domingo, 14 de junho de 2020

‘O Supremo jamais se sujeitará a nenhum tipo de ameaça, velada, indireta ou direta’, diz Toffoli após ‘ataque’ com fogos de artifício ao STF

Em nota, presidente do Supremo Tribunal Federal disse que os ataques à Corte são financiados ilegalmente e são estimulados por integrantes do próprio Estado; o ministro alertou ainda que a Corte 'se socorrerá de todos os remédios, constitucional e legalmente postos, para sua defesa'


O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli. Foto: Nelson Jr./SCO/STF

O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, divulgou nota na tarde deste domingo, 14, afirmando que a Corte vivenciou mais um ataque na noite deste sábado, 13, após cerca de 30 manifestantes bolsonaristas autodenominados “300 do Brasil” dispararem fogos de artifício na direção do edifício principal do STF, na Praça dos Três Poderes, enquanto xingavam os ministros.  “O Supremo jamais se sujeitará, como não se sujeitou em toda a sua história, a nenhum tipo de ameaça, seja velada, indireta ou direta e continuará cumprindo a sua missão”, afirmou.

Toffoli indicou ainda que a ação também simboliza um ataque a todas as instituições democraticamente constituídas. Segundo o presidente do STF, os ataques à Corte são financiados ilegalmente e são estimulados por integrantes do próprio Estado, ‘apesar da tentativa de diálogo que o Supremo Tribunal Federal tenta estabelecer’.

“Guardião da Constituição, o Supremo Tribunal Federal repudia tais condutas e se socorrerá de todos os remédios, constitucional e legalmente postos, para sua defesa, de seus Ministros e da democracia brasileira”, afirmou ainda Toffoli.

O ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito das fake news e da investigação sobre atos antidemocráticos, se posicionou sobre o ‘ataque’ no Twitter, ressaltando que a Corte ‘jamais se curvará ante agressões covardes de verdadeiras organizações criminosas’.


Alexandre de Moraes

@alexandre
O STF jamais se curvará ante agressões covardes de verdadeiras organizações criminosas financiadas por grupos antidemocraticos que desrespeitam a Constituição Federal, a Democracia e o Estado de Direito. A lei será rigorosamente aplicada e a Justiça prevalecerá.

O ministro Luís Roberto Barroso, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, também se manifestou na rede social. Disse que há no Brasil, ‘guetos pré-iluministas, irrelevantes na quantidade de integrantes e na qualidade das manifestações’. “Há diferença entre militância e bandidagem”, declarou.


Luís Roberto Barroso

@LRobertoBarroso
Há no Brasil, hoje, alguns guetos pré-iluministas. Irrelevantes na quantidade de integrantes e na qualidade das manifestações. Mas isso não torna menos grave a sua atuação. Instituições e pessoas de bem devem dar limites a esses grupos. Há diferença entre militância e bandidagem.

O Ministério Público Federal determinou a abertura imediata de inquérito policial para investigar o ataque ao prédio do STF. Para a Procuradoria, os atos podem ser enquadrados na Lei de Segurança Nacional, nos crimes contra a honra, e também na Lei de Crimes Ambientais por abranger a sede da Corte, situada em área tombada como Patrimônio Histórico Federal.

O ataque com fogos de artifício, filmado e divulgado nas redes sociais, foi o último de uma sequência de atos realizados neste sábado, 13, após o governo do Distrito Federal desmontar o acampamento do ‘300 do Brasil’.  Agentes da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), do Corpo de Bombeiros e da Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal) recolheram faixas, material de lona e estrutura metálica do acampamento, antes montado na Esplanada dos Ministérios, e também na Praça dos Três Poderes. A PM usou gás de pimenta para dispersar um pequeno grupo que resistiu à ação.

Depois da ação da PMDF, cerca de uma dúzia de manifestantes chegou a invadir a cúpula do Senado. O grupo deixou o prédio do Congresso pacificamente após intervenção da Polícia Legislativa.

Investigado pelo Ministério Público por suspeita de posse de arma, o ‘300 do Brasil’ cobra que o presidente Jair Bolsonaro intervenha em sua defesa. O grupo é liderado pela militante Sara Winter, ex-assessora de confiança da ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, que foi um dos alvos da ofensiva da Polícia Federal que mirou aliados do presidente Jair Bolsonaro suspeitos de integrarem um esquema de divulgação de notícias falsas. Após a operação, a bolsonarista xingou e fez uma série de ameaças contra o ministro Alexandre de Moraes, relator da investigação sobre ameaças e ofensas a integrantes do Supremo.


Vídeo incorporado

Renato Souza@reporterenato
Há pouco, grupos de manifestantes do acampamento "300 pelo Brasil" lançou fogos de artifício em direção ao Supremo Tribunal Federal, na Esplanada dos Ministérios. O governador do DF, Ibaneis Rocha, decretou o fechamento da Esplanada dos Ministérios para evitar ataques.


Leia a íntegra da nota de Toffoli

Infelizmente, na noite de sábado, o Brasil vivenciou mais um ataque ao Supremo Tribunal Federal, que também simboliza um ataque a todas as instituições democraticamente constituídas.

Financiadas ilegalmente, essas atitudes têm sido reiteradas e estimuladas por uma minoria da população e por integrantes do próprio Estado, apesar da tentativa de diálogo que o Supremo Tribunal Federal tenta estabelecer com todos, Poderes, instituições e sociedade civil, em prol do progresso da nação brasileira.

O Supremo jamais se sujeitará, como não se sujeitou em toda a sua história, a nenhum tipo de ameaça, seja velada, indireta ou direta e continuará cumprindo a sua missão.

Guardião da Constituição, o Supremo Tribunal Federal repudia tais condutas e se socorrerá de todos os remédios, constitucional e legalmente postos, para sua defesa, de seus Ministros e da democracia brasileira.
       
Pepita Ortega e Fausto Macedo
14 de junho de 2020 | 17h01

Aras pede investigação de invasões a hospitais e agressões a profissionais da saúde

Pedido ocorre após o presidente Jair Bolsonaro ter solicitado a apoiadores que entrem em hospitais públicos e filmem os leitos de UTI

O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu uma investigação sobre a invasão a hospitais de campanha e agressões a profissionais de saúde nas últimas semanas. O procedimento dependerá do Ministério Público em cada Estado. Aras vai acionar procuradores em São Paulo e no Distrito Federal e poderá fazer o mesmo com outros Estados nos próximos dias.

O pedido, a ser oficializado nesta segunda-feira, 15, ocorre após o presidente Jair Bolsonaro ter solicitado a apoiadores que entrem em hospitais públicos e filmem os leitos de UTI para comprovar se as estruturas estão realmente ocupadas. A atitude provocou reação do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que pediu publicamente uma interferência do Ministério Público.

Aras

O procurador-geral da República, Augusto Aras, na sede PGR Foto: Dida Sampaio/Estadão

Em São Paulo, um grupo de cinco deputados estaduais de São Paulo invadiu, no último dia 5, o Hospital de Campanha do Anhembi, na zona norte da cidade, sob o argumento de fazer uma vistoria no local, que recebe pacientes de baixa e média complexidade infectados pelo coronavírus.

"Indubitavelmente, condutas dessa natureza colocam em risco a integridade física dos valorosos profissionais que se dedicam, de forma obstinada, a reverter uma crise sanitária sem precedentes na história do país", afirma Aras em ofício direcionado ao procurador-geral de Justiça de São Paulo, Mário Luiz Sarrubbo, a quem caberá a investigação.

No ofício, Aras cita a possibilidade de os responsáveis pela invasão serem processados criminalmente. "Observadas as condições de procedibilidade, os eventos narrados podem ensejar, em tese, a responsabilidade criminal ou por ato de improbidade dos seus autores, razão pela qual solicito a Vossa Excelência a adoção das medidas que compreender necessárias ao enfrentamento da questão."

No Distrito Federal, a investigação também deverá apurar invasões a hospitais públicos, ameaças e agressões contra profissionais de saúde. No dia 1º de maio, o protesto de um grupo de enfermeiros na Praça dos Três Poderes por melhores condições de trabalho e pela manutenção do isolamento social durante a pandemia de covid-19 acabou em confusão. Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro tentarem interromper o ato e agredir os profissionais.  No dia 9 de junho, um homem foi filmado xingando uma médica no Hospital Regional de Ceilândia, no entorno de Brasília.
       
Daniel Weterman, O Estado de S.Paulo
14 de junho de 2020 | 16h22

Presidente do TSE, Barroso sugere adiar eleições e estender horário de votação

Ministro comentou ainda sobre julgamento da chapa Bolsonaro-Mourão em entrevista exclusiva ao ‘Estadão’

Entrevista com Luís Roberto Barroso, presidente do TSE

Após quase três meses de pandemia de covid-19 é hora de definir os impactos da doença no calendário das eleições municipais deste ano, segundo o atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Luís Roberto Barroso. Patrono do Brazil Forum UK, evento que começa nesta segunda-feira, 15, organizado pela comunidade de estudantes brasileiros no Reino Unido cujo tema este ano é “E agora, Brasil? Alternativas para os múltiplos desafios”, Barroso será o entrevistado do dia 10 de julho sobre a importância do combate às fake news e os desafios de se realizar eleições nos 5.570 municípios brasileiros em pleno surto do novo coronavírus. Neste entrevista exclusiva ao Estadão, o ministro antecipa os planos do TSE, que preveem o adiamento do pleito e novas regras de votação. Veja os principais trechos:

Provas. Barroso: jurisprudência do STF admite compartilhar informações entre processos 

Ministro, o senhor considera que agora já é a hora de se decidir se as eleições municipais devem permanecer em outubro? 

Acho que está chegando a hora de se ter uma decisão sobre isso. Como isso foi encaminhado: eu me reuni por videoconferência com médicos de diferentes especialidades altamente respeitados nas suas áreas. Todos eles opinaram no sentido da conveniência de se adiarem as eleições por algumas semanas. Pela percepção que, possivelmente em setembro, a curva da doença já estaria decrescendo. Como a gente precisa programar isso com alguma antecedência, sugerimos adiar por algumas semanas. Mas a decisão é do Congresso. A sugestão do TSE é uma janela que vai de 15 de novembro até 20 de dezembro. Seria um prazo limite para o segundo turno, para que possamos dar posse até o dia 1º de janeiro. Portanto, eu transmiti essas informações dos médicos para o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Eles nos pediram que reuníssemos os médicos numa videoconferência para reiterar a posição deles aos líderes dos partidos, o que está previsto para ser em breve. E aí, diante dessas informações, o Congresso deliberará.

Resolvida a questão da data, a outra preocupação que existe é em relação à segurança dos eleitores em função da pandemia. Muitas propostas foram feitas: estender o horário de votação, determinar um horário para idosos. Como o senhor vê essas propostas? É preciso analisar um novo jeito de se votar esse ano?

Algumas dessas propostas fui eu mesmo que lancei para debate público. A ideia de estender o horário é muito provável que seja encampada, fazermos possivelmente de 8h às 20h. Com isso, ganharíamos três horas. Tudo envolve logística. Quando você estende o prazo, as pessoas têm que trabalhar mais tempo, talvez ter mais uma refeição. Recomendarmos, darmos preferência a faixas etárias por horário para evitar aglomeração, também é uma ideia colocada. Eu já pedi para verificar a concentração por idade, para saber como dividir. Mas possivelmente as pessoas mais idosas votariam na primeira hora da manhã. Tradicionalmente há uma concentração nas primeiras horas e uma concentração próxima ao encerramento e muita dispersão durante o dia. Para evitar aglomerações, vamos tentar demarcar horários e recomendar fortemente que as pessoas sigam esses horários. As eleições em dois dias tem dois problemas. O primeiro é que encarece muito ter mais uma dia de eleição, você teria que ter alimentação para 1,8 milhão mesários. E nós temos um convênio com as Forças Armadas relativo à guarda das urnas que precisaria renovar por mais um dia. Estamos falando de um custo que pode chegar a R$ 180 milhões, num momento em que o País não está com disponibilidade de recursos. O segundo problema é a segurança das urnas durante a noite. Talvez essa ideia seja mais difícil. 

E os cuidados com a saúde?

Estamos ouvindo os especialistas para preparar uma cartilha com o passo a passo das eleições: desde quando o eleitor chegar à seção eleitoral até a saída dele. Coisas básicas como não levar a mão à boca, ao nariz, aos olhos. O eleitor vai ter que votar e, em seguida à votação, ter um servidor de luva que dará um jato de álcool em gel para limpar a mão. O álcool em gel tem que ser depois do voto, porque senão estraga a urna e a biometria. Assim que tivermos a data confirmada, vamos investir energia na cartilha. Tudo ouvindo os profissionais. Sou um sujeito que sou contra o achismo, a favor do profissionalismo.

Como o TSE planeja combater fake news nestas eleições? Já há alguma ação específica pensada?

Certamente. Mas o protagonista no combate às fake news não pode ser a Justiça Eleitoral. A própria caracterização do que sejam fake news não é singela. Portanto, o TSE ou a Justiça não desejam ser um censor privado do debate público. Queremos controlar as fake news menos pelo conteúdo e mais pelos mecanismos de difusão. Contamos, em primeiro lugar, com a participação das plataformas tecnológicas. As principais, para esse efeito, são WhatsApp, Twitter, Facebook, Instagram e Google. Vamos conversar individualmente com cada uma delas. E e eu já fiz uma conversa preliminar essa semana com o WhatsApp — que, do ponto de vista eleitoral, talvez seja o de maior repercussão — pensando em como monitorar e neutralizar robôs e comportamentos inusuais de retransmissão e reenvio de mensagens. Eles já reduziram o número de reencaminhamentos possíveis, baixaram de 20 de 5, e se comprometeram a pensar outros instrumentos para impedir a circulação de fake news. Os protagonistas do combate às fake news vão ser, em primeiro lugar, as próprias plataformas. Não pelo controle de conteúdo, mas com uso de tecnologia para impedir comportamentos inusuais, como robôs e reenvios em massa. O segundo protagonista vai ser a imprensa. Estamos contando com um revival da imprensa profissional, que é a que se move por princípios éticos e sabe separar fato de opinião e sabe filtrar a quantidade de barbaridades que tem circulado nas redes. E, em terceiro lugar, o TSE vai fazer ele próprio uma campanha de esclarecimento à população para terem uma leitura crítica do que recebem e não fazerem com o candidato dos outros o que não gostariam que fizessem com o seu. Cumprir a regra de ouro de não repassar falsidades.  A intervenção do Judiciário acaba sendo muito limitada, para não se tornar uma censura privada.

Nesse sentido, o sr. defende o projeto em tramitação no Senado? Ele quer proibir robôs, por exemplo.
Eu acho que é preciso reagir às fake news e às campanhas massivas orquestradas e financiadas contra a democracia. As democracias têm que se manifestar em legítima defesa. A mim não me cabe me manifestar sobre um projeto de lei específico. Mas a ideia de se enfrentar de preferência com mecanismos tecnológicos, e não com o controle de conteúdo, essa ideia tem a minha simpatia.

luis roberto barroso stf

Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, na biblioteca em sua casa Foto: Dida Sampaio / Estadão

Uma das críticas a esse projeto é que a definição do que é desinformação não estava clara. O senhor ou o TSE têm uma definição do que são as fake news?

Bom, a resposta é sim e não. Em teoria, sim. Quer dizer, campanha de desinformação é a divulgação deliberada de informação sabidamente falsa. Esta é a definição. Fake news é um apelido. Eu posso definir pra você o que é uma campanha de ódio: é você fazer ataques preconceituosos, discriminatórios ou racistas a grupos vulneráveis da sociedade. Definir em teoria, é fácil. Nos casos concretos, é menos fácil...

O senhor se considera uma vítima de campanha de ódio? Ou a instituição? Sofre com isso?

Eu pessoalmente não sofro. Não que não possa ser vítima de ódio, mas não é o que eu tenho no meu radar pessoal. Acho que a crítica ao Tribunal é legítima. O STF arbitra conflitos delicados entre poderes. Decide questões em que há vencedores e perdedores, portanto há pessoas insatisfeitas, inconformadas. Quem quer que se disponha a se aventurar no espaço público tem que se preparar para conviver com a crítica verdadeira e construtiva. Deve ser capaz de auscultar a sociedade. Mas o poder que o Supremo exerce não é um poder em nome próprio. Ninguém, em uma democracia, exerce poder em nome próprio; todo mundo exerce poder em nome do interesse da sociedade. Eu tenho que ter olhos de ver e ouvidos de ouvir a sociedade. O que me parece que se tornou perigoso e precisa ser enfrentado são as campanhas maciças baseadas muitas vezes em falsidade e financiadas por grupos radicais para destruição das instituições.

É o que vivemos hoje?

Eu acho que há guetos pré-iluministas que fazem esse tipo de campanha. Não acho que elas sejam campanhas que tenham chegado ao 'mainstream' (corrente de pensamento mais comum). Eu diria que as campanhas de ódio contra o Supremo, massificadas de falsidade, destruição, ataque, ameaças, estão em um gueto pré-iluminista. E isso é crime. Ameaçar um juiz e a família dele é coisa de bandido, não é coisa de militante.

A Justiça tem sido chamada de forma recorrente para definir questões de saúde nessa pandemia. A que o senhor atribui isso?

O ideal seria a pandemia ser combatida sob uma liderança nacional em aliança com Estados e municípios, respeitadas as peculiaridades locais com um mínimo de interferência judicial. Na medida em que essa liderança e coordenação nacionais não ocorreram, você passou a ter muitas visões particulares desse problema. Num País em que tudo se judicializa, você começa a ter a interferência do Judiciário. Eu acho que o Judiciário deveria ser minimalista nessa matéria. Vou falar pelo Supremo. Há um paradoxo no Brasil. Há uma queixa contra excesso de interferência do Supremo que, no entanto, muitas vezes é provocado pelos próprios partidos, pela própria política. Mas quando uma ação chega ao Supremo, o STF não pode dizer: eu não vou julgar isso, porque é muito complicado, muito difícil.

Em quais situações isso ocorreu?

A questão de saber se os Estados e municípios teriam competência para também atuar em relação à pandemia, por exemplo. A resposta é sim, tá na Constituição. O Supremo decidiu o que está na Constituição. Não é que proibiu o governo federal, o governo federal pode muitas coisas. Uma outra intervenção do Supremo, essa minha mesmo, foi na campanha “O Brasil não pode parar”. Todas as entidades médicas recomendavam isolamento social. Se essa é a recomendação médica mundial, evidentemente o governo não pode fazer uma campanha para fazer todo mundo voltar a trabalhar. O risco era que isso causasse um genocídio. Em nome do direito à vida e à saúde, que estão na Constituição, o Supremo suspendeu essa campanha. Houve uma outra MP que excluía a responsabilidade dos agentes públicos, salvo hipóteses de dolo, quando intencionalmente faz uma coisa errada, ou de erro grosseiro. Essa eu fui relator também. Eu acho até que tá certo — o administrador ter medo de decidir é péssimo. Mas fizemos uma coisa chamada de interpretação conforme para dizer que se considerava erro grosseiro deixar de observar orientações médicas e científicas acerca de alguma matéria. Houve questões em que o Supremo não pôde deixar de atuar. Mas acho que a pior judicialização que existe é a que interfere para mandar dar leito de UTI. No fundo, é uma judicialização que fura fila e desarranja o sistema. Portanto, eu acho que no geral o Judiciário deve exercer autocontenção em relação às questões envolvendo pandemia.

Em tese, o senhor é a favor de tribunais superiores compartilharem informações de inquéritos?

É pacífico na jurisprudência do Supremo que é possível compartilhar informações entre processos diferentes. Em tese, a resposta é sim. Se num determinado caso concreto ela se justifica depende do relator do caso.

O sr. diz haver “terraplanismo constitucional” em relação ao artigo 142. O que significa?

A Constituição é suficientemente clara no sentido de que as Forças Armadas não desempenham nenhum papel moderador, muito menos um papel hegemônico na democracia. As Forças Armadas têm funções muito importantes, vitais mesmo para o País, que estão bem definidas na Constituição. Não há dúvida sobre o papel das Forças Armadas. O que eu disse na minha decisão é que as Forças Armadas nesses 32 anos de democracia tiveram um comportamento exemplar de profissionalismo, patriotismo e institucionalidade e que ninguém deseja, nem elas próprias, que elas sejam arremessadas no varejo da política. As Forças Armadas não pertencem a nenhum governo e sim ao Estado brasileiro, sob a Constituição. Quem pede intervenção militar é o mesmo gueto pré-iluminista que defende o fechamento do Congresso e o fechamento do Supremo. Eu considero ofensivo às Forças Armadas quererem associá-las a quebra da institucionalidade, a interferência política, ou a golpe.

O general Ramos, no entanto, afirmou que não se pode “esticar a corda” e classificou como “casuístico” o julgamento da chapa Bolsonaro-Mourão pelo TSE...

Eu não li a entrevista e não sou comentarista da opinião de ninguém. O que eu posso dizer é que os limites da democracia estão traçados na Constituição. Quanto ao julgamento, o TSE não é um ator político, mas institucional, baseado no Direito. Nem os adversários nem os apoiadores do presidente devem esperar qualquer coisa que não seja um julgamento puramente técnico, com base nas provas. O TSE julga de acordo com a prova dos autos. Não há nenhum risco de o presidente ser quer protegido quer perseguido. Onde eu estou e onde estão os ministros do TSE faz-se a coisa certa. A lógica de um tribunal não é uma lógica de amigo ou inimigo, aliado ou adversário. A lógica de um tribunal é de certo ou errado, justo ou injusto, legítimo ou ilegítimo. A única coisa que eu posso assegurar a todos os lados dessa disputa é que assim será feito.
     
Adriana Ferraz e Alessandra Monnerat, O Estado de S.Paulo
14 de junho de 2020 | 05h00

Esvaziado, ato pró-Bolsonaro vira crítica a Doria; Av. Paulista recebe opositores ao governo

Concentração no Viaduto do Chá, em frente à Prefeitura, reúne poucos manifestantes a favor do presidente; na Paulista opositores se reúnem no vão do Masp

Cerca de 30 pessoas participam no início da tarde deste domingo, 14, de um ato inicialmente marcado em favor do presidente Jair Bolsonaro no centro de São Paulo. Esvaziado, o protesto virou uma crítica ao governador João Doria (PSDB). Por meio de faixas, manifestantes pedem a renúncia do tucano em frente à sede da Prefeitura. Já na Avenida Paulista, opositores ao governo federal começam a ocupar a calçada em frente ao vão do Masp e já fecham as pistas sentido centro.

Ato pró-Bolsonaro no Viaduto do Chá, no centro de São Paulo

Ato pró-Bolsonaro no Viaduto do Chá, no centro de São Paulo Foto: Taba Benedicto/Estadão

Gilmar Mendes adverte: ‘Invadir hospitais é crime, estimular também’

Após acordo com a Polícia Militar, e em função de uma decisão judicial que impede a realização de atos a favor e contra ao mesmo tempo na Avenida Paulista, a via ficou reservada neste domingo a protestantes que fazem oposição ao governo. A PM acompanha a distância o posiconamento de faixas e cartazes que pedem "Fora Bolsonaro".

Protesto contra Bolsonaro na avenida Paulista, em São Paulo - Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Fora Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, reuniu mais gente

O atos, mais uma vez, foi convocado por torcedores de futebol que se têm se manifestado politicamente por meio do movimento Somos Democracia. Segundo Danilo Pássaro, fundador do grupo, representantes de torcidas organizadas de 14 Estados entraram em contato com ele durante as últimas semanas e devem aderir ao ato deste domingo em suas capitais.

"Fizemos reuniões online com representantes de torcidas de 14 estados", disse Pássaro. Apesar da presença do Somos Democracia estar restrita a 14 Estados e o DF, a estimativa dele é que 18 Estados registrem movimentações, pois, além dos torcedores, os atos devem congregar coletivos ligados ao movimento negro e outras entidades, como a Frente Povo Sem Medo.

De acordo com o advogado Raimundo Bonfim, coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP) - entidade ligada à Frente Brasil Popular, que não aderiu formalmente aos atos -, vários grupos populares vão comparecer às manifestações para se opor ao fascismo e em defesa da democracia, como a Frente Povo Sem Medo, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e a própria CMP.

Adriana Ferraz e Taba Benedicto, O Estado de S.Paulo
14 de junho de 2020 | 14h48

sábado, 13 de junho de 2020

Mais iguais

O papel das Forças Armadas na nossa democracia continua dando assunto para o debate político, e o Supremo Tribunal Federal (STF), o intérprete definitivo da Constituição, se pronunciou novamente ontem através do ministro Luis Fux, que assumirá a presidência da Corte em setembro.

Leia aqui a análise de Merval Pereira em O Globo de hoje

Respondendo a uma consulta do PDT, Fux disse, entre outras coisas: “A chefia das Forças Armadas é poder limitado, excluindo-se qualquer interpretação que permita sua utilização para indevidas intromissões no independente funcionamento dos outros Poderes, relacionando-se a autoridade sobre as Forças Armadas às competências materiais atribuídas pela Constituição ao Presidente da República”.

Há, no entanto, quem tema que “esse famigerado artigo 142 ainda vai dar pano para manga”, como o historiador José Murilo de Carvalho, da Academia Brasileira de Letras. Ele escreveu um belo artigo recentemente no Globo fazendo um apanhado histórico do papel das Forças Armadas nas constituições brasileiras, onde ressaltou que desde 1891 existe a definição delas como “garantidoras dos poderes constitucionais”, aspecto que considera “ a justificativa preferida pelas FA para definir seu papel e justificar sua intervenção”.

José Murilo me mandou um acréscimo de suas pesquisas sobre as FA nas constituições da Argentina, Uruguai e Chile, as outras três ditaduras da América do Sul, onde ele vê um “abismo de distância”. Nossos vizinhos, de fato, não definem um papel para as Forças Armadas. A Constituição argentina de 1994 diz apenas, em seu artigo 99: “O Presidente da República é o comandante-chefe das forças armadas da Nação”. A do Chile, de 2010, diz que “As FA dependem do Ministério da Defesa e “existem para a defesa da pátria e são essenciais para a segurança nacional”. A do Uruguai, de 1997, define: “O presidente da República tem o mando supremo de todas as Forças Armadas”.

Entendo o temor de José Murilo de Carvalho e tantos outros, mas, diante das diversas manifestações institucionais do Supremo, do Congresso, e de órgãos como a Ordem dos Advogados do Brasil  (OAB), acho que não há mais caminho dentro da Constituição para a interpretação intervencionista. Mas, claro que sempre é possível um golpe militar. Quanto aos nossos vizinhos, sempre haverá quem diga que o presidente, sendo o comandante em chefe das FA, poderá decidir por uma intervenção militar. No Brasil, há ainda, pela primeira vez em 30 anos de democracia, essa indesejada mistura de militares com o governo.

O presidente Bolsonaro usa os militares como ameaça – “as Forças Armadas estão do meu lado”, - embora os militares que estão no governo sempre aleguem que não há ministro militar, há ministros que vêm da área militar, como outros são políticos, ou engenheiros, ou advogados.

Nesse caso, é indispensável que todos sejam da reserva e, sobretudo, que nunca mais vistam a farda, mesmo metaforicamente, muito menos para ameaçar as instituições. Não é o que acontece. O General Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo, embora tenha anunciado a decisão de ir para a reserva, garante em entrevista à revista Veja que o Exército não dará um golpe, mas adverte: “o outro lado tem que entender também o seguinte: não estica a corda”.

Ele também se recusou a comentar o que considera “implausível”: o TSE cassar a chapa presidencial. Ontem, o relator dos processos, ministro Og Fernandes, aceitou que o STF envie as provas já coletadas no inquérito das fake news presidido pelo ministro Alexandre de Moraes para serem compartilhadas pelo TSE.

O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), se considerou com o direito de advertir que se o celular do presidente Bolsonaro fosse apreendido pela Polícia Federal poderia haver “consequências imprevisíveis”. Quando o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello convocou os três ministros militares do Planalto para depor, o aviso veio com um procedimento formal, que todo cidadão recebe da mesma maneira: se não comparecerem na data marcada, vão “debaixo de vara”.

Um linguajar próprio da Justiça que em nada rebaixa os convocados. Mas os militares ficaram irritadíssimos, como se mentalmente continuassem se considerando diferentes dos outros cidadãos. Acham que são mais iguais que os outros, como no livro “A Revolução dos Bichos”, do George Orwel.


Base de Bolsonaro, 1/4 do Centrão é alvo da Justiça

Entre os cerca de 200 deputados que compõem as bancadas do bloco informal na Câmara, ao menos 60 respondem por crimes ou ações por improbidade administrativa

Nas bancadas dos partidos que formam o Centrão, nova base de apoio ao presidente Jair Bolsonaro no Congresso, um em cada quatro deputados é investigado ou responde por crimes ou ações por improbidade administrativa com dano ao erário e enriquecimento ilícito. Dos cerca de 200 deputados que formam o bloco informal na Câmara, ao menos 60 possuem implicações na Justiça com acusações e suspeitas que envolvem desde lavagem de dinheiro e corrupção a crimes ambientais.

Com o agravamento da crise política, o Planalto passou a fazer uma investida explícita para atrair apoio das siglas do Centrão em troca de cargos. As negociações se chocam com o discurso contra a “velha política” e o “toma lá, dá cá” no Congresso, adotado por Bolsonaro desde a campanha eleitoral. Esse movimento se intensificou após Sérgio Moro deixar o Ministério da Justiça e Segurança Pública acusando o presidente de tentar interferir indevidamente na Polícia Federal.

Na última semana, essas ações criminais avançaram sobre dois dos principais líderes do Centrão. O presidente do Solidariedade, deputado Paulinho da Força (SP), foi condenado a dez anos e dois meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por crimes contra o sistema financeiro nacional, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Já o líder do Progressistas (antigo PP), Arthur Lira (AL), foi denunciado por corrupção passiva pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em uma investigação da Operação Lava Jato.

Lira e Paulinho da Força lideram as agremiações que fazem parte do Centrão mais atingidas por investigações ou denúncias. Entre os sete partidos do bloco, o Solidariedade tem a bancada com o maior número de deputados comprometidos na Justiça. Seis dos 14 parlamentares, mais de 40%, são alvo de processos judiciais que questionam sua conduta no setor público. A maior parte dos casos é referente a improbidade administrativa, com suspeita de danos aos cofres públicos.

