sábado, 6 de junho de 2020

‘Generais viram que proposta de Bolsonaro é a guerra civil’, afirma Gabeira

Para jornalista, presidente tornou-se fator de radicalização dos militares e pode recorrer a PMs para dar um golpe. 

Um ano atrás, o jornalista Fernando Gabeira tinha críticas ao presidente Jair Bolsonaro, mas avaliava que as instituições eram suficientes para contê-lo, como expressou em junho de 2019 em entrevista ao Estadão, onde é colunista. Não pensa mais da mesma forma. A pregação em favor de armar a população,  que o mandatário fez na reunião de 22 de abril com ministros, seus movimentos para atrair as Forças Armadas com verbas e cargos e sua aproximação das Polícias Militares foram decisivos para o jornalista mudar de ideia. Agora, Gabeira defende a mobilização dos brasileiros para neutralizar Bolsonaro até 2022 ou para afastá-lo do cargo definitivamente. Para ele, a ação do presidente sugere o espectro de uma guerra civil ou um golpe de Estado, sem, necessariamente, participação direta das Forças Armadas.

“Muito possivelmente ele pode estar articulando um golpe usando Polícias Militares e neutralizando as Forças Armadas”, diz Gabeira, em nova conversa com o Estadão, nesta quinta-feira, 4. “Ele pode estar até em um ponto em que não precise usar as Forças Armadas. Basta que elas fiquem neutras e deixem a Polícia Militar atuar.”

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O jornalista Fernando Gabeira, em sua residencia na zona sul do Rio de Janeiro Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Gabeira critica a postura dos generais que ocupam cargos no ministério porque na reunião do dia 22 de abril ouviram calados o que considerou a defesa explícita da constituição de milícias com fins políticos. “Para mim é absolutamente novo na história do Brasil: os generais ouvindo a ideia de armamento, armar a população para a sua expressão política, sem terem algum tipo de reação”, afirma.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Há quase um ano, em entrevista ao Estadão, o senhor fez algumas críticas ao governo Bolsonaro, mas se mostrou confiante nas instituições para contê-lo. Recentemente, o senhor passou a defender que os brasileiros, no Brasil e no exterior, se mobilizem para barrar um possível golpe do presidente. O que aconteceu?
O primeiro aspecto da minha confiança eram os contrapesos democráticos, que estavam baseados no Congresso e no Supremo. Esses contrapesos não foram alterados, continuam tentando fazer frente a esse processo. Mas há sobre eles, hoje, uma carga muito intensa, a partir do bolsonarismo e dos seus aliados. As manifestações foram claramente dirigidas ao fechamento do Congresso e do Supremo. Então, o que alterou bastante é que o Bolsonaro não está aceitando muito bem a presença desses contrapesos, pelo contrário, está tentando neutralizar alguns deles. Esse é um fato. Outro é a relação com as Forças Armadas, que sempre (desde a redemocratização) tiveram, aparentemente, um papel democrático, e funcionaram, ao longo desses anos, recuperando a sua imagem. E as Forças Armadas foram muito envolvidas pelo Bolsonaro. Não só através do trabalho orçamentário, mas também pela visão da reforma da Previdência dos militares, pela entrada de 3 mil militares no governo, entende? E sobretudo agora pela aliança que fizeram na Saúde. Praticamente, (as Forças Armadas) estão atraindo, participando ou partilhando uma política que pode trazer para elas uma repercussão nefasta. Então, isso tudo alterou muito o quadro.

Recentemente, houve algum fato que acelerou a sua mudança de opinião sobre o governo Bolsonaro? Por exemplo, a saída do Sérgio Moro?

Não, a saída do Sérgio Moro, não. Mas aquela reunião do (dia) 22 (de abril), que foi divulgada (por vídeo, liberado por ordem do ministro Celso de Mello, do STF) apresentou alguns fatos alarmantes. O primeiro deles, o mais importante para mim, foi a defesa pelo Bolsonaro do uso de armas. Se você lembrar da campanha eleitoral, o Bolsonaro tinha como (base da) proposta de armamento da população a necessidade de se defender do caos urbano, da violência urbana. Cada pessoa poderia ter uma arma para se defender, eventualmente, de um assalto, de uma invasão da sua propriedade. Mas naquela reunião ficou evidente que ele tem uma visão de armas para a expressão da sua visão política. A pessoa armada teria condições de se expressar politicamente através das armas. Inclusive, sugeriu que isso fosse feito contra a quarentena. Quatro generais do Exército estavam presentes e não moveram uma palha, nem houve uma expressão de surpresa. Isso para mim é absolutamente novo na história do Brasil: os generais ouvindo a ideia de armamento, armar a população para a sua expressão política, sem terem algum tipo de reação.

Na campanha de 2018, muita gente dizia "Bolsonaro só fala essas coisas horríveis para ganhar voto, isso não é a sério". Ou então diziam: "Ele já pensou assim, não pensa mais." De certa forma, não ocorreu com ele o mesmo erro que houve com (Donald) Trump (presidente dos EUA), o de achar que ele tinha um discurso para campanha, mas governaria de outra forma?
Bolsonaro, na Câmara dos Deputados, tinha um tática de popularização. Ele utilizava vários temas, como direitos humanos, como a questão das mulheres, da homossexualidade... Ele usava isso para poder se popularizar. A tática dele era pegar algumas pessoas conhecidas, por exemplo Maria do Rosário, Jean Wyllys, e fazer diante das câmeras alguns debates que sustentariam o seu público. Mas ele não tinha muito ideia de uma proposta para o Brasil. Tinha um saudosismo do governo militar, mas que não tinha correspondência naquele momento com a própria situação das Forças Armadas. Ao chegar ao governo, ele faz uma política de sedução das Forças Armadas. Com uma política de sedução que, em alguns aspectos, é muito certa. Em primeiro lugar, através do Orçamento, da reforma da Previdência, da inclusão de 3 mil militares no governo, da parceria em uma política temerária em relação à covid-19, na utilização do ministro da Defesa em manifestações propondo o fechamento do Congresso e o fechamento o STF... Ele está usando as Forças Armadas, de uma forma bem clara, como um elemento de intimidação. E as Forças Armadas, pura e simplesmente, estão se deixando usar. E isso não é o único perigo dele. Ele tem uma boa penetração nas Polícias Militares. Então, muito possivelmente, ele pode estar articulando um golpe usando Polícias Militares e neutralizando as Forças Armadas. Ele pode estar até em um ponto em que não precise usar as Forças Armadas. Basta que elas fiquem neutras e deixem a Polícia Militar atuar.

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Jornalista e autor Fernando Gabeira em sua residencia de Ipanema na zona sul do Rio de Janeiro FOTO WILTON JUNIOR/ESTADAO

O senhor falou em projeto; quando era deputado, na sua opinião, Bolsonaro não tinha um projeto, era apenas uma coisa de agitação, digamos assim. Pode-se dizer que Bolsonaro tem um projeto hoje?

Ele não tinha um projeto, nunca teve. Mas ele andou se relacionando com pessoas que tentaram trazer um recheio teórico para o projeto dele. É o caso do Olavo de Carvalho, é o caso do ministro Ernesto Araújo, que tentam dar assim a visão de um projeto cristão, em primeiro lugar um projeto cristão. Em segundo lugar, um projeto nacionalista, contra organismos globais, quer dizer, contra o que eles chamam de marxismo global. Então, isso foi acontecendo. E mais ainda: foi dada a ele, através do Olavo de Carvalho, a necessidade de uma guerra cultural, contra todos os setores da cultura que eles consideram adversários e ligados de alguma forma à esquerda.

Voltando aos militares, quando começou o governo, havia uma expectativa de que seriam um fator moderador dos impulsos do Bolsonaro. Isso ficou para trás?

Olha, aconteceu o seguinte: ao invés de os militares se tornarem moderadores do Bolsonaro, ele se tornou um fator de radicalização dos militares. O general Augusto Heleno, por exemplo, tem se tornado um radical, cada vez maior, dentro do governo. É claro que, no caso do general Heleno, pesou também aquela prisão, lá na Espanha, de um oficial (na verdade, o sargento Manoel Silva Rodrigues) da Aeronáutica com grande quantidade de cocaína. E ele, como o homem do GSI, foi considerado responsável pelo furo de segurança pelo Carlos Bolsonaro. Depois disso ele ficou um pouco assustado e começou a tomar posições mais radicais e se unir a este chamado grupo ideológico. Outros generais, por exemplo, o general Braga Netto (chefe da Casa Civil), que esteve no Rio de Janeiro, na intervenção (na Segurança do Estado em 2018), tem até uma capacidade de organização boa. Ele é um homem que entende de organização, gosta de organizar. Eu vi, ele me mostrou o trabalho dele de organização, mas ele não tem condições de segurar o Bolsonaro. Da mesma maneira, o (vice-presidente Hamilton) Mourão não tem esse papel. O Mourão sempre foi considerado pelos próximos ao Bolsonaro como um adversário em potencial. Então, ele se recolheu também. O general (Luiz Eduardo) Ramos (chefe da Secretaria de Governo), que deu entrevista dizendo que é um democrata, que são todos democratas e que é uma ofensa às Forças Armadas pensar que elas podem estar sendo cúmplices de um golpe, ele também é o cara que está fazendo a política do Bolsonaro. Por exemplo, ele estava presente naquele dia em que Bolsonaro falou que ia armar todo mundo, que era necessário armar todo mundo. Então, esses generais viram que a proposta do Bolsonaro é a guerra civil. Eles sabem muito bem que Bolsonaro é um homem que ganha as eleições e denuncia as eleições como fraudadas. Então, com as armas na mão, o que vai querer fazer? Vai querer se rebelar. Eles sabem disso. Então, não adianta o general Ramos dizer é uma ofensa às Forças Armadas pensar que elas podem (dar um golpe). Mas diante desse silêncio de cumplicidade ali, o que você pode pensar? Se você não ofende as Forças Armadas pensando nisso, você ofende a sua própria inteligência tendo que escolher entre uma coisa e outra

O que explica a reação do Bolsonaro à pandemia, chamando de gripezinha, pregando contra o isolamento, saindo às ruas e provocando aglomerações?

