quarta-feira, 10 de outubro de 2012
Roda e Avisa
Recrutado para a equipe do Mino Carta que preparava em plena ditadura militar o lançamento da primeira revista semanal brasileira ao modelo da americana Newsweek e da alemã Der Spiegel, fui morar em São Paulo.
Sob a inspiração de um visionário sem limites ao mesmo tempo um otimista contagiante, no caso o seu Victor, pai do Roberto Civita, a revista nem tinha nome ou se o tinha era um grande segredo.
No prédio da Abril na marginal do Rio Tietê a gente entrava ou saia se identificando como da equipe da semanal porque era esse o codinome da Veja antes de ser lançada.
Era época dos festivais e eu tinha uns amigos – Chico Maranhão, Virgílio Ceará, dentre outros – que me enfronharam em suas rodas de batidas e de sambas ali pela Maria Antónia, Fon-Fon, Bar do Seu Zé, Rua Maranhão, Faculdade de Arquitetura, alguns pontos pelos quais rolava a gralhada estudantil contra a ditadura militar.
Foi quando vi pela primeira vez o José Dirceu, alto falante, magro e cabeludo discursando no teto de uma Kombi. O movimento estudantil tinha os seus carismáticos – o Travassos, no Rio e o Dirceu, em São Paulo. Faziam um sucesso danado com as meninas.
Roda, roda, roda, como ordenaria o Chacrinha, o Dirceu foi tirado da cadeia e trocado pelo embaixador americano sequestrado no Rio numa operação bem craniada pelo Gabeira, dentre outros. Estou omitindo aqui o nome do Franklin, que sabe os detalhes todos.
A primeira vez que eu vi a palavra anistia em forma bem posta, escancarada e explícita, foi numa faixa que alguém colocou sobre o caixão do Jango pouco antes de ser enterrado em São Borja, RS.
Depois a musica popular começou a campanha pela anistia. Os versos de Aldir Blanc em o bêbado e a equilibrista no canto gritado de Ellis, o sabiá de Chico e Tom que no inicio pouca gente entendeu, enfim, a inteligência foi vencendo a burrice da censura, ainda bem.
Deputado Federal, votei a lei da anistia, a anistia possível naquele momento ainda patrulhado pelos bolsões radicais do regime, radicais e sinceros, diria Geisel.
Numa noite num voo da Varig para S. Paulo, naquela primeira classe pela qual não se pagava nada e serviam comida boa e bebida melhor, eu vi o Dirceu, Deputado por S. Paulo, com uma taça à mão sorvendo com categoria um champanhe. Outra vez assisti o Lula, ao meu lado, num voo da Vasp, traçando um frango.
Roda, roda, roda, de novo diria o Chacrinha, eu agora Vice Presidente do STJ, sou convidado pela OAB para o ato em que o Lula, enfim eleito Presidente da República, anunciaria o seu Ministro da Justiça, no caso o ex - Presidente da OAB, o Marcio Thomaz Bastos.
Na mesa dos trabalhos me colocaram bem ao lado do Dirceu, ainda Deputado por São Paulo e futuro Chefe da Casa Civil. Trocamos cartões e ele me disse que levaria o Lula para visitar o STJ.
Foi o Dirceu quem levou o Sarney para apoiar o Lula. Foi o Dirceu quem levou o Alencar para ser o Vice do Lula. Foi o Dirceu quem levou a Dilma para a equipe de transição do Lula. A Dilma assumiu o lugar do Dirceu que se preparava para ser o natural sucessor do Lula.
Na condição de Presidente do STJ estive com o Dirceu várias vezes. Com Lula outras tantas. Posso dizer que foi um período bom para o Judiciário. Todos os avanços que eu pude empreender, - e foram tantos que pareceria cabotino e nem caberia aqui enumerá-los, - só foram possíveis porque contei com o apoio do Dirceu e a determinação do Lula.
O mensalão, segundo Jacques Wagner, foi uma grande trapalhada. Precisavam arrecadar fundos para as campanhas municipais da base aliada tendo em vista, aí sim, a reeleição do Lula e saindo as coisas do controle, deu no que deu.
Fizeram tudo ainda na velha crença de que os fins justificam os meios. E não justificam. Jacques Wagner, que era Ministro do Lula quando isso tudo se deu, não tem duvidas. O que se chama hoje de mensalão não foi mais do que uma grande trapalhada.
Como dizia o poeta Fernando Pessoa, “o mundo é para quem nasce para o conquistar e não para quem sonha em poder conquista-lo. Ainda que tenha razão”.
Do pior, sobrou mais para o Dirceu.
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