segunda-feira, 28 de abril de 2014

Uni-vos!

Como lembrou Churchill, a democracia é o pior regime, mas ainda não inventaram outro que testado fosse melhor.

Péssimo é que a própria democracia não produz anticorpos para se safar dos que ao se aboletarem no poder logo ficam de mal com o Povo e inimigos das suas liberdades.

Suprimidas as liberdades democráticas, o poder político censura a imprensa, tutela os partidos, domina os tribunais, inclusive os de contas – verdadeiras câmaras de torturas e perseguições aos que não se dobram e seguem desobedecendo ou ignorando as vontades dos poderosos que se acham donos de tudo, até mesmo da consciência popular e das opiniões coletivas.

Rui Barbosa, político de integridade moral e espírito público que em muito contribuiu para formatar o Brasil nos primórdios da República, escreveu que “os políticos incapazes de ter princípios, ou habituados a não conhecê-los, senão para os violar, são precisamente os que não tem mãos a medir no luxo de invoca-los, para os deturpar à mercê dos interesses de ocasião”.

Defender a democracia é dever pessoal de cada um de nós todo santo dia. Até porque as liberdades democráticas não são concessões do poder político, mas uma vitória nas lutas diárias da cidadania.

Trabalhar para que a democracia não seja confundida com as ervas daninhas que vicejam à sombra das suas liberdades é atitude de legitima defesa da nossa honra coletiva e do legado das conquistas com as quais a história da civilização nos guia e nos ensina melhor.

A República democrática existe principalmente para impedir que as mesmas pessoas ou os mesmos grupos se mantenham indefinidamente no poder, sangrando para si os cofres públicos, manipulando sempre para si os direitos e as vantagens da democracia, usurpando a boa fé dos incautos e acomodados.

Essa omissão da maioria não querendo saber de nada do que se passa na política tem causado muito mal a todos.

Não esqueçamos nunca e vamos sempre difundir a advertência de Bertold Brecht sobre o analfabetismo político ainda predominante entre a maioria dos eleitores.

São eles, os analfabetos políticos, os que não se interessam por política, mas que vendem o voto em troca de migalhas, os que involuntariamente porque não têm vontade própria, resolvem as eleições, notadamente nas regiões mais pobres, em favor dos causadores do mesmo atraso social e da mesma pobreza econômica em que vivem.

Aspas aqui para Bertold Brecht:

“O pior analfabeto é o analfabeto político.

Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.”

Não sabem os omissos que a dominação vigente se legitima, ainda que falsamente, nas urnas que só proclamam majoritariamente quase sempre a vitória da mediocridade, da mentira, do estelionato. Esses eleitos entre aspas é que irão fazer obras e leis em beneficio próprio.

A alternância no poder é indispensável. É impossível fazer alternância sem oposição. E oposição não é estar sempre contra.

A oposição é legitima quando se apresenta para a alternância no poder político com propostas que não sejam apenas peças de retórica, coisas bonitas de se ouvir, umas impossíveis e outras até inalcançáveis em curto prazo ou mesmo a prazo médio.

Pensar diferente é pensar na contramão das correntes predominantes, o que ajuda a enxergar as realidades de forma menos preconceituosa, possibilitando assim vislumbrar, ainda que visionariamente, as soluções mais simples, por conseguinte, as soluções mais viáveis.

As pessoas já não confiam tanto na proteção e defesa dos seus direitos pela administração pública. Os cidadãos estão cansados de tantos impostos, de tantos regulamentos, de tantas promessas e soluções de meia sola. Ninguém suporta mais essa mesmice generalizada.

Muito da baixa credibilidade popular com o poder público no geral e com os políticos em particular tem a ver com a fadiga. Se até os metais fatigam, quanto mais as pessoas.

Os cidadãos estão cansados de tantas promessas, de tantas mentiras, de só pagarem impostos sem a contrapartida do mínimo necessário em serviços públicos – como segurança, transportes, educação, saúde, infraestrutura - e investimentos que ensejando o crescimento econômico propiciem empregos de bons salários fazendo crescer as oportunidades a que todos têm direito numa sociedade efetivamente democrática.

Todos que neste Estado de coisas imaginam que já passa da hora da remoção dos entulhos resultantes da inépcia e das malversações de décadas falam coisas parecidas e até parecendo que compartilham das mesmas aspirações coletivas por liberdades republicanas e democráticas.

Onde está o imbróglio? Onde as coisas não se ajustam? No egoísmo dos projetos pessoais dos do que até por suas atitudes políticas em nada se diferenciam daqueles que dizem combater.

Vamos pensar diferente! Arquipélago das oposições, uni-vos em torno de ideias e projetos alternativos com os quais seja possível mudar para melhor as condições de vida de todo o Povo. Uni-vos ou sereis todos, mais uma vez, derrotados.

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