terça-feira, 17 de maio de 2011

Solidão Simultânea

Quem sabe se invocando os deuses, assim no plural, não consigamos algum progresso? Para a remoção de tantos destroços, só deuses. Assim no plural, deuses plurais.

As nossas vontades humanas não estão conseguindo segurar essa pauta em que as esperanças tenham de ficar ainda por mais tempo em concentração de esperas.

Enquanto nos comportamos segundo os parâmetros politicamente corretos, fiéis a princípios, observando valores, defendendo a ética, comprometidos com as ações moralizadoras, eles de lá, nem, nem, quer dizer não estão nem aí.

A política deixou de ser um campo de ação unicamente destinada à realização do bem comum, aos investimentos para o progresso e ao enfrentamento das desigualdades sociais, para ser apenas um meio de ascensão ao poder.

É do poder que eles precisam e é no poder que eles se nutrem e não se fartam. Precisam do poder para serem reconhecidos. Usam o poder para se favorecerem. Consagram a impunidade para os seus. E manipulam o poder para nunca mais caírem do poder.

Daí esses destroços.

Lembro aqui apenas uns. Eles sabem sobre todos, mas nada os preocupa ou os incomoda. Não querem saber se as pessoas no Maranhão têm proporcionalmente a mais baixa renda no Brasil.

O crescimento econômico no Maranhão aconteceu, sim, mas como rabo de cavalo. Para baixo. A pobreza cresceu 16%. É também neste quesito o Estado mais atrasado do Brasil.

Quase 2 milhões e 500 mil pessoas vivem distantes dos centros urbanos, encafuadas em casas de taipa cobertas de palha de babaçu, sem água tratada, sem fossa sanitária, sem assistência médica, sem escolas para os filhos, sem estradas que as levem a algum lugar, os homens com Deus na fé e as mulheres, quase todas, com as esperanças na barriga.

Mais da metade do povo no Maranhão, ou seja, 54,27% da população, o equivalente a mais de 3 milhões de pessoas, vive em plena miséria.

Em analfabetismo, os números são vergonhosos – 19,1%, dentre os maiores de 15 anos, não sabem ler nem escrever. Sobre o analfabetismo entre crianças com menos de 15 anos nada se sabe.

Há ainda aquele contingente de analfabetos funcionais, os que mal rascunham o nome, mas decidem as eleições. Não sabem porque votam, mas votam ajudando a manter no poder os que os escravizam nas trevas da miséria e da ignorância. Eles somam mais de 30% da população.

Esses destroços são num Estado cujo poder político é monopólio de um único grupo político há quase 50 anos. Um Estado para o qual o Governo Federal nunca deixou de mandar dinheiro. E para cujo grupo político o Governo Federal nunca faltou em apoios políticos.

Não dá mais, gente, para continuar com o grito preso na garganta, as energias de repulsas reprimidas, somando esperas em solidão simultânea, cada combatente seguindo para um lado, sem sintonia certa.

Ou agimos com competência ou deixamos que tudo se resolva tão só pela vontade dos deuses. O que não seria justo com a nossa condição humana. Nem com a condição dos deuses.

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