segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Para Frente é Que se Anda

Ao Jornalista Manoel dos Santos Neto, do Jornal Pequeno, concedi a entrevista que segue:

Quem o vê sempre alegre, espargindo otimismo, até quase esquece que ele está saindo de mais uma campanha eleitoral, a segunda nos últimos quatro anos, sem ter alcançado a vitória final.


Edson Vidigal, advogado e professor de Direito, casado com Eurídice, parece estar sempre mais para fênix, aquela ave fabulosa da mitologia grega, única da espécie que, após viver três séculos, se deixava torrar nos braseiros, para em seguida renascer das próprias cinzas, do que para Dom Quixote, o fidalgo de La Mancha, um dos seus heróis preferidos e cultuados.

Em 2006 estava ele lá em cima, no topo do poder, em Brasília, presidindo o Superior Tribunal de Justiça e o Conselho da Justiça Federal, dois cargos com jurisdição em todo o Brasil, quando largou tudo para se embrenhar na luta política do Maranhão.

Candidatando-se a governador, recebeu 387.337 votos suficientes para a eleição de Jackson Lago no segundo turno. Quatro anos depois, agora em 2010, sem cargo público nem exposição na mídia, voltado apenas para a advocacia e às suas aulas na Universidade, disputou uma das duas vagas ao Senado e obteve mais de meio milhão de votos, exatos 502.600 votos. "Não há derrota quando não se perde a dignidade", ressalta Vidigal.

Sem dúvida, que desta eleição ele saiu maior do que quando entrou.

Jornal Pequeno – Ministro, valeu a pena a candidatura ao Senado? O que representou para o senhor a experiência de mais esta campanha eleitoral?

Vidigal – Lembrando o poeta, tudo vale a pena se a alma não é pequena. Disputar o Senado valeu a pena, sim. Pude rever mais de perto centenas de comunidades na Ilha de São Luis e no interior do Estado, conferindo o alto grau de abandono a que são relegadas pelo poder público, quero dizer pela maior parte dos políticos que teimam em se apresentar como agentes públicos.

A campanha me permitiu conhecer mais pessoas do bem, gente interessada na melhoria do nível da política, espíritos cívicos e comprometidas com os avanços que o nosso Estado, e não vai demorar muito, irá empreender. A maioria dos maranhenses, felizmente, é de gente digna, indignada com esse quadro de atrasos, que anseia e luta por mudanças nesse elenco de pessoas que predominam há décadas, sem contribuições de melhorias, na política do Maranhão.

Valeu a pena, sim, porque pela primeira vez se discutiu abertamente a importância do Senado e no que o trabalho sério de Senadores comprometidos com o êxito da República pode resultar em benefícios para a vida das pessoas no Estado.

Sem o Senado não há República e sem República o principio da igualdade de todos perante a lei é uma mentira foliada. Ter sido candidato me permitiu chamar a atenção geral para muitas questões que tem a ver com a função do Senado, as quais eram, até então, ignoradas ou desconhecidas. Me inspirei um pouco na campanha civilista do Rui Barbosa, ele por si na República o maior exemplo como Senador. Acho que consegui despertar um pouco a consciência popular para a importância do Senado.

JP – O que explica o fato de o grupo Sarney ter conseguido eleger os dois senadores – Edison Lobão e João Alberto – da coligação da candidata Roseana?

Vidigal – A máquina do poder que esteve a serviço do grupo e dos seus candidatos se mostrou bastante poderosa. Em lugares atrasados e de maioria pobre como no Maranhão isso ainda funciona. Os Senadores estavam no pacote.

Mas se atentarmos bem para os resultados das urnas em cada Município, concluiremos que esses diques de invencibilidade começam a ser furados. Eu mesmo me surpreendi com a minha votação em muitos lugares do Maranhão por onde nem andei porque não tive meios de chegar. Fiz campanha para Senador com orçamento de candidato a Vereador no Maiobão, em Paço do Lumiar.

Há uma consciência popular em estado latente acordando para as esperanças de renovação. Há uma geração de moças e moços invendáveis, incorruptíveis, pessoas que se dispõem a tudo na luta para que o Maranhão se encontre num novo começo e, assim, possamos vencer os dois maiores atrasos, o atraso político e o atraso social.

JP – Como o senhor avalia o fato de o ex-governador Jackson Lago ter ficado na terceira colocação, como candidato ao governo do Estado, depois de ter tido o seu mandato cassado?

