A
Hebe seria homenageada, e o foi, pelo Tribunal Superior do Trabalho que a
condecorou por seus relevantes serviços prestados à causa dos direitos sociais
no País.
De
fato, a Hebe sempre foi o exemplo de mulher trabalhadora que soube contribuir no
seu oficio para a harmonia social, sempre a favor da causa da Justiça e das populações
menos favorecidas.
Quando
uma greve no judiciário de São Paulo se arrastava por mais de um mês, gerando prejuízos
de toda ordem para a população e já alcançando em prejuízos a economia do
Estado, atendendo a pedidos, passei a dar expediente no escritório do STJ na
Avenida Paulista.
E de
lá, acompanhado apenas por um assessor, o Roberto Cordeiro, tendo à mão os
dados dos prejuízos que a greve estava causando, pois já deixara de ser a favor
dos servidores da Justiça para ser contra a população, e ante a inabilidade do
então Presidente do TJ-SP recusando-se a negociar e rejeitando autoritariamente
qualquer colaboração do Presidente do STJ e também do Presidente do STF, que era
o Nelson, busquei a mídia passando aqueles dias em entrevistas nas rádios e nas
televisões, atiçando propositadamente a população contra o comando da greve.
Já tinha
ido ao programa do Ratinho e a outros de grande alcance popular, especialmente
na Record, quando chegou o convite para eu ir ao programa da Hebe.
Na
chegada encontrei os rapazes do Fala Mansa, uma banda de forró universitário e
o sanfoneiro, se bem lembro, tinha origem familiar em Bacabal, no Maranhão. Brinquei
de cantor com eles ali nos bastidores.
Quando
entrei em cena já estava lá no famoso sofá da Hebe aquela modelo de quase 2
metros de altura, a Daniella Sarahyba – que anos depois, eu já fora do STJ, me
contactaria para ser seu advogado contra a Beneton.
A
Hebe tinha uma capacidade incrível de gostar das pessoas à primeira vista.
Direta nas perguntas, muito profissional e excelente administradora do tempo,
me encabulou quando, ao final, me pediu para eu cantar. Mas assim, brinquei,
vestido de Presidente do STJ? Pode tirar o paletó e afrouxar a gravata,
Ministro.
O
Fala Mansa entrou em cena, eu dei o tom do baião, a Hebe ficou segurando meu
paletó e mandei – a todo mundo eu dou
psiu, siu, siu... perguntando por meu bem, bem, bem... (Um clássico do Luiz
Gonzaga, que a plateia cantou comigo).
No
dia seguinte eu andava pelas ruas e notava as pessoas me olhando com um olhar
diferente. Quem não me conhece não sabe que, pessoalmente, sou um cara tímido.
Naqueles dias andando pelas ruas, eu não sabia como me esconder. Na Rua Tutoia,
uma senhora foi direta – gostei muito,
gostei...
Eu já era reincidente. Lembrei-me
do que, muitos anos antes, se sucedeu num ônibus, no Rio de Janeiro, no dia seguinte após ter
atuado no Júri do Silvio Santos, em S. Paulo. Negava sempre, não, não era eu...
Mas o senhor se parece muito com aquele Vidigal. Mas não era eu, minha senhora.
A
Hebe me fez popular no Brasil e me ajudou muito com aquela entrevista a
esvaziar aquela greve insana. Na assembleia geral seguinte, na Praça João
Mendes, em frente ao fórum, já não havia quórum para decisão nenhuma.
A
greve acabou por inanição. Voltei a Brasília feliz, consciente de que apenas
cumpri com o meu dever de gestor público.
A
Comendadora Hebe, naquela noite do jantar na casa do Amilcare, em Brasília,
ainda irradiava energia, mas o sorriso já não era o mesmo. A sobrinha que a
acompanhava me disse que a viagem e aquelas horas da solenidade no TST a
cansara. Ainda não retornara à quimioterapia contra o câncer no peritônio que a
perseguia.
A
Hebe agora descansa em paz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário