Que nem o bonde de
São Pantaleão que ao se aproximar do muro do cemitério fazia uma curva para, de
pronto, na parada seguinte, em frente aos portões do gavião - lugar também
conhecido como a ultima morada, o ano mais uma vez se renova exaurindo os
créditos da senha de cada estação e como os trilhos do tempo não mudam o
percurso, já estamos a consumir as ansiedades quanto ao que nos será possível
ganhar ou perder antes do começo do ano que vem.
Poderemos ganhar
muito se conseguirmos nos impor como Povo ante a indiferença dos poderosos e ao
alheamento do Governo a tudo inerente aos nossos direitos e às necessidades dos
mais excluídos.
E o ano que começa
traz no calendário uma nova eleição e é claro que não devemos construir ilusões
de que votar é o bastante para garantir a soberania popular única capaz de
legitimar a democracia e estabilidade à república.
Já estamos a ouvir
promessas e mais promessas. Muitos já se ensaiam no papel de salvadores da
pátria, de redentores de novas gerações, não querendo que sejam comparados aos
vilões de novelas.
O problema é a enorme
distancia entre a realidade visível e a viabilidade possível.
Vigora no mundo
da politica-espetáculo uma crença encravada de que a maioria dos eleitores
prefere ouvir as promessas que traduzam alentos mais diretos, embora inviáveis
mesmo em médio prazo, do que relatos de problemas.
É logico que as
insatisfações populares crescem na medida em que os problemas de cada área –
saúde, segurança, mobilidade urbana, educação, mais especificamente – não sendo
enfrentados de forma adequada, se acumulam e mais crescem.
Quem for eleito e não
for competente para liderar uma gestão e apoiando-se no poder do Povo formular
com eficácia a solução de cada problema, será apenas mais um a deteriorar a
democracia, a ampliar o fosso das decepções populares.
Não se deve
prescindir dos formadores de opinião, a começar por aqueles anônimos das
feiras, das ruas, das esquinas dos bairros, das paradas dos ônibus. É preciso
chegar a essas pessoas, ouvi-las mesmo, não como quem faz de conta que as ouve,
mas ouvi-las com atenção e respeito.
Delira, apenas
delira, quem acha que da solidão do poder alcançado, sabe Deus a que preço,
pode alcançar os corações e as mentes dos que vivendo a realidade crua da
exclusão social, da exclusão econômica e da exclusão de cidadania não se
abaixam e nem se entregam.
Estou com o Papa
Francisco para quem entre algumas certezas e uma dúvida é preferível a dúvida.
Sim, porque só a duvida nos afirma como seres humanos, imperfeitos como todos
somos, mas também interessados em acertos, em realizações. Só a duvida nos
remete a conclusões menos inseguras. A certeza por si afasta de pronto toda e
qualquer reflexão. A certeza não considera o próximo. A certeza nos faz reféns
da soberba e da ignorância, a qual, por sua vez, nos rebaixa à mediocridade e
arrogância.
Penso que é
importante ficarmos de olhos bem abertos e ouvidos escancarados ao máximo
possível todos os dias deste ano de eleições.
Que nem o bonde que
só parava na porta do cemitério e logo seguia em nova viagem pelo mesmo
percurso, o ano novo começa a partir da ultima parada onde desembarcou o ano
velho.
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