quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Missão da ONU vincula Maduro e governo venezuelano a crimes contra a humanidade

A Missão Internacional da ONU sobre a Venezuela investigou 223 casos de possíveis violações dos direitos humanos no país. O próprio Maduro dava ordens para que o serviço de inteligência detivessem pessoas, disseram os investigadores.

Opositores se reúnem em protesto contra Maduro na Venezuela em fevereiro de 2019 — Foto: REUTERS/Adriana Loureiro

Nicolás Maduro, o líder da Venezuela, e os ministros mais importantes de seu governo estão vinculados a possíveis "crimes contra a humanidade", afirmou nesta quarta-feira (16) uma missão da ONU.

Foi apresentado um relatório sobre a prática sistemática de tortura e execuções extrajudiciais no país. Os encarregados pelo texto encontraram "motivos razoáveis para acreditar que as autoridades e as forças de segurança venezuelanas planejaram e executaram desde 2014 graves violações dos direitos humanos", declarou Marta Valiñas, a presidente da missão, citada em um comunicado.

"Algumas violações - incluindo execuções arbitrárias e o uso sistemático de tortura - constituem crimes contra a humanidade", segundo ela.

"Longe de serem atos isolados, estes crimes foram coordenados e cometidos de acordo com as políticas do Estado, com o conhecimento ou o apoio direto dos comandantes e de altos funcionários do governo", acrescentou Valiñas.

Envolvimento de Maduro

Os investigadores afirmaram que têm motivos para acreditar que o próprio Maduro deu ordens ao diretor da agência de inteligência do país, a Sebin, para que oponentes fossem presos sem ordem judicial.

“Depois que essas pessoas eram vigiadas, a informação era juntada, sua comunicação era interceptada e finalmente elas eram detidos sem ordem judicial, só porque havia tal ordem do presidente”, disse Francisco Cox, um dos membros da missão.

Portanto, afirma ele, houve envolvimento e contribuição para cometer crimes da parte de Maduro, ora diretamente, dando ordens, ora evitando a estrutura de comando.

Crise política

A Venezuela vive desde 2015 uma grave crise política, que se aprofundou em 2019 quando o líder opositor e presidente do Parlamento, Juan Guaidó, se proclamou presidente encarregado do país, depois de declarar que Maduro usurpou o cargo com uma reeleição polêmica em 2018.

Em julho, a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, criticou a situação no país ao apresentar um relatório no qual denunciava "detenções arbitrárias, violações às garantias ao devido processo legal e casos de tortura e desaparecimentos forçados".

Casos investigados

A Missão Internacional Independente de determinação dos fatos das Nações Unidas sobre a República Bolivariana da Venezuela investigou 223 casos, 48 deles examinados de maneira profunda em um relatório exaustivo de 443 páginas.

Além disso, também estudou outros 2.891 casos para "corroborar os padrões de violações e crimes", como execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias e tortura.

A missão, no entanto, não foi autorizada a visitar a Venezuela porque "o governo não respondeu às solicitações reiteradas" e devido às restrições de viagens provocadas pela pandemia do novo coronavírus. De acordo com o relatório, 274 entrevistas foram realizadas à distância.

A missão reconhece "a natureza da crise e as tensões no país e a responsabilidade do Estado de manter a ordem pública", mas constatou que "o governo, os agentes estatais e os grupos que trabalhavam com eles cometeram violações flagrantes dos direitos humanos de homens e mulheres na Venezuela".

Por France Presse, publicado originalmente no Brasil por G1, O Globo, GloboNews, em 16/09/2020 

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