A ninguém é defeso
saber quando e como. A certeza irrevogável a marcar todos nós por essas
paragens terrenas é a de que a travessia da ponte acontece a cada um na sua
vez.
O Eduardo nascido
para ver o mundo com seus olhos azuis, mas nem por isso de modo a se conformar com
as injustiças das desigualdades sociais, lega às novas gerações convicções e
atitudes de um servidor público exemplar.
Por décadas o
Presidente da República viajou naquele avião que de tão velho e inspirador de
medos ficou conhecido como sucatão. Foi a bordo do sucatão numa viagem do Lula
a Petrolina – PE que conheci de perto o Eduardo.
Na cabine reservada
ao Presidente e seus convidados estavam além do Eduardo, a Dilma, o Humberto, o
Bebeto e o Carlos Wilson.
O Lula chamava os
Ministros para as viagens e enquanto viajavam cobrava relatórios e providencias
da área de cada um.
Era tudo tão informal
que até eu, que estava ali apenas como um convidado do Presidente fui instado
por ele a dar opinião.
O Eduardo, na sua
vez, me impressionou pela exatidão dos números, a clareza na exposição, o
entusiasmo de um espirito público à flor da pele. Inescondível que o Lula
gostava muito dele.
Quando, ao depois,
renunciei à Presidência do STJ, desincompatibilizando-me para disputar as
eleições para Governador do Maranhão e não sabendo ainda por qual partido,
filiei-me ao Partido Socialista Brasileiro e o Eduardo fez questão de abonar-me
a ficha numa solenidade em Brasília, a que compareceram a Renata, sua
companheira da vida inteira e a Euridíce, quanto a mim também.
Numa reunião do PSB
em Recife-PE, estive com Eduardo, já então Governador no primeiro mandato e
vendo que aquela sua garra pelo interesse público era algo assim transpirante,
provoquei-o indagando se não pensara em candidatar-se a Presidente da
República. Respondeu que ainda teria muito a fazer no seu Estado.
Saí de Recife
convencido de que o Eduardo preparava-se como um aluno aplicado para as
difíceis provas presidenciais. No segundo mandato, não deu outra. Com
resultados, os mais positivos, obtidos por sua gestão, estava aí o Eduardo
irradiando entusiasmo e esperanças ao Brasil.
O Eduardo fez a
travessia da ponte a bordo de um excelente e moderno avião que caiu no tempo
ruim, de visibilidade nenhuma, quase chegando aonde queria chegar – ao chão
firme da cidade de Santos, em São Paulo.
Uma vez eu iria a
Imperatriz fazer uma palestra numa reunião da bancada da Amazônia no Congresso
Nacional. Seria um dos passageiros do avião no qual iriam três ou quatro
Deputados estaduais, dentre eles o meu amigo João Silva, do Pindaré.
Pouco antes de
embarcar para São Luís, o Madeira, então Presidente do Instituto Teotonio
Vilela e hoje Prefeito de Imperatriz, me telefonou informando que eu estava na
lista dos que iriam no sucatão da Presidência da República, o mesmo que plantava
medos em tanta gente levou o Lula a
troca-lo por um avião novo e moderno, o Aerolula.
A reunião foi
cancelada antes da decolagem do sucatão em Brasília. O avião com os Deputados
despencou de um nevoeiro. Não escapou ninguém. O Madeira foi o estafeta do anjo
que mandou me tirar da fila da ponte. Escapei de outras em avião. E não foram
poucas. Acho até que como o Eduardo vou atravessar a ponte voando.
Escrevo em estado de
choque. Poucas vezes uma mutilação na asa de uma esperança me doeu tanto como
essa que tocou na esperança que se encarnava no Eduardo.
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