Não que o pai tivesse largado a mãe como quem, na canção
popular, bate o portão sem fazer alarde com a leve impressão de que já vai
tarde.
Nem chegou a conhecer o pai porque três meses antes de nascer
ele havia morrido num acidente de carro.
Sem ter com quem deixar o menino, a jovem viúva, enfermeira por
profissão, passou a leva-lo para os plantões a que era obrigada nos hospitais.
Filho único, cercado de amor materno por todos os lados, o
menino foi crescendo suave, embalado pelas notas musicais ao derredor.
Na banda da escola revelou-se exímio saxofonista ancorado na
ilusão de um dia formar sua banda de rock e ganhar o mundo tocando.
Os melhores alunos formavam um grupo que, uma vez por ano, era
levado à capital podendo conhecer inclusive a casa do Presidente.
Passeavam pelo jardim da casa quando o Presidente passando
casualmente viu aquele rapaz de pele vermelha, o rosto sardento, um tanto diferente
dos demais, e lhe estendeu a mão num cumprimento.
De volta pra casa, falou para a mãe que mudara de ideia. Não
queria mais ser roqueiro. Queria ser Presidente da República.
A seu favor, tinha o tempo. Trabalhou como office-boy e até como
barmen sobrevivendo sabia a mãe como. Chegou ao topo nos estudos. Foi Advogado,
Professor de Direito, Procurador do Estado, Governador, Presidente da
República.
Nome da enfermeira – Virginia Cassidy Clinton. Mãe de William
Jeferson Clinton, Presidente dos Estados Unidos por duas vezes.
Essa história tem a ver com o Dia das Mães? Também.
Entre nós, no Brasil, geralmente, quando se pergunta a um menino
o que quererá ser quando crescer, os modelos não variam tanto – jogador de
futebol, policial, empresário rico.
Já as meninas sonham em ser artista da novela ou modelo de
desfiles de modas. São poucas as que sonham em serem médicas, dentistas ou
enfermeiras.
Passada essa transição, liberados das ilusões da adolescência,
não sei de ninguém que tenha dito à mãe ou a pai que vai estudar para ser
Ministro do Supremo Tribunal Federal.
Essa é uma ambição que, se latente, só revelará forte, sem
freios, se por seus méritos o rapaz ou a moça se vir um dia, por exemplo, na
condição de Ministro ou Ministra do Superior Tribunal de Justiça.
É do STJ o principal forno de onde costumam sair quentinhas as
grandes vocações para a magistratura suprema. É chegar lá e logo se lhe acerca
uma tentação divina para ficar peruando toda vaga a caminho.
E isso é horrível até pelo que vai aflorando em quebra da coesão
interna indispensável à formação de juízos sossegados na reflexão para a mais
prudente realização da Justiça não obstante o turbilhão de leis mal feitas.
Exaustos com a senhora outroramente cognominada a “mãe do PAC”,
rejubilemo-nos agora a com o “Pai da PEC”. Sim, essa PEC da bengala. (O pai da
ideia foi o Senador Pedro Simon, indignado com a aposentadoria compulsória do
Ministro Paulo Brossard no STF quando com a saúde plena ainda tinha muito a
contribuir em favor da Justiça no País).
Quanto sossego a partir de agora a sobrestar obsessões,
conquanto nobres e lúdicas, que em nada acrescentam à escalada
republicana e democrática do País.
É sempre bom lembrar o poeta – “o mundo é para quem nasce para o
conquistar e não para quem sonha em poder conquista-lo. Ainda que tenha razão”.
(Fernando Pessoa).
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