terça-feira, 22 de novembro de 2011

Kennedy

Onde você estava quando soube que o Presidente Kennedy acabara de ser assassinado? 

A pergunta acontece vez por outra como exercício de memória. Muitos não se lembram. Afinal, faz tanto tempo.

Na tarde de 22 de novembro de 1963, uma sexta feira, eu estava no plenário da Câmara dos Deputados, em Brasília, quando a campainha de alerta tocou sendo ouvida em todos os cantos do prédio chamando os Deputados ao plenário.

E numa sexta - feira à tarde havia Deputado em Brasília dando quorum em sessão da Câmara? Naquele tempo havia.

Não demorou e o Deputado Ranieri Mazzilli, então Presidente da Câmara, no centro da Mesa dos trabalhos, diante de um plenário quase lotado por parlamentares e jornalistas um tanto atordoados, pondo gravidade no tom da voz, anunciou que acabara de receber a confirmação de que o Presidente dos Estados Unidos da América, senhor John Fitzgerald Kennedy, estava morto num Hospital em Dallas, Texas, abatido que fora a tiros de fuzil num atentado que sofrera algumas horas antes.

Quando Mazzilli concluiu seu comunicado, suspendendo a sessão em sinal de luto, afinal os Estados Unidos sempre foram nação amiga, passeei o olhar no ambiente e, pelas caras das pessoas, a impressão restante era a de que o mundo, de repente, ficara sem rumo. A terra perdera o eixo.

O mundo parecia viver uma agenda com grandes líderes, cada um, no seu espaço de respeito – De Gaulle na França, Adenauer na Alemanha, Jango no Brasil, Mao Tse Tung na China, Kruschev na União Soviética, Fidel Castro em Cuba, Neruh na India, Nasser no Egito querendo construir a RAU/Republica Árabe Unida, etc. Não consigo me lembrar quem era o manda chuva na Inglaterra. Harold McMillan? Não sei. Kennedy parecia garantir o sossego do mundo.

E se eu nem era Deputado, o que estava fazendo em Brasília naquela sexta - feira à tarde, no plenário da Câmara?

Eu tinha 19 anos de idade, era Vereador em Caxias, líder da Oposição. Sonhava ser Prefeito, mas entendia que sendo muito moço precisava aprimorar meus conhecimentos, me apresentar preparado para os desafios do cargo. Daí que aportei naquele ano, sob o Governo de Jango Goulart, como bolsista num curso sobre administração municipal na Universidade de Brasília – UnB.

Brasília naquele tempo era um acampamento só. De pessoas e de sonhos. 
Os bolsistas do curso da UnB moravam na Av. W 3 Sul na Casa dos Municípios, mantida pelo Governo Federal em convênio com a UnB. Recebíamos um talonário com tíquetes para o Restaurante chique do GTB – Grupo de Trabalho de Brasília.

Concluídas as aulas, eu não tinha muito o que fazer. Daí que às tardes, apresentando minha carteirinha de Jornalista no Maranhão, tinha acesso ao plenário da Câmara e também ao local reservado à imprensa no plenário do Senado.

Conheci muita gente importante da história do Brasil. Com algumas delas convivi tempos depois bem de perto.

No ano seguinte, 1º de abril de 1964, Jango foi deposto pelo golpe militar. No dia 14 de abril eu fui cassado e preso. O Brasil entrou numa ditadura que parecia não acabar nunca.

Nós todos ainda aqui, formando a juventude ativa que sonhava com um Maranhão livre do atraso, democrático e republicano, só depois, muito tempo depois, conseguimos perceber o quanto nos engabelaram porque  eram falsas, muito falsas, aquelas bolas de cristais.  

Um comentário:

Anônimo disse...

O seu relato é claro e verdadeiro...
A presença de Kennedy na presidência dos EUA era tanto garantia de sobrevivência do ser humano, que duramos até os dias de hoje...
Seu assassinato, por incrível que pareça, foi responsável pela sobrevivência do mundo e da humanidade. Poucos tem condição de enxergar esta verdade. Mas a maior das verdades é que o senhor relator deste texto mostra que o mundo tinha moral. E, realmente, seu assassinato foi imoral, em prol da guerra, controle de população e de cabeças pensantes, mas não foi bem sucedido, porque na mesma balada, seu irmão também foi assassinado e banana para os governantes do mundo!!!!