O Progressistas vem em seguida, com 38% de seus representantes na Câmara implicados em processos que apontam ou investigam desde lavagem de dinheiro até fraude em licitação. Outras siglas que integram o Centrão são PTB (33% da bancada investigada) – que tem o ex-deputado Roberto Jefferson como presidente nacional –, PSD (25%), Republicanos (25%), DEM (27%) e PL (23%).

No total, os casos de improbidade administrativa e dano ao erário correspondem a mais da metade dos processos levantados. Fraude em licitação e falsidade ideológica também estão entre os crimes mais comuns pelos quais os parlamentares respondem.

O levantamento do Estadão não leva em conta processos já extintos, ações de danos morais ou execuções fiscais. A inclusão desses casos aumentaria o número de processados no Centrão de 60 para 77 deputados.

Fora do levantamento, há situações em que inquéritos foram arquivados por falta de provas. É o caso do deputado Fábio Faria (PSD-RN), indicado por Bolsonaro na quarta-feira passada para chefiar o recém-criado Ministério das Comunicações.

Em 2017, Faria foi citado em depoimentos de cinco delatores da construtora Odebrecht, após um acordo de leniência celebrado com o Ministério Público Federal. Eles afirmaram ter pago R$ 100 mil à sua campanha para deputado federal, que não teriam sido contabilizados. A doação, segundo os delatores, teria sido paga em troca de apoio a da Odebrecht Ambiental nas áreas de saneamento básico e infraestrutura no Rio Grande do Norte.

O então governador do Estado e pai do deputado, Robinson Faria (PSD), também foi investigado no mesmo inquérito – ele foi arquivado após pedido da então PGR Raquel Dodge, que alegou não ter encontrado elementos suficientes para o oferecimento de denúncia, “apesar dos fortes indícios da prática do delito”. À época, o deputado disse que prestaria “todos os esclarecimentos à Justiça e ao Ministério Público para provar minha inocência”. A reportagem não conseguiu contato com Faria.

Recurso

À reportagem, o Solidariedade respondeu que os deputados não iriam se manifestar. A defesa do deputado Paulinho da Força disse, após sua condenação no STF, que respeita a decisão, mas discorda da sentença, e afirmou que irá recorrer.

Contatado, o Progressistas não respondeu. Após a denúncia contra o deputado Arthur Lira ser apresentada, sua defesa disse que a argumentação da PGR “não se sustenta”, que a versão da acusação já foi desmentida por envolvidos, e que a delação que baseia a denúncia já teve “inverdades” reconhecidas pelo Supremo. O deputado não havia se manifestado até a conclusão desta edição.

Tulio Kruse, O Estado de S.Paulo
13 de junho de 2020 | 14h28

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Forças Armadas não aceitam tentativas de tomada de poder, diz Bolsonaro ao comentar decisão de Fux.

Presidente assina nota conjunta ao lado de vice e ministro da Defesa

Bolsonaro, aos 18 meses de governo Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

Bolsonaro, aos 18 meses de governo Foto: Ueslei Marcelino / Reuters

Em nota assinada em conjunto com o vice Hamilton Mourão e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo, o presidente Jair Bolsonaro se manifesta sobre a decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux sobre o papel da Forças Armadas. No documento, eles afirmam que os militares "não aceitam tentativas de tomada de poder".

Fux concedeu nesta sexta-feira uma liminar declarando que as Forças Armadas não exercem poder moderador em eventual conflito entre o Executivo, Legislativo e Judiciário. A decisão foi tomada em uma ação em que o PDT pediu para a Corte esclarecer as atribuições dos militares, de acordo com a Constituição Federal.

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A nota de Bolsonaro, Mourão e Azevedo é dividida em quatro tópicos. No primeiro, há a lembrança de que, segundo o artigo 142 da Constituição, "as Forças Armadas estão sob a autoridade suprema do Presidente da República".

Logo em seguida, afirmam que "as mesmas destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem".

Então, há um juízo sobre o papel dos militares:

"As FFAA do Brasil não cumprem ordens absurdas, como p. ex. a tomada de Poder. Também não aceitam tentativas de tomada de Poder por outro Poder da República, ao arrepio das Leis, ou por conta de julgamentos políticos".

Em seguida, os três dizem que "o Sr. Min. Luiz Fux, do STF, bem reconhece o papel e a história das FFAA sempre ao lado da Democracia e da Liberdade".

A polêmica sobre o papel das Forças Armadas ganhou notoriedade quando foi divulgado vídeo da reunião ministerial de 22 de abril, em que o presidente Jair Bolsonaro afirmou que existe um dispositivo que permite aos Poderes pedir intervenção militar para restabelecer a ordem.

“Nós queremos fazer cumprir o artigo 142 da Constituição. Todo mundo quer fazer cumprir o artigo 142 da Constituição. E, havendo necessidade, qualquer dos Poderes pode, né? Pedir às Forças Armadas que intervenham para restabelecer a ordem no Brasil”, disse o presidente.

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Leia a íntegra da nota:

— Lembro à Nação Brasileira que as Forças Armadas estão sob a autoridade suprema do Presidente da República, de acordo com o Art. 142/CF.

- As mesmas destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

- As FFAA do Brasil não cumprem ordens absurdas, como p. ex. a tomada de Poder. Também não aceitam tentativas de tomada de Poder por outro Poder da República, ao arrepio das Leis, ou por conta de julgamentos políticos.

- Na liminar de hoje, o Sr. Min. Luiz Fux, do STF, bem reconhece o papel e a história das FFAA sempre ao lado da Democracia e da Liberdade.

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- Presidente Jair Bolsonaro.

- Gen. Hamilton Mourão, Vice PR.

- Gen. Fernando Azevedo, MD.

Bruno Góes / O GLOBO
12/06/2020 - 21:54 / Atualizado em 12/06/2020 - 22:23

Luiz Eduardo Ramos: “É ultrajante dizer que o Exército vai dar golpe”

O chefe da Secretaria de Governo defende a tese de que não há motivos para pensar em um impeachment de Bolsonaro e anuncia sua passagem para a reserva.

Eis aqui a íntegra da entrevista do General Ramos, MInistro Chefe da Secretaria de Governo à VEJA desta semana:


General Luiz Eduardo Ramos, Ministro Chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República. (Foto de Cristiano Mariz).


Ninguém percebeu, mas havia um ministro da equipe de Jair Bolsonaro infiltrado na manifestação contra o governo no último domingo em Brasília. E não era qualquer ministro. Luiz Eduardo Ramos, chefe da Secretaria de Governo, é quem controla as indicações para os cargos mais importantes, o responsável pela articulação política, o fiador da aliança com o notório Centrão e, por ser general da ativa, também desperta algumas teorias conspiratórias que serviram de mote para os protestos do fim de semana. De gorro, máscara e óculos escuros, Ramos ouviu bem de perto os gritos contra o presidente, assistiu às performances de combate ao racismo e diz ter se assustado com as faixas que traziam acusações de fascismo contra o governo. No mês passado, o general acompanhou Bolsonaro em um ato em frente ao Palácio do Planalto, onde apoiadores atacaram o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. A participação dele foi alvo de críticas e causou um tremendo mal-estar entre militares de alta patente. O ministro, por causa disso, anunciou que vai se aposentar das Forças Armadas. Em entrevista a VEJA, Ramos classifica as manifestações como legítimas, critica os ataques que são feitos ao presidente e confessa que a coisa que mais o deixa irritado é quando lhe perguntam sobre a possibilidade de golpe militar no Brasil.

Qual a possibilidade de um golpe militar no Brasil? 

Fui instrutor da academia por vários anos e vi várias turmas se formar lá, que me conhecem e eu os conheço até hoje. Esses ex-cadetes atualmente estão comandando unidades no Exército. Ou seja, eles têm tropas nas mãos. Para eles, é ultrajante e ofensivo dizer que as Forças Armadas, em particular o Exército, vão dar golpe, que as Forças Armadas vão quebrar o regime democrático. O próprio presidente nunca pregou o golpe. Agora o outro lado tem de entender também o seguinte: não estica a corda.

O senhor se refere a exatamente o quê? 

O Hitler exterminou 6 milhões de judeus. Fora as outras desgraças. Comparar o presidente a Hitler é passar do ponto, e muito. Não contribui com nada para serenar os ânimos. Também não é plausível achar que um julgamento casuístico pode tirar um presidente que foi eleito com 57 milhões de votos.

O que seria um julgamento casuístico? 

Um julgamento do Tribunal Superior Eleitoral que não seja justo. Dizem que havia muitas provas na chapa de Dilma e Temer. Mesmo assim, os ministros consideraram que a chapa era legítima. Não estou questionando a decisão do TSE. Mas, querendo ou não, ela tem viés político.

E se essa impugnação vier a acontecer? 

Sinceramente, não vou considerar essa hipótese. Acho que não vai acontecer, porque não é pertinente para o momento que estamos vivendo. O Rodrigo Maia (presidente da Câmara) já disse que não tem nenhuma ideia de pôr para votar os pedidos de impeachment contra Bolsonaro. Se o Congresso, que historicamente já fez dois impeachments, da Dilma e do Collor, não cogita essa possibilidade, é o TSE que vai julgar a chapa irregular? Não é uma hipótese plausível.

“É ultrajante e ofensivo dizer que as Forças Armadas, em particular o Exército, vão dar golpe, que as Forças Armadas vão quebrar o regime democrático. O próprio presidente nunca pregou o golpe”

As manifestações contra o governo Bolsonaro preocupam o Palácio do Planalto? 

Não. A rua não tem dono. Também há manifestações em favor do Bolsonaro. Só há uma coisa que me incomoda e me desperta atenção. Um movimento democrático usando roupa preta. Isso me lembra muito autoritarismo e black blocs. Quando falo em democracia, a primeira coisa que me vem à mente é usar as cores da minha bandeira, verde e amarelo. No domingo, fiquei disfarçado no gramado em frente ao Congresso observando o pessoal. Eles não usavam vermelho para não pegar mal. Mas me pareceu que eram petistas.

O senhor também participou, ao lado do presidente, de uma manifestação que atacava as instituições. Eu estava quietinho lá atrás, também apenas obser­vando. Aí o presidente perguntou: “Cadê o Ramos?”. Fui muito criticado no dia seguinte, inclusive pelos meus companheiros de farda. Não me sinto bem. Não tenho direito de estar aqui como ministro e haver qualquer leitura equivocada de que estou aqui como Exército ou como general. Por isso, já conversei com o ministro da Defesa e com o comandante do Exército. Devo pedir para ir para a reserva. Estou tomando essa decisão porque acredito que o governo deu certo e vai dar certo. O meu coração e o sentimento querem que eu esteja aqui com o presidente.

Como o senhor avalia o conflito entre o governo e o Supremo Tribunal Federal? 

Quando me perguntam o que achei da decisão do ministro Celso de Mello, que me mandou depor debaixo de vara, digo que a respeito, porque decisão judicial não se discute, se cumpre. Mas me incomodou, porque acho que foi desnecessário. Não precisava. Da mesma forma ocorreu com o pedido de apreensão do aparelho celular do presidente da República. Isso gerou um calor desnecessário entre as instituições. Além disso, vazou a mensagem de WhatsApp em que o ministro do Supremo comparou o presidente Bolsonaro ao Hitler e os seus seguidores a nazistas. Isso contribui para o clima de diálogo e para buscar uma harmonia entre os poderes? Acredito que não. Aí, o presidente sobe no cavalo e todo mundo critica. São sinais trocados. É preciso superar esse ambiente de histeria.

Há alguns meses, a relação entre o governo e o Congresso também estava estremecida. Esse conflito já foi superado? 

Quando assumi a articulação política, há quase um ano, eu disse que queria construir uma ponte. Hoje posso dizer que estamos em um processo para inaugurar a ponte. Até abril, eu nunca tinha conseguido reunir todos os líderes de partidos no Palácio do Planalto. Eles se encontravam na casa do Rodrigo Maia, presidente da Câmara. Agora mudou.

O senhor se refere às negociações de cargos para o Centrão antes tão criticadas pelo então candidato Bolsonaro? 

A divisão dos espaços democráticos é justa, republicana e transparente. Todo cargo do governo federal serve para implantar políticas públicas. Por isso, precisamos preenchê-los com pessoas que estejam alinhadas com o governo, que tenham projetos convergentes. Havia muitas distorções que foram corrigidas. Descobrimos, por exemplo, que um cargo importante no Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) estava nas mãos de um indicado do PT. Ele direcionava todos os recursos para os municípios petistas. Está errado? Não. Quando detectamos isso, fizemos a substituição. Há mais de 11 000 cargos que têm uma indicação política em sua origem.

Como o senhor mapeou esses cargos? 

Tive de examinar o Diário Oficial da União e fiz alguns testes. Às vezes, mandava exonerar um funcionário que ocupava um cargo de comissão apenas para descobrir quem o havia indicado. No máximo em 48 horas o parlamentar me ligava: “Ministro, aqui é o senador ou deputado fulano. O que houve? Põe de volta…”. Aí, eu sabia que o cargo era do fulano.

Na prática, como funciona o processo de indicação política? 

Temos um quadro de quem vota e de quem não vota com o governo. É o que eu digo: quer fazer parte do governo? Tem de fazer parte do governo de fato. Hoje eu tenho esse controle. Sei exatamente o nível de fidelidade dos parlamentares. Ou você é governo ou não é. Antes, um parlamentar vinha aqui sozinho e pleiteava um cargo. Eu via que ele votava com a gente e o atendia. Mas quantos votos ganhava?

Apenas um. Agora, a negociação é com os partidos. A fidelidade é uma responsabilidade dos partidos. O senador Ciro Nogueira, presidente do PP, tem sessenta votos. Por isso, ele tem espaço no governo com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Ele assumiu o compromisso de ser governo. Exijo um nível de fidelidade de ao menos 80%.

No caso do FNDE, o ministro Abraham Weintraub discordou da indicação política do PP… O ministro tem a palavra final. Pode aceitar ou não a indicação. Conversamos com o Weintraub, eu e o ministro Braga Netto (Casa Civil), e ele entendeu. Esse era um caso de elevado grau de importância política. É uma indicação de um presidente de um partido aliado. Em que pese o posicionamento do ministro, nesse caso, o item político pesou mais.

“Se o Congresso, que historicamente já fez dois impeachments, da Dilma e do Collor, não cogita essa possibilidade, é o TSE que vai julgar a chapa irregular? Não é uma hipótese plausível”

Mas isso não é o mesmo fisiologismo que serve de entrada para a corrupção que vocês sempre criticaram em governos passados? Um detalhe importante: o parlamentar pode ter a presidência ou a diretoria de um determinado órgão, mas quem cuida dos recursos públicos é gente nossa. Na maioria desses órgãos, os cargos de diretor jurídico e diretor financeiro ficaram com o governo. Essa é a nova maneira de a gente trabalhar. O problema não é o político ocupar cargo público. O problema é o político ocupar cargo público para saquear como acontecia antes. Isso acabou.

Tem sido desafiador costurar ações conjuntas no combate à pandemia com governadores que não estão alinhados com o governo federal? Esse trabalho também tem ido muito bem. Temos problemas basicamente em dois estados, São Paulo e Rio de Janeiro. O presidente nunca teve maiores embates com a Fátima Bezerra, do PT, ou com o Flávio Dino, do PCdoB. A leitura do presidente é que os governos de São Paulo e do Rio de Janeiro politizaram uma questão sanitária. O Doria disse que o Brasil enfrenta o “bolsonarovírus”. O presidente é ser humano. Ele contra-ataca.

Qual o cenário que o senhor traça para o país daqui a um mês? Tenho esperança de que as coisas vão se acertar. A Covid-19 está passando. Isso é perceptível na Itália e na França. Isso vai acontecer com o Brasil. Essa OMS… É inegável que a OMS foi usada politicamente.

Há um risco de uma convulsão social? 

Há uma preocupação com os efeitos do isolamento. O funcionário público está em casa e no dia 30 de cada mês o seu salário cai na conta. Mas e quem vendia pipoca na frente do colégio? Tenho um genro empresário que está desesperado porque investiu dinheiro em uma academia antes da crise. Com a pandemia, o governo mapeou 38 milhões de profissionais informais invisíveis. Foi um grande feito. Havia o risco de uma convulsão social com o desespero das pessoas de não ter o que comer. Mas o governo mitigou isso com a liberação do auxílio emergencial. Vamos passar por essa.

Por Thiago Bronzatto - Atualizado em 12 Jun 2020, 12h05 - Publicado em 12 Jun 2020, 06h00

Publicado em VEJA de 17 de junho de 2020, edição nº 2691

Brasil passa o Reino Unido e se torna o segundo país do mundo em mortes por coronavírus

Dados do consórcio dos veículos de comunicação registram o total de 41901 óbitos; nas últimas 24 horas foram 843 mortes e mais 24255 casos

     
O Brasil é o segundo país do mundo com mais mortes por coronavírus. A triste posição no ranking foi obtida nesta sexta-feira, dia 12, quando o País alcançou o total de 41901 óbitos e 829802 pessoas infectadas, segundo levantamento conjunto feito pelos veículos de comunicação Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha e UOL.

Em comparação com o levantamento da Universidade Johns Hopkins, o Brasil ultrapassou o Reino Unido, que registra 41566 óbitos. Os Estados Unidos continuam no topo do ranking com 114.195 mortes. Segundo balanço da OMS, o Brasil já ocupava a segunda posição no ranking de casos.

Dados atualizados até as 20h desta sexta-feira mostram que, nas últimas 24 horas, foram registrados 843 novos óbitos e 24255 casos de contaminação pela covid-19 no Brasil.

Com mais de 10 mil mortes, São Paulo continua sendo o Estado mais afetado pelo vírus. A elevação do número de óbitos acontece em um momento de flexibilização da quarentena e retomada das atividades econômicas. Nesta quinta-feira, por exemplo, os shoppings centers foram autorizados a iniciar a retomada em horário reduzido e com o cumprimento de inúmeras medidas preventivas. O Rio de Janeiro é o segundo Estado com mais vítimas fatais. Em terceiro vem o Ceará. O Estado com menos mortes é o Mato Grosso do Sul, com 28 óbitos registrados até agora.

O balanço de óbitos e casos é resultado da parceria entre os jornalistas dos seis meios de comunicação, que uniram forças para coletar junto às secretarias estaduais de Saúde e divulgar os números totais de mortos e contaminados. A iniciativa inédita é uma resposta à decisão do governo Jair Bolsonaro de restringir o acesso a dados sobre a pandemia, o que ocorreu a partir da semana passada.

Mesmo com o recuo do Ministério da Saúde, que voltou a divulgar o consolidado de casos e mortes, o consórcio dos veículos de imprensa continua com o objetivo de informar os brasileiros sobre a evolução da covid-19 no País, cumprindo o papel de dar transparência aos dados públicos.

Nesta sexta-feira, a pasta informou, por volta das 18h30, que o Brasil contabilizou 909 óbitos e mais 25982 pessoas infectadas pelo novo coronavírus. Com isso, segundo o Ministério da Saúde, no total são 828.810 casos confirmados e 41828 mortes causadas pelo coronavírus.

Estratégias equivocadas

Especialistas apontam que o altíssimo número de mortes nos dois países, Brasil e Reino Unido, os dois únicos com mais de 40 mil mortes além dos Estados Unidos, indica estratégias equivocadas no enfrentamento da pandemia. O microbiólogo e virologista Rômulo Neris, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirma que o Reino Unido mudou de estratégia com o aumento do número de casos. “Eles abriram mão dos planos de contenção no início da pandemia. Isso custou milhares de vidas. O país mudou a perspectiva com o agravamento da pandemia e adotou o lockdown”, diz o especialista.

“O Brasil adotou postura negacionista. As medidas de controle não foram estabelecidas e o isolamento social não teve o suporte das autoridades. É o único País que discute a reabertura e flexibilização ainda durante o aumento de crescimento de casos”, diz o especialista que atuou como pesquisador visitante da Universidade da Califórnia até março, mas decidiu voltar ao País para ajudar no enfrentamento da pandemia.

