segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A Rússia deve um mandato a Gorbachev?

Por Edson Vidigal

Os polegares do Casagrande, o comentarista da TV Globo, parecem mecânicos de tão ágeis e aparentemente incansáveis sobre o teclado do celular.

Fui pegar lá em cima, no meu apartamento, o livro sobre o Gorbachev, volto só agora, e o Casagrande, parceiro do Galvão e do Ronaldo, ainda segue ligeiro na mensagem que digita.

O movimento na ante sala do hotel parece não perturbar o antigo craque da nossa seleção, que ressuscitado de um alcoolismo brabo, dizem os seus amigos e familiares, e ele também, é agora outro homem.

Tenho muito respeito por pessoas assim, que se reinventam e seguem tocando a vida em frente, sem ódios, sem traumas, sem medos.

Quando Mikhail Gorbachev chegou ao poder como Secretário Geral do PC na União Soviética, o comunismo já estava mal das pernas, quase nem andando por lá e mundo afora.

Gorbachev percebeu que o muro de Berlim era um outdoor escancarado ao mundo livre denunciando o opróbio de um regime politico apodrecido que, como os demais do seu naipe, só conseguia se manter sob a opressão em suas diversas formas.

Bem antes de Gorbachev, as atrocidades dos ditadores comunistas, dentre os quais Stálin, tido como o mais malvado, já haviam sido reveladas por Nikita Kruschev, outro governante proibido de ter um tumulo no Kremlim. Fidel Castro o odiava por não tê-lo deixado explodir um míssil sobre os Estados Unidos.

As insatisfações populares na Rússia e seus países satélites já eram irrefreáveis quando Gorbachev assumiu. Em Moscou, o céu está sempre azul. E ainda se fala de um lugar onde o sol aparece à meia noite.

Foi quando Gorbachev lançou os seus dois audaciosos projetos – a perestroika para a reconstrução econômica e a glasnot para a abertura politica. Nunca na Rússia, nem no Império czarista nem nas ditaduras soviéticas, ninguém votou em eleição direta.

A pressão do mundo ocidental, capitalista, sobre a Rússia e todo o resto da chamada Cortina de Ferro, gaseificou a debacle econômica e a crise politica que Gorbachev intentava debelar.

A certa altura, teve aquele rolo da tentativa de deposição de Gorbachev pelos generais da linha dura. Boris Iéltsin, então Deputado, opositor das politicas do Presidente porque queria mais velocidade nas mudanças, interveio parando os tanques a serviço do golpe e libertou Gorbachev, àquela altura um preso politico. Preso comum, condenado por crime comum, é outra coisa.

Mais adiante, Gorbachev renunciou à Presidência da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e declarou extinto o cargo.

Convocadas eleições diretas para o novo cargo de Presidente da Rússia, candidataram-se Boris Iéltsin, Genady Ziuganov  e Mikhail Gorbachev.

Estava na cara que Gorbachev iria perder, e feio, aquela eleição. Do lado de fora da sessão eleitoral, onde votou,  falou:

- A realização destas eleições significa que já obtive uma vitória. Fui eu que propus as eleições neste País. Uma batalha só é considerada perdida quando o próprio comandante renuncia a ela. Nada pode me humilhar, nem as pesquisas, nem o poder. Nenhuma força pode humilhar um homem se ele se sente confiante, mantém a dignidade e a defende. Vocês tem diante de si um homem assim.

Gorbachev, viúvo de Raissa, vive em Moscou ao lado da filha Irina e das duas netas Xênia e Anastásia. Preside a fundação que tem o seu nome e a Cruz Verde Internacional, uma organização ambientalista.

Edson Vidigal, Advogado, foi Presidente do Superior Tribunal de Justiça e do Conselho da Justiça Federal. Esteve em Moscou recentemente.  

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