quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Presentes

Não entendia porque os reis eram magos.

Olhava suas figuras nem tão esguias e sem saber o que significava ser mago, imaginava um erro de grafia que tivesse, talvez, se consolidado.

Alguma lógica tentava dizer que os reis eram magos porque, em algum momento, tivessem emagrecido.

Uma viagem longa pelo deserto em cima daqueles camelos vagarosos poderia resultar nisso, em grande perda de peso.

E daí terem chegado bem magos diante do menino Jesus.

Havia ainda a estória da estrela enorme, mais brilhante que as outras, através da qual os reis se guiaram até que chegaram àquele lugar ao qual nenhum dos asseclas de Herodes jamais chegaria.

Manjedoura no interior do nordeste é o equivalente a cocho, um tronco de madeira escavado como se fosse para ser uma pequena canoa, que pode ser apoiado sobre um jirau na altura alcançável pela fome dos animais.

O presépio exibe o menino na manjedoura rodeado dos bichos disponíveis na hora da montagem, ou restantes de algum outro natal do passado.

Jumento, carneiro, galinha, vaca, camelo, todo bichinho é bem vindo ao presépio.

Isso tudo enfatiza uma simbologia que marca a identidade do Messias com as origens humildes.

Ou seja, aquele que, ao nascer já era temido pelos déspotas como Herodes porque um dia ele seria também um Rei, um Rei do bem, trazia desde o nascedouro não só o exemplo da origem humilde, do berço improvisado, mas também a identidade como compromisso com todos os nascidos na pobreza política, na pobreza econômica, na pobreza social, que nem ele.

Tudo do nome dele estava associado à esperança, à redenção. O povo hebreu escravizado não suportava mais aquela asfixia da falta de liberdade, de todas as liberdades!

Os dominadores usurpavam o poder do Povo e submetiam aquele mesmo Povo aos caprichos de suas vontades, que nem no Maranhão onde isso se arrasta há mais de quarenta anos.

Por isso que quando correu quase que na velocidade da luz a notícia de que ele o de há muito esperado havia nascido, os reis magos enxergaram na estrela maior a bussola que os levou àquele presépio na estribaria.

E aqui outra simbologia. Rodeado pelos bichos, deitado na manjedoura, exalando a alegria pura dos inocentes, o futuro Messias recebeu como primeiras visitas os Reis Magos que perante ele se ajoelharam em preces e bem aventuranças, em aleluias e alvíssaras, e presentes.

Ou seja, aquele menino nascido na humildade, na pobreza mais íngreme, ainda nem abria os olhos para a luz inteira do mundo e, em suas primeiras horas, já era reverenciado por aqueles homens poderosos, os Reis Magos que diante dele se ajoelharam em honra e gloria do seu futuro.

Não há uma certeza de quantos Reis integraram, efetivamente, aquela luzida comitiva.

Mateus, em sua reportagem, fala em três presentes – ouro, incenso e mirra, e daí a dedução de que, tendo cada um deles entregue apenas um presente, eles então eram três.

Vem dos Reis Magos essa tradição natalina de se dar presentes. É uma evocação àquele momento da descoberta do lugar e da certeza de que o Povo oprimido já podia contar com o seu líder predestinado à sua interminável missão redentora neste mundo tão desigual e de poderes politícos tão injustos.

Os Reis Magos não eram tão magros assim de pouco peso, não. Eles eram Reis de respeito porque mais que os outros Reis eles sabiam das coisas, tinham informações.

Não erravam, por exemplo, quando previam pouca chuva ou muito sol. Sabiam ler os sinais dos astros. Eram assim, digamos, os magos da astronomia.

Depois foi que surgiram os outros magos – o mago da sanfona, o mago da flauta, o mago da tesoura, e o magão que tocava piano, ou ainda toca, no MPB 4.

Desejo a você o melhor nas alegrias deste Natal e um Ano Novo inteiro com saúde, justiça e paz!

Nenhum comentário: