segunda-feira, 28 de março de 2022

O Brasil na nova ordem mundial

A democracia liberal e a globalização econômica enfrentam a sua maior prova desde o fim da guerra fria.Mas o destino do Brasil está nas mãos dos brasileiros

A guerra na Ucrânia é o evento geopolítico mais importante desde a queda do Muro de Berlim. A disseminação do liberalismo por meio da retroalimentação entre a democracia e a economia de mercado está ameaçada: em 30 anos, o mundo nunca esteve tão distante do Fim da História, na fórmula otimista de Francis Fukuyama, e tão próximo do Choque de Civilizações, na visão pessimista de Samuel Huntington. Como disse ao Estadão o economista Martin Wolf: “Começamos a nos mover para uma era de conflitos geopolíticos entre democracias e autocracias”. A questão é quão longos, amplos e profundos eles serão.

No pior cenário, o mundo será rachado em dois blocos, o democrático, liderado por EUA e Europa, e o autocrático, liderado por China e Rússia. A desconfiança, não só entre esses blocos, mas em seu interior, pode intensificar o populismo e a corrida nacionalista, balcanizando a economia global. As hostilidades podem escalar para uma 3.ª guerra mundial e, no limite, uma hecatombe nuclear: não o “Fim da História”, mas algo muito próximo do fim do mundo.

Por outro lado, os blocos podem se equilibrar. Sem abrir mão de seus regimes políticos, ambos poderiam combinar segurança e abertura econômica, e cooperar em objetivos como a paz mundial e o combate à crise climática ou à fome. No melhor cenário, a crise pode dar um novo senso de propósito à democracia, a ordem liberal pode ser revigorada no Ocidente e, gradualmente, as forças liberais nas potências autocráticas podem desencadear a erosão do totalitarismo.

O certo é que o liberalismo político e econômico terá de provar resiliência.

Há mais de uma década a democracia está em recessão e a autocracia em ascensão. China e Rússia expandem seu aparato de controle e se mostram mais desabridas em suas ambições imperialistas, enquanto as democracias no Ocidente têm sido vulneradas por aventuras populistas e autoritárias. A globalização sofreu golpes severos: a crise de 2008, as guerras comerciais de Donald Trump, a pandemia e, agora, a guerra.

A alta nos preços de energia e alimentos conduz a uma estagflação – mais ou menos prolongada, conforme o desfecho da guerra. “Acho que haverá uma ‘desglobalização’ entre os países ocidentais e Rússia e a China”, argumentou Wolf. “Os outros países terão de decidir como vão manter relações comerciais.”

A economia brasileira será relativamente pouco afetada. Nem EUA nem China vão querer interferir diretamente no País. A indústria do Brasil talvez siga pouco dinâmica e integrada, mas as suas commodities são importantes para ambos os lados. A exportação de alimentos é vital para o mundo e deve ser, na medida do possível, preservada.

Entre os desafios econômicos estão a estabilidade monetária e financeira e o controle da inflação e da dívida das empresas em dólar. “O País tem ido bem nessa área, mas não sei quanto isso vai durar com o populismo”, advertiu Wolf. “O Brasil precisa de uma liderança melhor.” A crise intensificou a importância das eleições. “Gostaria de ver um líder jovem, com as ideias certas, competente, que diz a verdade aos brasileiros e tenta uni-los para usar o imenso potencial que o Brasil tem.”

Como disse o analista geopolítico Gideon Rachman, para a crise na Ucrânia há três opções: “Uma guerra prolongada; um compromisso de paz; ou um golpe na Rússia. Conte com o primeiro, trabalhe pelo segundo e tenha esperança no terceiro”. Em relação à ordem mundial, pode-se dizer algo análogo: conte com o acirramento entre o bloco democrático e o autoritário, trabalhe por um compromisso entre eles e tenha esperança no reflorescimento das liberdades. Em todo caso, o Brasil tem grandes responsabilidades a assumir e muito trabalho à frente.

Como disse Wolf, “minha visão sempre foi a de que 90% do que determina o sucesso do Brasil são as decisões feitas pelos brasileiros: a qualidade de seus líderes”. Dada a tradição diplomática do Brasil e sua posição na ordem geopolítica e econômica, esse diagnóstico é tão realista quanto alvissareiro. Mas, dada a qualidade dos líderes de intenção de voto, o prognóstico é extremamente desafiador.

Editorial / Notas & Informações, O Estado de S.Paulo, em 28.03.22

Parlamentar brasileiro custa R$ 23,8 milhões ao País por ano

Brasil tem o segundo Congresso mais caro do mundo, atrás apenas dos EUA; maior parte do orçamento vai para salários e benefícios do Legislativo

     Congresso Nacional: folha de pagamento cara e extensa.  Foto: Dida Sampaio/Estadão - 23/7/2021

O Brasil tem o segundo Congresso mais caro do mundo, em números absolutos. Só o parlamento dos Estados Unidos – a maior economia do mundo – possui orçamento superior. É como se cada um dos 513 deputados e 81 senadores brasileiros custasse pouco mais de US$ 5 milhões por ano, o equivalente a R$ 23,8 milhões na cotação da última sexta-feira. Os dados, aos quais o Estadão teve acesso, são a conclusão de um estudo de pesquisadores das universidades de Iowa e do Sul da Califórnia e da UnB.

Numa relação com a renda média dos cidadãos, o Poder Legislativo no Brasil é o primeiro em despesas. O gasto com cada congressista corresponde a 528 vezes a renda média dos brasileiros. O segundo lugar é da Argentina. Lá, cada congressista custa o equivalente a 228 vezes a renda média local. Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores compararam o orçamento dos parlamentos e congressos de 33 países, compilados pela União Parlamentar Internacional (IPU, na sigla em inglês); o Banco Mundial e o escritório do FED (o Banco Central dos EUA) em St. Louis (no Estado do Missouri).

Em 2020, o orçamento da Câmara e do Senado brasileiros somaram US$ 2,98 bilhões – ou 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Nos Estados Unidos, o valor total chegou a US$ 4,73 bilhões, o que representa apenas 0,02% de tudo que o país produziu naquele ano. O terceiro lugar em gastos totais ficou com o Japão (US$ 1,12 bilhão, ou 0,02% do PIB), seguido pela Argentina (US$ 1,1 bilhão).

“Tem uma frase do professor Barry Ames, no livro The Deadlock of Democracy in Brazil (O impasse da democracia no Brasil), segundo a qual a tragédia do sistema político brasileiro não é que ele beneficie as elites, e sim que ele beneficia a si próprio”, diz o pesquisador Luciano de Castro, que é professor associado na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. “Você tem uma situação em que o sistema político trabalha, em grande parte, para se beneficiar”, ressaltou. Além de Castro, o artigo é assinado por Odilon Câmara (Universidade do Sul da Califórnia) e Sebastião Oliveira, da Universidade de Brasília (UnB).

Câmara

Em 2022, os gastos do Legislativo brasileiro continuarão elevados. Juntos, Câmara, Senado e Tribunal de Contas da União têm R$ 14,5 bilhões de orçamento autorizado. O maior limite de gastos é o da Câmara (R$ 6,95 bilhões), seguido pelo Senado (R$ 5,1 bilhões) e o Tribunal de Contas (R$ 2,4 bilhões) – apesar do nome, este último não é parte do Poder Judiciário, e sim um órgão de assessoria do Legislativo. O valor corresponde a pouco mais de US$ 3 bilhões, na cotação de sexta-feira.

O orçamento à disposição do Legislativo este ano é maior que o de quatro ministérios somados: Comunicações (R$ 4,2 bilhões); Meio Ambiente (R$ 3,6 bilhões); Turismo (R$ 3,5 bilhões) e Mulher, Família e Direitos Humanos (R$ 947 milhões). Também é maior que o montante disponível para o Ministério Público da União (MPU), de cerca de R$ 8 bilhões.

A maior parte do orçamento do Legislativo irá para o pagamento dos salários e benefícios de congressistas e servidores: R$ 6,43 bilhões. Só para a assistência médica e odontológica são R$ 495 milhões. O segundo maior gasto é com aposentadorias e pensões, totalizando R$ 5,5 bilhões. Além disso, Câmara e Senado dispõem de quatro superquadras residenciais inteiras em Brasília para os apartamentos funcionais: em 2022, há R$ 21 milhões reservados para a manutenção desses imóveis. Se o congressista decidir não morar num desses imóveis, pode requisitar o auxílio-moradia: são R$ 10,5 milhões reservados a esta finalidade neste ano.

Além de custar caro, a folha de pagamento do Legislativo federal é extensa, somando mais de 20 mil pessoas. Dos três órgãos, a Câmara é de longe o que possui a maior força de trabalho. Atualmente são 14.778 servidores comissionados, efetivos (concursados) e estagiários, sendo o maior grupo o dos assessores dos gabinetes (10.821), os chamados secretários parlamentares. No Senado há outros 6.132 servidores, sendo a maioria (4.121) de comissionados. Já o TCU conta com outras 831 pessoas na força de trabalho.

'Dinheiro'

Ao Estadão, o analista político e professor da Fundação Dom Cabral Bruno Carazza disse acreditar que a origem das distorções mostradas no estudo é o fato de o Legislativo brasileiro ter a última palavra na definição do Orçamento Público – e o fato de que este poder não é sujeito a controle externo. “Os próprios parlamentares definem o Orçamento do Legislativo e também os montantes do fundo eleitoral e partidário. E como não há nenhum outro Poder para fazer o contrapeso, o que a gente observa é que esses valores estão crescendo ano após ano. Isto torna a política cada vez mais atraente: há mais dinheiro no sistema político-partidário e com controles cada vez mais frouxos”, disse.

Atualmente envolvida num estudo no Capitólio, em Washington, sobre o funcionamento do legislativo americano, a doutora em ciência política pela Syracuse University, de Nova York, Beatriz Rey avalia que seria preciso qualificar a forma como cada Congresso gasta para evitar comparações indevidas. “Como se trata de um ranking de estatística descritiva, há fatores que podem impactar esse montante de gastos nos Legislativos e que os autores não estão levando em consideração. Por exemplo: o processo orçamentário em cada um desses países é muito diferente.”

A assessoria da Câmara disse que não comenta pesquisas científicas. O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o primeiro-secretário da Câmara, o deputado Luciano Bivar (União-PE), foram procurados, mas não se pronunciaram.

Prerrogativas às quais os deputados têm direito

Cota parlamentar

Cada deputado federal tem direito a uma quantia para gastar ao longo do mês com despesas como alimentação, passagens aéreas, aluguel de veículos e divulgação do mandato (como impressão de materiais gráficos e envio de mala direta para eleitores).

Montante

O valor varia conforme o Estado – quem é de locais mais distantes recebe mais. O menor montante é o do Distrito Federal (R$ 30,7 mil) e o maior, o de Roraima (R$ 45,6 mil). O saldo não utilizado em um mês pode ser aproveitado no seguinte, mas não de um ano para o outro.

Assessores

Cada deputado dispõe de R$ 111,6 mil para contratar assessores. O número desses auxiliares pode variar de 5 a 25 profissionais, e os salários vão de R$ 1.025 a R$ 15,6 mil. A jornada é de 40 horas semanais, e os assessores podem trabalhar tanto nos gabinetes em Brasília quanto nos Estados.

Reembolso de saúde

Deputados e assessores dispõem do Departamento Médico da Câmara para atendimentos básicos nas dependências da Casa. Os deputados também podem pedir reembolsos por procedimentos médicos no valor de até R$ 135,4 mil.

Salário e aposentadoria

O salário de um deputado é de R$ 33,7 mil. Em novembro de 2019, a emenda constitucional da reforma da Previdência acabou com a aposentadoria especial para os novos deputados federais, e alterou regras para quem já está inscrito no Plano de Seguridade Social dos Congressistas (PSSC). No PSSC, a contribuição dos deputados é de R$ 5,5 mil, e a Câmara contribui com o mesmo valor.

Auxílio-moradia e imóveis funcionais

A Câmara possui 432 apartamentos funcionais distribuídos em quatro quadras residenciais de Brasília (duas na Asa Sul e duas na Asa Norte). Quem opta por não morar no apartamento funcional recebe o auxílio-moradia, no valor de R$ 4.253. Este montante pode ser pago como reembolso, mediante apresentação de um recibo; ou em espécie.

André Shalders, O Estado de S.Paulo, em  27.03.22.


Preço da gasolina: o que pode mudar após queda do dólar, segundo economistas

Com a queda de 15% do dólar em relação ao real desde o início do ano, o consumidor brasileiro se pergunta: e a gasolina, vai agora ficar mais barata? A inflação vai perder força?

Brasil tem atualmente a segunda gasolina mais cara entre países sul-americanos, mas uma queda de preços nesse momento é improvável, dizem economistas (AFP)

A BBC News Brasil perguntou a economistas e, segundo eles, os preços praticados pela Petrobras nas refinarias ainda estão defasados em relação ao mercado internacional, mesmo com a queda de preços do barril de petróleo e a valorização recente do real em relação ao dólar.

Assim, uma redução de preços pela empresa é improvável neste momento, dizem os especialistas.

Por que o dólar está caindo tanto mesmo com guerra e crise econômica

Mas os analistas também não acreditam em nova alta para corrigir a defasagem atual — estimada entre 5% e 10%, ante quase 40% no início de março, quando o petróleo chegou próximo a US$ 140 e o dólar ainda era negociado acima de R$ 5.

Quanto aos efeitos na inflação em geral, há quem defenda que seria necessário um dólar em queda por período mais longo para que a mudança do câmbio tenha efeitos em itens como alimentos e bens industriais.

E mesmo quem acredita que a queda já dura tempo relevante admite que, quando o dólar sobe, os repasses são sempre mais rápidos do que quando ele cai.

"Existe uma resistência maior dos empresários em dar descontos", observa Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter.

Entenda o atual cenário para o preços dos combustíveis, o que leva Brasil a ter gasolina mais cara do que seus vizinhos da América do Sul e o que esperar da inflação em geral, diante do atual cenário de queda do dólar.

Gasolina pode ficar mais barata com queda do dólar?

Os especialistas aqui são unânimes: neste momento, isso é improvável.

Étore Sanchez, economista-chefe da gestora de recursos Ativa Investimentos, lembra que, em primeiro lugar, é preciso diferenciar preços da Petrobras e preços dos combustíveis na bomba.

A Petrobras controla os preços nas refinarias, o começo da cadeia da gasolina que chega aos postos. A gasolina vendida nas refinarias é de tipo A e não possui etanol. Já a gasolina que se compra nos postos é de tipo C, com a adição de etanol feita pelas distribuidoras.

Segundo estimativa da Petrobras, o peso da gasolina comercializada pela empresa no preço final do produto vendido ao consumidor é de cerca de 38%, com o restante do preço formado pelo custo do etanol adicionado, impostos e a margem de distribuição e revenda.

Segundo a Petrobras, peso da gasolina comercializada pela empresa no preço final ao consumidor é de cerca de 38% (Divulgação Petrobrás)

"A asolina A não tem ainda um potencial de queda, ainda vemos uma defasagem com relação ao preço internacional, mesmo com o câmbio cotado abaixo de R$ 4,80", diz Sanchez.

Segundo o economista, a defasagem está atualmente em cerca de 7%, comparado a quase 40% no pior momento desse ano, quando o barril de petróleo do tipo brent bateu em R$ 139, maior valor em 14 anos.

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No cálculo da defasagem, os economistas comparam os preços da Petrobras com o valor da gasolina no Golfo Pérsico, região onde é produzido o maior volume de petróleo do mundo, fazendo a conversão cambial entre os dois valores.

A Petrobras adotou o chamado PPI (Preço de Paridade de Importação) em 2016, após anos praticando preços controlados, sobretudo no governo de Dilma Rousseff (PT). O controle de preços era uma forma de mitigar a inflação, mas causou grandes prejuízos à petroleira.

"Vemos uma defasagem entre 5% e 10%, tanto no diesel, como na gasolina na média da última semana. É uma defasagem relativamente baixa e que a Petrobras deve carregar ainda por um tempo, para observar a tendência das duas variáveis [petróleo e câmbio]", diz Rafaela Vitória, do Inter.

"O cenário mais provável hoje é de uma estabilidade dos preços. Parando de subir, a inflação tende a perder força, mas uma queda dos preços da gasolina na bomba, com o petróleo ainda próximo dos US$ 110, é difícil", afirma a analista.

Quanto ao pacote de medidas aprovadas em março no Congresso para tentar frear a alta dos combustíveis, as leis que criam um fundo para estabilização de preços e auxílios para categorias como motoristas de aplicativo, taxistas e entregadores foram aprovadas no Senado, mas ainda precisam passar pela Câmara.

Já a mudança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre combustíveis, aprovada nas duas casas, ainda está travada na etapa da regulamentação pelos Estados, que devem perder bilhões em arrecadação com a medida.

Por que gasolina é mais cara no Brasil do que nos vizinhos?

Segundo os especialistas, são dois os motivos principais: a política de preços de cada país e a carga de impostos.

Países que têm gasolina muito mais barata do que a do Brasil, como Venezuela e Argentina, praticam intervenções estatais nos preços, como subsídios pesados no caso venezuelano e congelamento de valores, no caso argentino.

Conforme o levantamento mais recente do projeto Global Petrol Prices, feito em 21 de março, o Brasil tem atualmente a segunda gasolina mais cara entre as principais economias sul-americanas, atrás apenas do Uruguai.

Preços da gasolina na América do Sul. Em US$ por litro*.  *Em 21 de março de 2022.

"Cada país tem uma política de preço diferente e uma tributação diferente", diz Pedro Rodrigues, sócio da consultoria CBIE Avisory e diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura).

"Na Venezuela, por exemplo, a PDVSA (petroleira estatal venezuelana) praticamente dá a gasolina para as pessoas de graça. Há um subsídio muito grande da estatal ao combustível, ao ponto que o litro da gasolina na Venezuela custa mais barato que um litro de água", observa

"Já a Argentina congelou preços para controlar a inflação, impedindo os agentes do setor de reajustar valores", acrescenta.

Segundo Rodrigues, no entanto, esse tipo de política é problemática. "Cria artificialidades, leva a desabastecimento e gera incentivos econômicos errados", afirma.

Rodrigues observa que a tributação reflete diferentes entendimentos das sociedade sobre o uso de combustíveis.

Nos Estados Unidos, por exemplo, a taxação de combustíveis é baixa, por ser um país cuja economia é muito centrada no automóvel, que definiu até mesmo o modelo de urbanização das cidades. Já o Reino Unido tributa pesadamente os combustíveis fósseis, a partir de um entendimento de que seu uso precisa ser desincentivado, priorizando o transporte público.

"Política tributária não tem pior ou melhor, é uma questão de escolha da sociedade", diz Rodrigues.

Segundo ele, no Brasil, uma reforma tributária poderia, por exemplo, reduzir a tributação do diesel, gás de cozinha e energia elétrica, já que são bens essenciais.

Brasil tem atualmente a segunda gasolina mais cara entre países sul-americanos (Marcello Casal Jr. Ag, Brasil)

E a inflação, pode melhorar com a queda do dólar?

Aqui, os economistas têm visões diferentes, mas acabam todos admitindo que o efeito para a inflação deve ser pouco.

"No curtíssimo prazo, o câmbio bate na inflação através dos combustíveis, devido à política de paridade de preços", explica Sanchez, da Ativa Investimentos. "Como não estamos vendo potencial para reajuste baixista [da gasolina], mesmo com o alívio do câmbio, por essa via não deve haver impacto."

Já para as cadeias onde o câmbio tem influência por caminhos mais longos — como a importação de componentes que entram em produtos industriais e as commodities agrícolas usadas na ração animal —, seria necessário um real valorizado por mais tempo para que houvesse impacto favorável, avalia o economista.

Sanchez estima que o dólar deve chegar ao fim de 2022 cotado a R$ 5,40, pois, na avaliação dele, o nível atual, abaixo de R$ 5,80, não é compatível com os "fundamentos" da economia brasileira, como a frágil situação das contas públicas do governo federal.

Já Rafaela Vitória, do Banco Inter, projeta um dólar a R$ 5 no fim do ano e acredita que o câmbio já está em baixa a tempo suficiente para ter um efeito positivo na economia, posto que ele fechou 2021 cotado a quase R$ 5,60 e acumula três meses de queda, chegando a R$ 4,75 na sexta-feira (25/3).

"Podemos falar num impacto positivo sim, é uma queda já de três meses", afirma.

"Mas vale lembrar que, quando o dólar sobe, os repasses são mais rápido do que quando o dólar cai. Para baixo, existe uma resistência maior. Historicamente, mesmo em períodos de valorizações mais significativas e duradouras [do real em relação ao dólar] o impacto é menor do que quando acontece uma depreciação do câmbio", acrescenta a economista.

"É doloroso subir preços, mas uma vez que subiu, dar descontos é ainda mais difícil."

Thais Carrança, da BBC News Brasil em São Paulo, em 28.03.22

sexta-feira, 25 de março de 2022

Rússia reduz seus objetivos militares e anuncia que se concentrará na região de Donbas

Depois que sua ofensiva atolou, o Estado-Maior Geral garante que seu principal objetivo é aquela área do leste da Ucrânia, embora não exclua agredir suas cidades

Militares russos, em Armiansk, na parte norte da Crimeia, na quinta-feira. (KONSTANTIN MIHALCHEVSKIY (EUROPA PRESS)

Vladimir Putin ordenou em 24 de fevereiro a invasão da Ucrânia em três frentes "para desmilitarizar e desnazificar" o país. Um mês depois, seu exército dá uma guinada com consequências imprevisíveis e garante que o objetivo principal é algo muito mais tangível para um possível futuro acordo de paz: tomar apenas a região de Donbas, que os separatistas já controlavam em parte desde 2014. “A As Se os grupos individuais concluírem com sucesso as tarefas atribuídas, nossas forças e meios se concentrarão no principal: a libertação completa de Donbas", disse o primeiro vice-chefe do Estado-Maior Geral, general Sergei Rudskoi, em um briefing nesta sexta-feira.

Um tridente invadiu a Ucrânia no final de fevereiro em uma campanha chamada de "operação militar especial para a proteção das repúblicas de Donetsk e Lugansk". Uma parte das forças armadas russas tentou chegar a Kiev pelo norte , mesmo partindo de um terceiro país, a Bielorrússia, em um ataque relâmpago pela rota mais rápida, Chernobyl. No leste, outra frente foi aberta com o apoio das milícias e empreiteiros privados que atuam no território separatista. E ao sul, a partir da anexada República da Crimeia, outro assalto procurou unir a península do Mar Negro com Donbas, dando origem a uma das batalhas mais sangrentas do conflito: o cerco de Mariupol.

Apesar de supostamente limitar sua ofensiva a Donbass, as forças armadas russas mantêm o cartão para continuar no interior da Ucrânia e tentar ocupar cidades como Kiev e Kharkov, bombardeadas por semanas . "Inicialmente, não planejamos invadir cidades para evitar sua destruição e minimizar as perdas de pessoal e civis, mas não excluímos essa possibilidade", acrescentou Rudskoi.

Um homem faz um gesto de vitória enquanto caminha com uma criança por uma rua na cidade de Odessa na quinta-feira. )MANUEL BRUQUE (EFE)

O objetivo desta campanha variou de fase para fase da guerra. Em 18 de março, o presidente Putin fez um discurso em um concerto de rali realizado no estádio para a final da Copa do Mundo na Rússia, que estava lotado com 81.300 lugares. Acordado pelo público, o presidente assegurou que "o principal objetivo da operação militar em Donbas e na Ucrânia foi libertar a população do genocídio". No entanto, em 25 de fevereiro, segundo dia da guerra, ele instou o exército ucraniano a realizar um golpeporque seria mais fácil negociar com ele do que com "um governo de drogados e neonazistas". Outros pretextos usados ​​pelo Kremlin foram a hipotética ameaça que a entrada da Ucrânia na OTAN representaria para a Crimeia e, uma vez avançado o conflito, um suposto desenvolvimento de armas biológicas financiadas pelos Estados Unidos tendo como alvo a etnia eslava. Washington negou categoricamente, assegurando que seus laboratórios se dedicavam apenas à detecção precoce de surtos potencialmente pandêmicos, como aconteceu na Ucrânia em 2012 e 2018 com a peste suína africana.

Durante as negociações mantidas nestas semanas entre ambas as partes, a delegação russa insistiu em três demandas principais : a Ucrânia deve assumir um status de neutralidade que a distancie do Ocidente e da OTAN; deve reconhecer a integração da Crimeia como parte da Rússia; e deve assumir a independência das repúblicas de Donetsk e Luhansk.

O Ministério da Defesa da Rússia também anunciou nesta sexta-feira sua segunda contagem de baixas até agora na guerra: 1.351 mortos e 3.825 feridos, segundo dados oficiais oferecidos por Rudskói. O general assegurou que os ucranianos "não têm mais reservas e cobrem suas perdas com pessoal sem capacidade das defesas territoriais".

Segundo o Estado-Maior russo, seus rivais teriam perdido um total de 30.000 de seus 260.000 combatentes, entre 14.000 mortos e 16.000 feridos, o que teria forçado Kiev a mobilizar mais tropas. A Rússia, apesar de afirmar ter baixas muito menores, anunciou no entanto que também mobilizará até 16.000 mercenários trazidos do Oriente Médio . Somam-se a elas outras unidades de territórios tão díspares quanto o Extremo Oriente russo, a Chechênia e a Abkhazia, de acordo com a inteligência britânica.

O vice-chefe do Estado-Maior russo garantiu que a suposta “desmilitarização” da Ucrânia “está sendo alcançada com ataques de alta precisão contra instalações militares e destacamentos de unidades, bem como contra aeródromos, postos de comando, arsenais e depósitos de armas”.

Os dados das Nações Unidas contradizem que se trata de uma operação cirúrgica. Segundo a contagem do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, 977 civis morreram e 1.594 ficaram feridos até as primeiras horas de 24 de março, embora o número possa ser maior.

Da mesma forma, seus dados não confirmam o suposto "genocídio" com o qual Putin justificou seu casus belli contra o governo de Volodímir Zelenski. As Nações Unidas apontam que 279 civis morreram nas regiões de Donetsk e Lugansk até agora no conflito: 224 na área controlada pelo governo e 55 em território separatista.

Em sua avaliação do progresso do exército russo, Rudskoi também enfatizou que suas tropas poderiam ter sofrido reveses com a sabotagem ucraniana. "127 pontes foram explodidas pelos nacionalistas ucranianos para impedir nossa ofensiva", disse o coronel, que também assegurou que eles têm total superioridade no céu porque "a aviação ucraniana e o sistema de defesa aérea foram quase completamente destruídos".

Publicado por EL PAÍS, em 25.03.22

A guerra de Putin na Ucrânia ainda pode fracassar

Um mês após a invasão russa, são raros os sinais de esperança. A principal constatação, no entanto, é que a Ucrânia pode frear Putin, mas precisa de um apoio maior e mais rápido do Ocidente, opina Roman Goncharenko.

Ucranianos protestam em Kiev contra a invasão do país pela RússiaFoto: Bryan Smith/ZUMA Press Wire/Zumapress/picture alliance

Foram quatro semanas que parecem ter sido uma eternidade. A invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro de 2022 é, até agora, o dia mais sombrio do século 21 para a Europa. Desde aquele dia, pessoas, amizades e ilusões têm morrido na chuva de bombas russas. A velha ordem de paz para o continente também está morta. Como será a nova, ainda está para ser decidido.

Um primeiro balanço intermediário é amargo. Graças a amplas informações da inteligência americana, esta guerra não foi uma surpresa. Entretanto, a maioria dos especialistas ocidentais e também os líderes ucranianos esperavam apenas um ataque limitado no leste da Ucrânia e não uma invasão no estilo da Alemanha nazista, como ocorrido na Polônia em 1939.

O motivo por que a guerra da Rússia foi subestimada

Da perspectiva de hoje, é claro que Kiev deveria ter ordenado a mobilização e retirada geral da população muito mais cedo. Esse erro de avaliação se deveu também provavelmente ao fato de que a guerra que começou com a anexação da Crimeia em 2014 permaneceu regionalmente limitada. A maioria das pessoas na Ucrânia não tinha ideia do que significa ser brutalmente bombardeado. Eles subestimaram o perigo.

É difícil culpá-los por esse erro. Todos nós não queríamos acreditar que o presidente russo, Vladimir Putin, e seu Exército fossem capazes de tal barbaridade. Também a ideia de que a maioria dos russos aceitaria esta guerra era impensável para muitos. Mesmo depois de quatro semanas, ainda é difícil aceitar essa triste constatação.

Muitas análises ucranianas e ocidentais constatam que a blitzkrieg de Putin falhou. Moscou, por outro lado, diz que tudo está indo de acordo com o planejado. Mas guerras nunca vão de acordo com os planos dos generais. Naturalmente, o Kremlin esperava uma vitória mais rápida e menos perdas em suas fileiras. Mas é difícil acreditar que Putin realmente esperasse uma rendição dentro de poucos dias. A Ucrânia é simplesmente grande demais para isso.

Rússia aposta na vitória pelo cansaço

O plano de guerra de Putin provavelmente é destruir lentamente o país vizinho – com base na premissa de que a Rússia tem mais soldados, mais armas e mais dinheiro.

Vestígios de esperança são raros no momento, mas eles existem. A constatação mais importante é que a Ucrânia pode parar e até mesmo deter o Exército russo, bem mais forte. Há duas razões para isso: antes de tudo, o espírito de luta ucraniano. Isso também se aplica aos civis, que, mesmo em áreas já ocupadas, como a cidade ucraniana de Kherson, se colocam no caminho de tanques russos com bandeiras ucranianas.

A segunda razão tem muitos nomes: por exemplo, Javelin, NLAW ou Stinger. São principalmente armas blindadas e sistemas antiaéreos que os EUA e o Reino Unido, mas também outros países da Otan, enviaram às pressas nas semanas que antecederam a invasão da Ucrânia. Sem essas armas defensivas, a Rússia já poderia ter ocupado uma área muito maior da Ucrânia.

Embargos imediatos de petróleo e gás

Também depende disso a resposta para a questão sobre se a guerra de Putin ainda pode fracassar. Ela pode fracassar por causa do espírito de luta dos ucranianos, que, no entanto, precisam de muito mais apoio e, acima de tudo, de um apoio mais rápido. Em termos concretos, isso significa sanções econômicas ainda mais duras, um bloqueio completo do sistema SWIFT e um embargo imediato ao petróleo e gás russo.

Sim, isso é doloroso, mas, em vista do massacre na Ucrânia, necessário. Mas apoio também significa o envio de mais armas! Por razões compreensíveis, a Otan não quer abater aviões e mísseis russos nos céus da Ucrânia, a fim de evitar um confronto direto. Mas aeronaves de combate para as forças armadas da Ucrânia podem e precisam ser entregues, assim como os mais modernos sistemas de defesa antiaérea.

Não é uma decisão fácil. A Rússia está ameaçando o Ocidente com represálias e o uso de armas nucleares. Isso não é um blefe, o perigo é real. No entanto, o Ocidente deve ir por esse caminho − cuidadosamente, passo a passo. Quem pensa que Putin se contentará em destruir a Ucrânia e parar na fronteira ucraniana ocidental está enganado. O Ocidente deve finalmente reconhecer a dimensão desta guerra e agir de acordo.

Roman Goncharenko é jornalista da DW. Publicado originalmente por Deutsche Welle, em 24.03.22. O texto reflete a opinião pessoal do autor, não necessariamente da DW.

Isso também é corrupção

Bolsonaro repete que não há corrupção em seu governo, mas o escândalo do MEC é mais um caso, entre outros, de mau uso e de desvio de dinheiro público

Como uma espécie de contraponto às muitas e evidentes confusões, omissões e ineficiências de sua administração, Jair Bolsonaro gosta de dizer que, pelo menos, não há corrupção em seu governo. Nesta semana, voltou ao tema duas vezes, assegurando que zela pelo dinheiro público e gabando-se de que o País está “há três anos e três meses sem corrupção no governo federal”.

Parece claro que o presidente estava se referindo a escândalos como a roubalheira do petrolão e do mensalão, que marcaram os governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff e que tanto ultrajaram os brasileiros. Mas a corrupção na administração pública não se caracteriza somente pelo assalto a estatais ou pela apropriação privada de dinheiro do contribuinte. Quando o governo permite que oportunistas interfiram na distribuição de verbas públicas para o atendimento de interesses particulares, sem qualquer transparência ou controle dos cidadãos, trata-se de degradação da administração pública – em português claro, é corrupção. 

O escândalo do gabinete paralelo no Ministério da Educação (MEC), com evidências de tráfico de influência e direcionamento de verbas por parte de pastores evangélicos que não têm nenhum cargo no governo, é apenas o exemplo mais recente desse desvirtuamento da gestão do dinheiro público.

O governo Bolsonaro escarnece da inteligência alheia quando se apresenta como exemplo de lisura com o dinheiro público. Para começar, Jair Bolsonaro assumiu a Presidência carregando consigo graves suspeitas de rachadinha envolvendo sua família e até hoje não explicou as movimentações financeiras suspeitas, os cheques de assessores nas contas de familiares ou as compras de imóveis com dinheiro vivo. Para piorar, desde então, acumulam-se evidências de que Jair Bolsonaro pode ter usado o cargo para dificultar as investigações. Em vez de maior transparência, ao longo do governo só aumentou a opacidade sobre o tema.

No ano passado, a CPI da Pandemia revelou indícios graves de corrupção, no âmbito do Ministério da Saúde, envolvendo compra de vacinas, com negociações obscuras em um shopping center, acusações de pedido de propina e inexplicáveis sobrepreços. O governo federal simplesmente negou as suspeitas, sem apresentar nenhuma explicação à população. Essa informalidade, sem procedimentos de transparência e controle, é um dos ambientes mais férteis para a corrupção.

O caso do gabinete paralelo no Ministério da Educação repete esse padrão de informalidade, com graves suspeitas de corrupção e mau uso de dinheiro público. Tem até denúncia de pedido de propina em ouro. Mudam-se os Ministérios e os nomes dos envolvidos, mas as práticas continuam as mesmas: as suspeitas de corrupção não são levadas a sério, e o ministro segue no cargo como se tudo fosse absolutamente normal. Segundo revelou o Estadão, após receber denúncia de cobrança de propina envolvendo pastores, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, teve pelo menos sete reuniões com essas lideranças religiosas. Haja crença na doutrina da infalibilidade, agora aplicada a pastores.

Nada disso deveria surpreender num governo marcado pelo escândalo do orçamento secreto, em que, sem transparência, sem controle e sem critérios técnicos, recursos do Orçamento da União foram distribuídos a parlamentares dispostos a apoiar o governo em troca de verbas para seus redutos eleitorais.

Todos esses casos são muito graves, e sabe-se lá o que mais virá à tona. Como não foram os sistemas ordinários de controle do governo que os detectaram, é provável que o País continue dependendo da imprensa para descobrir aquilo que a corte bolsonarista gostaria de manter em sigilo.

A constatação de que não se sabe o que está sendo feito do dinheiro público deveria causar tanta indignação quanto descobrir, por exemplo, que empreiteiras amigas, beneficiárias do assalto à Petrobras durante os governos lulopetistas, reformaram um sítio frequentado pelo ex-presidente Lula. Há muitos outros modos de mal gastar e de desviar recursos públicos de suas finalidades originais, como mostram esses três anos e três meses de governo Bolsonaro.

Editorial / Notas & Informações, O Estado de S.Paulo, em 25.03.22

Leite vai renunciar ao governo e prepara ‘Dia do Fico’ no PSDB, de olho no Planalto

Governador gaúcho deve permanecer no PSDB em estratégia que prevê acordo com MDB e União Brasil em torno de seu nome para a disputa presidencial

 O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite; tucano vai deixar o cargo na segunda-feira

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), vai deixar o cargo na próxima segunda-feira, 28, mas deve permanecer nas fileiras tucanas. Leite prepara o ‘Dia do Fico’ no PSDB em uma estratégia que prevê a possibilidade de um acordo com o MDB e o União Brasil para o lançamento de uma candidatura única à Presidência da República.

O impasse para o acerto político ainda é o governador de São Paulo, João Doria, que teve o nome aprovado em prévias do PSDB, em novembro, como candidato do partido à sucessão do presidente Jair Bolsonaro. Aliados de Leite, no entanto, avaliam que, como Doria não cresceu nas pesquisas de intenção de voto até agora, pode sair do páreo para dar lugar a Leite se houver um apelo desses partidos em nome de uma aliança que demonstre unidade.

Prévias PSDB Eduardo Leite

A ideia do grupo é que Leite seja o candidato ao Palácio do Planalto e a senadora Simone Tebet (MDB-MS), vice na chapa. Embora Simone e Leite também tenham baixíssimos índices nas pesquisas, apoiadores do gaúcho observam o alto patamar de rejeição de Doria. Dizem, ainda, que pesquisas mostram potencial de crescimento para o Leite.

Até a semana passada, o governador do Rio Grande do Sul estava inclinado a aceitar o convite do PSD do ex-ministro Gilberto Kassab para concorrer à Presidência e vinha dando todos os sinais nesse sentido. O temor de isolamento no partido de Kassab, no entanto, o fez repensar a troca de legenda, segundo interlocutores ouvidos pelo Estadão/Broadcast.

“Acredito que o governador do Rio Grande do Sul tende a ficar e trabalhar para ser o candidato da unidade da terceira via, filiado ao PSDB”, disse o deputado Aécio Neves (PSDB-MG) ao Estadão/Broadcast. Desafeto de Doria, Aécio faz articulações políticas para lançar Leite à Presidência no lugar do paulista.

Ex-presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE) foi na mesma linha. “Eu diria que há 90% de probabilidade de Eduardo Leite ficar no PSDB”, afirmou Tasso em entrevista à CNN. “Não o vejo candidato por outro partido. Dentro do PSDB, ele deve ser uma eventual alternativa.” 

Sinais trocados

Até agora, Leite vinha dando todos os sinais de que estava disposto a ingressar no PSD. O caminho para que ele disputasse o Planalto pela nova sigla ficou livre após o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), desistir de lançar a candidatura à Presidência.

Kassab chegou a dizer que o gaúcho era uma “alternativa extraordinária” ao senador mineiro. Mas, desde que Leite recebeu uma carta na qual a cúpula do PSDB o elogia e pede sua permanência nas fileiras do partido, tudo mudou. O governador ficou mais recluso e tem evitado falar de política em público. 

O principal argumento usado pela ala “anti-Doria” do PSDB para tirá-lo do páreo, quatro meses após as prévias, é o de seu alto índice de rejeição. No levantamento Datafolha divulgado nesta quinta-feira, 24, Doria aparece com 2% de intenção de voto e 30% de rejeição. Leite marca 1% e 14%, respectivamente.

“O Eduardo tem uma sensibilidade política que vai ajudar muito no caso de ele ser candidato”, afirmou o ex-senador José Aníbal ao Estadão/Broadcast Político. Para Aníbal, a rejeição de Doria é “um peso a ser carregado” pelo partido.

Uma ala do PSDB, porém, rejeita o movimento para tirar Doria do jogo. Em entrevista ao Papo com Editor, do Broadcast Político, o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) disse que discutir agora a troca de candidato na disputa pelo Planalto é "ficar sangrando em público". Na avaliação de Moreira, é preciso "dar uma chance" ao governador de São Paulo para que ele faça sua campanha.

A lei eleitoral determina que ocupantes de cargos públicos que desejam disputar eleições deixem os cargos até 2 de abril. Leite sairá antes, na próxima segunda-feira.

Em conversas com tucanos, o governador do Rio Grande do Sul tem avaliado que o PSD de Kassab é um partido muito dividido, com quadros que apoiam Bolsonaro, como o governador do Paraná, Ratinho Júnior, e outros que preferem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), caso do senador Omar Aziz (AM). O próprio Kassab já fez acenos a Lula.

Mesmo quando citava a possibilidade maior de ir para o PSD, Leite ponderava que era preciso apoio político à sua eventual candidatura. “Não pode ser por vaidade. Eu não vou entrar numa disputa para fraturar uma já difícil terceira via, para dispersar ainda mais. Eu quero entrar se for, de fato, para ajudar a aglutinar e tentar ajudar a construir um projeto viável, não para facilitar a polarização”, disse o governador, no último dia 16, na Federação das Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), em Porto Alegre.

Naquele mesmo dia, durante o ato de filiação da ex-senadora Ana Amélia Lemos ao PSD, Kassab disse torcer para que o gaúcho tivesse "boas inspirações" nos dias seguintes, numa referência à decisão sobre a troca de partido. 

Presidente do Cidadania, partido que vai formar uma federação com o PSDB, Roberto Freire pediu a Leite que fique no ninho tucano. “Ele é uma grande liderança, jovem. É importante ele ficar junto conosco. Tudo indica que ele vai ficar”, afirmou. Para Freire, as conversas com o MDB e o União Brasil para lançar uma candidatura única ao Planalto estão “muito positivas”

Iander Porcella, O Estado de S.Paulo, em 25.03.22, 15h45

quinta-feira, 24 de março de 2022

Biden: “Responderemos ao uso de armas químicas com base em como são usadas”

O presidente dos EUA afirma que a China sabe que “seu futuro econômico está mais ligado ao Ocidente do que à Rússia” | O G-7 colaborará para investigar os "crimes de guerra" da Rússia na Ucrâni

O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, e o presidente dos EUA, Joe Biden, esta quinta-feira em Bruxelas na reunião da Aliança. (THIBAULT CAMUS  - AP)

O PAÍS

Atualizada:24 DE MARÇO DE 2022 - 20:28 BRT

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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou esta quinta-feira, após as reuniões de chefes de governo da NATO e do G-7, que a Aliança "responderá" a uma potencial utilização de armas químicas na Ucrânia dependendo "de como são usados”. O presidente também destacou que "a China sabe que seu futuro econômico está mais ligado ao Ocidente do que à Rússia". 

Biden e os demais principais líderes mundiais, como o britânico Boris Johnson, o turco Recep Tayyip Erdogan ou o francês Emmanuel Macron, se reuniram na sede da OTAN. Após a reunião, o secretário-geral da organização, Jens Stoltenberg, anunciou que a Aliança fortalecerá a capacidade da Ucrânia de se defender contra potenciais ataques biológicos, químicos e nucleares. 

“Enviaremos sistemas de detecção, assistência médica e sanitária e equipamentos de descontaminação”, declarou. Os Estados Unidos anunciaram uma nova lista de sanções contra Moscou, que inclui 328 deputados do Parlamento russo e 48 empresas do setor de defesa. O Grupo dos Sete (G-7), que reúne as grandes potências ocidentais e o Japão, prometeu colaborar para investigar crimes de guerra na Ucrânia após a invasão russa.

Um homem chora sobre um cadáver após um bombardeio em Kharkiv (Ucrânia) Foto: WOLFGANG SCHWAN (GETTY) |

EUA calculam que mísseis russos têm margem de erro de até 60%

Os Estados Unidos estimam que os mísseis de alta precisão que a Rússia lançou na Ucrânia têm uma margem de erro de até 60%, segundo três fontes militares que falaram exclusivamente à Reuters. Especialistas garantiram que a alta taxa de objetivos fracassados ​​pode explicar em parte por que as tropas russas não conseguiram tomar nenhuma das principais cidades ucranianas após um mês de invasão, apesar de sua superioridade militar.

As fontes norte-americanas, que pediram anonimato, não revelaram as razões da falta de precisão no disparo da Rússia. O Kremlin não comentou. O Pentágono disse a repórteres que as forças russas lançaram mais de 1.100 mísseis desde o início da guerra, embora não se saiba oficialmente quantos atingiram seus alvos. Dois dos especialistas consultados fizeram alusão a taxas de insucesso de 60%, enquanto o outro militar disse que o intervalo está entre 20% e 60%. (Reuters)

Os EUA garantem que a Rússia implantou mais espiões no México do que em qualquer outro país


   General Glen VanHerck, chefe do Comando Norte dos Estados Unidos, em seu comparecimento nesta quinta-feira a uma comissão do Senado. /AP

A agência de espionagem militar russa (GRU) tem atualmente mais oficiais de inteligência implantados em território mexicano do que em qualquer outro país do mundo com o objetivo final de influenciar as decisões tomadas pelos Estados Unidos. Isso foi alertado nesta quinta-feira pelo chefe do Comando Norte dos EUA, Glen VanHerck. O general fez essas declarações durante uma sessão do Comitê de Serviços Armados do Senado, na qual acrescentou que o que o Kremlin busca é obter acesso aos EUA a partir do país vizinho.

A informação surgiu praticamente ao mesmo tempo que as alegações que o embaixador dos Estados Unidos no México, Ken Salazar, fez após um ato realizado na quarta-feira na Câmara dos Deputados para inaugurar o grupo de amizade México-Rússia com a presença de diplomatas de o Kremlin, apenas cerca de um mês após o início da invasão da Ucrânia. "Temos que ser solidários com a Ucrânia e contra a Rússia", disse Salazar no Congresso. "O embaixador russo esteve lá ontem e disse que o México e a Rússia são próximos, isso nunca pode acontecer", acrescentou. É contada por Yolanda Monge e Elías Camhaji de Washington e da Cidade do México.

Sabadell alerta para um possível aumento da inadimplência devido à guerra na Ucrânia

O Banco Sabadell fez o balanço do exercício de 2021 esta quinta-feira na sua assembleia geral de acionistas em Alicante. E Josep Oliu, presidente da entidade, alertou para o impacto negativo da ofensiva russa na economia e alerta para um possível aumento da inadimplência. 

"A coincidência do fim dos vencimentos dos empréstimos cobertos pela garantia da ICO com o início do transtorno causado pela eclosão da guerra recomenda prudência para enfrentar seus possíveis efeitos", assegurou Oliu aos acionistas. Um dia antes, ele já havia adiantado essa questão em reunião com jornalistas: "Pode haver aumentos circunstanciais dos índices de inadimplência". 

Além disso, a assembleia geral de acionistas deu luz verde à distribuição de um dividendo de 0,03 euros por ação correspondente ao exercício de 2021. Por Hugo Gutierrez.

Ucrânia estima 3.343 pessoas evacuadas nesta quinta-feira de cidades sitiadas

Um total de 3.343 pessoas foram evacuadas nesta quinta-feira de várias cidades ucranianas através de corredores humanitários, segundo um oficial do exército ucraniano. 2.717 cidadãos conseguiram escapar do sitiado Mariupol, confirmou a vice-primeira-ministra ucraniana Iryna Vereshchuk em uma mensagem no Twitter. A política também acusou os russos de bloquear comboios de ajuda humanitária com destino às cidades atacadas nos últimos dias. (Reuters)

Um grão de areia literário para a Ucrânia

Eles nunca podem ler novamente. Nem fazer mais nada. O Ministério Público ucraniano estima que mais de uma centena de crianças já morreram em seu país devido à invasão russa. De tantas vidas truncadas, a escritora Masha Serdiuk e a ilustradora Tetiana Laiuzhna escolheram 13. Eles as reconstruíram, narraram e desenharam em um estilo cru e sem filtros. E em poucos dias eles foram reunidos em um livro, cujos apenas dois exemplares conseguiram chegar à mesa do espaço dedicado à Ucrânia logo na entrada da Feira Internacional do Livro Infantil e Juvenil de Bolonha. Com A Guerra: As Crianças Que Nunca Vão Ler Livros, os autores ucranianos querem enviar um lembrete aos milhares de profissionais e visitantes que desfilam pelo evento. E um empurrão para que outros ajudem também.

"Podemos conversar, mas o que importa são os fatos", diz Žanete Vēvere Pasqualini, agente, tradutora e gerente de estande de sua Letônia natal na feira. E a verdade é que especialmente os países mais sensíveis ao medo soviético, devido à sua história e localização geográfica, hoje estão tentando contribuir com seu grão de areia literário para a causa ucraniana. Trata-se de dar alento, mas, sobretudo, renda. Por Tommaso Koch.

Na imagem, detalhe do espaço dedicado aos livros ucranianos na entrada da feira de Bolonha. /TK

A Ucrânia estima que pelo menos 200.000 pessoas permanecem sem acesso à água potável como resultado dos ataques russos

O Comitê de Direitos Humanos do Parlamento ucraniano informou que pelo menos 200.000 pessoas permanecem sem acesso à água potável como resultado da destruição causada pelos ataques russos. "A guerra privou parcial ou completamente os moradores de Mariupol, Mikolaiv, Kharkiv, Okhtirka, Izium, Makarov, Pologi, Vasilivka, Orijiv, Huliaipil, Chernigov, Trostianets e muitos outros assentamentos de água", dizia o comunicado. "Somente na região de Donetsk, 200.000 pessoas não têm acesso à água. À medida que os combates se intensificam, há uma ameaça de que esta região seja completamente cortada do abastecimento de água nas próximas semanas". O Comitê considera as ações da Rússia uma "violação direta da Convenção de Genebra.

Biden oferece mais gás à Europa, mas pede mão dura contra a Rússia

Bruxelas, a capital das instituições europeias, tornou-se esta quinta-feira o grande teatro do Ocidente, o carro-chefe de uma forma de conceber o mundo face à agressão da Rússia à Ucrânia. É "o centro do mundo livre", definiu a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pouco antes de entrar na sede do Conselho Europeu, onde começou a cimeira dos líderes dos Vinte e sete, com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, como convidado extraordinário. O americano chega ao encontro com o pedido para que seus aliados europeus continuem torcendo o braço de Moscou por meio de um novo pacote de sanções que acabará por sufocar o regime de Vladimir Putin: desta vez, as importações de energia russas estão no centro das atenções. Biden também chega a Bruxelas com uma oferta suculenta para fazer aos europeus na forma de gás natural liquefeito (GNL). De alguma forma, dois dos debates mais quentes da UE – sanções e energia – parecem fadados a se unir.