Olha, Bolsonaro pensa muito curto. Ele pensou o seguinte: "O que isso pode fazer comigo? O que isso pode representar para o meu governo? Então, uma crise econômica, o desemprego, vão atrapalhar minha gestão. Então, vou negar essa epidemia." Ele negou a epidemia porque achava que era contrária a ele. O mesmo lance que o Trump fez nos Estados Unidos, até certo ponto. Eles intrepretaram a epidemia como uma coisa que era destinada a enfraquecer o governo deles. Eles não viram a neutralidade da epidemia. Tanto que aqui no Brasil o próprio ministro das Relações Exteriores chamou de vírus comunista. O vírus era um produto do comunismo, destinado a enfraquecer os governos democráticos ocidentais. Então, ele (Bolsonaro) pode ter tido essa visão, de que era um vírus comunista, destinado a enfraquecer o governo dele. Então, ele precisava negar o vírus. Qual foi o processo de negação? Primeiro, dizer que não era importante, que era apenas uma gripezinha. Quando começaram a surgir as mortes, eles disseram que o número de mortos era inflacionado, que estavam dizendo que morreu mais gente de coronavírus que de fato morreu — quando, na realidade, tudo indica que essas mortes são subnotificadas. Quando começaram a enterrar as pessoas, eles começaram a negar que os corpos estivessem dentro dos caixões, que eram pedras, que estavam enterrando caixão vazio...

É uma visão de política como guerra, não?

Exatamente. "Não existe vírus, existem eles contra mim. Se eles estão do lado que acha que o vírus é importante, é porque é alguma coisa contra mim..."

Inicialmente, o governo avaliou que a divulgação do vídeo do dia 22 foi boa, porque reforçou o entusiasmo do bolsonarismo, fortaleceu a narrativa do governo nas redes. Mas depois o presidente viu sua rejeição aumentar nas pesquisas, com redução na proporção dos que consideravam o seu governo regular. A exibição do Bolsonaro raiz em horário nobre assustou as pessoas?

O que aconteceu foi o seguinte: a divulgação do vídeo mostrou que Bolsonaro não tem condição de ser presidente da República. Mostrou que ele é um presidente incensado por aquelas pessoas que veem nele um mito. Acho que o Bolsonaro está cada vez mais reduzido àquela fração de pessoas despolitizadas ou os polititizados que estão muito agrupados na extrema direita. Isso é um processo que está avançando e não terminou, o isolamento dele não terminou.

Como explicar o apoio de neofascistas? De onde veio essa turma?

Olha, essa crise mundial, que repercutiu, que acabou avançando na eleição de presidentes como Trump, como Bolsonaro, só se agrava. Então, nesses momentos de crise, esses movimentos surgem, tanto à direita como à esquerda. Neste momento, os mais visíveis estão à direita. Então, eles encontaram no Bolsonaro uma espécie de possibilidade de projeção política. As manifestações estão cada vez mais claramente demonstrando os símbolos. Aquela manifestação feita diante do Supremo Tribunal Federal, você vendo a imagem, diz: é a Ku Klux Klan. Ou é uma imagem do nazismo, daquele momento, quer dizer, tem todas as características simbólicas. E tem outros símbolos de supremacia branca, os caras tomando copo de leite, curiosamente, para passar mensagem subliminar (em uma live nas redes sociais em 1º de junho Bolsonaro aparece tomando um copo de leite puro; naquele dia era comemorado o Dia Internacional do Leite, porém, nas redes sociais, o gesto foi associado com um costume dos supremacistas brancos dos Estados Unidos de usar leite como um símbolo). Essas coisas que a gente está vendo.

Uma hora é um secretário que se fantasia de Goebbels para praticamente lhe repetir as palavras. Outra são apoiadores de tocha e máscaras na porta do STF, lembrando caminhadas nazistas. O próprio presidente citou uma frase que foi usada por Mussolini. É tudo coincidência?

Eles negam, mas se você olhar... O livro do Umberto Eco, O Fascismo Eterno, lista as 14 características essenciais, que ele considera do fascismo eterno. E quase todas estão presentes no Brasil. O ultracionalismo, a admiração pelas armas... Quer dizer, todas as características principais do fascismo estão presentes, o pavor da modernidade... Isso está presente, são características do fascismo eterno. O machismo, o culto das armas, o namoro com a morte, tudo isso é caracteristica do fascismo. Está lá no livro do Umberto Eco, que acho uma pessoa insuspeita para falar disso. Escrevia composições, pariticipava de concursos de composições, sob o fascismo, viu chegarem os americanos, estudou a vida inteira isso. Agora, estamos caminhando para o fascismo tabajara, com características próprias, não tem a consistência teórica necessária para isso, mas tem caracteristicas.

Como o senhor avalia a participação de Bolsonaro nas manifestações que pedem o fechamento do Supremo e do Congresso?

Evidentemente, qualquer democrata, diante de uma manifestação desse tipo, passa longe. Ele (Bolsonaro) vai lá saudar os manifestantes. Meio que demonstra, com isso, que tem uma simpatia pela causa deles. Ele tem alguma simpatia pela causa do fechamento do Congresso e do fechamento do Supremo. Agora, no último domingo, ele agravou isso mais. Trouxe com ele no mesmo helicóptero, para participar ou para descer na manifestação, o ministro da Defesa (Fernando Azevedo e Silva). Deu um passo além, simbolicamente. Não significa que trouxe as Forças Armadas para o lado dele. Então, simbolicamente, o ministro da Defesa desceu com ele em uma manifestação. Agora, o ministro da Defesa, depois, foi pedir desculpas, pedir desculpas não, foi se justificar junto à Camara dos Deputados, depois foi se justificar ao Alexandre de Moraes, dizer que não foi bem assim, que pegou uma carona, que não sabia... Afinal, o ministro da Defesa não é o ministro da Defesa da Suécia. Ele sabe que todo domingo tem manifestação ali. Por que ia pegar uma carona? Se ele é tão inocente, não pode ser ministro da Defesa.

Bolsonaro pode ser apaziguado, pode ser levado a respeitar as leis?

Acho que é evidente agora, depois de tudo que ele mostrou, quem viu aquela reunião, que Bolsonaro está querendo armar o povo para uma expressão política, para que o povo tome uma posição politica que eles querem. Está querendo criar milícias armadas. Aquilo ele falou com toda a sinceridade. E não voltou atrás nisso, pelo contrário. Continuou disposto a isso. E um homem que quer armar uma parte da população está preparando uma guerra civil. Naquele momento, ficou bastante claro para mim qual é o desígnio dele, qual é a posição. Então, acho que tem que trabalhar para ou neutralizá-lo visando ir até 2022, ou afastá-lo antes disso.

Wilson Tosta, O Estado de S.Paulo
05 de junho de 2020 | 10h25

Ação afirmativa

A sociedade civil resolveu vir à tona para proclamar a defesa da democracia, opina Miguel Reali Junior, um dos nomes de maior respeito nos meios jurídicos do Brasil. Leia aqui o seu artigo publicado na edição de hoje de O Estado de São Paulo.

Vive-se contínuo desassossego em tempos de Bolsonaro, fonte única de uma crise política que não tem outra razão de ser que não sua personalidade conflituosa.

Tem-se a impressão de estar a fazer viagem no trem fantasma ao percorrer o Palácio do Planalto: na primeira curva encontra-se a figura da viúva do coronel Ustra com um retrato do marido com dizeres em letra grande: Herói Nacional. Logo em seguida, tromba-se com o Major Curió em cadeira de rodas sendo homenageado. Depois de pequena reta, surge o rosto encaveirado de Roberto Jefferson vociferando contra os vagabundos do Supremo Tribunal Federal. Um longo túnel retrata os grupos dos domingos presidenciais antidemocráticos, bolsonaristas carregando faixas clamando pelo fim do Congresso Nacional. No final da viagem encontra-se, bem sentado numa poltrona, sorridente, o ex-deputado Valdemar Costa Neto.

Em face de investigação pelo Supremo sobre as fontes das fake news, com determinação de busca e apreensão em endereços de apoiadores do presidente que constituem a origem da indústria de notícias falsas, veio uma reação desmedida, com a pregação da possibilidade até mesmo de guerra civil por dezenas de coronéis, com aviso nesse sentido pelo ministro do GSI e o comentário do deputado Eduardo, o filho 03, reconhecendo inafastável a ruptura, bastando saber quando ocorreria.

Em vista desse quadro de radicalismo crescente, com ataques permanentes aos Poderes Legislativo e Judiciário, a sociedade civil, até aí adormecida, resolveu vir à tona para proclamar a defesa da democracia.

Surgiram, então, manifestos que reúnem pessoas de diversos matizes, ganhando destaque o divulgado pelo Movimento Estamos Juntos, subscrito por mais de 150 mil. Assevera-se que “somos muitos, e formamos uma frente ampla e diversa, suprapartidária, que valoriza a política”, pedindo eficácia na resposta a crimes e desmandos de qualquer governo.

Em outro manifesto, intitulado Basta, subscrito por cerca de 600 profissionais do Direito, pontua-se: “O presidente da República faz de sua rotina um recorrente ataque aos Poderes da República, afronta-os sistematicamente (...). Descumpre leis e decisões judiciais. Assim, é preciso dar um BASTA a esta noite de terror com que se está pretendendo cobrir este país. Não nos omitiremos”.

Outro documento, com 170 assinaturas de personagens da área do Direito, enfrenta a justificativa de interferência militar com base no artigo 142 da Constituição federal: “A nação conta com suas Forças Armadas como garantia de defesa dos Poderes constitucionais, jamais para dar suporte a iniciativas que atentem contra eles. Assim, às Forças Armadas não se agregam o papel de poder moderador entre os Poderes”.

Associações de magistrados e procuradores foram incisivas em sua manifestação, ao deixar preciso que “todo ato que atente contra o livre exercício dos Poderes e do Ministério Público, em qualquer das esferas federativas, se não evitado, será objeto, portanto, de imediata e efetiva reação institucional”. Igualmente, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) divulgou nota repudiando os eventos antidemocráticos que “demonstram desprezo absoluto à independência judicial”.

Nota do colégio de ex-presidentes da Associação dos Advogados de São Paulo explica: “A Nação está exausta em razão do clima artificial de confronto criado toda semana pelo senhor Presidente da República. (...) A sua estratégia fica dia a dia mais clara. A sociedade civil já percebeu o engodo e vem se posicionando por meio de manifestos que unem pessoas de diversos matizes políticos, identificados, todavia, pela crença nos valores da democracia”.

