sexta-feira, 1 de maio de 2015

Dizer, o que?

A multidão lotando as arquibancadas irrompia em vivas e aplausos como se o Vasco, o dono do estádio, tivesse feito mais um gol. Nada disso.

Era o Getúlio chegando num carro aberto. Baixinho, no banco de trás, precisava ficar em pé para ser visto pelo Povo. Completada a volta olímpica, agora no palanque:

- Trabalhadores do Brasil!

O estádio, até então o maior do Brasil, espocando alegrias, parecia ir abaixo, tamanhas as emoções que se espraiavam.

Quando, em sua anterior Presidência, deu aumento de 100% no salário mínimo, sofreu pressões militares por não ter estendido o mesmo percentual aos quarteis. Não havia reservas no caixa para isso. Sem outra saída para conter a crise, Getúlio preferiu renunciar. Voltava à Presidência da República agora pelo voto direto:

Eis-me aqui outra vez ao vosso lado para falar com a familiaridade amiga de outros tempos, para dizer que voltei a fim de defender os interesses mais legítimos do Povo e promover as medidas indispensáveis ao bem estar dos trabalhadores.

Foram os franceses, querendo que ninguém esquecesse o massacre que policiais e capangas de patrões fizeram em Chicago, Illinois, (USA), em 1886, contra trabalhadores que só pediam melhores condições de trabalho e salários justos, quem instituíram o 1º de maio como o Dia do Trabalhador.

Coincidentemente, era o Dia de São José, o operário carpinteiro, data que já estava na liturgia católica. Depois da França, seguiu-se a mesma celebração nos calendários mundo afora.

No Brasil, o Dia do Trabalho foi instituído pelo Presidente Artur Bernardes, aquele que diante de tantas pressões e crises governou por quase o mandato inteiro sob o estado de sitio (15-11-1922 a 15-11-1926).

Juscelino foi outro a brilhar unindo seu sorriso aos dos trabalhadores no 1º de maio no estádio do Vasco da Gama.

Jango, mesmo sem os seus poderes presidenciais , que nem a Dilma hoje, sob um parlamentarismo pra inglês ver, celebrou o Dia do Trabalho com os operários na Usina Siderúrgica de Volta Redonda.

A reforma eleitoral, disse Jango, impõe-se para formar cada vez mais autêntica a voz do Povo no Parlamento, evitando-se injunções estranhas e inadmissíveis – demagógicas ou financeiras – na formação das assembleias populares.

Até os generais de plantão na mais longa das ditaduras não se esquivaram a dizerem algumas coisas aos trabalhadores no 1º de maio.

O mais durão deles, o General Médici, por exemplo, se disse empenhado pelo fortalecimento do sindicalismo e pelo crescente bem estar da família operária.

Sob Figueiredo, o do prendo e arrebento quem for contra a abertura, foi que a direita dos quarteis aprontou o atentado do Rio Centro, onde havia uma celebração pelo Dia do Trabalho. Morreu um sargento em cujo colo a bomba explodiu, antecipadamente.

Getúlio profetizou que ‘um dia um de vocês, trabalhadores, chegará a este lugar onde hoje eu estou “ e esse dia chegou com Lula Presidente, ao qual nunca faltou o que dizer dia nenhum, principalmente no Dia do Trabalho.

Dou razão à Dilma.

No Brasil de agora, 61% das famílias estão endividadas. A renda do trabalhador caiu 2,8%, a maior nos últimos 12 anos. A inflação está em 8,3%, o que aumenta os preços dos alimentos e dos remédios e também os lucros dos supermercados e da indústria farmacêutica. Carestia de 3,2 pontos acima dos chamados reajustes salariais.

Não escapam nem as esperanças dos que sonham em ganhar na mega sena. A aposta mínima fica 40% mais cara a partir de hoje. Com isso o Governo que não cai com nada vai ter um ganho extra de mais de 1 bilhão de reais. Mais da metade do que precisa para pagar os juros da dívida externa.

Os juros para empréstimos e impostos parcelados estão na maior taxa desde 2008 (Selic em 13,25%) e os lucros dos bancos, como o Santander, indo a 31,9% no trimestre. E o Bradesco lucrando 4 bilhões e 200 milhões de reais líquidos nos últimos 90 dias. Muito mais que os 3 bilhões e 44 milhões do 1º trimestre do ano passado.

E as roubalheiras? Petrobrás, grandes sonegadores pagando propinas milionárias a conselheiros da receita, superfaturamentos em obras, serviços públicos de péssima qualidade, crianças e jovens sem escolas, ensino superior deficiente, zero em ciência, zero em tecnologia, zero em saúde, zero em segurança pública – ah ninguém aguenta mais ouvir essas coisas de todo o dia na nossa indignação.

Tem razão a Dilma, razão só pra ela, é claro, em não aparecer em lugar nenhum, nem mesmo na televisão, para saudar a magna data do trabalhador brasileiro. Se aparecer pessoalmente, vai ser vaia na certa. Se aparecer na televisão, vai ter panelaço nas janelas do País inteiro.

Ah coitada. Vai estar amanhã, 1º de maio, como o velho da canção do Chico, ah de novo o Chico – “e diga agora o que é que eu digo ao Povo / o que é tem de novo pra deixar? / nada, só a caminhada longa pra nenhum lugar” (...)

A Dilma não tem o que deixar e  nem o que dizer.

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