Vidigal – O Povo percebeu muito cedo que aquela cassação por abuso de poder político foi golpe e com o Jackson assim, vitimado, o erigiu rápido nos índices das pesquisas. Os golpistas tinham que detê-lo.

Logo aproveitaram o gancho da lei da ficha limpa com a qual ele não tinha nada a ver, como ao final ficou provado, e cuidaram de espalhar na campanha inteira que seria cassado. O recurso do Ministério Público contra a decisão que registrou sua candidatura ficou um tempão no TSE sem ser julgado, o que lastreou a boataria de que seus votos seriam anulados caso fosse eleito.

Ora, as pessoas no geral só querem votar no mais provável vencedor e se lhe incutem a idéia de que o voto no preferido não vai valer então logo buscam outra opção. E foi o que aconteceu com o Jackson. Os eleitores dele ante essa ameaça migraram para outras candidaturas. Quando saiu a decisão do TSE confirmando que era tudo mentira não havia mais tempo para destruir a boataria.

Por tabela eu fui alcançado porque fiz a minha campanha colada no eleitorado que desde o inicio estava com ele e mesmo quando percebemos o esvaziamento eu não me desgrudei, me mantive firme ao seu lado. Naquelas circunstâncias, só um oportunista descarado, e isso eu nunca fui e jamais serei, migraria em busca de outros espaços, atrás de novas conveniências.

JP – O que houve, ao seu modo de ver, para não ter acontecido um segundo turno na eleição para o governo do Estado? Como o senhor avalia a eleição de Roseana, logo no primeiro turno?

Vidigal – Um dia a verdade virá à tona. Espero que não demore. Muito esquisita a aparição daqueles votos em quantidade de quase nada depois da meia noite. O Ministério Público Eleitoral no Maranhão está em mãos dignas, cívicas, competentes e muito honradas.

JP – O senhor não acha que a falta de unidade prejudicou de forma considerável a oposição nestas eleições no Maranhão?

Vidigal – Sou do tempo das Oposições Coligadas. As Oposições Coligadas venceram o mandonismo que controlava o Estado e dominava o nosso Povo ao longo de vinte anos. Naquele tempo achávamos vinte anos uma eternidade…

JP – A Lei da Ficha Limpa alterou alguma coisa nestas eleições?
Vidigal – Quase nada. Notórios fichas-sujas transitaram trêfegos nestas eleições como se nada lhes fosse acontecer. E não aconteceu mesmo. Pelo menos até aqui. A lei, como está, pretende fazer justiça resgatando valores morais e éticos, mas ao nivelar por baixo, em dosimetrias teratológicas, se presta também a perseguições e a injustiças.

JP – Que avaliação o senhor faz do desempenho eleitoral do candidato a presidente da República de seu partido – José Serra – no primeiro turno, em nosso Estado?

Vidigal – Indubitavelmente, o Serra é o mais preparado para os desafios que o Brasil vai enfrentar nestes primórdios de século 21. A minha intuição me diz que o Serra será eleito Presidente. Estamos em movimentações fortes no Estado inteiro pedindo ao nosso Povo que vote nele.

O Serra, pela notória impossibilidade de qualquer vinculo político com o atraso político que inferniza a vida do nosso Povo, é a nossa única esperança de redenção política e de avanços seguros na melhoria das condições de vida no Maranhão.

JP – Como fica, neste segundo turno, a coordenação da campanha de Serra no Maranhão?

Vidigal – Todos os partidos da coligação em torno do Jackson estão unidos e os seus dirigentes se entendendo. Todos trabalham. O objetivo é um só – contribuir para o Serra ser Presidente.

JP – Por que José Serra eleito presidente – em vez de Dilma Rousseff – é melhor para o Maranhão?

Vidigal – O Serra é um democrata que já demonstrou, por onde andou, ser rigorosamente comprometido com as suas origens humildes e sua história de vida. Na visita que ele fez ao Neiva Moreira sentei-me ao seu lado e ali, bem de perto, pude avaliar com precisão o excelente ser humano que o Serra é.

JP – Por fim, depois de ter tentado chegar ao governo do Estado em 2006 e de ter tentado o Senado em 2010, qual o seu projeto político daqui por diante?

Vidigal – Não tenho planos. Tudo que eu quero é continuar tendo esta saúde e esta fé inquebrantável para, agradecendo a Deus por ter chegado até aqui, agradecer de coração a todos que votaram em mim, e assim com a consciência limpa seguir na jornada do bom exemplo. Para frente é que se anda. Como canta o Pagodinho, deixa a vida me levar, / vida leva eu…

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