Aquele que muitos consideram um gênio inovador no marketing político, cuja estratégia de desacreditar as instituições é clara, cometeu um erro grave ao ignorar o pânico e a pandemia do novo Coronavírus.
O timing errado de Bolsonaro
Por Marcelo Rubens Paiva
Bolsonaro é transparente.
Com uma família encrenqueira, com suspeitas de envolvimento com milícias, emprego de funcionários fantasmas e enriquecimento ilícito, faz campanha diária para desacreditar a imprensa.
Em seu favor, uma militância digital paga e voluntária, na sala vizinha ao gabinete, para inundar as redes com a sua versão dos fatos.
Se a Justiça julga seus crimes, ele ameaça fechar os tribunais e promove manifestação contra ministros do STF. Sem contar o aliado forte no comando da Polícia Federal.
Se o Congresso atrapalha seus planos e investiga os filhos, grita AI-5, ato que o fechou em 1968 e 1977.
Com uma nítida inabilidade para lidar com assuntos econômicos e o contraditório, cerca-se de militares, que ganharam privilégios na Reforma da Previdência, como uma casta superior da sociedade brasileira.
Quem ousaria nivelar a aposentadoria de quem tem armas, tanques, aviões, submarinos e navios, e uma tropa disciplinada?
Porém, dessa vez, comentário geral, foi longe demais ao tratar a pandemia, sua segurança e a saúde dos outros (aliados) com desdém.
Às 22h de terça, dia 17/03, um panelaço espontâneo contra ele vibrou pelo centro expandido de São Paulo e zona sul carioca. Foi a primeira manifestação de peso contra seu regime.
Dos cinco assuntos mais discutidos no Twitter, nesse horário, estavam em primeiro #AcabouBolsonaro, #ForaBolsonaro e #BolsonaroNaoEmaisPresidente.
Dessa vez, não se pode culpar a imprensa “lixo”.
Para o dia seguinte, hoje, dia 18/03, está marcado outro, às 20h30. Panelaços, sabemos no que dá.
Aliados fieis jogam a toalha.
Os autores do impeachment de Dilma, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal, pedem o afastamento do presidente por razões psíquicas e físicas.
Dessa vez, os preceitos do guru Olavo de Carvalho, desacreditar o inimigo sempre, espalhar o ódio e o caos, não surtem efeito, diante de um país angustiado e assustado.
Marcelo Rubens Paiva é escritor. Este artigo foi publicado originalmente em O Estado de São Paulo, edição de 18.03.20.
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