terça-feira, 30 de junho de 2020

Queda em pesquisas torna Trump mais agressivo e Obama entra na campanha

Presidente se afasta de eleitores que não são republicanos e perde espaço para Joe Biden em sondagens, enquanto democrata resolve deixar a aposentadoria de lado para entrar de vez na disputa e ajudar seu ex-vice a se eleger

Desde o dia em que assumiu o cargo, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem implantado políticas que levam em conta quase que exclusivamente o interesse dos republicanos, mostrando se importar pouco com os apelos de eleitores independentes e moderados – que são fundamentais na corrida presidencial americana. O resultado para Trump é um desempenho ruim em Estados decisivos para quem almeja vencer a disputa de novembro.

Essa fragilidade cada vez mais evidente da campanha republicana – em que o presidente tem subido cada vez mais o tom contra os adversários democratas – levou o ex-presidente Barack Obama, que desejava se aposentar da política quando saiu da Casa Branca, a entrar cada vez mais na campanha presidencial em apoio ao candidato democrata, Joe Biden.

Uma pesquisa nacional entre eleitores registrados feita pelo The New York Times e o Siena College mostra que Trump teria hoje 36% dos votos, muito longe dos 46% que ganhou em 2016. Ainda mais preocupante para o candidato à reeleição talvez seja o fato de ele não ter se preocupado em estabelecer um amplo apoio de eleitores que não são de seu partido, o que é fundamental para a conquista de Estados que não votam historicamente na mesma legenda em todas as eleições, os chamados Estados-pêndulo.

Enquanto os republicanos o sustentam esmagadoramente, Trump tem o apoio de apenas 29% dos eleitores independentes e não filiados – 18 pontos porcentuais atrás de Biden. Para os democratas, a sedimentação dos resultados dessas pesquisas pode vir de um velho conhecido: Barack Obama.

Logo depois da vitória de Trump, Obama se afastou da política. Na ocasião, disse a um assessor: “Estou cansado disso”.

Ele sabia, porém, que uma aposentadoria convencional da Casa Branca não seria uma opção. Aos 55 anos, Obama imaginava que passaria a presidência para Hillary Clinton, mas foi forçado a entregar o cargo para um sucessor cuja fixação nele, acreditava, estava enraizada numa antipatia pessoal e uma discriminação racial. Mais de três anos após sua saída, o 44.º presidente dos Estados Unidos volta ao campo de batalha, arrastado para a luta contra um inimigo, que é Trump, e por um amigo, Biden, que foi seu vice.

As apostas de um novo engajamento sempre foram altas. Obama deseja proteger seu legado, especialmente diante dos muitos ataques de Trump. No entanto, ele tem dito a políticos próximos que precisa equilibrar a profunda irritação com seu sucessor e o desejo de se abster, temendo uma rixa que, ele diz, poderia abalar sua popularidade e ameaçar seu lugar na história.

Esse cálculo, contudo, talvez esteja mudando após a morte de George Floyd pela polícia em Minneapolis. Como primeiro presidente negro dos EUA, Obama vê no atual despertar social e racial uma oportunidade para transformar a eleição em algo mais construtivo. A ideia de Obama é fazer isso cuidadosamente, para manter sua reputação, seu capital político e sua aposentadoria. “Não acho que ele hesite. Acho que ele é estratégico”, disse Dan Pfeiffer, que foi seu assessor por mais de uma década.

Já o presidente tem preocupado assessores. “Trump está indo mal e precisa mudar tanto na substância do que está discutindo quanto da maneira como se aproxima do povo americano”, disse em um programa de TV da ABC Chris Christie, ex-governador republicano de Nova Jersey e um ex-conselheiro próximo de Trump. “Nesse ambiente, será difícil vencer uma eleição sem expandir o número de pessoas que o apoiam”, afirmou Sara Fagen, diretora da campanha do ex-presidente George W. Bush.

Trump não se convence e já disse a consultores e aliados que ele tem de ser “ele mesmo” e que já desafiou pesquisas antes, apontando o resultado de 2016, quando conquistou a presidência apesar de perder o voto popular, com vitórias em Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, o que garantiu a ele o Colégio Eleitoral. / NYT

Redação, O Estado de S.Paulo
30 de junho de 2020 | 04h00

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