segunda-feira, 18 de maio de 2009

Aguaceiro

A nuvem cinza, aquela que está ali carregada, parece abrir passagem para o facho de luz irresistível como se estivesse, ela a nuvem cinza, num cruzamento e o sinal do trânsito celeste lhe tivesse mostrado agora o farol vermelho.

Sinal aberto para o facho de luz, oba, enfim vamos ter um momentinho sem esse insistente desaguar.

Olha o sol gente, até que enfim o sol, mas qual nada o tempo não clareia, a nuvem cinza que estava estancada parece agora se deslocar. O sinal verde é dela, portanto nada de tempo claro. O que parece que vem por aí é água muita.

Ainda há pouco, me sentindo quase um pássaro murcho sobrevoei meio encorujado os rios da região que estavam ha anos com sede, quase se afundando nas croas dos seus leitos.

Saber que os rios estavam assim travados pela agonia de não poderem seguir céleres os seus cursos, impedidos de cumprirem os seus destinos, e ninguém fazer nada, ficando só assistindo, e quando muito só ouvindo discurso, sem conseqüências de ações, olha gente, isso é algo ignominioso.

Tinha que dar nisso, nesse alerta danoso, que não chega a configurar uma vingança, talvez um enérgico puxão de orelhas da mãe natureza em todos nós que não temos feito nada a favor dela quanto aos rios, concretamente.

O verde dos galhos das árvores lá embaixo se destaca da terracota dos telhados. Em alguns lugares há menos verde e muita água quase afundando os telhados.

E as pessoas, quem sincera e verdadeiramente está pensando nelas, exceto enquanto numero a justificar pedidos de verbas e a quantificar votos na próxima eleição?

Quem verdadeira e sinceramente pensou nelas muito antes, quando estando em condições de poder não cuidou de ações preventivas, aceitando a verdade de que isso, em dias e noites como estes e estas de agora, iria inarredavelmente acontecer?

Fosse a tragédia dessas enchentes se estender além das margens dos rios para alcançar uma só casa, flagelando uma só família e isso já soaria como uma condenação à nossa desídia, uma vaia colossal à nossa indiferença.

O flagelo, no entanto, está por toda parte. Onde há um rio desmatado em suas margens e com leito assoreado, onde houve um riacho, um córrego, um arroio, meros registros de águas passadas, agora há muita água, desproporcional às ribanceiras.

O que fazer de pronto por essa gente? Ah a caridade do governo está mandando cestas básicas, arroz, feijão, sal, açúcar, café, sim, mas nesse aguaceiro vão acender o fogo aonde?

Roupa velha usada, chinelos dos outros, isso tudo aparece como donativos dessas campanhas cretinas das quais a maioria se aproveita para exibir no  espelho dos outros as  suas benemerências retardadas.

Os rios cheios e portentosos assim como estão é como deveriam estar sempre, mas para a navegação de longo curso, para a pesca de grande comercio. Como estão agora são só lembretes e ameaças, que não servem para nada.

Por que não aproveitar essas enchentes de agora, esse sofrimento que está penalizando tantos inocentes, por que não se valer disso como lição definitiva de que a recuperação desses rios é tão prioritária quanto as estradas que estão destruídas e as pontes que se partiram?

A nuvem cinza carregada de chuvas parece nem se incomodar com essa intromissão do sol. Há luz de sol na tarde, mas chove, chove, chove.

Um comentário:

Joaquim Marques dos Sanos disse...

Caro senhor, o que tem a dizer sobre o nome do edifício do Tribunal de Contas do Estado do Maranhão?
Estampado já há vários anos, em letras vermelhas, garrafais, praticamente em frente ao prédio do Ministério Público?
Tem alguma explicação para isto?