CARTA ABERTA AO BRASIL:
Eles passarão, eu passarinho.
Mário Quintana
Mário Quintana
Dizem, no Brasil, que as decisões
do Supremo Tribunal Federal não se discutem, apenas são cumpridas. Devem ser
assumidas, portanto, como verdades irrefutáveis. Discordo. Reservo-me o direito
de discutir, aberta e democraticamente com todos os cidadãos do meu país, a
sentença que me foi imposta e que serei obrigado a cumprir.
Estou indignado. Uma injustiça
monumental foi cometida!
A Corte errou. A Corte foi,
sobretudo, injusta. Condenou um inocente. Condenou-me sem provas. Com efeito,
baseada na teoria do domínio funcional do fato, que, nessas paragens de teorias
mal-digeridas, se transformou na tirania da hipótese pré-estabelecida,
construiu-se uma acusação escabrosa que pôde prescindir de evidências,
testemunhas e provas.
Sem provas para me condenar,
basearam-se na circunstância de eu ter sido presidente do PT. Isso é o
suficiente? É o suficiente para fazerem tabula rasa de todo uma vida dedicada,
com grande sacrifício pessoal, à causa da democracia e a um projeto político
que vem libertando o Brasil da desigualdade e da injustiça.
Pouco importa se não houve compra
de votos. A tirania da hipótese pré-estabelecida se encarrega de “provar” o que
não houve. Pouco importa se eu não cuidava das questões financeiras do partido.
A tirania da hipótese pré-estabelecida se encarrega de afirmar o contrário.
Pouco importa se, após mais de 40
anos de política, o meu patrimônio pessoal continua o de um modesto cidadão de
classe média. Esta tirania afirma, contra todas as evidências, que não posso
ser probo.
Nesse julgamento, transformaram
ficção em realidade. Quanto maior a posição do sujeito na estrutura do poder,
maior sua culpa. Se o indivíduo tinha uma posição de destaque, ele tinha de ter
conhecimento do suposto crime e condições de encobrir evidências e provas.
Portanto, quanto menos provas e
evidências contra ele, maior é a determinação de condená-lo. Trata-se de uma
brutal inversão dos valores básicos da Justiça e de uma criminalização da
política.
Esse julgamento ocorre em meio a
uma diuturna e sistemática campanha de ódio contra o meu partido e contra um
projeto político exitoso, que incomoda setores reacionários incrustados em
parcelas dos meios de comunicação, do sistema de justiça e das forças políticas
que nunca aceitaram a nossa vitória. Nessas condições, como ter um julgamento
justo e isento? Como esperar um julgamento sereno, no momento em que juízes são
pautados por comentaristas políticos?
Além de fazer coincidir
matematicamente o julgamento com as eleições.
Mas não se enganem. Na realidade,
a minha condenação é a tentativa de condenar todo um partido, todo um projeto
político que vem mudando, para melhor, o Brasil. Sobretudo para os que mais
precisam.
Mas eles fracassarão. O
julgamento da população sempre nos favorecerá, pois ela sabe reconhecer quem
trabalha por seus justos interesses. Ela também sabe reconhecer a hipocrisia
dos moralistas de ocasião.
Retiro-me do governo com a
consciência dos inocentes. Não me envergonho de nada. Continuarei a lutar com
todas as minhas forças por um Brasil melhor, mais justo e soberano, como sempre
fiz.
Essa é a história dos apaixonados
pelo Brasil que decidiram, em plena ditadura, fundar um partido que se propôs a
mudar o país, vencendo o medo. E conseguiram. E, para desgosto de alguns,
conseguirão. Sempre.
São
Paulo, 10 de outubro de 2012
José Genoino Neto.
José Genoino Neto.
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