terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

MDB, Você Sabe Porque

O Brasil proclama sua vocação democrática mas não a realiza de verdade porque não consegue evoluir com um quadro partidário que traduza com legitimidade as verdadeiras ansiedades sociais.

Tirando a época do Império, em que os ideais democráticos estavam mais para as miríades republicanas, as instituições da monarquia contaram com dois atuantes grupamentos partidários – o liberal e o conservador.

Na República, predominaram os partidos estaduais, quase todos sem princípios programáticos, mas com propósitos claros de chegança ao Poder.

O fim da segunda guerra mundial, com a derrota do totalitarismo nazi-fascista, abriu espaços para a formação de partidos políticos programáticos e nacionais.

Já tínhamos um razoável quadro partidário em fase de consolidação quando o regime militar de 1964 o extinguiu, determinando que no lugar de todos se criassem organizações provisórias, apenas duas, sendo que uma, a de apoio ao regime militar, passou a se chamar Arena – Aliança Renovadora Nacional e a outra, de oposição formal consentida, passou a se chamar – MDB – Movimento Democrático Brasileiro.

Há aqui um fato curioso.

Os políticos tarimbados, a grande maioria com espírito público, verdadeiros idealistas do bem comum, haviam sido cassados, expurgados, exilados. Tirando as exceções naturais às regras, não restou muita gente boa, não.

Daí que o Marechal Castello Branco, o Presidente que extinguiu os partidos, teve a maior dificuldade para conseguir que se formasse um partido de oposição. Isto porque na maioria dos Estados, especialmente no norte, nordeste, leste e centro oeste, a confluência maior era para a Arena, o partido da situação.

O Marechal – Presidente lembrou-se de um velho amigo de farda, o General Oscar Passos, então Senador pelo Acre, e pediu que assumisse o desafio de organizar um partido de oposição, que desse legitimidade formal ao seu Governo.

Daí nasceu o MDB, o Movimento Democrático Brasileiro, tendo como primeiro Presidente um general, enquanto a Arena dos militares teve como primeiro Presidente um civil, o Deputado Rondon Pacheco, de Minas Gerais.

Por suas várias correntes, o movimento estudantil e também o movimento sindical sufocados se alistaram ao MDB, o qual foi crescendo no respeito da população mais como legenda de mobilização popular querendo a redemocratização do Brasil do que como agremiação político-partidária tão somente.

Para a militância do MBD velho de guerra o que interessava era o Brasil, a democracia, as liberdades públicas, o progresso, os direitos sociais e individuais dos brasileiros.

Os candidatos eram poucos, quase não era possível concorrer às eleições com chapas completas. O tempo de propaganda na TV e no rádio era curto. A saída foi propagar só a legenda. Então, ouvia-se uma musiquinha, - MDB, MDB,MDB, o povo agora está contando é com você, MDB, MDB, MDB... e uma voz em tom grave dizia – vote MDB, você sabe porque. Pronto, só isso.

De eleição em eleição, o MDB foi crescendo, crescendo, até o dia em que, apesar das regras da ditadura, já estando bem perto de alcançar o Poder veio uma lei para acabar com as esperanças do MDB. Agora não haveria mais bipartidarismo, o quadro seria pluripartidário.

A Arena passaria a ser o PDS. Mas o MDB resistia.

Foi quando, nos debates no Congresso, em meio a um discurso inconformado do Senador Pedro Simon, porque a nova lei obrigava que todas as agremiações tivessem designação de "partido", o Senador Lomanto Junior, da Arena da Bahia, pediu um aparte sugerindo que o MDB então, cumprindo a lei, passasse a se chamar PMDB.

Sancionada a lei, no dia seguinte lá estavam no salão verde da Câmara Ulisses Guimarães e Miguel Arraes, dentre outros, fundando o PMDB. Arraes não tardou e saiu para restaurar o PSB. Mario Covas e Fernando Henrique na Constituinte saíram para fundar o PSDB. Tancredo já havia saído logo para fundar o PP, mas voltou incorporando o PP ao PMDB para não desagregar a oposição ao regime. Muito depois, Ulisses morreu. O PMDB não tem líderes, tem chefões.

Depois do Colégio Eleitoral e da morte de Tancredo, o Presidente eleito e diplomado, o PMDB inflou-se, perdeu-se. As adesões foram tantas, incluindo as de egressos de compromissos abertos com a ditadura militar, que o partido perdeu sua identidade. Daí Jânio Quadros tê-lo definido como uma arca de Noé, sem Noé. Ou seja, tem bicho de tudo quanto é jeito, mas não tem diretriz porque lhe falta um líder, um Noé.

O hoje Senador Jarbas Vasconcelos fundou com Marcos Freire e Fernando Lira o grupo dos autênticos do MDB. Já naquele tempo, os mais jovens, sendo os mais aguerridos combatentes contra a ditadura, precisavam formar um grupo com identidade própria.

A entrevista de Jarbas Vasconcelos a Otavio Cabral de VEJA deve ser lida sob esse contexto histórico.

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