terça-feira, 23 de abril de 2013

O Depois

Foguetório irrompendo no céu da noite, o ditador em fuga, o povo esparramando alegrias, vitoriosa, definitivamente vitoriosa a revolução, o dia seguinte marcou a hora em que a pergunta primeira não esperou por nada – qué hacer?  E agora, o que fazer? Por onde começamos?

Havia uma ditadura fazendo de Cuba um grande cabaré onde conviviam mafiosos com políticos corruptos, viciados em jogatina com a prostituição, atraso politico com a pobreza social. Muita pobreza social.

Jovens inconformados emergiam das salas de aula na Universidade para o ativismo politico. Logo tomaram consciência da farsa que era o modelo partidário, a ilegitimidade nas eleições, as instituições chamadas de republicanas e democráticas deterioradas. 

Nenhum avanço seria possível para as liberdades públicas, moralização dos costumes, enfim, para a melhoria das condições de vida da população se aquele cenário de opróbrio e violência não fosse removido.

E aí os rapazes foram à luta aberta, uns até foram mortos em refregas de ruas contra a polícia politica, alguns foram embora, outros presos e torturados até à morte. 

Não há reminiscência politica ou social que não me leve ao Maranhão. Hoje, quase tudo daqui, em termos políticos e sociais, lembra muito da ilha nos tempos de Batista.   

Havia uma convicção irreprochável segundo a qual vitoriosa a revolução, tirando-se o oligarca e seus asseclas do poder, juntando-se, como se diz, a fome com a vontade de comer, daí pra frente tudo seria diferente. O Povo, enfim, veria chegada a sua vez.

Tinham consumido todas as energias da véspera na luta pelo poder. Ninguém até então, ao que consta até hoje, havia se ocupado com os afazeres do depois. Nenhuma proposição havia sido discutida. A vontade de tirar do poder o déspota parecia tamanha que talvez ate se confundissem o começo com o meio e os dois com o fim.

Guevara gostava de contar, a proposito de si mesmo, uma piada sobre o dia seguinte, quando Fidel reuniu a turma para organizar a equipe.

Estava claro, desde a véspera, que seu irmão Raul seria o Ministro da Defesa. Não havia mais espaço para o El Che, que afora a medicina, ficara famoso por seus grandes feitos militares na Sierra Maestra.

- Fidel perguntou ao grupo, contou Che.

- Há algum economista aí?

- Eu! Respondeu Guevara.

- Ah, tu és também economista? Redarguiu Fidel.

Guevara se explicou: -

- Não. Eu entendi que havias perguntado se havia algum comunista.

Ernesto Che Guevara foi nomeado Ministro da Economia, Indústria e Comércio. E deu no que deu.

Aquela plêiade de jovens havia se preparado com o melhor de seu idealismo e de suas energias para a tomada do poder. Mas não havia se preparado para os desafios da gestão democrática sob a soberania do Povo – origem e destino de todo poder.

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