segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Porandubas Políticas

Por Gaudêncio Torquato

Abro a Coluna com um "causo" pernambucano:

Tá morto

O caso deu-se em São Bento do Uma/PE, nos idos de 60. O caminhão, entupido de gente, voltava de um jogo de futebol, corria muito, virou na curva da estrada. Foram todos para o hospital. Uma dúzia de mortos. Lívio Valença, médico e deputado estadual do MDB, foi chamado às pressas. Pegou a carona de um cabo eleitoral, entrou na sala de emergência do hospital e foi examinando os corpos:

– Este está morto.

Examinava outro:

– Este também está morto.

O cabo eleitoral se empolgava:

– Já está até frio.

De um em um, passaram de 10. Lá para o fim, Dr. Lívio examinou, reexaminou, decretou:

– Mais um morto.

O morto gritou:

– Não estou morto não, doutor, estou só arrebentado.

O cabo eleitoral botou a mão na cabeça dele:

– Cala a boca, rapaz. Quer saber mais do que o dr. Lívio?

Chegando a hora

Estas são as últimas Porandubas antes do pleito do domingo. Com o prognóstico fixado: Bolsonaro versus Haddad. Não vai dar tempo a dois candidatos – Ciro e Alckmin – passar Haddad para concorrer com o capitão no 2º turno. A única possibilidade que eles têm é um arranjo milagreiro: um acidente/incidente, até na área da expressão, algo que seja considerado uma aberração. Mas os dois que estão na frente vão se preservar. Tem um debate na quinta. O debate da TV Globo. Mas não creio que mude a moldura.

Pode mudar o cenário

Muito difícil haver mudança no cenário para o 2º turno. A não ser que o Imponderável dos Anjos nos faça uma visita na boca da eleição. (O imponderável apareceu por ocasião do acidente que vitimou o ex-governador Eduardo Campos, que seria forte candidato em 2014; e deu também as caras em Juiz de Fora, por ocasião da facada em Bolsonaro). O que se sente nessa reta final é a consolidação dos votos nos dois candidatos com viés de crescimento de Bolsonaro e viés de pequena baixa de Haddad.

2º turno

A segunda rodada será um torneio muito aguerrido. É possível ocorrer tumulto de rua. Os militantes das duas bandas vão se engalfinhar. Há possibilidade de choque. Conflito. Murros recíprocos. As redes vão estourar com denúncias. Fakes news de todo lado. Contundência. Quem terá mais chance? Pela minha bolinha de cristal, Haddad perde fôlego ante a onda bolsonariana que cresce; Bolsonaro está subindo de patamar. Por quê? Pelo sentimento anti-PT, que nesses últimos dias ganha força. Ambos precisam administrar suas rejeições. A do capitão gira por volta de 44%; a do emissário de Lula, por volta de 38%.

Diminuir rejeição?

É possível? Sim. Dentro dessas hipóteses: a onda contra a volta do PT crescerá em termos geométricos; as falas inglórias de José Dirceu continuarão a corroer a imagem do petismo (ou será que Dirceu quer implodir cúpula do PT?); os ataques das militâncias eleitoras de Bolsonaro serão tão intensos contra o petismo, que conseguirão conter a onda de Haddad. E a rejeição de Haddad, que subiu para 38% segundo o Ibope, também poderá ser atenuada, caso o petismo convença indecisos de que seu candidato não é uma ameaça como Bolsonaro. (A rejeição a Haddad cresce e é maior do que a de Lula na última pesquisa como candidato do PT). O petismo trabalha com a ideia de medo da volta dos militares. Já o general Mourão produz falas devastadoras, mas Bolsonaro parece exibir o efeito teflon, nada de negativo cola nele.

Denúncia de Palocci

O juiz Sérgio Moro liberou partes da delação de Palocci. Traz um dado impactante: houve pagamento de propina para a inclusão de "emendas exóticas" em 900 das mil medidas provisórias editadas nos quatro governos do PT. Palocci também narra diversas formas de corrupção adotadas pela gestão petista em parceria com partidos aliados, associando diretamente o aparelhamento político da máquina pública à corrupção.

Pega ou não?

A denúncia conseguirá afetar a campanha de Haddad? Deverá consolidar votos de eleitores já decididos. É pouco provável que as margens tomem conhecimento dessas denúncias, de modo a compreendê-las e a torná-las fator de influência sobre sua motivação de voto. Nas classes médias, é possível que a denúncia demova algum eleitor ainda indeciso. Serão poucos a mudar na esteira da denúncia. Os votos de ambos estão consolidados. Apenas aumentarão a taxa de contundência dos discursos.

São Paulo, eixo central

São Paulo será decisivo na definição do vencedor. Aqui se concentra o voto racional, o voto de cabeça, o voto crítico, mais comparativo. Até 7 de outubro, é pouco provável que esse voto possa ser transferido a um perfil mais do centro. E depois do dia 7? Haddad poderia levar a melhor em SP? Há quem divise essa possibilidade, a partir da indicação de líderes do tucanato, como Fernando Henrique, que apontou Haddad como a opção de 2º turno. Mas FHC não está com essa bola toda. A polarização aguda deverá beneficiar Bolsonaro. Sob o lema: não deixar o PT voltar.

Indecisão

Um fenômeno a merecer registro: grande parcela das mulheres está indecisa a poucos dias da eleição. Índice atingiu 18%, ante 14% na mesma época da campanha de 2014. Alta de 4 pontos percentuais é inédita pelo menos desde 1994. Interessante: as mulheres protestaram contra Bolsonaro em movimentos por todo o país. Mas ele tem crescido junto às mulheres, pobres e ricos, segundo as últimas pesquisas.

Dois planetas sangrando

Não há como deixar de reconhecer: seja Haddad ou Bolsonaro o vitorioso, o Brasil, a partir de 1º de janeiro de 2019, será dividido em dois planetas: um, vermelho, outro, verde-amarelo, conforme se vestem os militantes dos dois candidatos. Esse ódio permeará as relações sociais por algum tempo. O Executivo terá grande dificuldade para dialogar com as forças congressuais. O que se vê é um PT desejando a peleja ideológica. Vai radicalizar mais ainda o discurso, sob a crença de que precisa "tomar o poder". Termos usados por José Dirceu. As bases parlamentares agirão sob a balança do pragmatismo. Quem der mais, ganha. O Judiciário será o palco elevado da briga política. A conferir.

Tamanho das bancadas

De acordo com pesquisas e análises dos potenciais partidários, damos, aqui, a última versão sobre as perspectivas da eleição de deputados federais (com os ajustes necessários para a somatória dar 513). PT-50; PP-50; PSDB-45; PSD-45; PR-45; MDB-40; DEM-36; PRB-36; PDT-29; PSB-25; PSL-18;PTB-17;SDD-1;PROS-10;PODEMOS-10;PCdoB-10;PSOL-10;PPS-8;PV-6;REDE-6; e NOVO-6.

Cláusula de barreira

Aproximadamente 18 partidos irão superar a cláusula de desempenho e poderão ter atuação plena no Congresso e nos Parlamentos Estaduais e Municipais. Também é importante ressaltar que apenas esses 18 terão acesso aos recursos do Fundo Partidário, para suas ações partidárias, assim como o acesso ao Fundo Eleitoral para as próximas eleições. Da mesma maneira, somente essas siglas terão direito ao uso gratuito dos meios de comunicação, seja em campanhas ou na apresentação de programas partidários. Por fim, vale registrar que acabaram as coligações nas eleições proporcionais (vereadores e deputados).Nas próximas eleições já não serão permitidas. A expectativa é a de que, por conta dessas mudanças, em 2023 tenhamos no máximo 10 Partidos.

STF gera confusão

Nossa mais alta Corte vive dias agitados. O último episódio que chamou a atenção foi o do pedido da Folha de S.Paulo para que o Supremo permitisse que Lula concedesse uma entrevista ao jornal. O ministro Lewandovski acatou o pedido. Mas o ministro Luiz Fux, vice-presidente da Corte, derrubou a autorização do colega. Lewandovski voltou a permitir, confrontando a decisão de Fux. Com o imbróglio tendendo a deixar o STF em maus lençóis, entrou em ação o presidente Dias Toffoli. Que acabou jogando a decisão para o Plenário, mas não agora. Uma entrevista de Lula nesse momento, reconhece a maioria dos ministros, influenciaria o processo eleitoral. Ficou a decisão para depois do 2º turno das eleições.

Marketing capenga

Um bom marketing ajuda a eleger, mas é o candidato quem se elege. Marketing mal feito, ao contrário, ajuda um candidato a perder as eleições. Não adianta um bom marketing se o candidato é um boneco sem alma. Candidato não é sabonete. Tem vida, sentimentos, emoção, choro e alegria. Portanto, muita coisa depende dele, de sua alma, de seu calor interno, de sua identidade. Marketing há de absorver essas condições para evitar transformar pessoas em produtos de gôndolas de supermercado. Em um primeiro momento, a inserção publicitária na TV até pode exibir o candidato de forma mais genérica, por falta de tempo para expor conteúdo. Mas o eleitor não se conformará com meros apelos emotivos e chavões-antigos, como os usados para embalar perfis saturados (candidatos beijando crianças e velhinhos, tomadas em câmera lenta mostrando o candidato no meio do povo, etc).
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Livro Porandubas Políticas

A partir das colunas recheadas de humor para uma obra consagrada com a experiência do jornalista Gaudêncio Torquato.

Em forma editorial, o livro "Porandubas Políticas" apresenta saborosas narrativas folclóricas do mundo político acrescidas de valiosas dicas de marketing eleitoral.

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