quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Fome

Neste momento em que você está me lendo uma pessoa em cada sete no mundo não tem o que comer.

A fome se espraia cada vez mais, notadamente na África e na Ásia. A África sofre ainda mais porque a seca lá é grande. A Ásia tem a agravante das desigualdades sociais.

Estima-se que 925 milhões de pessoas padecem de fome no mundo.

Pense nisso todo dia quando sentar-se à mesa e agradeça a Deus por ter o que comer.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Senhor Ministro, há quanto tempo!!! Feliz 2012 para si e para Dona Eurídice.
Minha avozinha - aquela mesma das conversas anteriores - conheceu bem esse assunto focado acima. A fome e a bonança. A fome, lá pelos idos da década de 50, quando a falta da chuva castigava o sertão alencarino. A bonança, quando ficou restabelecida a comunicação entre Deus e São Pedro e este último, ordenado, abriu as torneiras e chovia pra danar em todo o sertão. Certa vez, em 1957, o único açude ali pras bandas de Queimadas, que hoje fica entre Pacajus e Horizonte, pendendo um pouco para o lado de Pacatuba, de propriedade dos Albanos e dos Nogueiras, há muito não recebia água. Nenhuma água. Nenhuma neblina para desencardir a terra quente que rachava os calcanhares de quem andava sem apragatas.
Eis que, num fim de tarde, o vento começou a soprar mais forte. Aumentando de força a cada minuto. Soprava tão forte que dobrava os galhos dos cajueiros, como se fosse arrancar o pé pela raiz. As latadas, cobertas de palhas, começaram a ser destruídas. Uma tempestade, enfim, soubemos, quando chegamos à escola nos anos seguintes. Chuva, chuva e mais chuva. Três, quatro, cinco dias de chuvas.
Antes disso, quem se aproximava do açude, olhava apenas aquele imexível espelho na água. Sem vento, o "espelho" parecia imóvel.
Pois, Ministro, espelho coisa nenhuma. Era um ajuntado de cardumes de curumatás, piaus, piabas barrigudas (uma verdadeira maravilha, fritas na banha de porco, com farinha seca torradinha, para tirar o gosto da talagada de Ypióca!!!), acarás, jacundás.
No sexto dia intermitente de chuvas, o velho açude das Queimadas sangrou. O espelho ficou quase a zero e nós, os moradores meeiros, nunca vimos tanta fartura. Tanto peixe! Pegávamos com as mãos quando eles desciam para os igarapés formados pelas chuvas.
Meu avô - sim, o marido da vovó, aquela sábia das históricas participações! - conseguiu, com a nossa ajuda, recolher (sim, aquilo não podia ser considerado uma "pescaria". Sem tarrafas, landuás, anzóis...! Como seria pescaria??!! O que fazíamos era recolher, mesmo!!!) mais de 1.000 quilos de diversos peixes. Aquilo sim, foi uma fartura, mandada por Deus!
Mas, de repente, 1957, só os Ministros como o Senhor, conheciam e tinham geladeiras - nas fazendas, existiam as acionadas a querosene - em casa. Qual foi a saída? Vovô comprava sal em sacas de 60 quilos, que passavam até dois anos para serem consumidas. Pois, a solução encontrada pela sapiência inesgotável da "vovó": os meninos - nós, claro! - vão pilar sal a noite inteira, para salgar o peixe. E foi o que nos restou daquela fartura toda. Pilamos sal a noite inteira e, com um comboio de jumentos e burros carregando mais de 500 quilos de peixes salgados, vovô foi para onde tinha comércio, "fazer negócios". Trocava peixe por arroz, rapadura, mais sal, café em grão cru,querosene, fumo de rolo e até alguns cachimbos de barro.
Foi bom! Uma bênção divina pois, com as chuvas, voltaram as lagartas, os insetos e os passarinhos (sabiás, rolinhas, sibites, preás, cassacos) que matávamos para "enfeitar" o feijão sempre-verde cozido na água e no sal, que levava apenas uma raspinha de rapadura, por meses e meses passou a ser comido com peixe salgado assado na brasa. Talvez, por isso, sejamos quase todos da família, HIPERTENSOS. Pobre, sem geladeira, tinha que comer salgado.
Pois Ministro, aquilo foi fartura. Que maravilhoso seria, Ministro, se tivéssemos alguns açudes desses em DARFUR. Sim, porque Deus e São Pedro também estão lá. Mas, naquela terra escaldante, os interesses humanos daqueles que não sofrem, são outros.
E, Ministro, pasme! Aqui mesmo, no seu Maranhão, ali na beirada do Rio Pindaré, tem cabra preguiçoso que vive passando fome. Não tem coragem de pescar um peixe tapiaca para comer. Ô cultura siô!