Seis entidades da advocacia de São Paulo emitiram nota, pontuando não se poder viver sob sombra de constante lembrança de intervenção ou ruptura, a serem devidamente repudiadas. Igualmente o fizeram 130 organizações da sociedade civil no documento Juntos pela democracia e pela vida. O núcleo pensante do País veio à tona.

Os excertos dos manifestos mostram viva disposição de se impedir qualquer retrocesso autoritário, em “superação de diferenças políticas em favor da preservação da democracia”, a ponto de unir torcidas organizadas de times arqui-inimigos.

Pode-se, então, destacar nesses trechos a presença de duas tônicas: a defesa da independência do Judiciário e o aviso de se estar vigilante contra qualquer tentativa de limitação das liberdades democráticas, prometendo-se reação institucional ou uma resposta eficaz em face de crimes e desmandos.

A conduta daqui para a frente desses organismos formais e informais, que tomam posição em defesa da democracia, dependerá de como vai agir o sr. presidente, que na sua megalomania saiu a cavalo levantando o braço esquerdo como os generais em guerra até o fim do século 19. Pode ser um Napoleão de hospício, que, como dizia Nelson Rodrigues, é feliz por não ter Waterloo.

Espera-se não ser necessária nenhuma batalha para o mandatário sair do seu universo paralelo e cair na realidade do jogo democrático honesto e transparente.

Miguel Reale Júnior é advogado, professor titular sênior da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, membro da Academia Paulista de Letras. Foi Ministro da Justiça e co-autor com os Professores Hélio Bicudoe e Janaina Paschoal da petição de impeachment de Dilma Roussef, afastada da Presidência da República por crime de responsabilidade.

O engodo e o embuste na vida pública

Além de desqualificar opositores no plano moral, uma prática fascista, Bolsonaro acusa os que protestam contra ele de ser inimigos da liberdade

Na vida política, as mentiras costumam ser mais plausíveis do que a realidade, uma vez que o mentiroso tem a vantagem de saber de antemão o que a plateia deseja. Ele prepara sua história para consumo público, de modo a torná-la crível. Com isso, a verdade tende a desaparecer da vida pública, corroendo a estabilidade democrática. Esta é a conclusão de um dos ensaios mais discutidos no final da década de 1960, sobre o uso da mentira na política.

De autoria da filósofa alemã Hannah Arendt e incluído no seu livro Crises da República, o ensaio discute o embuste e a falsidade deliberada como meios que determinados políticos utilizam para alcançar fins imorais e torpes. Também analisa as estratégias de vazamento de informações e a construção de narrativas que permitam interpretação deturpada dos fatos antes mesmo de eles acontecerem. “A veracidade nunca esteve entre as virtudes políticas. A capacidade de mentir e a capacidade de agir devem sua existência à mesma fonte: imaginação”, diz Arendt.

Escritas há cinco décadas, essas palavras são de uma atualidade preocupante quando relidas à luz do que disse o presidente Jair Bolsonaro na quinta e na sexta-feira passadas, sobre os atos convocados por diferentes órgãos da sociedade civil para protestar contra as manifestações semanais de bolsonaristas em favor de uma ditadura militar por ele chefiada. Nas lives de que participou e nos discursos que fez nesses dois dias, Bolsonaro comportou-se como se o ensaio de Hannah Arendt tivesse sido escrito com base em suas falas.

Procurando associar à violência os atos de protesto contra seu governo, o presidente deixou claro que os atos de domingo não serão travados entre adversários políticos, mas entre inimigos – entre “o pessoal de verde e amarelo, que é patriota”, e “idiotas, marginais, viciados e terroristas”. Segundo Bolsonaro, “este pessoal tem costumes que não condizem com a maioria da sociedade brasileira”. Além de desqualificar opositores no plano moral, que é uma conhecida prática fascista, Bolsonaro os acusou de serem inimigos da liberdade. “Mais importante que a sua vida é a sua liberdade. Esse pessoal não tem nada para oferecer para você. Se você pegar cem desse aí (sic), a maioria é estudante. Se você pegar e aplicar a prova do Enem neles, ninguém tira nota 5. São idiotas que não servem para nada”, afirmou.

Como se não bastasse, o presidente ainda pediu aos pais que impeçam os filhos de participar dos atos contrários ao seu governo. “Quem for possível exercer o controle em cima dos filhos (sic), exerça para não deixar o filho participar. Alguns vão dizer que eu estou cerceando a liberdade. Isso não é liberdade de expressão, o cara vai para o quebra-quebra. E vai ter muito garoto desse usado como massa de manobra, idiota útil”, disse Bolsonaro, procurando desde logo responsabilizar seus opositores por qualquer ato violento.

Horas depois, anunciou que em breve concederá autorização para importação, sem imposto, de armas de uso individual. Na ocasião, afirmou que “a boa medida (sic) vai ajudar todo o pessoal do artigo 142 da nossa Constituição”, referindo-se talvez aos membros das Forças Armadas. Além de definir as atividades militares, esse artigo se limita a classificar as Forças Armadas como “instituições que, sob a autoridade suprema do presidente da República, destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa destes, da lei e da ordem”. Mas, numa interpretação tortuosa e absurda desse texto, Bolsonaro acredita que este lhe confere a prerrogativa de convocá-las quando bem entender e para o que bem quiser. Mesmo advertido para o erro que comete, insiste em repeti-lo.

Em seu ensaio sobre a mentira na política, Hannah Arendt lembra que o engodo e o embuste costumam ser eficientes apenas quando o mentiroso tem ideia clara da verdade do que tenta esconder. Bolsonaro sabe o que quer. Mas em momento algum consegue esconder seus anseios ignominiosos.

Editorial / Notas & informações, O Estado de S.Paulo
06 de junho de 2020 | 03h00

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Revista VEJA
Carta ao Leitor: Barril de pólvora

Em flerte com uma ruptura institucional, Bolsonaro abdica sistematicamente do dever de governar e insiste na política do 'nós contra eles'


TEATRO - Desfiles nazistas, os supremacistas brancos dos EUA e o general Newton Cruz: maus exemplos FPG/Archive Photos/Getty Images; Reprodução; Carlos Namba/.

Como se todos os problemas existentes já não fossem suficientes, a escalada de mortes pela Covid-19 e a necessidade de uma recuperação econômica no pós-pandemia, o país tem flertado com uma outra calamidade, absolutamente dispensável e anacrônica: uma ruptura institucional, um conflito entre os três poderes. Diversos atores vêm contribuindo para aumentar o clima de instabilidade, a começar pelo presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, que até agora parece não ter compreendido o papel para o qual foi eleito. Sem nenhum pudor, o presidente abdica sistematicamente do dever de governar e insiste na política do “nós contra eles”, do confronto permanente com o Supremo Tribunal Federal e com o Congresso. Esquecido de que é o comandante de um país chamado Brasil, o ex-capitão promove quase que diariamente uma guerra dentro de sua própria trincheira, alimentando grupos de fanáticos (minguados e teatrais) que saem por aí com tochas nas mãos, numa estética que lembra os supremacistas brancos americanos e as tropas nazistas do filme Triunfo da Vontade, dirigido por Leni Riefenstahl.

Pela gravidade do atual cenário, chegou a hora de o presidente finalmente investir-se da responsabilidade que seus eleitores lhe incumbiram. Não para pôr o Exército nas ruas, como alguns de seus seguidores vêm continuamente sugerindo, mas, sim, para desanuviar o ambiente, sem meias-palavras ou frases ambíguas. Ao fazer-se de vítima de outros poderes ou sugerir que não vai respeitar decisões tomadas pelo STF, Bolsonaro dá razão aos que enxergam seus passos como manobras para, diante de qualquer pretexto no futuro próximo, tentar um golpe. Deveria fazer exatamente o contrário. Este é o momento em que um presidente à altura do cargo teria de mostrar sua autoridade na direção correta, defendendo a recente (e, portanto, ainda frágil) democracia brasileira e liderando o país no combate à pandemia e na retomada. Até aqui, Bolsonaro tem se eximido completamente desse papel, preferindo realizar voos de helicóptero sobre manifestantes que desrespeitam o isolamento social, falando palavrões em reuniões ministeriais de baixíssima qualidade ou cavalgando pela Esplanada, em cena que remete ao general Newton Cruz, chefe do Serviço Nacional de Informações durante o período da ditadura militar.

É fundamental ressaltar que, embora seja o principal promotor do caos, o presidente não é o único personagem afeito a conturbar o ambiente. Em menor intensidade, mas com efeitos que podem ser devastadores, setores do STF, do Congresso e da sociedade civil precisam entender que o confronto direto ou conspirações de gabinetes não trarão nada de bom em circunstância tão grave. O fato é que não existe, até aqui, nenhuma razão objetiva para a realização de um impeachment do presidente eleito. Ao partirem para a guerra franca contra Bolsonaro, na verdade, tais figuras apenas tiram o foco da população da sua deficiente administração e caem diretamente na narrativa que mais beneficia o presidente: o embate, as versões, a confusão. Basta de protagonismos indevidos e manobras conspiratórias. Temos de pensar no Brasil. É inconcebível também que brasileiros conscientes saiam de casa nos próximos dias para protestar contra Bolsonaro. Primeiro, porque estamos em meio à pior fase da pandemia do coronavírus. Depois, porque o risco de confrontos é enorme, algo que só vai piorar o delicado equilíbrio deste momento político. A hora é de um pacto nacional pela defesa da democracia e da Constituição, compromissos permanentes de Veja, sem violência nem atos hostis.

Publicado em VEJA de 10 de junho de 2020, edição nº 2690

Enquanto isso, no Brasil as secretarias estaduais de Saúde confirmam 645.826 casos do novo coronavírus (Sars-CoV-2), com 35.040 mortes.

Veja os dados sobre o coronavírus no Brasil nesta sexta-feira (5), segundo levantamento exclusivo do G1 junto às secretarias estaduais de saúde. 

Os principais dados são:

35.040 mortes; eram 33.884 às 20h de quinta (4)

Em relação aos dados levantados até as 20h de quinta, foram 1.156 mortes em 24 horas. É o 4º dia seguido com mais de 1 mil mortes registradas
645.826 casos confirmados; eram 612.862 às 20h de quinta

Em relação aos dados levantados até as 20h de quinta, foram 32.964 casos confirmados em 24 horas

Abaixo, veja curva de mortes no Brasil e nos estados, cidades com maior mortalidade, cidades com maior incidência, taxa de ocupação de leitos de UTI, testes feitos pelos estados e pacientes recuperados.

Das 20 cidades com maior mortalidade no Brasil, 12 estão no Amazonas e só quatro fora da Região Norte. No ranking, aparecem cinco capitais, nesta ordem: Belém (1°), Fortaleza (5°), Recife (11°), Manaus (13°) e Rio de Janeiro (15°).

Taxa de ocupação de leitos de UTI

Acre – 82,6% em todo o estado em 4/6
Alagoas – 79% em todo o estado 4/6
Amapá – 98,84% em todo o estado em 4/6
Amazonas – 70% em todo o estado em 3/6
Bahia – 70% em todo o estado em 4/6
Ceará – 82,72% em todo o estado em 4/6
Distrito Federal – 69,5% na rede privada e 42,24% na rede pública em 29/5
Espírito Santo - 85,14% em todo o estado em 4/6
Goiás - 46,6% dos leitos de gestão estadual, em todo o estado em 3/6
Maranhão –96,25% na Grande São Luís, 80,85% no interior e 85,2% em Imperatriz em 2/6
Mato Grosso – 17,9% em todo o estado em 4/6
Mato Grosso do Sul – 7% em todo o estado em 4/6
Minas Gerais – 71% em todo o estado em 3/6
Pará – 79% em todo o estado em 3/6
Paraíba – 69% em todo o estado em 3/6
Paraná – 40% em todo o estado em 4/6
Pernambuco – 98% em todo o estado em 3/6
Piauí - 61% em todo o estado em 24/5
Rio de Janeiro – 86% em todo o estado em 24/5
Rio Grande do Norte – 84% em 4/6
Rio Grande do Sul – 72,9% em todo o estado em 4/6
Rondônia – 77,9% em todo o estado em 3/6
Santa Catarina – 61,7% do sistema público em todo o estado em 3/6
São Paulo – 71,4% em todo o estado em 4/6
Sergipe – 56,7% do sistema público em todo o estado em 2/6
Tocantins – 60% dos leitos ocupados em 3/6

Roraima não divulgou a lotação dos leitos de UTI do estado.

Número de testes de coronavírus feitos pelos estados

Estado Nº de testes Data de divulgação
Acre 15.988 4/6
Alagoas 18.048 1º/6
Amapá 21241 3/6
Amazonas 6.183 27/4
Bahia 39.949 21/5
Ceará 137.434 4/6
Distrito Federal 141.344 29/5
Espírito Santo 54.436 4/6
Goiás 12.925 29/5
Maranhão 66.717 3/6
Mato Grosso 8.253 3/6
Mato Grosso do Sul 11.713 4/6
Minas Gerais 23.461 4/6
Pará 54.311 3/6
Paraíba 53.089 3/6
Paraná 26.063 25/5
Pernambuco 50.392 28/5
Piauí 43.109 3/6
Rio Grande do Norte 25.308 4/6
Rio Grande do Sul 12.508 26/5
Rondônia 18.891 3/6
Roraima 718 23/4
Santa Catarina 33.000 4/6
São Paulo 87.463 27/5
Sergipe 20.702 2/6
Tocantins 7.095 25/5
Total 990.351
Fonte: secretarias estaduais de Saúde

Rio de Janeiro não divulgou o número de testes.

Estados Nº de pacientes recuperados Data de divulgação

Acre 3.209 4/6
Alagoas 7.876 4/6
Amapá 5.268 4/6
Amazonas 34.583 2/6
Bahia 8.430 4/6
Ceará 39.263 4/6
Distrito Federal 6.373 3/6
Espírito Santo 9.192 4/6
Goiás 738 26/5
Maranhão 14.014 3/6
Mato Grosso 1065 4/6
Mato Grosso do Sul 872 4/6
Minas Gerais 5.606 4/6
Pará 35.969 4/6
Paraíba 3.175 3/6
Paraná 2.267 4/6
Pernambuco 20.375 4/6
Piauí 456 29/5
Rio de Janeiro 41.838 2/6
Rio Grande do Norte 1.824 3/6
Rio Grande do Sul 8.160 4/6
Rondônia 2.600 3/6
Roraima 1.230 4/6
Santa Catarina 6.442 4/6
São Paulo 23.000 3/6
Sergipe 2.999 2/6
Tocantins 1.828 4/6
Total 288.652

Fonte: secretarias estaduais de Saúde

MPF abre inquérito para apurar suposto crime de racismo de presidente da Fundação Palmares

Camargo chamou o movimento negro de ‘escória maldita’ e criticou religiões de matriz africana em reunião fechada. MP recomenda perícia em áudio e coleta de depoimentos.

O Ministério Público Federal (MPF) pediu nesta sexta-feira (5) a abertura de um inquérito na Polícia Federal para apurar se o presidente da Fundação Cultural Palmares,, Sérgio Camargo, cometeu crime de racismo.

A investigação terá como base as declarações se Camargo, captadas em um áudio, em que o jornalista chama o movimento negro de "escória maldita", diz que não dará verba para "macumbeiro" e ofende uma mãe de santo que trabalhou na Palmares antes de ele assumir o cargo.

Na ocasião, Camargo também disse que Zumbi era "filho da puta que escravizava pretos", criticou o Dia da Consciência Negra e falou em demitir "esquerdista".

Segundo a denúncia encaminhada pelo MP, as falas ditas em uma reunião com assessores representam crime de racismo contra todos os praticantes de religião de matriz africana.

Defensoria pede ao STJ a saída de Sérgio Camargo da presidência da Fundação Palmares

Na decisão de abrir o inquérito, o procurador Peterson de Paula Pereira pede que a PF apure os relatos, faça perícia no áudio da reunião e, se preciso, colha depoimento dos envolvidos.

A Polícia Federal tem 30 dias para instaurar o inquérito e deve concluir a apuração em até 90 dias, prorrogáveis por igual período.

A gravação

Na gravação, segundo a denúncia encaminhada ao MPF, Sérgio Camargo diz:

"Tem gente vazando informações aqui para a mídia, vazando para uma mãe de santo, uma filha da puta macumbeira, uma tal de mãe Baiana, que ficava aqui infernizando a vida de todo mundo. [...] Não vai ter nada para terreiro na Palmares, enquanto eu estiver aqui dentro. Nada. Zero. Macumbeiro não vai ter nem um centavo[...]”

Em razão dessas declarações, a Defensoria Pública da União também entrou com um recurso no Superior Tribunal de Justiça para retirar Sérgio Camargo da presidência da Fundação Palmares. O pedido ainda não foi julgado.

A Mãe Baiana citada por Camargo no áudio é Adna Santos, que atuou na Fundação Palmares entre 2014 e 2019 e atualmente é Coordenadora de Políticas de Promoção e Proteção da Diversidade Religiosa do governo do Distrito Federal.

Após a divulgação do áudio, Adna registrou ocorrência na Polícia Civil por injúria racial, discriminação racial e discriminação religiosa.

“O que o presidente da Palmares fez foi injúria, racismo religioso. [É mais chocante] ainda vindo dele, que está à frente de uma organização importante para o país e por ele ser um homem preto. Partir dele essa agressão contra uma mulher também preta, isso me entristeceu muito", disse Adna Santos ao G1 nesta quinta.

Mãe Baiana de Oyá, xingada por Sérgio Camargo, presta depoimento ao MP

Movimento negro protesta em Brasília e pede saída do presidente da Fundação Palmares
Improbidade administrativa

O MPF no Distrito Federal também recebeu, nesta quinta (4), pedido de abertura de inquérito contra Sérgio Camargo por improbidade administrativa.

No ofício, o procurador federal dos Direitos do Cidadão, Carlos Alberto Vilhena, afirma que a conduta do presidente da Fundação Palmares na reunião, explicitada no áudio, revela "possível desvio de poder". Esse pedido ainda está em análise.

Além de criticar o movimento negro, Camargo afirma na gravação que vai exonerar servidores que não concordarem com a postura à frente da pasta. O trecho é citado no pedido de inquérito.

Histórico
A nomeação de Sérgio Camargo para a presidência da Fundação Cultural Palmares foi oficializada em 27 de novembro de 2019 e gerou uma série de críticas e indignação.

Numa publicação antes de ser nomeado para o cargo, o jornalista classificou o racismo no Brasil como "nutella". "Racismo real existe nos Estados Unidos. A negrada daqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda", afirmou.

Ele também postou, em agosto de 2019, que "a escravidão foi terrível, mas benéfica para os descendentes". "Negros do Brasil vivem melhor que os negros da África", completava a publicação

Sobre o Dia da Consciência Negra, Sérgio Camargo afirmou que o "feriado precisa ser abolido nacionalmente por decreto presidencial". Ele disse que a data "causa incalculáveis perdas à economia do país, em nome de um falso herói dos negros (Zumbi dos Palmares, que escravizava negros) e de uma agenda política que alimenta o revanchismo histórico e doutrina o negro no vitimismo".

Sérgio publicou uma mensagem numa rede social na qual disse que "sente vergonha e asco da negrada militante". "Às vezes, [sinto] pena. Se acham revolucionários, mas não passam de escravos da esquerda", escreveu.

Em 13 de maio, aniversário da Lei Áurea, Sérgio Camargo publicou artigos depreciativos a Zumbi no site oficial da instituição. Em redes sociais, disse que Zumbi é "herói da esquerda racialista; não do povo brasileiro. Repudiamos Zumbi!".

O MP apontou improbidade administrativa nos posts com críticas a Zumbi. O caso também é analisado pela Procuradoria da República no DF.

O que diz a Fundação Palmares

Veja, abaixo, nota enviada pela Fundação Cultural Palmares sobre o áudio da reunião:

O presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Sérgio Camargo, lamenta a gravação ilegal de uma reunião interna e privada. Assim, reitera que a Fundação, em sintonia com o Governo Federal, está sob um novo modelo de comando, este mais eficiente, transparente, voltado para a população e não apenas para determinados grupos que, ao se autointitularem representantes de toda a população negra, histórica e deliberadamente se beneficiaram do dinheiro público.

Infelizmente ainda existem, na gestão pública, pessoas que não assimilaram esta mudança e tentam desconstruir o trabalho sério que está sendo desenvolvido. Seguimos firmes em prol do Brasil e dos brasileiros! (Sérgio Camargo)."


Fonte: G1 e TV Globo — Brasília

Trump diz que pelo menos 1 milhão foram salvos do coronavírus ao 'fechar os EUA' e observa que Brasil está num 'momento bem difícil'

     O presidente americano Donald Trump disse
 nesta-sexta-feira (5) que salvou pelo menos 1 milhão 
  ao "fechar os EUA" e afirmou que o Brasil está num            "momento bem difícil" com o coronavírus.

    EUA anunciam ajuda milionária para o Brasil 
           durante pandemia de Covid-19    

"Fechamos nosso país. Salvamos, possivelmente, 2 milhões, 2,5 milhões de vidas. Poderia ser só um milhão de vidas, acho que não menos que isso. Mas se considerarmos que estamos em 105 mil hoje em dia, o número de vítimas seria pelo menos 10 vezes maior. É o que se acredita como mínimo se fizéssemos (imunidade de) rebanho", comentou.

"Se você olha para o Brasil, eles estão num momento bem difícil. E, a propósito, eles falam muito da Suécia. Isso voltou a assombrar a Suécia. A Suécia está tendo um momento terrível. Se tivéssemos agido assim, teríamos perdido 1 milhão, 1,5 milhão, talvez 2,5 milhões ou até mais", afirmou.

Inicialmente, Trump minimizou a ameaça do vírus que já matou mais de 108 mil pessoas nos Estados Unidos, o maior número de mortos de qualquer país do mundo.
O presidente por vezes contradisse especialistas em doenças de seu governo, promoveu tratamentos potenciais que não foram considerados eficientes e já acusou governadores democratas de reabrirem seus Estados vagarosamente para prejudicar suas chances de reeleição.

Os norte-americanos parecem estar cada vez mais críticos à maneira pela qual Trump conduz a crise

O levantamento mostra que 41% dos adultos norte-americanos aprovam o desempenho de Trump no cargo, queda de 4 pontos em relação a um levantamento semelhante conduzido em meados de abril. A reprovação ao presidente cresceu 5 pontos para 56% no mesmo período.

Evolução dos números brasileiros

O Brasil superou a Itália em número de mortos por complicações da Covid-19 na quinta-feira (4). O país acumula 34.021 vidas perdidas durante a pandemia e está atrás apenas do Reino Unido e dos Estados Unidos, segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde.

Número de mortes no Brasil passa o da Itália e chega a 34.021; país agora é o 3º do mundo com mais óbitos

O Brasil chegou a terceiro país com mais mortes no mundo 79 dias depois do registro da primeira vítima da Covid-19, em 17 de março.

No mundo inteiro, a pandemia já fez cerca de 389,6 mil mortes, de acordo com o painel da universidade norte-americana Johns Hopkins. A doença começou na China, que hoje tem pouco mais de 4,6 mil mortes. O país asiático mais atingido é o Irã, com mais de 8 mil óbitos.

Ao comparar as taxas de mortes por cada 100 mil habitantes, o Brasil tem 14 mortes a cada 100 mil.

Essa taxa mostra o efeito do vírus em países menos populosos, como o Reino Unido (66,6 milhões) e a Itália (60,3 milhões de habitantes), em comparação com os EUA (329,5 milhões) e Brasil (209,5 milhões).

Floyd

Enquanto divulgava o número surpreendente de queda de desemprego nos EUA em maio, Trump disse ainda que esperava que George Floyd estivesse "olhando para baixo" do céu "e dizendo: 'Isso é uma grande coisa acontecendo para o nosso país. '”

Ele disse que uma economia forte é essencial para melhorar as tensões raciais.

"Este é um ótimo dia para ele, é um ótimo dia para todos", disse ele. “É um ótimo dia para todos. Este é um ótimo, ótimo dia em termos de igualdade ”, disse ele em uma entrevista coletiva concedida nos jardins da Casa Branca, referindo-se ao homem negro morto sob custódia da polícia de Minneapolis.
"É realmente o que nossa constituição exige, e é sobre o que nosso país é", disse o presidente.

Trump ainda celebrou que a pior parte da pandemia de coronavírus teria ficado para trás no país.

"Tínhamos a maior economia da história. E essa força nos permitiu superar esta horrível pandemia, que já superamos, em grande medida. Acho que estamos indo bem", declarou Trump, em uma entrevista coletiva na qual comemorou que o desemprego em maio tenha caído para 13,3%.

China

Trump comentou que vê a Fase 1 do acordo comercial assinado entre os EUA e a China de maneira diferente após a pandemia.

"Acho que vejo o acordo comercial de forma um pouco diferente do que há três meses",comentou.

"Uma relação harmoniosa com a China seria uma coisa boa. Não sei se isso vai acontecer. Aviso a vocês", acrescentou.

Fonte: G1 /O GLOBO

PGR denuncia ao Supremo deputado Arthur Lira, um dos líderes do 'Centrão'

Deputado é acusado de ter recebido propina de empreiteira, segundo Operação Lava Jato. Defesa diz que parlamentar é alvo de tentativas de envolvê-lo 'em ilícitos dos quais não participou'.

A Procuradoria-Geral da República denunciou nesta sexta-feira (5) ao Supremo Tribunal Federal (STF) o deputado federal Arthur Lira (PP-AL), um dos principais líderes do chamado "Centrão", bloco parlamentar informal, com cerca de 200 deputados, do qual o governo se aproximou – o grupo passou a integrar a base do governo na Câmara.

A denúncia do Ministério Público Federal é uma acusação formal feita ao Supremo. Caberá ao tribunal analisar se vai receber a denúncia. Se decidir receber, será aberta uma ação penal, e o deputado passa à condição de réu.

Lira é acusado de corrupção passiva em investigação no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo os investigadores, o parlamentar teria recebido R$ 1,6 milhão em propina da empreiteira Queiroz Galvão. De acordo com a denúncia, o dinheiro pagamento pelo apoio do PP à manutenção de Paulo Roberto Costa na diretoria da Petrobras. Costa foi preso em março de 2014, quando a Lava Jato foi deflagrada.

Em nota, o advogado Pierpaolo Bottini, defensor de Arthur Lira, afirmou que o deputado fez parte de um grupo que afastou Paulo Roberto Costa do partido ao assumir a liderança do PP. Segundo ele, isso motivou "reiteradas tentativas de envolver o parlamentar em ilícitos dos quais não participou" (leia íntegra da nota ao final desta reportagem).

De acordo com as investigações, os recursos da empreiteira teriam sido pagos a um assessor do deputado em dinheiro vivo. A investigação não encontrou indícios de que o dinheiro que teria sido repassado ao parlamentar foi distribuído para outros integrantes do PP investigados no mesmo caso. Assim, o MPF pediu que os fatos sejam arquivados em relação ao senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE).

A acusação da PGR também envolve doleiros e executivo da Queiroz Galvão envolvidos no caso, acusados de lavagem de dinheiro.

Bolsonaro se aproxima do ‘centrão’ para tentar formar base de apoio no Congresso

Arthur Lira é hoje um dos principais nomes do chamado "Centrão" e, atualmente, um dos políticos mais próximos do presidente Jair Bolsonaro, que vem concedendo postos na administração federal a indicados por partidos do bloco.

Lira é líder do PP, uma das bancadas do Centrão. No fim de abril, o deputado esteve com o presidente Jair Bolsonaro, com quem apareceu em fotos. É também um dos cotados para a sucessão do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A eleição para o comando da Câmara está prevista para o começo do ano que vem.

Lira já é réu em outro processo no STF. Em outubro do ano passado, a Primeira Turma do STF recebeu a denúncia contra o deputado por corrupção passiva em uma ação que era desdobramento da Operação Lava Jato.

À época, a PGR acusou o deputado de aceitar propina de R$ 106 mil do então presidente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), Francisco Colombo, em troca de mantê-lo no cargo. Arthur Lira teria recebido o dinheiro por meio de um assessor parlamentar, em 2012.

Por Fernanda Vivas e Márcio Falcão, TV Globo — Brasília
05/06/2020 18h53  Atualizado há 18 minutos

Nota da defesa de Arthur Lira

Leia abaixo a íntegra de nota divulgada pelo advogado Pierpaolo Bottini, da defesa do deputado Arthur Lira:

Arthur Lira fez parte de um grupo que assumiu a liderança do PP e afastou Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef do partido. Fato já provado e que explica a inimizade dos colaboradores e suas reiteradas tentativas de envolver o parlamentar em ilícitos dos quais não participou.

O doleiro diz que Arthur Lira recebeu indevidos valores por meio de um operador chamado Ceará, mas esse último – também colaborador – desmente tal versão em dois depoimentos. O próprio STF reconheceu as inverdades de Youssef em outros depoimentos contra Arthur Lira. Fundamentar uma denúncia nas palavras desse doleiro é premiar um ato de vingança contra alguém que se postou contra suas práticas.

Pierpaolo Bottini

quarta-feira, 3 de junho de 2020

Obama pede que prefeitos revejam uso da força policial nos EUA

Primeiro negro a ocupar a Casa Branca, ex-presidente dos EUA demonstrou apoio aos manifestantes contra o racismo após a morte de George Floyd e pediu que movimento não seja 'sequestrado por minoria violenta'.

Ex-presidente dos EUA, Barack Obama, discursa nos EUA nesta quarta (3) sobre morte de George Floyd e onda de protestos no país — Foto: Reprodução

Ex-presidente dos EUA, Barack Obama, discursa nos EUA nesta quarta (3) sobre morte de George Floyd e onda de protestos no país — Foto: Reprodução

O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama pediu nesta quarta-feira (3) que prefeitos repensassem o uso da força policial nas cidades do país. O democrata fez discurso transmitido a partir de Chicago em meio aos protestos antirracistas de repúdio à morte do ex-segurança George Floyd em custódia policial.

"Eu peço que cada prefeito reveja o uso da força policial e faça as mudanças que forem necessárias", afirmou o ex-presidente Obama.

O ex-presidente citou um relatório sobre uso da força policial que, segundo ele, propõe reformas e foi lido por "vários prefeitos e outras autoridades eleitas". "Mas depois disso, não houve empenho o bastante", lamentou.

Nos EUA, as polícias costumam ser de responsabilidade dos prefeitos, diferentemente do Brasil. Obama disse que apoia os policiais que agem de maneira justa e os agradeceu pelo trabalho — em diversas cidades, agentes de segurança participaram dos atos pacíficos, repetindo o gesto com o joelho que se tornou símbolo dos protestos no país.

Apoio aos manifestantes

Um policial aperta a mão de um manifestante durante um protesto contra a morte de George Floyd do lado de fora da sede da polícia de Los Angeles, nos EUA, na terça-feira (2) — Foto: Lucy Nicholson/Reuters

Um policial aperta a mão de um manifestante durante um protesto contra a morte de George Floyd do lado de fora da sede da polícia de Los Angeles, nos EUA, na terça-feira (2) — Foto: Lucy Nicholson/Reuters

Obama, primeiro negro a ocupar o cargo de presidente dos EUA, também demonstrou apoio aos jovens não brancos do país "que têm testemunhado muita violência" de quem deveria "servir e proteger". "Eu quero que saibam que vocês importam, que suas vidas importam e que seus sonhos importam", disse.

"Vocês devem ser capazes de aprender e cometer erros e viver uma vida de alegria sem se preocupar com o que vai acontecer se você sair para uma loja, sair para fazer uma corrida, se estiver dirigindo pelas ruas ou observando pássaros no parque" — Barack Obama.

O chefe do departamento de polícia da cidade de Nova York, Terence Monahan, se ajoelha com manifestantes durante uma marcha pela cidade para protestar contra a morte de George Floyd nesta segunda-feira (1º) — Foto: Craig Ruttle/AP

O chefe do departamento de polícia da cidade de Nova York, Terence Monahan, se ajoelha com manifestantes durante uma marcha pela cidade para protestar contra a morte de George Floyd nesta segunda-feira (1º) — Foto: Craig Ruttle/AP

O ex-presidente ainda afirmou que o período é uma "oportunidade" para lidar com problemas e desafios estruturais nos EUA.

"Por mais trágicas que as últimas semanas tenham sido, por mais difíceis, assustadoras e incertos que tenham sido, este tempo também é uma oportunidade incrível para que pessoas acordem para algumas dessas questões", emendou Obama.

Por G1
03/06/2020 18h38  Atualizado há 3 minutos

Enquanto isso, coronavírus sobe para 31.417 o número de mortos no Brasil

As secretarias estaduais de Saúde confirmam no país 560.737 casos do novo coronavírus (Sars-CoV-2), com 31.417 mortes. Total de curados passa de 255 mil.

Veja os dados sobre o coronavírus no Brasil nesta terça-feira (2), segundo levantamento exclusivo do G1 junto às secretarias estaduais de saúde. Foram registradas 31.417 mortes provocadas pela Covid-19 e 560.737 casos confirmados da doença em todo o país.

Os balanços também apontam para um total de 256.700 pacientes recuperados da doença.

O diretor de emergências da Organização Mundial de Saúde (OMS), Michael Ryan, destacou na segunda-feira (1º) que o Brasil foi um dos países com o maior aumento do número de casos de Covid-19 nos últimos dias. Também afirmou que o país está entre aqueles que não chegaram ao pico da transmissão.

Desde 22 de maio, o Brasil é o segundo país com mais casos confirmados de Covid-19, atrás apenas dos Estados Unidos, que registravam mais de 1,7 milhão de casos neste domingo (31), segundo balanço global feito pela universidade norte-americana Johns Hopkins.

No sábado (30), o Brasil passou a França em número de mortes por Covid-19, quando o país europeu, um dos mais afetados pela pandemia, tinha 28.774 mortos no balanço da Johns Hopkins.

O balanço do Ministério da Saúde nesta terça (2) registrou 1262 novos óbitos, número recorde de vítimas anotadas em um dia, totalizando 31.199 mortos e 555.383 casos. Somos o quarto país em número de mortos pela doença, atrás de EUA, Reino Unido e Itália.

Das 20 cidades com maior mortalidade no Brasil, 16 estão na Região Norte. No ranking, aparecem cinco capitais, nesta ordem: Belém (3°), Fortaleza (6°), Recife (9°), Manaus (12°) e Rio de Janeiro (16°).

Taxa de ocupação de leitos de UTI
Acre – 78,2% em todo o estado em 1º/6
Alagoas – 78% em todo o estado 1º/6
Amapá – 97,98% em todo o estado em 1º/6
Amazonas – 71% em todo o estado em 31/5
Bahia – 68% em todo o estado em 1º/6
Ceará – 89% em todo o estado em 17/5
Distrito Federal – 69,5% na rede privada e 42,24% na rede pública em 29/5
Espírito Santo - 77,55% em todo o estado em 25/5
Goiás - 66,15% dos leitos de gestão estadual, em todo o estado em 1º/6
Maranhão –97,5% na Grande São Luís, 84,4% no interior e 90% em Imperatriz em 1°/6
Mato Grosso – 14,6% em todo o estado em 27/5
Mato Grosso do Sul – 2,8% em todo o estado em 1°/6
Minas Gerais – 70% em todo o estado em 1º/6
Pará – 84,36% em todo o estado em 27/5
Paraíba – 73% em todo o estado em 1º/6
Paraná – 44% em todo o estado em 29/5
Pernambuco – 98% em todo o estado em 28/5
Piauí - 61% em todo o estado em 24/5
Rio de Janeiro – 86% em todo o estado em 24/5
Rio Grande do Norte – 93% em 1º/6
Rio Grande do Sul – 72% em todo o estado em 29/5
Rondônia – 62% em todo o estado em 25/5
Santa Catarina – 59,1% do sistema público em todo o estado em 29/5
São Paulo – 69,3% em todo o estado em 1º/6
Sergipe – 89,6% do sistema público em todo o estado em 29/5
Tocantins – 50% dos leitos ocupados em 25/5

Roraima não divulgou a lotação dos leitos de UTI do estado.

Número de testes de coronavírus feitos pelos estados

Estado Nº de testes Data de divulgação
Acre 13.739 1º/6
Alagoas 18.048 1º/6
Amapá 17.164 30/5
Amazonas 6.183 27/4
Bahia 39.949 21/5
Ceará 118.041 1º/6
Distrito Federal 141.344 29/5
Espírito Santo 48.924 1º/6
Goiás 12.925 29/5
Maranhão 52.012 29/5
Mato Grosso 7.618 1º/6
Mato Grosso do Sul 10.220 1º/6
Minas Gerais 22.338 1º/6
Pará 45.500 1º/6
Paraíba 48.561 1º/6
Paraná 26.063 25/5
Pernambuco 50.392 28/5
Piauí 42.152 29/5
Rio Grande do Norte 19.015 29/5
Rio Grande do Sul 12.508 26/5
Rondônia 16.715 1º/6
Roraima 718 23/4
Santa Catarina 29.000 29/5
São Paulo 87.463 27/5
Sergipe 16.706 27/5
Tocantins 7.095 25/5
Total 910.393

Fonte: secretarias estaduais de Saúde
Rio de Janeiro não divulgou o número de testes.

Estados Nº de pacientes recuperados

Acre 2.677 1º/6
Alagoas 5.951 1º/6
Amapá 4.362 2/6
Amazonas 34.583 2/6
Bahia 7.247 2/6
Ceará 35.184 2/6
Distrito Federal 5.982 2/6
Espírito Santo 8.434 2/6
Goiás 738 26/5
Maranhão 11.473 1º/6
Mato Grosso 749 1º/6
Mato Grosso do Sul 650 2/6
Minas Gerais 5.341 1°/6
Pará 29.476 2/6
Paraíba 2.920 2/6
Paraná 2.097 2/6
Pernambuco 10.102 27/5
Piauí 456 29/5
Rio de Janeiro 41.838 2/6
Rio Grande do Norte 1.824 1º/6
Rio Grande do Sul 7.560 2/6
Rondônia 2.389 1º/6
Roraima 1.080 1º/6
Santa Catarina 5.207 31/5
São Paulo 21.470 1º/6
Sergipe 2.242 27/5
Tocantins 1.538 2/6
Total 253.570

Fontes: secretarias estaduais de Saúde e Por G1

Pandemia deve derrubar a classe média brasileira

Apesar da crise, o imenso mercado de consumo do país o mantinha atraente para investidores. Só que isso é passado: os brasileiros vão ficar mais pobres, escreve o colunista Alexander Busch.

    Pessoas de máscara em São Paulo

Pessoas de máscara em São Paulo

De acordo com as últimas previsões, o declínio econômico do Brasil continuará e será exacerbado pela pandemia

Há dez anos, o Brasil estava prestes a ultrapassar a França como a quinta maior economia do mundo. Impulsionado pelas altas receitas de energia e matéria-prima da mineração e da agricultura, o país viveu um boom econômico que elevou 30 milhões de brasileiros para a classe média. O Brasil continuava a ter aquele um terço extremamente rico e aquele terço extremamente pobre da população – mas, de repente, o avanço social parecia possível. Sobretudo as pequenas e médias empresas e o setor de serviços serviram como trampolim social – e garantiram um rápido aumento do poder aquisitivo.

O mercado de 210 milhões de brasileiros consumidores ávidos, que, na dúvida, preferem gastar a economizar, atraiu todos os fabricantes de bens de consumo do mundo. Em média, os brasileiros compravam mais celulares, televisores, geladeiras, cosméticos e produtos de higiene pessoal do que os indianos, russos e sul-africanos. Este consumo também levou às altas taxas de crescimento da última década: dois terços do crescimento do Brasil foram dependentes do consumo – pouco veio das exportações ou dos investimentos.

Mas desde 2015 o motor de crescimento da economia brasileira vem estagnando e encolhendo: o país caiu para o 12º lugar em termos de potência econômica. E a tendência é descendente. Os brasileiros estão empobrecendo novamente, em vez de ascender. Há seis anos, sua renda média era 9% superior à renda média global, mas ao final do ano será quase 20% menor, prevê a Economist Intelligence Unit. O declínio da sociedade é particularmente evidente em uma comparação com a China: em 2016 a renda per capita (medida pelo poder aquisitivo) ainda era a mesma na China e no Brasil. Hoje é 30% menor no Brasil do que na China.

De acordo com as últimas previsões, o declínio continuará e será exacerbado pela pandemia. Uma razão para isso é o rápido aumento da taxa de desemprego. De acordo com estimativas do Banco Safra, a taxa real de desemprego já está em torno de 16% – e não os 12,9% oficialmente divulgados. Isso porque as estatísticas oficiais não levam em conta aqueles que, sem esperança de achar algo, não estão mais à procura de trabalho.

Além disso, a dívida dos cidadãos voltou a aumentar. Nos últimos dois anos, os brasileiros têm usado as baixas taxas de juros para contrair empréstimos. Sua dívida é quase metade do que eles ganharam nos últimos 12 meses (46%). Este também é o nível mais alto desde 2005, quando as pesquisas começaram. 

O governo brasileiro teve considerável dificuldade em chegar às pequenas e médias empresas (PMEs) durante a crise: embora o governo queira dar às PMEs 40 bilhões de reais para garantir que elas não demitam seus funcionários, ainda não fez os investimentos necessários. Ao todo, 1,4 milhão de empresas deveriam ser favorecidas, e 12 milhões de empregos, mantidos. Mas, até agora, só 1% do empréstimo pôde ser sacado. A maioria das pequenas e médias empresas não se enquadra no programa de apoio – são pequenas demais para um faturamento anual de 360 mil reais ou mais. As grandes empresas recebem crédito dos bancos estatais, as empresas de médio porte ficam pelo caminho.

Isso também faz com que a renda dos brasileiros encolha. Segundo o Sebrae, as PMEs brasileiras respondem por mais da metade do total de empregados (52%) e produzem um quarto do PIB do país.

O instituto Ibre/FGV acaba de analisar os últimos dados do Fundo Monetário Internacional. Segundo estes números, a renda per capita dos brasileiros deve cair pelo menos 6% neste ano, para cerca de 13.600 dólares por habitante. A previsão sombria: a década de 2011-2020 é provavelmente a que os brasileiros perderam mais renda nos últimos 120 anos.

Há mais de 25 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América do Sul do grupo editorial Handelsblatt (que publica o semanário Wirtschaftswoche e o diário Handelsblatt) e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Busch vive e trabalha em São Paulo e Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.

Fonte: Deutsche Welle, a emissora internacional da Alemanha. Jornalismo independente em 30 idiomas. 

Vacina contra a covid-19 desenvolvida na Universidade de Oxford será testada também no Brasil

Duas mil pessoas participarão dos testes em São Paulo e no Rio; das mais de 70 vacinas em desenvolvimento em todo o mundo, essa é a que se encontra em estágio mais avançado.

A vacina contra a covid-19 que está sendo desenvolvida na Universidade de Oxford, no Reino Unido, será testada também no Brasil, conforme publicação na noite desta terça-feira, 2, no Diário Oficial da União. Considerado um dos mais promissores, o imunizante já está na fase três de testes, em que dez mil pessoas serão testadas para se avaliar  a eficácia do produto. Das mais de 70 vacinas em desenvolvimento em todo o mundo, é a que se encontra em estágio mais avançado.

Duas mil pessoas participarão dos testes no Brasil, em São Paulo e no Rio de Janeiro, que contam com o apoio do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A articulação para a vinda dos testes ao Brasil contou com a liderança da Professora Doutora Sue Ann Costa Clemens, diretora do Instituto para a Saúde Global da Universidade de Siena e pesquisadora brasileira especialista em doenças infecciosas e prevenção por vacinas, investigadora do estudo.

Em São Paulo, os testes serão conduzidos pelo Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e contaram com a viabilização financeira da Fundação Lemann no custeio de toda a infraestrutura médica e de equipamentos necessários.

Vacina

A Unifesp irá recrutar mil voluntários que estejam na linha de frente do combate à Covid-19, uma vez que estão mais expostos à contaminação. Eles precisam ser soronegativo, ou seja, pessoas que não tenham contraído a doença anteriormente. Segundo Dra. Lily Yin Weckx, investigadora principal do estudo e coordenadora do CRIE-Unifesp, “o mais importante é realizar essa etapa do estudo agora, quando a curva epidemiológica ainda é ascendente e os resultados poderão ser mais assertivos."

Há outros países cuja participação está em processo de análise e aprovação. Os resultados desses testes serão primordiais para o registro da vacina no Reino Unido, previsto para final deste ano. Entretanto, o registro formal deve acontecer apenas após a conclusão dos estudos realizados em todos os países participantes.

Para Denis Mizne, diretor-executivo da Fundação Lemann, organização viabilizadora dos recursos necessários à realização do estudo de eficácia da vacina em São Paulo, "inserir o Brasil no panorama de vacinas contra a Covid-19 é um marco importante para nós, brasileiros, e acredito que poderemos acelerar soluções que tragam bons resultados e rápidos. Para a Fundação Lemann esta é mais uma importante oportunidade de contribuir em iniciativas de grande impacto para o nosso país e sua gente.

Roberta Jansen, O Estado de S.Paulo
03 de junho de 2020 | 12h08

Opinião e princípios

"A legítima defesa da democracia está fundada na prática da tolerância e do diálogo". Leia aqui na íntegra o artigo do Vice Presidente da República, General Antonio Hamilton Martins Mourão, publicado na edição de hoje do jornal O Estado de São Paulo.

A apresentação das últimas manifestações contrárias ao governo como democráticas constitui um abuso, por ferirem, literalmente, pessoas e o patrimônio público e privado, todos protegidos pela democracia. Imagens mostram o que delinquentes fizeram em São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. Registros da internet deixam claro quão umbilicalmente ligados estão ao extremismo internacional.

É um abuso esquecer quem são eles, bem como apresentá-los como contraparte dos apoiadores do governo na tentativa de transformá-los em manifestantes legítimos. Baderneiros são caso de polícia, não de política.

Portanto, não me dirijo a eles, sempre perdidos de armas na mão, os que em verdade devem ser conduzidos debaixo de vara às barras da lei. Dirijo-me aos que os usam, querendo fazê-los de arma política; aos que, por suas posições na sociedade, detêm responsabilidades institucionais.

Aonde querem chegar? A incendiar as ruas do País, como em 2013? A ensanguentá-las, como aconteceu em outros países? Isso pode servir para muita coisa, jamais para defender a democracia. E o País já aprendeu quanto custa esse erro.

A legítima defesa da democracia está fundada na prática existencial da tolerância e do diálogo. Nesse sentido, Thomas Jefferson, o defensor das liberdades que, como presidente eleito, rejuvenesceu a nascente democracia norte-americana em momento de aparente perda de seu elã igualitário, deixou-nos preciosa citação: “Toda diferença de opinião não é uma diferença de princípios”.

Uma sociedade que se organiza politicamente em Estado só pode tê-lo verdadeiramente a seu serviço se observar os princípios que regem sua vida pública. Cabe perguntar se é isso que estamos fazendo no Brasil.

É lícito usar crimes para defender a democracia? Qual ameaça às instituições no Brasil autoriza a ruptura da ordem legal e social? Por acaso se supõe que assim será feito algum tipo de justiça?

As cenas de violência, depredação e desrespeito que tomaram as manchetes e telas nestes dias não podem ser entendidas como manifestações em defesa da democracia, nem confundidas com outras legítimas, enquanto expressões de pensamento e dissenso, essenciais para o debate que a ela dá vida. Desde quando, vigendo normalmente, ela precisa ser defendida por faces mascaradas, roupas negras, palavras de ordem, barras de ferro e armas brancas?

Não é admissível que, a título de se contrapor a exageros retóricos impensadamente lançados contra as instituições do Congresso e do Supremo Tribunal Federal, assistamos a ações criminosas serem apoiadas por lideranças políticas e incensadas pela imprensa. A prosseguir a insensatez, poderá haver quem pense estar ocorrendo uma extrapolação das declarações do presidente da República ou de seus apoiadores para justificar ataques à institucionalidade do País.

Cabe ainda perguntar qual o sentido de trazer para o nosso país problemas e conflitos de outros povos e culturas. A formação da nossa sociedade, embora eivada de problemas contra os quais lutamos até hoje, marcadamente a desigualdade social e regional, não nos legou o ódio racial nem o gosto pela autocracia. Todo grande país tem seus problemas, proporcionais a seu tamanho, população, diversidade e complexidade. O Brasil também os tem, não precisa importá-los.

É forçar demais a mão associar mais um episódio de violência e racismo nos Estados Unidos à realidade brasileira. Como também tomar por modelo de protesto político a atuação de uma organização nascida do extremismo que dominou a Alemanha no pós-1.ª Guerra Mundial e a fez arrastar o mundo a outra guerra. Tal tipo de associação, praticada até por um ministro do STF no exercício do cargo, além de irresponsável, é intelectualmente desonesta.

Finalmente, é razoável comparar o regime político que se encerrou há mais de 35 anos com o momento que vivemos no País? Lendo as colunas de opinião, os comentários e até despachos de egrégias autoridades, tem-se a impressão de que sessentões e setentões nas redações e em gabinetes da República resolveram voltar aos seus anos dourados de agitação estudantil, marcados por passeatas de que eventualmente participaram e pelas barricadas em que sonharam estar.

Não há legislação de exceção em vigor no País, nem política, econômica ou social, nenhuma. As Forças Armadas, por mais malabarismo retórico que se tente, estão desvinculadas da política partidária, cumprindo rigorosamente seu papel constitucional. Militares da reserva, como cidadãos comuns, trabalham até para o governo, enquanto os da ativa se restringem a suas atividades profissionais, a serviço do Estado.

Se o País já enfrentava uma catástrofe fiscal herdada de administrações tomadas por ideologia, ineficiência e corrupção, agora, diante da social que se impôs com a pandemia, a necessidade de convergência em torno de uma agenda mínima de reformas e respostas é incomensuravelmente maior. Mas para isso é preciso refletir sobre o que está acontecendo no Brasil.

Quando a opinião se impõe aos princípios, todos perdem a razão. Em todos os sentidos.

"Baderna é o que o governo está fazendo", diz líder pró-democracia

A reação foi devido ao artigo do vice-presidente Hamilton Mourão publicado nesta quarta-feira (3/6) no jornal O Estado de São Paulo

Um dos líderes do movimento Somos Democracia, Danilo Pássaro reagiu ao artigo do vice-presidente Hamilton Mourão publicado nesta quarta-feira, 3, no Estadão. No texto, o general chama de "baderneiros" os participantes de atos recentes em defesa da democracia. "Ao contrário do que diz o vice-presidente, são os apoiadores do governo que expõem seus revólveres e armas. Nossa força não está na violência, está na construção da unidade nacional pela democracia", afirmou Pássaro. "Baderna é o que o governo está fazendo com a República e com o Poder Executivo."

