sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Máscaras

No teatro grego, onde tudo parece haver começado, eram apenas duas – a máscara da tragédia e a máscara da comédia.

Depois as dissimulações foram se tornando tão eloqüentes que muitas pessoas as dispensaram enquanto adereços.

Acho que foi Jung, o da psicanálise, quem definiu a máscara como a simulação da individualidade. Freud andou falando sobre as máscaras sociais.

Dependendo do papel que a pessoa vai desempenhar, que nem na novela da televisão, ela desenvolve uma personagem com gestos e sestros próprios, mudanças na voz, na maneira de olhar, e se capricham na maquiagem chegam a parecer irreconhecíveis.

Muitas vezes você conhece uma pessoa e um dia ela aparece num degrau acima ou lhe vê num degrau abaixo ou algo parecido.

Ela passa por você finge que não lhe vê, já não lhe cumprimenta ou se lhe olha é de soslaio, e aí você comenta adiante – olha só como ela ficou mascarada.

Na relação com o poder, qualquer que seja o patamar do poder, assumir uma máscara independe de gênero.

A máscara é quase sempre o biombo atrás do qual se escondem não só insegurança, o despreparo para a vida, também a arrogância, a maldade e a inveja.

Oscar Wilde escreveu que a verdade flui por inteira quando a pessoa usa máscara. Fala tudo, é capaz de cometer assalto e até de matar.

Houve um tempo em Veneza que era comum andar mascarado pelas ruas. A criminalidade aumentou e a muito custo o governo de então conseguiu limitar o uso de máscaras apenas durante o carnaval.

No Maranhão, e já faz tempo, mais precisamente na Ilha de São Luis, o Governador em peleja aberta com o Prefeito, ambos querendo popularidade, quase estragam o carnaval.

A tradição era os bailes de máscaras, e eram tantas as pessoas que aproveitavam aqueles folguedos para se soltarem escondidos nos fofões e nas máscaras, afinando a voz, que o cumprimento entre elas beirava a delação – ê carnaval, eu te conheço carnaval!

O Prefeito em nome da sagrada família ciosa de proteger suas filhas e também as tias solteironas, daquelas promiscuidades periféricas, baixou um decreto proibindo os bailes de máscaras.

No Maranhão, onde a máfia faliu e onde já se fez ate passeata contra concurso público, o Prefeito que não queria folião usando máscaras nos bailes levou a pior.

Não cabe aqui falar do entrudo, herança antiga cultural e carnavalesca dos portugueses.

O Padre Vieira? Nem pensar. Não há um sermão dele tratando de entrudo no Convento das Mercês.

Ora, se não só em Veneza como de resto em todas as Cortes européias as mulheres usavam máscaras à moda gatinho como arma de sedução, por que na ilha de São Luis haveriam de se proibir aquelas máscaras pretas escondendo a cabeça inteira até ao pescoço no estilo carrasco?

As múmias no Egito recebiam máscara antes de embarcarem no sarcófago para a viagem à imortalidade.

Em lá chegando, na imortalidade, imagina só, o segurança grandalhão, de cabeça raspada, óculos escuros, metido num terno preto, à frente do detector de metais, perguntando - quem é você? E a múmia mascarada – advinha se gosta de mim...

3 comentários:

Anônimo disse...

Interessante reflexão Dr. Edson, pois quando uma pessoa sem personalidade pensa que um dia chegou a um nível de poder, esta se reveste de uma falsa máscara, acreditando ela ser sua única e imutável face, engana-se!. Bem que essa pessoa de máscara poderia escrever sua autobiografia, com o tema "O Massacre das Máscaras, após sua queda".
Paulo Luis de Moura Holanda
BOA VISTA -RORAIMA
e-mail: hollandapaulo@yahoo.com.br

Onton Lamar disse...

Ministro

Nosso país esta cercado de mascarados na política , na espera e de olho no dono do baile. Assim que voc6e participa de um já descobri que é dono do outro para que no futuro vista a mesma mascara do dono

Ritoca disse...

Prezado Vidigal. Muito interessante esse seu post sobre mascarados. Faz-me lembrar algo que certa vez li no livro autobiográfico do Caetano Veloso, "Verdade Tropical", cujo trecho tomo a liberdade de transcrever aqui. Espero haver espaço suficiente para tanto. Nada mais 'careta' que proibir o uso de máscaras no Carnaval. Significando dizer "retrógrado". Soa incoerente.
"Os músicos que eu conhecia ao chegar no Rio, em 64, usavam drogas como um exercício de alheamento do mundo prosaico dos homens sensatos, e de aproximação do numinoso, do transcendente ou da iluminação - e, naturalmente, da 'musicalidade'. Ser ou estar 'louco' era considerado um privilégio. As pessoas que que nunca 'se enlouqueciam' eram merecedoras de desprezo. É curiosa a dubiedade do termo que esses músicos tomaram emprestado dos bandidos para designar os que não se drogavam: caretas. Aparentemente, essa palavra - que tradicionalmente significa 'máscara' ou 'mascarado' - surgiu entre os malandros como uma maneira jocosa de dizer 'cara' (careta é um diminutivo de cara); de alguém que não tomou nada para mudar a mente diz-se estar 'de cara limpa'. Muitas vezes ouvi músicos dizerem que tiveram que enfrentar essa ou aquela situação 'totalmente de cara'. Muitas vezes ouvi quem dissesse: 'Eu estava de cara limpa, de cara, de careta mesmo, caretinha'. Assim, careta, na gíria bandida dos músicos, queria dizer, em princípio, o contrário de mascarado. Mas seu uso como um depreciativo dos não usuários de drogas terminou por trazer de volta algo do antigo valor semântico, já que drogar-se significava - com sua conotação de abrir-se para Deus e para a música - desmascarar-se. Os 'caretas' são os burgueses sempre de cara limpa e sem máscara". (CV)