quinta-feira, 11 de junho de 2020

Maior autoridade militar americana pede desculpas por ter participado de encenação de Trump

Pronunciamento do general Mark Milley, chefe do Estado Maior Conjunto dos EUA, é o último de uma série de críticas de expoentes militares ao presidente

Milley aparece à direita na foto no dia em que Trump mandou dissolver uma manifestação para posar em uma igreja perto da Casa Branca Foto: BRENDAN SMIALOWSKI / AFP/1-6-2020

Milley aparece à direita na foto no dia em que Trump mandou dissolver uma manifestação para posar em uma igreja perto da Casa Branca Foto: BRENDAN SMIALOWSKI / AFP/1-6-2020

O general Mark Milley, chefe do Estado Maior Conjunto e principal autoridade militar dos Estados Unidos, pediu desculpas por ter participado da caminhada do presidente Donald Trump para encenar uma foto na Igreja Episcopal de São João, próxima à Casa Branca, depois de mandar dissolver um protesto contra o racismo e a violência policial que acontecia na área, em 1º de junho.

" Eu não deveria estar lá — disse Milley sobre a foto com Trump, em um discurso em vídeo que gravou para ser exibido no início do ano letivo na Universidade Nacional de Defesa. —Minha presença naquele momento e naquele ambiente criou uma percepção de envolvimento dos militares na política interna."

As primeiras declarações públicas de Milley desde a sessão de fotos de Trump  — quando forças da Guarda Nacional reprimiram centenas de pessoas que se manifestavam pacificamente na Praça Lafayette para que o presidente pudesse posar com uma Bíblia na mão em frente à Igreja de São João  — certamente irritarão a Casa Branca.

— Como oficial da ativa, foi um erro com o qual aprendi, e espero sinceramente que todos nós aprendamos com ele — disse o general Milley no vídeo gravado. — Nós que usamos as insígnias de nossa nação, que viemos do povo, devemos sustentar o princípio de Forças Armadas apolíticas que tem raízes firmes na base da nossa república.

O general afirmou ainda estar furioso com "o assassinato sem sentido e brutal de George Floyd" e manifestou sua oposição às sugestões de Trump de que forças federais fossem destacadas em todo o país para reprimir protestos.

Amigos do chefe do Estado Maior disseram ao New York Times que, nos últimos 10 dias, ele ficou angustiado por ter aparecido —  com o uniforme de combate que usa todos os dias para trabalhar —  ao lado de Trump durante a caminhada até a igreja. O general disse aos amigos que acreditava que estava acompanhando Trump e sua comitiva para passar em revista as tropas da Guarda Nacional que estavam na Praça Lafayette.

Desde que começaram os protestos provocados pela morte do segurança negro George Floyd por um policial branco, em 25 de maio, Trump assumiu posições cada vez mais duras contra o movimento. Ele chegou a ameaçar enviar os militares aos estados para reprimir os manifestantes, mas acabou desautorizado pelo secretário da Defesa, Mark Esper.

Em seguida, vários ex-chefes militares criticaram a ameaça de Trump de usar as Forças Armadas na repressão, incluindo  Martin Dempsey, ex-chefe do Estado Maior Conjunto entre 2009 e 2007; Colin Powell, que foi secretário de Estado do republicano George W. Bush; e Jim Mattis, ex-secretário da Defesa de Trump. Milley, no entanto, é o primeiro alto chefe militar da ativa a se distanciar de Trump publicamente.

William Perry, que atuou como secretário da Defesa entre 1994 e 1997, durante o governo de Bill Clinton, também criticou a ameaça de usar as Forças Armadas, afirmando que o Exército “nunca foi planejado para ser usado para fins políticos e partidários".

Na quarta-feira, o presidente iniciou outra disputa com os militares, se opondo à posição do Pentágono de considerar renomear as 10 bases militares que hoje homenageiam comandantes confederados que lutaram contra a União na Guerra Civil americana, no século XIX. Na época, os confederados se opunham ao fim da escravidão e defenderam a secessão do Sul dos EUA.

Nesta quinta, a Comissão de Forças Armadas do Senado, controlada pelos republicanos, aprovou um pedido ao Pentágano para a mudança dos nomes das bases, em mais um revés para Trump, cuja popularidade caiu 10 pontos em um mês, de 49% para 39%, de acordo com uma pesquisa do Instituto Gallup divulgada na quarta-feira.

Do New York Times / O GLOBO
11/06/2020 - 10:49 / Atualizado em 11/06/2020 - 18:03

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