A Casquinha da Ferida

Bons modos à mesa, no andar, no trajar, no modo de falar, enfim mais que uma repaginada. Ter feito o curso da socila era garantia plena de aceitação.

Quando se via uma pessoa finíssima, bem educada, a conclusão era uma só – fez o curso da socila.

Até hoje não sei se socila era a sigla de uma escola, uma grife ou nome da diretora do curso. Consta que até para casarem muitas moças, e também rapazes, faziam antes o curso da socila.

Ciro Gomes me disse uma vez que estava precisando fazer um curso socila de linguagem. Reconhecia que a contundência verbal prejudicava o conteúdo do discurso e lhe tirava votos.

Passado algum tempo, olha aqui o Ciro falando:

A candidatura a Governador de São Paulo:

- Tudo o que eu puder fazer para não ser candidato a governador de São Paulo, eu farei. (...) No dia em que eventualmente tiver de mudar o domicilio, reafirmarei minha candidatura à Presidência. No mesmo dia. As pessoas perguntarão: então para que transferir o titulo? E direi: boa pergunta. Remeta ao PSB.

A aliança partidária que dá sustentação política ao Governo Lula:

- O problema não é a aliança, que é legitima. É que tipo de hegemonia moral e intelectual a preside. A coalizão que se desenha ao redor de Dilma é essa coalizão cuja hegemonia moral e intelectual é frouxa e deriva do excesso de concessões que o PT fazendo a um setor fisiológico, clientelista e patrimonialista, de cuja caricatura o Brasil teve noticia recente na crise do Senado. Isso é só a casquinha da ferida. Aqui na Câmara está do mesmo jeito. O País não agüenta. Só o Lula agüenta.

O problema do PMDB:

- O PMDB tem um problema. É uma grande frente de lideranças regionais, sem projeto para o País. Não se reúne, não tem proposta, não tem candidato. Isso é um legado insepulto da ditadura. E agora você vai conceder? Quer chamar o PMDB para conversar chama o Simon. Converso com ele de olho fechado.

Sobre as suas debilidades políticas:

Tenho um partido médio. (O PSB). Tenho uma indignação que às vezes se traduz em gestos interpretados como intempestividade. A gente aprende.

Comecei cedo. Fui prefeito de capital aos 29 anos, Fui o mais jovem governador do País, com 32 anos. Não tinha manual, fui fazendo. Tenho o hábito da franqueza. A cultura política do País exige muito mais moderação. Aprendi na luta, errando.

(Excertos da entrevista a Julia Duailibe, de O Estado de S.Paulo, domingo ultimo, 06.09.09.)