Passaram-se 53 dias desde a primeira morte até o País atingir 10 mil óbitos (entre 17 de março e 9 de maio). Pouco mais de mês depois, o Brasil ultrapassa os 40 mil mortos em decorrência da covid-19.

O virologista Flávio Guimarães da Fonseca, que atua no Centro de Tecnologia de Vacinas e no Departamento de Microbiologia da UFMG, destaca que os dois países estão em momentos diferentes da pandemia. “Desde o crescimento do número de fatalidades no Reino Unido, eles adotaram medidas importantes que promoveram a queda da transmissão comunitária. Ela está em franca diminuição ou na curva descendente. No Brasil, ainda não alcançamos o pico. A curva continua crescente. Há aumento diário no número de casos e não há sinal de decréscimo”, prevê o especialista que tem realizado estudos para melhorar o diagnóstico da infecção pelo coronavírus.

Fonseca aponta uma diferença significativa entre os dois países: a taxa de mortalidade por covid-19 é maior na Inglaterra. Entre as razões estão as diferenças demográficas, pois a população de idosos no Reino Unido é maior que no Brasil. Néri lembra a questão da subnotificação, um problema recorrente no País desde o início da pandemia, e a falta de testagem suficiente.

Lessandra Michelin, infectologista e diretora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), acrescenta outro fator que mostra erro de estratégia dos ingleses. “No início, os ingleses permitiram a circulação de jovens, mas promoveram o isolamento de grupos de riscos e idosos. Esses jovens voltaram para casa e acabaram contaminando o restante da família. Quando perceberam, boa parte do grupo de risco já estava contaminado. Apesar de isolado, ele foi exposto”, diz a especialista.

Os especialistas concordam que o avanço da pandemia no País é uma incógnita. Néri aponta que é difícil prever o número de casos e a chegad ao pico, dada a subnotificação. Estudos apontam que o número de casos deve ser entre seis e sete vezes maior. “As estimativas mais recentes é que teremos julho e agosto em mais de cinco mil mortes por dia de covid-19”, opina. “Certamente vamos passar de um milhão de casos”, completa Fonseca.

Gonçalo Junior, O Estado de S.Paulo
12 de junho de 2020 | 20h02

Apesar dessa desgraceira toda no País, ainda cabe celebrar o Dia dos Namorados



My Funny Valentine 

Chet Baker
Sings & Plays the Standards


My Funny Valentine

You're my funny Valentine,

sweet comic Valentine,

You make me smile with my heart,

Your looks are laughable, Unphotographable

Yet you're my favourite work of art



Is your figure less than Greek?

Is your mouth a little weak?

When you open it to speak, are you smiling?

But don't change a hair for me,

Not if you care for me.

Stay little valentine, stay!

Each day is Valentine'


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My Funny Valentine (tradução)

Minha engraçada namorada


Você é minha namorada divertida

Doce e cômica namorada

Você me faz sorrir com meu coração

Seu visual faz ri, é "infotografável"

No entanto, você é minha obra de arte favorita

Sua aparência é menos do que grega?

Sua boca está um pouco fraca?

Quando você a abre para falar, você está sorrindo?

Mas não mude um fio de cabelo por mim

Não, se você se importa comigo

Fique namoradinha, fique!

Todo dia é Dia dos Namorados

Todo dia é Dia dos Namorados


O velho descaso com a saúde pública e agora aliado ao novo coronavírus seguem vencendo a guerra contra a vida do Povo no Brasil


Capa do jornal O Estado de São Paulo hoje



41.058
Mortos no Brasil

805.649
Contaminados

10.145
Mortos em SP

Foram 1.261 óbitos em 24 horas, segundo consórcio de veículos de comunicação

País continua sendo o 3º no mundo com maior número de mortos, mas se aproxima do Reino Unido

Cidade de São Paulo reabre comércio, apesar da discordância de epidemiologistas


Atraindo raios e trovoadas

"Bolsonaro emenda crises: recuou na Saúde e já partiu para cima das universidades".

"Sem se dar tempo para respirar, Bolsonaro já providencia automaticamente a nova crise. Se aquela era na Saúde, que sofre um desmanche à luz do dia, esta é na Educação, onde o ministro Abraham Weintraub nunca explicou a que veio"

Saúde e Educação são áreas sensíveis e estratégicas, com corporações mobilizadas e grande capacidade de fazer barulho. Pois a Saúde foi obrigada a recuar e parar de esconder os números da pandemia e, já no dia seguinte, a Educação entrou na roda com uma medida provisória do presidente Jair Bolsonaro que quebra a autonomia universitária e dá poderes a Abraham Weintraub – inimigo número um das universidades – para nomear reitores a bel prazer durante a pandemia.

É assim que o Brasil vai vivendo aos trancos e barrancos. Bolsonaro manda maquiar o número de mortes. Epidemiologistas, sanitaristas, infectologistas, cientistas e associações médicas gritam. O Congresso, a mídia e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta providenciam estatísticas independentes. E o Supremo determina a volta da metodologia internacionalmente aceita. Aí o governo recua.

Sem se dar tempo para respirar, Bolsonaro já providencia automaticamente a nova crise. Se aquela era na Saúde, que sofre um desmanche à luz do dia, esta é na Educação, onde o ministro Abraham Weintraub nunca explicou a que veio, brinca no twitter de “Cantando na chuva” (com guarda-chuva e tudo), provoca os chineses com um vídeo trocando os “R” pelos “L” e ataca professores, alunos e universidades, enquanto massacra a língua pátria.

A Saúde recuou da chocante troca de metodologia dos números da pandemia num dia e já no dia seguinte Bolsonaro anunciava uma medida provisória com a novidade: Weintraub, que despreza as universidades (onde só há “balbúrdia” e “plantações de maconha”), vai adquirir superpoderes, passar por cima do corpo docente, do corpo discente e dos funcionários e indicar quem ele bem entender para ocupar temporariamente as reitorias que vagarem durante a pandemia. Só de pensar no tipo de gente que ele nomeará, ou nomearia, dá um frio na barriga.

A reação no caso da Saúde se reproduziu no da Educação: Congresso, mídia, professores, alunos, entidades de educação e partidos estão botando a boca no trombone. Além do principal – Weintraub escolhendo reitores à sua imagem e semelhança?! –, há a questão jurídica, porque a MP do presidente atinge a autonomia das universidades, logo, é inconstitucional. Assim como recuou na sonegação de dados da covid-19, é muito provável que Bolsonaro recue também no caso das universidades.

Enquanto faz da Saúde e da Educação gato e sapato, Bolsonaro vai desdizendo o que disse na campanha de 2018 e o que acaba de declarar, em 30 de abril, à Rádio Guaíba: “Não existe nenhum ministério sendo oferecido para ninguém, como aconteceu no passado, nenhuma presidência de banco oficial e tampouco estatais”. E ainda ressaltou: “Esse é o nosso trabalho e vai continuar sendo feito dessa maneira. O resto é intriga.”

Então, intrigantes, o que aconteceu? Além de ter nomeado indicados do Centrão para fundos milionários (atenção!) da Educação e da Saúde, o presidente também deu a eles o Banco do Nordeste (o indicado caiu em 24 horas, em mais um recuo) e acaba de brindá-los com um ministério. Não um já existente, mas um recriado: o das Comunicações. O deputado Fábio Faria vem aí! Ele é do PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, que integra o Centrão, e genro do dono do SBT, Silvio Santos. Uma combinação perfeita, uma síntese da “nova política”.

Se a moda pega. 

O general Mark Milley, chefe do Estado Maior Conjunto e principal autoridade militar dos EUA, pediu desculpas por ter participado de uma presepada de Trump que nada tem a ver com Forças Armadas: “Minha presença (...) criou uma percepção de envolvimento dos militares na política interna”, lamentou. Bingo. Já imaginaram no Brasil? Ia ter fila.

     
A autora deste artigo, Eliane Cantanhêde, é Jornalista. Publicado originalmente em O Estado de S.Paulo, edição de 12 de junho de 2020.

O capitão combate a verdade

"Ao lado do armamento da população, esse é um passo decisivo rumo a um governo autoritário."

"A luta permanente contra a transparência é uma luta contra a democracia. Os militares, no período ditatorial, tentaram esconder um surto de meningite. Mas os tempos são outros." 

Em artigo ba edição de hoje de O Estado de São Paulo, o Jornalista Fernando Gabeira analisa o confronto diuturno do atual Presidente da República com a verdade dos fatos.

“E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.” Bolsonaro venceu as eleições citando com frequência esse versículo de João. No entanto, não se conhece na História moderna do Brasil um governo que tenha combatido a verdade em todos os níveis.

Os números do desemprego, compilados pelo IBGE de acordo com métodos internacionalmente reconhecidos, foram negados por Bolsonaro. O indice de desmatamento na Amazônia obtido com ajuda de satélites foi contestado por Bolsonaro e o cientista Ricardo Galvão, demitido. Pesquisas da Fundação Oswaldo Cruz sobre consumo de drogas no Brasil foram engavetadas porque não atendiam às expectativas do governo.

A briga contra os dados não se limitou ao choque contra o trabalho científico. Ele se estendeu de forma perigosa contra a própria possibilidade de acesso às informações oficiais.

Com a anuência de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão tentou fazer passar uma diretiva que permitia a funcionários de segundo escalão determinar o que era ou não passível de ser classifico como material secreto. A diretiva de Mourão caiu no Congresso.

Mal começou a pandemia, Bolsonaro, usando-a como pretexto, queria suspender parcialmente a Lei de Acesso à Informação. De novo foi derrotado, dessa vez no Supremo Tribunal Federal

A apoteose dessa medida obscurantista foi na semana que passou, com a decisão de censurar as informações sobre a pandemia de covid-19.

Inicialmente, um homem chamado Carlos Wizard, um bilionário que supõe entender de tudo, disse, em nome do governo, que os números de mortos estavam sendo inflacionados nos Estados e municípios porque os gestores queriam mais dinheiro.

Wizard foi para o espaço no momento em que se articulava na rede um boicote a suas atividades empresariais, incluídas as de greenwashing, aquelas em que você ganha dinheiro fingindo que protege o meio ambiente. Mas foi Bolsonaro que, radicalizando sua política de negação da pandemia, ordenou que as notícias diárias sobre mortes e contaminações não poderiam ser divulgadas antes dos jornais noturnos de TV. E, mais ainda, ordenou que o número de mortos não poderia ultrapassar mil, sem explicar como combinaria com o vírus. Felizmente, as emissoras se deram conta e passaram a divulgar as notícias em plantões especiais, com audiência até maior que no início da noite.

O site do Ministério da Saúde saiu do ar. Voltou sem o número total de mortos. O governo queria baixar esse número e divulgar apenas a quantidade de óbitos nas últimas 24 horas, sepultando o resultado do exame de outras mortes que não ficaram prontos no mesmo dia. Com esse expediente, o número de mortos iria baixar, pois nem todos os exames ficam prontos no mesmo dia.

Felizmente, todos perceberam. Uma onda de protesto percorreu o País, unindo Estados, Congresso, TCU, órgãos de informação, cientistas e opinião pública. A repercussão internacional também foi imediata. Jornais europeus criticaram, a própria OMS se pronunciou pela transparência.

O que aconteceu de forma escandalosa nesse momento é apenas resultado da luta de Bolsonaro contra a verdade, palavra que usou na campanha para enganar os eleitores, revestindo-a com um invólucro religioso.

A luta permanente contra a transparência é uma luta contra a democracia. Os militares, no período ditatorial, tentaram esconder um surto de meningite. Mas os tempos são outros.

A mais recente investida de Bolsonaro contra a realidade se deu na arena em que ele está apanhando muito dela: a do avanço da pandemia do coronavírus. Ele começou tachando-a de uma gripezinha. Não era. Questionou o isolamento social, o número de mortos, a existência de outras doenças entre os que foram levados pela covid-19. Um diretor da Polícia Rodoviária Federal caiu porque lamentou em nota a morte por covid-19 de um de seus comandados.

Diante da morte real, bolsonaristas começaram a contestar o conteúdo dos caixões. Houve vídeos afirmando que os caixões estavam cheios de tijolos. A deputada Zambelli chegou a insinuar que um caixão no Ceará estava vazio – é a mesma deputada intimada a depor sobre fake news e a mesma que aparece na internet, durante a campanha, dizendo que as lojas Havan pertenciam à filha de Dilma. Olha que audácia, refletia ela, usam o nome de Havan em homenagem a Cuba e erguem uma Estátua da Liberdade.

Mais tarde, ficou claro para o Brasil quem é dono da Havan. Aliás é impossivel ignorá-lo, com sua cabeça reluzente, vestido de verde e amarelo É desses seres que você não precisa perguntar quem é seu líder, pois sabe que ele o levará direto ao Palácio do Planalto.

Ao lado do armamento da população, essa luta contra a verdade é um passo decisivo rumo a um governo autoritário. Uma espontânea frente pela transparência se formou esta semana. Exatamente na semana em que as pessoas, apesar da pandemia, foram às ruas com a imensa faixa “todos pela democracia”.

Parece vago, dizem alguns políticos. Calma, digo eu. Daqui a pouco tudo fica mais claro. Na luta comum, aparecem as respostas.

JORNALISTA

Ministério da Propaganda

Nova pasta se prestará a atender prioridades mais urgentes do presidente Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro decidiu recriar o Ministério das Comunicações, mas teria sido melhor chamá-lo logo de Ministério da Propaganda. “Creio ser consenso nossa falha na comunicação”, disse o próprio presidente ao justificar a medida. Ou seja, o futuro Ministério das Comunicações, a julgar pelo que disse Bolsonaro, não lidará prioritariamente com o sistema de comunicações do País, mas com a propaganda das realizações do governo – que, no entender do presidente, está deixando a desejar.

A nova pasta vai incorporar a Secretaria de Comunicação (Secom), responsável pela propaganda oficial do governo e que hoje está subordinada ao general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo. O secretário Fábio Wajngarten, atual titular da Secom, será o secretário executivo das Comunicações. O presidente, portanto, não estava descontente com o trabalho de Wajngarten – que frequentemente hostiliza a imprensa nas redes sociais –, pois ele terá mais poder e recursos para suas diatribes.

Mas o novo Ministério se prestará também a atender a outras prioridades de Bolsonaro, talvez mais urgentes. A mais óbvia é a ampliação de sua base no Congresso para evitar o impeachment. Por isso o cargo de ministro das Comunicações foi entregue ao deputado alagoano Fábio Faria, que é do PSD, partido de Gilberto Kassab. Bolsonaro jura que sua escolha foi “pessoal”, e não do cacique do PSD, e portanto não envolveu qualquer promessa de apoio. Violentando a inteligência de seus compatriotas, o presidente quer realmente fazer o distinto público acreditar que seu Ministério não está sendo loteado entre partidos conhecidos por farejar presidentes fracos para lhes vender votos em troca de prebendas.

No caso das Comunicações, trata-se de um prêmio e tanto. Além da Secom, a pasta terá os Correios, a Empresa Brasileira de Comunicação e a Telebrás – isto é, um extenso cardápio de cargos a distribuir e de concessões a administrar. Será responsável direta pelo desenho de políticas públicas para os serviços de radiodifusão e de telecomunicações.

Para tomar conta de todo esse aparato, o presidente escolheu ninguém menos que um genro do empresário Silvio Santos, dono da emissora de TV SBT. O próprio Bolsonaro, numa sinceridade comovente, disse que “vamos ter alguém (no Ministério) que não é profissional do setor, mas tem conhecimento até pela vida que ele tem junto à família do Silvio Santos”. Ou seja, o “conhecimento” do novo ministro, Fábio Faria, é sua relação familiar com um dos empresários de comunicação mais próximos do presidente Bolsonaro.

Eis então que sobre o novo ministro já pairam dúvidas éticas relevantes. Consta que o deputado Fábio Faria mantém bom trânsito com lideranças de vários partidos e que isso, mais uma vez nas palavras do próprio presidente Bolsonaro, teria sido decisivo para sua escolha. “Eu nem lembro qual o partido dele. É um deputado federal. Que tem um bom relacionamento com todos. Ele entrou em contato ali com várias lideranças partidárias. (...) A aceitação foi excepcional, uma pessoa que sabe se relacionar, e acho que vai dar conta do recado”.

É bom saber que um ministro consegue “se relacionar” com “várias lideranças políticas”, mas é difícil entender de que maneira essa habilidade qualifica alguém a administrar o sistema de comunicação do País – a não ser que o trabalho do novo ministro não seja apenas o de administrar o sistema, mas também o de franquear o Ministério e seus muitos e apetitosos cargos a políticos interessados em parasitar um cambaleante governo.

Seja como for, o novo Ministério da Propaganda terá de trabalhar duro para mudar a imagem de um presidente que prometeu solenemente governar com apenas 15 Ministérios e que terá 23 – ou 24, se for recriado o Ministério da Segurança Pública, como se aventa em Brasília. Em breve, a depender da profundidade da crise e de seu isolamento político, Bolsonaro talvez chegue aos 39 Ministérios de Dilma Rousseff, muitos dos quais criados para serem distribuídos a partidos fisiológicos – os mesmos que hoje negociam com Bolsonaro – em troca da salvação do mandato da presidente petista. Como se sabe, foi em vão.

Editorial / Notas e Notas e Informações, O Estado de S.Paulo
12 de junho de 2020

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As favelas no pós-pandemia

Ao expor de maneira radical a desigualdade, a pandemia pede soluções igualmente radicais

O nascimento do urbanismo está visceralmente ligado às políticas sanitárias resultantes do surto de urbanização desencadeado pela revolução industrial. As quadras espaçadas e ruas retilíneas que redefiniram Londres e Paris no século 19, por exemplo, foram primariamente motivadas pela necessidade de ambientes mais salubres e de distribuição de água para conter ou evitar doenças como a cólera.

“Epidemias e cidades são produto de um mesmo fenômeno: as aglomerações humanas”, constatou o fundador do Instituto Urbem, Philip Yang. Por isso, muitos acusam as metrópoles modernas de incubadoras de doenças. Mas elas também podem ser espaços de cura. Além de serem centros de pesquisa e desenvolvimento, elas oferecem mais possibilidades de serviços sociais e de saúde. Entre os desafios impostos pela pandemia ao planejamento urbano – como novas condições sanitárias de infraestrutura e habitação, mudanças no transporte ou a adequação a novos hábitos de trabalho e lazer precipitados pela digitalização –, talvez o mais premente seja a favela.

Mais de 1 bilhão de pessoas vive em assentamentos informais. Segundo a OMS, o número de residentes urbanos sem sistemas sanitários seguros cresceu de 1,9 bilhão em 2000 para 2,3 bilhões em 2015, aumentando riscos como infecções, crescimento retardado e a proliferação da resistência antimacrobial. Assentamentos informais são em média 10 vezes mais densos que os formais. Para trabalhar, muitos moradores transitam longas distâncias amontoados em transportes públicos – vetores perfeitos para doenças. Por razões diversas, eles ainda sofrem desproporcionalmente de comorbidades como obesidade, diabetes ou hipertensão.

O saneamento urbano inadequado também impede o crescimento econômico. A OMS estima que, entre custos dos sistemas de saúde e déficit de produtividade e renda, as perdas globais chegam a US$ 223 bilhões ao ano. Pelos seus cálculos, o saneamento adequado poupa 30 minutos por dia a cada pessoa, e cada dólar investido gera retornos entre US$ 5,50 e US$ 9.

Foco em saneamento para lares e banheiros comunitários é essencial no curto prazo. No longo, é preciso aprimorar a moradia. Isso exige grandes investimentos de capital inicial. Mas, além dos impactos sanitários e sociais, investir em infraestrutura e habitação pode ser um recurso anticíclico para combater o desemprego.

As políticas urbanas, em especial para as favelas, precisam repensar o desenho territorial para lidar com as densidades demográficas. Isso não implica abrir mão do modelo “cidade compacta” e suas vantagens, como a oferta de bens e serviços e a convivência social. Trata-se de “equilibrar a densidade populacional, ao invés de concentrar usos em determinados locais, como bairros exclusivamente residenciais, áreas comerciais, distritos industriais”, como disse a pesquisadora de desenvolvimento sustentável Patrícia Mariuzzo. “Uma cidade policêntrica, com múltiplas centralidades, em que o uso misto e a densidade habitacional são estimulados em todo o território, é um modelo que pode tornar mais lenta a disseminação de doenças.”