Por Guillermo Abril e Bernardo de Miguel para o EL PAÍS, em 24.03.22

Ucrânia afirma ter destruído um navio de desembarque de tropas russas em um porto no mar de Azov

O navio que queimou no porto ocupado de Berdyansk, chave para a logística de Moscou, carregava material de guerra russo, segundo Kiev

Uma coluna de fumo sobe esta quinta-feira sobre um navio russo no porto ucraniano de Berdyansk, numa imagem divulgada nas redes sociais ( REUTERS)

A Ucrânia garantiu esta quinta-feira que um dos seus ataques contra as instalações do porto de Berdyansk, cidade ocupada pela Rússia no mar de Azov , destruiu um navio de guerra russo e provocou um grande incêndio. O golpe na Marinha russa seria um grande sucesso para Kiev em seus esforços para impedir que as tropas de Vladimir Putin obtenham suprimentos e sejam reforçadas um mês após a invasão russa, que abalou o mundo.

Berdyansk, que a Rússia capturou e ocupou na primeira semana da guerra, tornou-se um importante centro logístico para as forças do Kremlin que avançam para o flanco sul e para trazer reforços e suprimentos para as tropas que cercam Mariupol , a cerca de 80 quilômetros de Berdyansk, cidade que mostrou resistência à ocupação pelos soldados de Putin.

Imagens da área atacada mostram um navio de desembarque russo em chamas no porto de Berdyansk, uma nuvem de fumaça e explosões secundárias quando dois outros navios russos também parcialmente em chamas deixam o porto. O Exército ucraniano garantiu inicialmente ter conseguido destruir o Orsk , um navio de desembarque anfíbio da classe Alligator —segundo a designação da OTAN—, capaz de transportar até 45 veículos blindados e 400 soldados, mas mais tarde só informou a neutralização de um navio russo. A Rússia tem dois navios do modelo Alligator em serviço ativo na Frota do Mar Negro: o Orsk e o Saratov .

Horas depois que as primeiras informações foram conhecidas e vídeos com as explosões no navio foram divulgados na internet, o Ministério da Defesa ucraniano, segundo a agência Reuters, confirmou o ataque e seu sucesso. Nenhuma fonte independente foi capaz de determinar como o ataque ocorreu ou a causa das explosões e subsequente incêndio no Orsk.

O canal de TV do Ministério da Defesa russo, Zvezda, dedicou uma informação aos navios de desembarque na segunda-feira. Ele assegurou que uma dúzia desses navios participou de operações de reabastecimento para suas forças e que sua chegada a Berdiansk foi "um evento histórico" que abriu "possibilidades logísticas para a Marinha do Mar Negro". As autoridades russas não confirmaram o ataque em Berdyansk, no qual, segundo analistas militares, podem ter sido usados ​​mísseis balísticos.

As autoridades ucranianas não divulgaram qual arma foi usada no ataque. "O navio destruído em Berdyansk poderia transportar até 20 tanques, 45 veículos blindados e 400 pára-quedistas", disse a vice-ministra da Defesa ucraniana, Anna Malyar, em comunicado nesta quinta-feira. “Este é um alvo enorme que foi atacado pelo nosso Exército”, acrescentou.

Os maiores avanços das tropas de Putin foram no flanco sul, usando a península ucraniana da Crimeia, que a Rússia anexou ilegalmente em 2014 , como plataforma de lançamento militar para tentar fortalecer sua presença no Mar Negro. No lado leste, controla o Mar de Azov e quase toda a faixa costeira, exceto algumas cidades. A grande peça a ser coletada ali, Mariupol, permitiria a Putin completar uma espécie de corredor terrestre entre a península ucraniana da Crimeia e os territórios de Donbas que ele controla através dos separatistas pró-russos.

Punido por constantes ataques de artilharia e aéreos, Mariupol tornou-se o símbolo da ofensiva contra a população civil que passou semanas sem água, gás, suprimentos básicos e em uma cidade da qual quase não há esqueletos de prédios queimados. Após um cerco feroz, cerca de 100.000 pessoas permanecem na cidade onde as tropas russas já entraram e estão lutando contra as forças ucranianas.

No entanto, a Ucrânia também conseguiu desferir grandes golpes nas forças da Marinha Russa. O Kremlin, que declarou ilegal informar sobre a invasão (que não pode ser chamada de guerra na Rússia, mas sim "operação militar especial") e fornecer outros números e dados que não os fornecidos pelo governo, reconheceu a morte de o vice-comandante da Frota Russa do Mar Negro, Andrey Paliy, e o comandante da 810ª Brigada de Fuzileiros Navais da frota Aleksei Sharon, que operavam na área de Mariupol.

Em Berdyansk, com uma população pré-guerra de 115.000 habitantes, as forças invasoras tiveram que lidar com protestos públicos. Desde 24 de fevereiro, a Rússia trava uma guerra contra a Ucrânia com pesados ​​bombardeios aéreos, marítimos e de artilharia. Os ataques não se limitaram a alvos militares; Também afetaram prédios residenciais, bem como outros prédios que servem de abrigo para a população.

Maria R. Sahuquillo, de Odessa - Ucrânia, em 24.03.22, para o EL PAÍS. Maria é correspondente em Moscou, de onde cobre Rússia, Ucrânia, Bielorrússia e o resto do espaço pós-soviético. Anteriormente, foi enviada especial para grande cobertura e tratou com os países da Europa Central e Oriental. Ela passou quase toda a sua carreira no EL PAÍS e, além de questões internacionais, é especializada em questões de igualdade e saúde.

Coreia do Norte provoca tensão ao lançar seu primeiro míssil intercontinental em cinco anos

O projétil caiu em águas da zona econômica exclusiva do Japão. Seul responde com exercícios militares de tiro real

Um grupo de pessoas em Seul assiste a uma reportagem de televisão relatando o novo lançamento de um suposto míssil intercontinental norte-coreano (DPA VIA EUROPA PRESS / EUROPA PRESS)

Enquanto o mundo olha para a Ucrânia, a Coreia do Norte disparou na quinta-feira o que Seul e Tóquio dizem ser um míssil intercontinental (ICBM). O lançamento acaba com a moratória nos testes de mísseis de longo alcance que Pyongyang havia declarado há quatro anos e reacende as tensões na península, onde as negociações de desnuclearização estão paralisadas desde 2019 . seu arsenal e capaz de chegar a qualquer ponto dos Estados Unidos, havia ocorrido em 2017.

O míssil, segundo o Estado-Maior sul-coreano, foi lançado de Sunan, aeroporto de Pyongyang. Atingiu uma altura máxima de 6.200 quilômetros e percorreu uma distância de 1.080 quilômetros antes de cair no mar nas águas da zona econômica exclusiva (ZEE) do Japão, perto da ilha de Hokkaido, às 15h44, horário local (07:07: 44h, hora peninsular espanhola). Tanto Seul quanto Tóquio consideraram que o lançado nesta quinta-feira é "um novo tipo de ICBM". Se confirmado, pode ser o Hwasong-17, que Pyongyang apresentou em um desfile militar noturno em outubro de 2020, mas não havia testado até agora. O Hwasong-15 que Pyongyang lançou em novembro de 2017 atingiu uma altura de 4.475 quilômetros e percorreu uma distância de 906 quilômetros.

Imediatamente após o teste do Norte, as Forças Armadas do Sul responderam com exercícios conjuntos de tiro real nos quais mobilizaram alguns de seus principais mísseis, "numa demonstração de poder militar contra a Coreia do Norte", informou a agência de notícias.

Entre os equipamentos mobilizados estavam um Hyunmoo-2 terra-terra, Sistema de Mísseis Táticos do Exército (ATACMS); um míssil mar-terra Haesung-II e dois mísseis ar-terra JDAM, de acordo com o Estado-Maior do Sul, citado pela Yonhap. Os exercícios, de acordo com as forças sul-coreanas, "confirmaram que, se necessário, o Exército é capaz de um ataque de precisão contra a localização de qualquer lançamento de míssil e seu sistema de comando". Tanto o governo de Seul quanto os japoneses convocaram uma reunião de emergência de seus respectivos conselhos de segurança. Tóquio descreveu o lançamento como uma "provocação", "inaceitável" em meio à crise da guerra na Ucrânia.

O lançamento ocorre duas semanas após a vitória na eleição presidencial do Sul do conservador Yoon Suk-yeol , que assumirá o poder em maio e prometeu uma política de dureza contra o Norte após um mandato de seu antecessor, o progressista Moon Jae. , em que Seul tentou construir pontes em direção ao seu vizinho. Em uma primeira reação, o comitê de transição do presidente eleito sul-coreano declarou que o teste do ICBM “representa uma séria provocação que ameaça nossa segurança” e que está “em violação direta das resoluções do Conselho de Segurança da ONU”.

Moon, o presidente sul-coreano cessante, também condenou o lançamento, lembrando que viola a promessa de Kim Jong-un "à comunidade internacional" pouco antes da primeira cúpula entre o líder supremo norte-coreano e o então presidente dos EUA, Donald Trump. Junho de 2018.

Essa declaração encerrou formalmente uma série de testes de mísseis quase semanais – e um teste nuclear – ao longo de 2017 que levou a Coreia do Norte e os Estados Unidos à beira de um conflito militar.

O processo de degelo começou em 2018 com Seul e a cúpula com Trump deu lugar a uma etapa de negociações diplomáticas sobre a desnuclearização da península. Mas o fracasso retumbante da cúpula de Hanói em fevereiro de 2019 suspendeu o processo.

Sem sinais de recuperação nas negociações, apesar de uma última cúpula entre Kim e Trump em junho de 2019, e sem que a administração Joe Biden as tenha reativado, o líder norte-coreano deu ordens no ano passado para desenvolver novas armas de alta tecnologia, uma prioridade que foi incluídos no novo plano quinquenal (2021-2025). Em setembro do ano passado, Pyongyang completou o primeiro teste do que disse ser um míssil hipersônico . Até então, apenas Estados Unidos, Rússia e China possuíam essa tecnologia, que permite que os foguetes atinjam velocidades cinco vezes maiores que a velocidade do som e manobrem sua trajetória após o disparo.

Desde o início deste ano, a Coreia do Norte realizou uma dúzia de testes de mísseis , um ritmo não visto desde o pior de 2017. Em janeiro, o regime deu a entender que estava considerando um novo teste de um ICBM. : Em uma reunião de seu Politburo, ele indicou que estava estudando "o reinício de todas as atividades temporariamente suspensas".

O recurso ao lançamento de um ICBM, após um tiro fracassado também de Sunan na semana passada, pode representar o prelúdio de um retorno às tensões de cinco anos atrás, que colocaram Pyongyang e Washington em pé de guerra. Também pode dar o golpe final na política de reaproximação de Seul, quando a mudança de governo estiver prestes a ocorrer.

A Coreia do Norte, que prepara um novo desfile militar para 15 de abril - 110º aniversário do nascimento do fundador do regime e avô do atual líder, Kim Il Sung -, ordenou a modernização do centro de lançamento espacial Sohae. Imagens de satélite também parecem mostrar o início dos trabalhos de construção no centro de testes nucleares de Punggye-ri, de acordo com especialistas do Centro James Martin para Estudos de Não-Proliferação. Pyongyang fechou essas instalações durante o degelo de 2018, quando convidou jornalistas estrangeiros para testemunhar a explosão de alguns dos túneis e a vedação dos acessos.

Em um comunicado, a Casa Branca condenou o lançamento de quinta-feira como "uma violação descarada de várias resoluções da ONU, aumentando desnecessariamente as tensões e arriscando desestabilizar a situação de segurança na região".

Macarena Vidal Liy, de Pequim, para o EL PAÍS, em 24.03.22. Macarena é correspondente do EL PAÍS na Ásia. Anteriormente, trabalhou na agência EFE, onde foi delegada em Pequim, correspondente na Casa Branca e no Reino Unido. Ela também cobriu conflitos na Bósnia-Herzegovina e no Oriente Médio como enviada especial. É licenciada em Ciências da Informação pela Universidade Complutense de Madrid.


Porandubas Políticas

 Por Gaudêncio Torquato 

Abro a coluna com historinhas do grande Câmara Cascudo, descritas pelo acadêmico e professor Diógenes da Cunha Lima, em sua magnífica coletânea Câmara Cascudo, um Brasileiro Feliz (Lidador, 3ª ed.)

O poeta João Cabral de Melo Neto insiste em ver Cascudo. Dona Dália adia várias vezes a visita, preocupada com a saúde do marido. Zila Mamede interfere, lembrando que o poeta e embaixador vai dar muitas alegrias a Cascudo. Pontualmente, às 3 da tarde, chega o poeta. Cascudo não se contém. Fica de pé, gesticula, conta casos, relembra fatos durante mais de duas horas. Enquanto recita poesia galega Cascudo desmaia. João Cabral e Zila Mamede evitam a queda. Instala-se o nervosismo, procura-se um cardiologista, telefones que não atendem, João Cabral toma tranquilizantes, Cascudo foi abrindo os olhos, direcionou-os para João Cabral, falou com voz muito triste:

- Estou preocupado..... com ele... E apontou para o poeta.

No Rio de Janeiro, uma senhora da alta sociedade, que não gostava de Cascudo, encontra-se com ele num elevador. Cascudo lhe fez as devidas vênias. Ela, imperiosa:

- Sabe que eu nunca li um livro seu?

E Cascudo incisivo:

- Nem eu

Cascudo deixou o curso da Faculdade de Medicina, que havia iniciado na Bahia, para se formar em Direito, em 1928. Perguntado porque tinha abandonado o curso médico, ele disse, sem hesitar:

- A pedido dos doentes.

Panorama visto de perto

Um vice

O ministro Walter Braga Netto, ministro da Defesa, deverá ser o vice na chapa de Bolsonaro. O general Mourão, o atual vice, se conforma com a eleição para senador pelo RS ou mesmo a vice-governador numa chapa sulista. Bolsonaro disse, este fim de semana, que seu escolhido para a vaga "é de Belo Horizonte e fez escola militar", perfil ao qual o ministro se encaixa. O movimento é visto como uma tentativa do presidente de se blindar contra processos de impeachment. As credenciais que levaram o general Braga Netto ao governo de Bolsonaro eram a de um militar experiente que executou a árdua missão de ser o interventor da segurança pública no Rio, em 2018, por designação de Michel Temer.

Procura-se um nome

Gilberto Kassab está à procura de um nome para ser o candidato a presidente pelo PSD. Era Rodrigo Pacheco. Passou a ser Eduardo Leite, mas as forças do PSDB pressionam para que o governador tucano do RS não saia do partido. Ventila-se, agora, com o nome do ex-governador do ES, Paulo Hartung. A dúvida persiste, Kassab não quer aderir logo ao Lula.

A saída de Marília Arraes

A eventual saída da deputada Marília Arraes, do PT, é um golpe para as pretensões do lulismo no Nordeste. A deputada não dialoga bem com a ala do senador Humberto Costa, do PT pernambucano. Mas Marília estará com Lula.

Rejeição

Há um Senhor Eleitor que está sendo desdenhado, menosprezado. É o Senhor Eleitor chamado Rejeição. Com mais de 30 de rejeição, um candidato fica na beira do precipício, e tem uns com mais de 50% de rejeição, que significa: "eu não voto nessa pessoa de jeito nenhum". Tanto Bolsonaro quanto Lula registram mais de 50% de rejeição

Jacques Wagner

Foi um bom governador da Bahia. Recusa-se a entrar outra vez no páreo. Quem faz objeção forte é a ex-primeira dama, dona Fátima Mendonça, que conhece o sacrifício de ser político, ainda mais para um cargo no Executivo em tempos de vacas magras, Estados sem recursos. Faz bem.

Rodrigo Garcia

O vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, está bem atrás nas pesquisas. Fernando Haddad lidera a corrida com muitos pontos na frente. Este analista lembra o alto índice de rejeição do petismo em São Paulo. E ainda acredita nas chances de Garcia.

Máscaras

As máscaras têm sido abolidas do território nacional. Na China, a covid-19 voltou com força. Temo uma nova onda. Sugiro a linha do bom senso.

A onda petista

O PT tem condições de fazer a maior bancada de deputados Federais e estaduais. Posição que já foi do MDB. O PT virou um partidão de centro.

O assistencialismo

Outro grande eleitor de outubro próximo será o assistencialismo populista. Anotem e cobrem.

"O que faz os atores medíocres é a extrema sensibilidade... e é a ausência absoluta de sensibilidade que prepara os atores sublimes. As lágrimas do comediante escorrem de seu cérebro; as lágrimas do homem sensível descem de seu coração. Diz-se que o orador é sempre melhor quando se inflama, quando irritado. Nada disso. É quando se finge de encolerizado. Os comediantes impressionam o público, não quando estão furiosos e sim quando representam bem o furor". (Denis Diderot in Paradoxe sur le comédien)

Panorama visto de longe

Tirando a camada de exageros do bolo expressivo, o armagedom, como lembra o sábio professor Ivan Maciel, deixa de ser uma quimera, algo difícil a acontecer. Basta que um dos Senhores da Guerra aperte um botãozinho. Este fim de semana, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, chegou a alertar: se não formos capazes de acertar nossa conversa, a III Guerra Mundial torna-se um cenário à vista.

O Centro

É uma repetição impressionante. Por que a Ucrânia, um país de médio porte de 40 milhões de pessoas no extremo leste da Europa, esteve no epicentro da guerra não uma, não duas, mas três vezes?

Respostas

Parte da resposta tem a ver com geografia. Situada entre a Rússia e a Alemanha, há muito tempo é vista como o local da luta pela dominação do continente. Mas as razões mais profundas são de natureza histórica. A Ucrânia, com sua origem comum com a Rússia, desenvolveu-se de maneira diferente ao longo dos séculos, divergindo de maneira crucial de seu vizinho do leste.

Um só país

O presidente Vladimir Putin gosta de afirmar que a Ucrânia e a Rússia são de fato um país. O que é errado. Mas ele está certo em pensar que a história contém uma chave para entender o presente. Em 1904, um geógrafo inglês chamado Halford John Mackinder fez uma previsão ousada. Em um artigo intitulado "O pivô geográfico da história", ele sugeriu que quem controlasse o Leste Europeu controlaria o mundo. Em ambos os lados dessa vasta região estavam a Rússia e a Alemanha, prontas para a batalha. E no meio estava a Ucrânia, com seus ricos recursos de grãos, carvão e petróleo.

Ponto de confluência

Não há necessidade de entrar em detalhes. Mas a Ucrânia provou ser extremamente influente após a Primeira Guerra Mundial, sendo o centro dos conflitos. Graças ao geopolítico nazista Karl Haushofer, o conceito migrou para o "Minha Luta" de Hitler. A Ucrânia era a ponte que levaria a Revolução Russa para o oeste até a Alemanha, tornando-a uma revolução mundial. O caminho para o conflito novamente passa pela Ucrânia. A guerra, quando ocorreu, foi catastrófica: na Ucrânia, cerca de sete milhões pereceram. Na sequência, a Ucrânia foi anexada à União Soviética por um tempo. Com o colapso do comunismo, muitos acreditavam que as profecias do geógrafo Mackinder estavam ultrapassadas e o futuro pertencia a Estados independentes e soberanos, livres das ambições de vizinhos maiores. Hoje, a posição da Ucrânia no mapa mundial é crucial para os desdobramentos dos conflitos na Europa e no mundo.

De História

Historinha de Sócrates

Quando ouvia alguém falando, perguntava se realmente sabia o que estava dizendo. Certa vez, ouviu um eminente estadista, aproximou-se dele e indagou:

– "Perdoe-me a intromissão, mas o que vem a ser para o senhor a coragem?"

– "Coragem é permanecermos no nosso posto em perigo", respondeu o orador.

– "Mas suponhamos que a boa estratégia exigisse a retirada?", replicou Sócrates.

– "Bem, isso é diferente. Está claro que, nesse caso, não haveria necessidade de permanecer no posto.

– "Então coragem não é permanecer no nosso posto, nem retirar, não é verdade? Pergunto, então, o que é coragem?"

– "Confesso o meu embaraço. Creio que realmente não sei."

– "Eu tampouco", arrematou Sócrates, "mas será que se trata de algo que difere do uso da cabeça, pura e simplesmente. Isto é, fazer o que seja razoável, independente do perigo?"

– "Isso parece mais acertado", observou alguém entre o grupo.

Sócrates finalizou:

– "Concordaremos, então, apenas para argumentar, é claro, pois é uma questão difícil, que a coragem se resume em sólido bom senso? A coragem é presença de espírito. E o oposto, nesse caso, seria a presença de em tal intensidade que perturbaria a mente?"

Winston Churchill, o humor

Há célebres passagens de humor de autoria de Churchill. Aqui, uma pequena seleção:

Abanando minha cabeça

Winston Churchill fazia um discurso mordaz quando um aparteador, saltando do lugar para protestar, só conseguiu emitir sons abafados. Churchill observou:

– "Vossa Excelência devia deixar crescer uma indignação maior do que a que pode suportar."

Em outra ocasião, estava sentado, sacudindo a cabeça de maneira tão vigorosa e perturbadora, que o orador gritou, afinal, exasperado: – "Quero lembrar ao nobre colega que estou apenas exprimindo minha própria opinião."

Ao que Churchill respondeu:

– "E eu quero lembrar ao nobre orador que estou apenas abanando a minha própria cabeça."

Sou o chefe

O General Montgomery estava sendo homenageado, pois vencera Rommel na batalha da África, na 2ª Guerra Mundial. Discurso do General Montgomery:

– "Não fumo, não bebo, não prevarico e sou herói".

Churchill ouviu o discurso e com ciúme, retrucou:

– "Eu fumo, bebo, prevarico e sou chefe dele."

Se houver...

Telegramas trocados entre o dramaturgo Bernard Shaw e Churchill, seu desafeto. Convite de Bernard Shaw para Churchill:

– "Tenho o prazer e a honra de convidar o digno primeiro-ministro para primeira apresentação de minha peça Pigmaleão. Venha e traga um amigo, se tiver."

Resposta de Churchill:

– "Agradeço ilustre escritor honroso convite. Infelizmente não poderei comparecer à primeira apresentação. Irei à segunda, se houver."

Por que não?

Quando Churchill fez 80 anos, um repórter de menos de 30 foi fotografá-lo e disse:

– "Sir Winston, espero fotografá-lo novamente nos seus 90 anos."

Resposta de Churchill:

– "Por que não? Você me parece bastante saudável."

Veneno no seu chá

Bate-boca no Parlamento inglês. Aconteceu num dos discursos de Churchill em que estava uma deputada oposicionista, Lady Astor, conhecida pela chatice, que pediu um aparte (Sabia-se que Churchill não gostava que interrompessem os seus discursos, mas concedeu a palavra à deputada). E ela disse em alto e bom tom:

– "Sr. Ministro, se Vossa Excelência fosse o meu marido, eu colocava veneno em seu chá!"

Churchill, lentamente, tirou os óculos, seu olhar astuto percorreu toda a plateia e, naquele silêncio em que todos aguardavam, mandou:

– "Nancy, se eu fosse o seu marido, eu tomaria esse chá com prazer!"

Torquato Gaudêncio, cientista político, é Professor Titular na Universidade de São Paulo e consultor de Marketing Político.

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quarta-feira, 23 de março de 2022

Pastor pediu 1 kg de ouro para liberar dinheiro no MEC, diz prefeito

Segundo Gilberto Braga, conversa ocorreu em abril de 2021 durante um almoço no restaurante Tia Zélia, em Brasília, logo após uma reunião com o ministro da Educação, Milton Ribeiro

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, ao lado do pastor Gilmar Santos. Foto: Reprodução

Um dos pastores que controlam um gabinete paralelo no Ministério da Educação pediu pagamentos em dinheiro e até em ouro em troca de conseguir a liberação de recursos para construção de escolas e creches, disse ao Estadão o prefeito do município de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB). Segundo o prefeito, o pastor Arilton Moura solicitou R$ 15 mil antecipados para protocolar demandas da prefeitura e mais um quilo de ouro após a liberação dos recursos. 

“Ele (Arilton) disse: ‘Traz um quilo de ouro para mim’. Eu fiquei calado. Não disse nem que sim nem que não”, afirmou Braga, que diz não ter aceitado a proposta.

Ouça o prefeito Gilberto Braga (PSDB) relatar pedido de propina em ouro, saite do jornal "O Estado de S. Paulo", edição de hoje, quarta feira, 22.03.22.

O prefeito afirmou que a conversa ocorreu em abril de 2021 durante almoço no restaurante Tia Zélia, em Brasília, logo após uma reunião com o ministro Milton Ribeiro no Ministério da Educação. A reunião no MEC, fora da agenda oficial do ministro, foi uma das diversas solicitadas pelos pastores Arilton Moura e Gilmar Santos. 

“Ele disse que tinha que ver a nossa demanda, de R$ 10 milhões ou mais, tinha que dar R$ 15 mil para ele só protocolar (a demanda no MEC). E, na hora que o dinheiro já estivesse empenhado, era para dar um tanto, X. Para mim, como a minha região era área de mineração, ele pediu 1 quilo de ouro”, afirmou Braga ao Estadão. Na cotação desta terça-feira, 22, um quilo de ouro valia R$ 304 mil.

“Ele (Arilton) falou, era um papo muito aberto. O negócio estava tão normal lá que ele não pediu segredo, ele falou no meio de todo mundo. Inclusive, tinha outros prefeitos do Pará. Ele disse: ‘Olha, para esse daqui eu já mandei tantos milhões, para outro, tantos milhões’”, declarou, se referindo a verbas do MEC. “Assim mesmo eu permaneci calado, não aceitei a proposta”, disse o prefeito. Braga afirmou que até hoje não recebeu os recursos que solicitou no MEC.

Também nesse encontro, segundo o Estadão apurou, o pastor repassou o número da sua conta-corrente para que prefeitos anotassem e pudessem fazer os repasses da taxa de R$ 15 mil, apenas para dar entrada nas demandas ao ministério. Um dos presentes relatou que, após deixar “as demandas na mão” de Arilton, recebeu a conta do pastor para que o dinheiro fosse transferido. Como não efetuou a transferência, o pedido “não foi protocolado”. 

No encontro que antecedeu o almoço, o ministro teria afirmado que havia muitos recursos no MEC e estimulou prefeitos a buscarem verbas para seus municípios. 

Publicação da prefeitura de Luis Domingues (MA). Foto: Instagram/Reprodução

Um vídeo postado no perfil da prefeitura de Luís Domingues no Instagram comprova que Braga esteve em Brasília e se reuniu com Ribeiro em abril de 2021. “O prefeito Gilberto Braga está nesse (sic) momento em Brasília na reunião dos prefeitos maranhenses com ministro da Educação, Milton Ribeiro, senador Roberto Rocha e a equipe do MEC”, diz trecho da legenda do vídeo.

O Estadão revelou com fotos, vídeos e documentos públicos que os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura têm livre acesso ao gabinete do ministro Milton Ribeiro e participaram de 22 reuniões no MEC.

A reportagem procurou os pastores para questionar sobre o relato de pedido de pagamento. Arilton não quis se manifestar. “Não, não vou comentar”, disse. Gilmar Santos não atendeu. O jornal não conseguiu contato com o MEC. Em conversas anteriores com o Estadão, os pastores confirmaram que usaram a relação com Ribeiro para abrir as portas do MEC aos prefeitos. E negaram ter pedido contrapartida. 

Breno Pires, André Shalders e Julia Affonso, O Estado de S.Paulo, em 22.03.22

Antipetismo supera petismo, de acordo com pesquisa BTG/FSB

Segundo o levantamento, a preferência pelo PT ou ainda pelo 'partido do Lula' é alta, mas inferior à rejeição que outra parcela do eleitorado tem pela sigla

     

Mais pessoas rejeitam o PT do que o preferem, diz pesquisa. Foto: Carla Carniel/Reuters - 29/1/2022

O Partido dos Trabalhadores é o mais lembrado pelos brasileiros quando questionados sobre preferência por uma agremiação política, segundo pesquisa FSB/BTG divulgada na segunda-feira, 21. Dos entrevistados pelo levantamento, 16% disseram gostar mais da sigla de Lula que de outras, o maior índice entre os partidos. Entretanto, o PT também ficou em primeiro lugar entre as legendas mais rejeitadas, o que revela polarização. Nesse caso, a taxa foi ainda superior, de 28%.

Metade das pessoas consultadas pela pesquisa disse não rejeitar nenhum partido, e a maioria não tem nenhum partido de preferência (76%). Depois do PT, os mais rejeitados foram o PSOL e o “partido do Bolsonaro” - que é o PL, mas parte dos entrevistados não sabia -, ambos empatados com 7%. Depois, vem o PSDB, com 5%, e nomeadamente o PL, com 4%. O MDB foi lembrado por 3% das pessoas; o PSL e o PCdoB, por 2% cada.

Entre os partidos pelos quais há preferência, o PT foi o mais lembrado pelo nome. Em segundo lugar, com 2%, vieram menções ao “partido de Lula”. Foram 7% os que disseram preferir “outros”, o que também inclui o “partido de Bolsonaro”, o MDB e o PSOL. 

A pesquisa FSB/BTG ouviu 2 mil pessoas por telefone entre os dias 18 e 20 de março. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos. O levantamento foi registrado na Justiça Eleitoral sob o código BR-09630/2022.

Davi Medeiros, O Estado de S.Paulo, em 22.03.22