segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Noticias de Domingou


Quando eu estou aqui gosto de ficar olhando os gansos e vou tentando aprender com eles.

Os gansos, pelo menos os daqui, se mostram valentes na defesa e impiedosos no ataque. Quando convém, é lógico. Especialmente quando se trata de proteger os seus filhos, irmãos, fêmeas e também os humanos que lhes dão abrigo.

Tão logo cheguei, choveu e o ar foi tomado por aquele cheiro de terra molhada que você tanto aprecia.

Mas não foi aquela chuva de fazer goteira na varanda pingando, pingando, sobre o rosto do pé e nós caídos de preguiça estirados na rede. Foi chuva tangida por ventos rápidos.

A sala já está refeita. Nem dá para desconfiar que o piso é novo, tão igual que ficou ao antigo. Agora vamos dar um tempo a essa novela da escada. Tudo por estas bandas é uma novela - longa nos enredos sempre emocionantes e surpreendentes.

Estou muito cansado, fisicamente cansado. Vendo meus últimos roteiros pelos mapas até me admiro como estou conseguindo.

Pior mesmo é quando me demoro pelos itinerários de sempre tendo que me segurar nas náuseas, sem perder o controle dos nervos, sem dizer palavrão, mantendo a lucidez.

Agora, passado isso tudo, bendigo à minha sorte em conseguir fazer a travessia desta temporada me mantendo longe da baixaria.

Os gansos crianças estão passeando ali na grama. Como sempre em família, bem protegidos por seus pais.

Se os homens públicos destas paragens tivessem pela cidadania o mesmo zelo e cuidado que os gansos têm pelos seus familiares, decerto que a nossa sociedade seria mais fraterna, mais igualitária. As pessoas seriam mais amorosas. Umas com as outras.

Talvez não tenham se passado umas quatro ou cinco semanas que nasceram e já nem são mais bebês. Os gansos cresceram, estão quase adolescentes, mas ainda vivem sob a proteção dos pais.

Você teria gostado muito, como eu gostei, ao ver os jovens gansos nadando no açude entre o pai e a mãe, os três no meio, e uma revoada de garças com suas enormes asas brancas, vindas não sei de onde, sobrevoando e enfeitando a paisagem deles.

Li faz tempo, numa enciclopédia, acho que no tesouro da juventude, que os gansos, no Egito antigo, eram tidos como mensageiros entre o céu e a terra. Na ascensão de um novo Faraó soltavam-se gansos, um em cada ponto cardeal.

Na Roma antiga os gansos eram mantidos como vigilantes em derredor dos templos sagrados.

O que noto aqui da varanda olhando os três gansos adolescentes protegidos, o tempo todo, por seus pais é que eles resumem lições de lealdade, de carinho e de amor maternal.

Uma das jumentas vai parir por esses dias. Nossos jegues não passam de cinco. Passa o tempo, nascem jeguinhos, um dia vou ao mato conta-los e nunca passam de cinco. Agora, de novo, será seis a família dos nossos jumentos. Não os dou, nem os vendo.

Há um bode, um bodão reprodutor que nunca nem foi candidato a Prefeito, que até parece infeliz por não ser jumento. Digo isso porque o vejo sempre animado na companhia das jumentas.

A chuva pouca que os ventos trouxeram em regador no meio da noite aliviou a floração sofrida das mangueiras.
Algumas mangas maduras já despencam sobre as folhas secas que os ventos espalham de outras árvores.

Sem você aqui, me divido por inteiro.

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