quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Sábio, discreto e polido

Teori Zavascki foi nomeado por Sarney para a primeira composição do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul). Paulo Brossard deu a Sarney uma lista que incluía Teori e o Presidente então nomeou todos.

No STJ onde Teori chegou nomeado por Lula tivemos estreita convivência. Ele me apresentou Maria Helena (nome da minha mãe), uma Juíza Federal com quem estava casado. Sempre que o reencontrava fazia a mesma pergunta - como está a amiga. Percebia que ele gostava.

Muitas vezes risonho, mas sempre caladão, falando o minimo e no volume baixo, nunca me disse nada sobre a enfermidade que lhe tiraria a mulher a quem amava tanto - câncer.

Quando presidi o STJ costumava ficar no Gabinete muitas vezes até tarde da noite. Nunca fui de deixar papel sobre a mesa para examinar no dia seguinte. E também só ia embora depois que recebia todos os advogados da fila de audiências.

Numa dessas noites, o Teori me ligou. Soubera que eu preparava uma Emenda ao Regimento para convocar Desembargadores enquanto as vagas de Ministros não fossem preenchidas. O TST já fazia isso para descongestionar o tráfego processual.

Ele me ligou apenas para dizer que era contra. Não discutiu nada. Não argumentou. Apenas era contra. Ainda hoje se convoca Desembargador como Suplente de Ministro do STJ.

Caladão daquele jeito, era uma fera em Processual Civil. Sabia tudo. Nos debates reagia quando necessário.

Sempre o vi como um Juiz sereno, um homem polido.

Reencontrava-o na sala de espera do TSE antes das sessões, onde Ministros e ex-Ministros cumprimentavam-se, bebiam água gelada e cafezinho. "Não lhe invejo a vida, Teori", disse-lhe assim que foi indicado para Relator Geral da Lava Jato. Ele sorriu. Mas não disse nada.

O STJ já o havia perdido. E agora o STF se desfalca.

Vai ser difícil para o Temer encontrar alguém do nível intelectual e cívico de um Teori e que, sendo convidado, aceite.

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