terça-feira, 5 de julho de 2011

Lucros e Perdas

As cinzas restantes do corpo cremado por sua vontade foram juntadas hoje ao túmulo de sua mãe, Dona Itália, única pessoa a lhe assistir desde a infância.

O Itamar não conheceu o pai.

Ao nascer em alto mar à altura da Bahia, a bordo de um ita, como eram conhecidos os navios de cabotagem da Companhia Costeira, o pai de Itamar, Augusto César, o marido de Dona Itália, já havia morrido.

Nascido num ita em alto mar foi batizado Itamar num cartório de Salvador.

A família de ascendência italiana é de Juiz de Fora, Minas Gerais. Itamar deve ter sido o único mineiro nascido no mar, o que intrigaria a mineirada inteira, já que as suas praias preferidas estão no Rio de Janeiro e no Espírito Santo.

Contaminado pelo vírus da política ainda nos tempos de estudante quando venceu as eleições para o diretório dos alunos na escola de engenharia, o Itamar depois de formado quis ser Vereador em Juiz de Fora, em 1958. Não conseguiu.

Em 1962 candidatou-se a Vice Prefeito. Naquele tempo os Vices eram eleitos em separado, ou seja recebiam votos diretos. Não conseguiu. Nas eleições seguintes foi eleito Prefeito de Juiz de Fora.

Não havia completado o segundo mandato quando, em 1978, o MDB o convidou para ser o candidato ao Senado. Tinha tudo para não dar certo porque havia apenas uma vaga na disputa e todas as projeções davam como certa a reeleição do Senador José Augusto, da ARENA.

Naquele tempo os debates no rádio e na TV não tinham o engessamento de hoje e os candidatos atuavam livremente. Ou seja, eram debates mesmo.

O Senador José Augusto estava tão certo de que seria reeleito que nem deu bola para aquele jovem intrépido de Juiz de Fora que o desafiava.

Na noite do debate na TV, o Itamar apareceu diante de uma cadeira vazia, a que estava destinada ao Senador da ARENA, e passou a debater com ela, isto mesmo com a cadeira vazia.

O MDB fez 16 Senadores no País, um golpe duro para o regime militar. Daquela safra, dentre outros, Brossard (RS), Marcos Freire (PE), Saturnino Braga (RJ), Leite Chaves (PR), Quércia (SP), Benevides (CE), Agenor Maria (RN).

Itamar foi reeleito duas vezes. Em 86, tentou e não conseguiu o Governo de Minas. Em 87 voltou ao Senado. Em 88 deu aval à aventura de Collor como Vice - Presidente de sua chapa.

Com a renúncia de Collor assumiu a Presidência e aí mostrou-se grande. Consolidou a democracia e debelou a inflação à época de 4% ao dia.

Em seu terceiro mandato no Senado, nos últimos 4 meses de sua vida mostrou-se a bravura e a independência de sempre. Para ser o melhor Senador, que vinha sendo, tinha que ser diferente e o era muito diferente do restante.

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