Para o motorista de aplicativo da Brasilândia, que ajudou a organizar o ato realizado na Avenida Paulista no domingo, 31, com a participação de torcedores de diversos times de futebol, os manifestantes que se dizem a favor da democracia e contra o fascismo não são comparáveis aos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. "Eles exalam ódio e grosseria, fazem apologia à tortura e à ditadura, agridem jornalistas e profissionais da saúde, e ridicularizam as mortes de mais de 30 mil brasileiros por covid-19".

O ato de domingo acabou em confronto entre manifestantes e apoiadores do presidente e também com a Polícia Militar - que interveio e usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar o início de uma briga em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp). "Fizemos uma manifestação pacífica em acordo com o coronel da Polícia Militar, encerramos e dispersamos no horário combinado. Mais de 80% dos manifestantes pró-democracia já tinham sido dispersados, mas pessoas que alegavam ser das Forças Armadas junto com outras que portavam símbolos neonazistas iniciaram provocações", afirmou Danilo Pássaro, que é filiado ao PSOL e formado em Teologia.Continua depois da publicidade

Além de citar o que chamou de "baderna", Mourão também alertou para a possibilidade de os atos que ocorrem agora, pró-democracia, resultarem no mesmo efeito dos atos realizados em junho de 2013 ou dos demais protestos em curso em outros países. "Aonde querem chegar? A incendiar as ruas do País, como em 2013? A ensanguentá-las, como aconteceu em outros países? Isso pode servir para muita coisa, jamais para defender a democracia. E o País já aprendeu quanto custa esse erro", afirmou.

Para o engenheiro Eduardo Moreira, especialista em economia e criador do movimento virtual #somos70porcento, em referência ao porcentual da população que não aprova o governo Bolsonaro, é curioso como o discurso que condena a violência dos protestos não reconhece a violência que gerou os protestos.

"Ignorar que milhões de trabalhadores estão dormindo no chão para receber suas parcelas de R$ 600 com mais de dois meses de atraso e não ver violência neste ato é assustador. Esconder que milhões de brasileiros e brasileiras muito pobres seguem há meses esperando seus direitos de receber o Bolsa Família e os benefícios previdenciários é não ver a maior das violências. Colocar medo na maioria da população de expor suas ideias e opiniões por meio de uma indústria de difamação e ameaças patrocinada, ao que tudo indica, por pessoas próximas ao governo é assassinar um dos direitos mais fundamentais do ser humano. A violência está aí há muito tempo. E só tem aumentado com este governo autoritário e antidemocrático", disse.

Bolsonaro diz que integrantes de movimento antifascista são ''terroristas''
Moreira ainda afirma que não são as manifestações pró-democracia que ampliam o risco de nos tornarmos uma nação violenta. "Aliás, este risco não existe mais, é um fato consumado. Por fim, ao não ver sentido em trazer para o nosso País problemas e conflitos de outros povos e culturas, o vice presidente fere a honra de milhões de brasileiros e brasileiras que todos os dias sofrem os nefastos efeitos da discriminação racial no País, onde a cor da pele faz um branco ganhar 31% a mais do que um negro que exerce a mesma função, que faz dois terços da população carcerária ser formada de negros e que faz homens e mulheres que poderiam estar descobrindo a vacina para este vírus que destrói o País estarem entregando comida em suas bicicletas, se expondo ao perigo, para enriquecer seus patrões brancos que fazem home office. Falta ao vice presidente da República uma das duas coisas: ou conhecer a realidade do povo brasileiro ou ter o mínimo de compaixão ao sofrimento do próximo."

AE Agência Estado
postado em 03/06/2020 14:03 / atualizado em 03/06/2020 14:05

A violência é inimiga da democracia

Depredação e vandalismo em Curitiba chamam a atenção para cuidados a se tomar na crise política

O risco de a crise institucional ser agravada pela violência começou a surgir no domingo na Avenida Paulista, quando a Polícia Militar interveio para manter separados grupos pró-Bolsonaro e autodenominados pró-democracia, convocados entre integrantes de torcidas organizadas de times de São Paulo. A bandeira de uma organização neonazista ucraniana em um carro de som bolsonarista e a tentativa de repetir no Brasil a politização de grupos de torcedores como ocorre na Argentina deram um ar de distanciamento da realidade aos dois lados, mas não se pode menosprezar o que aconteceu neste domingo.

Na Avenida Atlântica, por sua vez, houve nova indicação de que a política pode estar se infiltrando nos estádios, também com o desfile de torcedores democratas, o que é ruim para a política e para o esporte. Torcer por um time nada tem a ver com ideologia, nem preferências políticas podem estar subordinadas a performances e paixões esportivas. São universos distintos.

Lideranças políticas da grande maioria dos defensores da democracia — os 70% mensurados em pesquisas — precisam agir para esvaziar qualquer possibilidade de a desavença ideológica se converter em conflitos que só interessam aos que não desejam que as instituições republicanas façam a devida mediação entre os diversos segmentos políticos e ideológicos, dentro da regra do jogo, ou seja, a Constituição. É fácil perceber quem eles são.

São necessários cuidados não apenas sanitários na fase em que o país entra, com o início do relaxamento de quarentenas e isolamentos sociais, quando a circulação nas grandes cidades começará a voltar ao normal. O retorno das sessões presenciais no Congresso e do trabalho nas comissões reativarão o fluxo da política representativa, e espera-se que a reabertura desses canais sirva para descomprimir o ambiente. Mas podem ser mal usados.

Os de fato democratas devem atentar para o que aconteceu na noite de segunda e início da madrugada de ontem em Curitiba. Uma manifestação política, convocada para ser contra o racismo, inspirada nos protestos americanos, dentro dos marcos da liberdade constitucional de expressão, foi transformada em quebra-quebra e vandalismo. Começou com gritos contra Bolsonaro e de reverência à vereadora assassinada Marielle Franco — tudo legal — e terminou de forma violenta, com a necessária intervenção da polícia.

Deve-se recordar 2013, ocasião em que uma série de demandas pela melhoria de serviços públicos básicos — transporte, educação — levou a uma articulação de jovens por meio das redes sociais que desembocou numa série de manifestações em grandes cidades, deflagradas pelo aumento de R$ 0,20 na tarifa de ônibus na cidade de São Paulo. O PT e sindicatos, donos de máquinas capazes de mobilizar protestos a qualquer hora, em qualquer lugar, foram surpreendidos.

Mas também se aproveitaram do momento os black blocs, grupo de extremistas de diversos matizes, para praticar o vandalismo que ressurge agora em Curitiba. Em 2013, os depredadores esvaziaram aquela mobilização importante por um Estado capaz de dar à população um retorno proporcional aos pesados impostos que recolhe. A violência agora produzirá estragos políticos ainda maiores.

Editorial de O GLOBO
03/06/2020 - 00:00 / Atualizado em 03/06/2020 - 01:16

Mourão critica STF e estimula repressão a protestos

O vice-presidente Hamilton Mourão desistiu de bancar o moderado do governo Bolsonaro. Em artigo publicado nesta quarta-feira, o general distribui ataques à oposição, à imprensa e ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal.

Mourão começa o texto, publicado no jornal "O Estado de S. Paulo", com um duro ataque aos protestos pela democracia do último domingo. Chama os manifestantes de "delinquentes" e especula, sem nenhuma base concreta, que eles seriam ligados ao "extremismo internacional".


Em seguida, o general incentiva o aumento da repressão aos atos contra o governo. "Baderneiros são caso de polícia, não de política", escreve. É um discurso truculento, típico de políticos autoritários que não aceitam conviver com protestos.

O general nunca usou esses termos para condenar as manifestações bolsonaristas que pedem o fechamento do Congresso e um novo golpe militar.

No artigo, Mourão também desmerece os protestos contra o racismo e a truculência policial. Alega que o Brasil é um país livre do "ódio racial", que não precisaria importar "problemas e conflitos de outros povos".

De acordo com o Atlas da Violência, 75% dos mortos pela polícia no Brasil são negros. Negar que isso seja um problema grave é um erro que poucas pessoas ainda têm a coragem de cometer.

O general também dispara críticas à imprensa e ao ministro Celso de Mello, que é relator de um inquérito contra o presidente Bolsonaro no Supremo. Sem citá-lo nominalmente, afirma que o decano estaria sendo "irresponsável" e "intelectualmente desonesto" ao apontar riscos à democracia.

É intelectualmente desonesto ignorar que o Brasil vive uma escalada autoritária comandada pelo presidente da República. Na semana passada, ele chegou ao ponto de ameaçar descumprir decisões do Supremo. A essa altura, quem não está preocupado é cúmplice ou está mal informado, o que não parece ser o caso do vice.

No fim do artigo, Mourão sustenta que o Brasil se livrou de "administrações tomadas por ideologia". Imagine se fosse o caso do bolsonarismo.

Por Bernardo Mello Franco / Blog em O GLOBO
às 09:30 hs, de 03/06/2020 

Bolsonaro cria clima para golpe

Não um golpe de tanques na rua, mas tentam fazer com que uma eventual intervenção militar seja constitucional, o que é uma ideia absurda.

Bolsonaro e seus apoiadores tentam interpretar o artigo 142 como uma porta aberta para intervenção militar e estão criando um ambiente propicio para um golpe. Não um golpe de tanques na rua, mas tentam fazer com que uma eventual intervenção militar seja constitucional, o que é uma ideia absurda.

É absurdo pensar que a Constituição permita a intervenção das Forças Armadas em outro poder.
Enquanto ficar defendendo intervenção militar, não adianta o presidente da República falar que é democrata.

São retóricas, mas é preciso ficar atento aos atos. Embora a retorica repetida crie a possibilidade de superar a constituição de uma maneira legal. A sociedade começa a se organizar para defender seus interesses supra partidários. Apenas o ex-presidente Lula está fora do mundo, continua pensando só nele.

Os manifestos deveriam unir toda a sociedade, independente do ponto de vista político de cada um; unir todos os que são contra a extrema direita e contra os que querem golpear a constituição. E não ficar escolhendo quem pode ou não assina-los.

Depois, cada um segue sua vida. Hoje, o governo precisa levar em conta, nos movimentos que faz, que é minoritário. Foi eleito por 60% do eleitorado, mas agora tem entre 25 e 30% de apoio.

Por Merval Pereira
O GLOBO, ÀS 15,05 hs, em 03/06/2020