Quanto aos assentamentos, a remoção pode ser uma solução tentadora, mas além de não remover as causas que os originaram, em geral eles estão integrados a vários aspectos da vida dos moradores, como fonte de emprego, distância do trabalho e vida social. O melhor, sem dúvida, é evitar o assentamento ilegal. Mas, uma vez ocupado o terreno, a prioridade deve ser a regularização e o aprimoramento. Desafios comuns incluem quadros legais e regulatórios insuficientes, sistemas de titulação corruptos, a desintegração de proteções tradicionais ou a falta de vontade política. Dada a magnitude e complexidade desse problema, as engrenagens políticas dificilmente se moverão sem uma pressão multifacetada, contínua e consistente da sociedade civil e suas instituições representativas. Em tempos normais, dir-se-ia que não há esperança. Mas estes não são tempos normais. A pandemia despertou sentimentos generalizados de interdependência e solidariedade. Desperdiçar esta energia seria um erro não só imoral, mas – em vista de novas epidemias mais do que prováveis – fatal.

Editorial / Notas e Informações, O Estado de S.Paulo
12 de junho de 2020 

quinta-feira, 11 de junho de 2020

TCU investiga ‘incremento’ superior a 90% em gastos sigilosos com cartão corporativo no governo Bolsonaro

Auditoria foi determinada pelo Tribunal de Contas da União na sessão desta quarta-feira, 10, em resposta a diferentes processos autuados na Corte, entre eles a representação do senador Fabiano Contarato, com base em reportagem do Estadão; levantamento vai alcançar período desde 2017, no governo Michel Temer

O Plenário do Tribunal de Contas da União decidiu na tarde desta quarta, 10, abrir uma auditoria sobre os gastos de caráter sigilosos do cartão corporativo da Presidência da República. De acordo com a proposta do ministro Vital do Rêgo, serão analisados pagamentos realizados desde janeiro de 2017 até agora, abarcando assim as gestões de Michel Temer e Jair Bolsonaro.

Relator de processos referentes às unidades que integram a Presidência da República, Vital do Rêgo afirmou na sessão do TCU desta quarta, 10, que tem sido recorrente a apresentação de denúncias acerca de indícios de irregularidades envolvendo gastos com o cartão corporativo da Presidência. Como mostrou o Estadão, os gastos do cartão usado para bancar despesas sigilosas do presidente Jair Bolsonaro, dobraram nos quatro primeiros meses de 2020, na comparação com a média dos últimos cinco anos.

O ministro chegou a citar quatro processos autuados na Corte referentes ao tema, entre eles um elaborado pelo deputado Distrital Leandro Grass, outro apresentado pelo subprocurador Lucas Rocha Furtado e também uma representação do senador Fabiano Contarato. Esta última tem como base reportagens do Estadão que mostraram aumento nos gastos vinculados à Presidência nos primeiros meses deste ano.

“De fato, levantamento da Secex (Secretaria de Controle Externo) apontou que esse tipo de despesa vinha se mantendo num nível de R$ 1,9 milhão nos primeiros quadrimestres desde 2016 quando, no mesmo período de 2020, subiu para 3,76 milhões, com incremento de mais de 90%”, afirmou Vital do Rêgo ao propor a auditoria.

Durante seu pronunciamento, o ministro destacou a necessidade de avaliar a transparência e a regularidade das despesas realizadas com cartão corporativo. A proposta da auditoria pode ser verificada aos 2:46 da Sessão Telepresencial Plenária.

Gastos dobraram

Como mostraram os repórteres Tiago Faria e Patrik Camporez, os gastos com cartão corporativo da Presidência da República, usado para bancar despesas sigilosas do presidente Jair Bolsonaro, dobraram nos quatro primeiros meses de 2020, na comparação com a média dos últimos cinco anos. A fatura no período foi de R$ 3,76 milhões, valor que é lançado mensalmente no Portal da Transparência do governo, mas cujo detalhamento é trancado a sete chaves pelo Palácio do Planalto.

Bolsonaro justificou a alta com custos da operação que resgatou 34 brasileiros em Wuhan, na China, em fevereiro. Segundo ele, foram R$ 739,6 mil bancados com o cartão corporativo da Presidência. Mesmo descontado o valor com a viagem, porém, os gastos continuam 59% acima da média do período.

O cálculo que aponta o gasto de R$ 3,76 milhões leva em conta apenas os valores vinculados à Secretaria Especial de Administração, que é responsável por despesas do presidente e de sua família, das residências oficiais e demais gastos corriqueiros – material de escritório do gabinete presidencial, por exemplo. Quando considerados outros órgãos vinculados à Presidência da República, como o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o valor salta para R$ 7,55 milhões neste início de ano – aumento de 91% em relação à média do mesmo período.

Pepita Ortega e Fausto Macedo / O ESTADO DE SÃO PAULO
11 de junho de 2020 | 10h30

Com mais de 10 pontos à frente de Trump nas pesquisas, Biden teme fraude

O candidato democrata à Presidência, ex-vice-presidente Joe Biden, disse temer que Trump tenter "roubar" as eleições de novembro.

Em entrevista ao programa de TV Daily Show, na noite de quarta-feira, Biden também disse ter certeza de que, se o atual presidente não reconhecer a derrota na eleição, ele sairá da Casa Branca "escoltado" pelos militares.
EUA: Joe Biden consegue conter Bernie Sanders com vitória no Texas ...

— É minha maior preocupação, minha principal preocupação: este presidente tentará roubar esta eleição —  disse Biden.

O democrata não especificou como imagina que Trump poderia fraudar a votação. Mas citou a oposição do presidente ao voto por correio e disse que os democratas teriam fiscais presentes nos locais de votação em todo o país.

Biden disse que comentários recentes de militares críticos a Trump o deixaram confiante de que eles interviriam se o presidente for derrotado e se recusar a deixar o poder.

Publicado por O GLOBO


Maior autoridade militar americana pede desculpas por ter participado de encenação de Trump

Pronunciamento do general Mark Milley, chefe do Estado Maior Conjunto dos EUA, é o último de uma série de críticas de expoentes militares ao presidente

Milley aparece à direita na foto no dia em que Trump mandou dissolver uma manifestação para posar em uma igreja perto da Casa Branca Foto: BRENDAN SMIALOWSKI / AFP/1-6-2020

Milley aparece à direita na foto no dia em que Trump mandou dissolver uma manifestação para posar em uma igreja perto da Casa Branca Foto: BRENDAN SMIALOWSKI / AFP/1-6-2020

O general Mark Milley, chefe do Estado Maior Conjunto e principal autoridade militar dos Estados Unidos, pediu desculpas por ter participado da caminhada do presidente Donald Trump para encenar uma foto na Igreja Episcopal de São João, próxima à Casa Branca, depois de mandar dissolver um protesto contra o racismo e a violência policial que acontecia na área, em 1º de junho.

" Eu não deveria estar lá — disse Milley sobre a foto com Trump, em um discurso em vídeo que gravou para ser exibido no início do ano letivo na Universidade Nacional de Defesa. —Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção de envolvimento dos militares na política interna."

As primeiras declarações públicas de Milley desde a sessão de fotos de Trump  — quando forças da Guarda Nacional reprimiram centenas de pessoas que se manifestavam pacificamente na Praça Lafayette para que o presidente pudesse posar com uma Bíblia na mão em frente à Igreja de São João  — certamente irritarão a Casa Branca.

— Como oficial da ativa, foi um erro com o qual aprendi, e espero sinceramente que todos nós aprendamos com ele — disse o general Milley no vídeo gravado. — Nós que usamos as insígnias de nossa nação, que viemos do povo, devemos sustentar o princípio de Forças Armadas apolíticas que tem raízes firmes na base da nossa república.

O general afirmou ainda estar furioso com "o assassinato sem sentido e brutal de George Floyd" e manifestou sua oposição às sugestões de Trump de que forças federais fossem destacadas em todo o país para reprimir protestos.

Amigos do chefe do Estado Maior disseram ao New York Times que, nos últimos 10 dias, ele ficou angustiado por ter aparecido —  com o uniforme de combate que usa todos os dias para trabalhar —  ao lado de Trump durante a caminhada até a igreja. O general disse aos amigos que acreditava que estava acompanhando Trump e sua comitiva para passar em revista as tropas da Guarda Nacional que estavam na Praça Lafayette.

Desde que começaram os protestos provocados pela morte do segurança negro George Floyd por um policial branco, em 25 de maio, Trump assumiu posições cada vez mais duras contra o movimento. Ele chegou a ameaçar enviar os militares aos estados para reprimir os manifestantes, mas acabou desautorizado pelo secretário da Defesa, Mark Esper.

Em seguida, vários ex-chefes militares criticaram a ameaça de Trump de usar as Forças Armadas na repressão, incluindo  Martin Dempsey, ex-chefe do Estado Maior Conjunto entre 2009 e 2007; Colin Powell, que foi secretário de Estado do republicano George W. Bush; e Jim Mattis, ex-secretário da Defesa de Trump. Milley, no entanto, é o primeiro alto chefe militar da ativa a se distanciar de Trump publicamente.

William Perry, que atuou como secretário da Defesa entre 1994 e 1997, durante o governo de Bill Clinton, também criticou a ameaça de usar as Forças Armadas, afirmando que o Exército “nunca foi planejado para ser usado para fins políticos e partidários".

Na quarta-feira, o presidente iniciou outra disputa com os militares, se opondo à posição do Pentágono de considerar renomear as 10 bases militares que hoje homenageiam comandantes confederados que lutaram contra a União na Guerra Civil americana, no século XIX. Na época, os confederados se opunham ao fim da escravidão e defenderam a secessão do Sul dos EUA.

Nesta quinta, a Comissão de Forças Armadas do Senado, controlada pelos republicanos, aprovou um pedido ao Pentágano para a mudança dos nomes das bases, em mais um revés para Trump, cuja popularidade caiu 10 pontos em um mês, de 49% para 39%, de acordo com uma pesquisa do Instituto Gallup divulgada na quarta-feira.

Do New York Times / O GLOBO
11/06/2020 - 10:49 / Atualizado em 11/06/2020 - 18:03