domingo, 31 de março de 2013

Comunhão

Sou do tempo em que a pessoa para entrar na fila da comunhão, o momento mais importante da missa, tinha antes que se confessar.

Confessar os pecados a Deus, em voz baixa ao ouvido atento e aparentemente anônimo do padre, era como se fosse um descarrego, um exame de consciência que fazia a pessoa sentir-se leve, de alma limpa e atenta às tentações dos mesmos ou de novos pecados.

E assim, com a consciência em paz, propondo-se a trilhar sempre pelo caminho certo, em parceria com a verdade, seria possível então irmanar-se aos que, igualmente de alma limpa, se apresentavam contritos à comunhão.

O Apóstolo Paulo foi quem listou os vícios de conduta que  seriam conhecidos mais tarde como os sete pecados capitais.

Vejamos o quanto seriamos criaturas bem melhores se nos beliscando todo dia não incorrêssemos em nenhum deles – a gula, a luxuria, a avareza, a raiva, a soberba, a preguiça e a inveja.

Embora entenda que todos são virulentos à alma humana, melhor dizendo, ao caráter da humanidade, se tivesse que apontar dois como sendo os piores não teria duvida – a soberba e a inveja.

Na contrapartida, poderíamos não prescindir das virtudes – a humildade, a caridade, a tolerância, a paciência, a generosidade, a solidariedade. Existem outras, mas se  a partir de nossas atitudes demonstrássemos o valor destas já estaríamos contribuindo para a melhoria do mundo em derredor.

Aí vem você agora e me pergunta pelos 10 mandamentos. Sim, eles são a base de todo o processo civilizatório. Resumem a saga do povo hebreu, escravizado, mas batalhando por sua liberdade, instituindo a partir dos bons costumes o direito essencial à realização da justiça.

As leis de Moisés, inscritas nas duas tabuas, constituem ainda hoje os pilares sobre os quais se assenta a organização dos povos, inspirando normas de civilidade e coesão social.

Leia com calma os livros do Velho Testamento, a Torá dos judeus, e não te surpreenderás ao constatar de onde saíram tantas normas jurídicas para todos os ramos do direito. Quanto à hermenêutica, sugiro os 613 Mandamentos de Maimônides.

Na missa, a comunhão tem uma razão simbólica. Evoca a ceia de Cristo, a ultima com os apóstolos, quando partindo um pão lhe disse – este é o meu corpo e erguendo a taça com vinho falou – e este é o meu sangue. Ele não disse aquilo para fazer frase de efeito. Pensando bem, o pão e o vinho ali, naquela mesa rodeada por pessoas unidas na mesma fé, dizem tudo quanto ao Cristo se repartir entre todos numa comunhão de ideais e sentimentos. Em favor da paz e da boa vontade.

Não é carolice, não. Até que eu luto todo dia dentro de mim, comigo mesmo, para ser uma pessoa bem melhor do que o pior que até posso parecer aos olhos da intolerância, da arrogância ou da inveja. Mas tenho certeza que, sendo humano, não passo de um ser igual aos outros enquanto pecador. Um pecador que deseja sempre se reconciliar com a virtude buscando realizar o melhor também para os outros.

Agora, quando você for à missa, em especial naquelas encomendadas por políticos,  presta atenção nas caras dos contritos na fila da comunhão e depois me diz quais deles tiveram a humildade de confessar ainda que a si mesmos, mas perante Deus na própria consciência, alguma das perversidades que praticam com a demagogia e a mentira tirando proveito para si do que em verdade é patrimônio do Povo.

Um comentário:

JJ de Almeida disse...

Aproveito este espaço - porque de outra forma ainda não sei usar - para comentar o artigo postado sobre a regulamentação do emprego doméstico e sobre este artigo:ambos falam do tema da hipocrisia.Justiça social se faz com evolução da relação de direitos e deveres.Garantir a efetivação dos direitos é obrigação de quem não cultiva a hipocrisia do culto ao direito amplo, desde de que na casa e na vida do outro.Quem vive a vida real,quem vive de salário a partir do trabalhadado, sabe o quanto será árdua implantar algumas das novas regulamentações e as suas implicações burocraticas.Até porque,a maior parte destes direitos já eram prática corrente nas relacoes domesticas.