quarta-feira, 1 de abril de 2020

Cloroquina, o perigo! França alerta contra a medicação

Hospitais na França relataram até 30 efeitos colaterais que teriam sido causados por medicamentos usados contra covid-19. Hidroxicloroquina estaria relacionada a cinco casos com efeitos colaterais - três deles fatais. 
   
Trump e Bolsonaro vêm propagandeando hidroxicloroquina, mas ainda faltam estudos para comprovar eficácia

Todos os tratamentos que estão sendo testados para curar a covid-19, doença causada pelo coronavírus Sars-Cov-2, só podem ser realizados em hospitais, alertou na segunda-feira (30/03) a Agência Nacional de Segurança do Medicamento e dos Produtos de Saúde (ANSM) da França. 

Medicamentos "que não tiveram eficácia comprovada formalmente no tratamento ou na prevenção da covid-19" só devem ser aplicados no âmbito "de testes clínicos em curso". "Os tratamentos testados para curar os pacientes de covid-19 só podem ser utilizados no hospital", diz comunicado da agência. 

"Em caso algum esses medicamentos devem ser utilizados para automedicação, prescrição de um médico da cidade ou autoprescrição de um médico", insiste o texto.

Segundo Dominique Martin, diretor-geral da ANSM, hospitais na França teriam constatado até 30 efeitos colaterais relacionados a medicamentos utilizados para tratar a covid-19. Esses medicamentos estão sendo testados por pesquisadores europeus. "Os [efeitos colaterais] mais numerosos dizem respeito ao medicamento Kaletra (associação dos princípios ativos lopinavir e ritonavir, normalmente usados para tratar pacientes com HIV)", diz o comunicado da agência. 

"A hidroxicloroquina, sozinha ou associada a outro produto, está relacionada a cinco casos [suspeitos de efeitos colaterais], três deles fatais. As observações estão sendo analisadas por um centro regional de farmacovigilância", disse Martin. Por outro lado, nesse momento, não há como garantir que a hidroxicloroquina causa efeitos cardíacos em pacientes de covid-19, acrescentou. 

Em hospitais franceses, aplicou-se o medicamento Plaquenil, cujo princípio ativo é a hidroxicloroquina, a pacientes infectados com o coronavírus Sars-Cov-2.

Martin disse ainda que é "normal" aplicar métodos experimentais no tratamento de doenças como a covid-19 por causa da sua rápida disseminação. Porém, esses tratamentos precisam ser acompanhados atentamente por especialistas – uma regra que vale especialmente para a combinação entre hidroxicloroquina e o antibiótico azitromicina.

Administrar esses dois medicamentos ao mesmo tempo, segundo Martin, "potencializa o risco" de taquicardia que poderia levar a um enfarte. Por isso, especialmente pacientes de covid-19 precisam de atenção especial. 

O presidente americano, Donald Trump, elogiou a combinação entre hidroxicloroquina e azitromicina na semana passada, pelo Twitter. Segundo Trump, "tomados juntos, [esses medicamentos] têm uma chance real de virar o jogo na história da medicina. A FDA [agência americana de controle de medicamentos e segurança alimentar] moveu montanhas – obrigado! Espero que os DOIS (...) sejam usados IMEDIATAMENTE", escreveu o presidente americano.

O presidente Jair Bolsonaro também vem propagandeando uma suposta eficácia da hidroxicloroquina, contrariando o seu próprio ministro da Saúde, que afirmou que o medicamento não é uma "panaceia” e que advertiu para os riscos da automedicação.

Fonte: Deutsche Welle, a emissora internacional da Alemanha. Produz jornalismo independente em 30 idiomas.

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