANDER NEMENOV (AFP) para o EL PAÍS, em 30.09.22