Rola
aí pela internet uma campanha para que o Ministro Barbosa, o relator do
mensalão e Presidente eleito do Supremo Tribunal Federal, seja candidato a
Presidente da República. E me perguntam - você apoia?
Respondo.
Não. Não apoio.
O
Ministro Barbosa agora é celebridade porque um processo de forte apelo popular
e de muito interesse politico lhe caiu às mãos. As suas conclusões estão
coincidindo com as opiniões majoritárias entre as vozes roucas das ruas.
Norteado por sua consciência, ele apenas cumpre o seu dever.
Trabalho
de Juiz não é politico no sentido partidário como o dos que balizam suas ações
pelas oscilações populares. Juiz não decide de acordo com o vai e vem das
arquibancadas. Sejam as dos estádios, das paradas cívicas ou as dos desfiles de
escolas de samba.
O
Juiz só deve se orientar pelo que lhe ordenam a Constituição da Republica e as
Leis do País. Entre realizar a Justiça com base na Constituição e nas Leis do
País e ter que desagradar o mundo lá fora, além dos cancelos, tem que
desagradar, sim, ainda que sob as intimidações e ameaças de linchamento moral.
Os desagrados decorrem das incompreensões que, como as paixões, logo passam.
Estar
Juiz é não se aborrecer com as vaias nem se envaidecer com os aplausos. Faz
parte do seu oficio. Reclama que ganha pouco? Vai embora. Ah tem muito trabalho
que o tempo nem dá para ouvir os advogados das partes? Vai embora. Juiz tem que
receber e ouvir os advogados das partes. Manda a lei.
A
segurança jurídica do País depende disso.
O
único Presidente do Supremo a quem entregaram a Presidência da Republica por um
período mais demorado, três meses e cinco dias, o Ministro Linhares, nunca
tendo sido politico, censurado por nepotismo, teria respondido - a Presidência
é transitória, a família é para sempre. Não queria a inimizade dos parentes.
O
outro, Ministro aposentado do STF, que foi praticamente nomeado Presidente
quando estava em Paris foi o Epitácio Pessoa. Deixara o Supremo por razões de
saúde. Onde ele está na historia? O seu sobrinho, João Pessoa, dá nome à
Capital do seu Estado, a impoluta Paraíba.
O
Ministro Moreira Alves assumiu a Presidência da República por uns dois dias.
Chegou-lhe uma lei eleitoral para a sanção. De próprio punho foi vetando e eu
ali, ao seu lado, vendo aquilo, me perguntava o que iria, afinal, sobrar.
Sobraram dois ou três artigos, incluindo o indefectível "revogam-se as
disposições em contrário".
Fiquei
imaginando o Ministro Moreira Alves por uns dois meses na Presidência da
República. Iriamos ter uma assepsia nas leis que o Congresso lhe enviasse, o
que seria muito benéfico para o País. Mas e o Ministério da Justiça para o que
serviria?
Outro
caso de Ministro do Supremo que deu certo como Presidente da Republica, foi o
Ministro Marco Aurélio, também por uns dois dias. Não perdeu tempo. Criou a TV
Justiça! Alguém hoje é contra?
A
Presidência da República não é só para quem conhece a fundo a realidade sem
maquiagem de um Brasil continental, mas principalmente para quem o viajou de
ponta a ponta se inspirando em propostas viáveis e nos meios éticos para a
governabilidade com um Congresso Nacional sem aqueles trezentos e não sei
quantos picaretas denunciados pelo Lula, que inspiraram o mensalão.
Estar
Presidente da Republica, eleito, tendo que governar sob a mentira desse quadro partidário
dominante e a falta de legitimidade na representação popular decorrente de leis
eleitorais espúrias, tendo ainda que sustentar uma Federação de mentirinha, não
é tão simples assim.
Todos
que nas cristas das ondas chegaram à Presidência da República, insuflados como
fenômenos da popularidade, se deram mal e não fizerem bem ao País.
Calma,
gente! O Ministro Barbosa não é do ramo da politica. Nem a sua coluna
aguentaria.
Um comentário:
Olá Ministro Vidigal: há quanto tempo, não é mesmo?
Sobre o assunto, minha avó (aquelinha mesma, lembra?) dizia que devemos desconfiar de quem acende lmparina de dia sem ter ovo de galinha pra "deitar" (deitar, aqui, segundo ela, no sentido de botar pra chocar!).
Pois, Ministro, nunca em tão pouco tempo um único homem neste País conseguiu angariar tanta simpatia em tão pouco tempo, quanto fez agora o Senhor Ministro Joaquim Barbosa. Claro que, mais pelas decisões cabíveis e incontestáveis que por si próprio. Ao contrário, Levandovski, pretendendo mostrar posição antagônica - como pode, diante de tantos livros, de tantos saberes, dois homens ocupando cargos decisivos relativamente semelhantes, terem posições tão antagônicas e, pasme, o segundo sempre conseguindo antipatia por, visivelmente e sem conseguir explicações, tentar favorecer a outrem.
Joaquim Barbosa presidente da República? Não. Nunca. Jamais, exatamente porque isso atenderia a uma ansiedade popular - ansiedade por pessoas tão corretas e tão claramente simpáticas aos anseios do povo brasileiro.
Joaquim presidente, entendo, seria o mesmo que acender lamparina de dia, e sem ter ovos pra deitar.
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