sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Quantos Meninos

A convocação está num verso de Caetano Veloso – "Megacidade, Conta os Teus Meninos!"

Está passando da hora de contar e saber o que estão fazendo os meninos, e hoje não só os das megacidades, também os de quaisquer cidades, grandes ou pequenas.

Abrir escolas é fechar cadeias, dizia Rui Barbosa. Claro que não é só abrir a escola. É preciso que a escola tenha condições de oferecer ensino de qualidade.

Não tem receita nova. Continua valendo a de Anisio Teixeira, o primeiro a implantar, quando Secretário de Educação no Governo de Otacvio Mangabeira, na Bahia, uma escola onde o aluno passa o dia inteiro.

Nas salas de aula lhes ensinam o porque das coisas da historia, da geografia, da gramática, da matemática, da sociologia e mais e mais, incluindo nutrição alimentar. Sim, eles aprendem até a importância de cada alimento.

Anisio condenava o ensino de decoreba. Para ter uma compreensão do conjunto das coisas, o aluno tem que saber o porque de cada coisa.


Depois, nos galpões das oficinas, eles aprendem um ofício, da carpintaria à mecânica, da alfaiataria à padaria, o importante é que, ao final, quando deixam a escola, tenham, além do conhecimento das coisas, uma profissão básica. Até para ser doutor depois será menos difícil.


Levado por Simões Filho, no primeiro Governo Vargas, para o Ministério da Educaçao, Anisio Teixeira foi ser Diretor da Instrução Pública, quando semeou o seu modelo por todo o País. Fui menino sob essa idéia, - escola de manhã, oficina e trabalho à tarde.


Para Anisio, o ensino tem que ser público e obrigatório, no sentido de que é dever do Estado e direito de todos. E deve, também, ser laico, no sentido de que o conhecimento, tendo que ser livre, não pode se atrelar a religiões, filosofias ou ideologias.


Seu curso ginasial tinha educação fisica obrigatória, canto orfeônico e trabalhos manuais. Foi o tempo, também, das escolas tecnicas federais.


No terceiro estágio, havia o curso científico para quem revelasse vocação para as ciencias exatas como medicina, engenharia, e o curso classico para os vocacionados às ciencias sociais, como direito, economia, administração, por exemplo.


Anisio achava que as crianças e os jovens devem ser ocupados não só na mente, também no físico. Era o velho mens sana in corpore sano. A isso acrescentava a necessidade de o jovem desenvolver também as habilidades manuais.

Mais tarde, quando Darcy Ribeiro, era o Chefe da Casa Civil do Governo de João Goulart, Anisio Teixeira foi convocado para implantar o projeto de uma universidade moderna, a UnB.

Eu mesmo, por duas vezes, testemunhei esse arrojo.

Em 1963, quando Vereador em Caxias, aos 19 anos, fui bolsista num Curso de Administração Pública Municipal, destinado à preparação de futuros líderes no interior do País.


E em 1977, quando me transferi da Universidade Federal do Maranhão para a UnB, onde conclui o Curso de Direito e disciplinas do Mestrado, tornando-me depois, na mesma Faculdade, Professor de Direito Penal e de Direito Eleitoral.


Hoje, a escola pública não passa, exceções raras, de arremedo. O ensino fundamental é paupérrimo. O ensino médio, fraquissimo. O ensino superior, uma tristeza. E tudo, prioridade constitucional, custando fábulas de dinheiro para o contribuinte.


Não é saudosismo. É que as propostas de Anisio funcionaram e deram certo. A escola formava a base para os grandes profissionais e forjava líderes com idéias.


Em 1964, veio um golpe militar no País, em seguida o acordo MEC-USAID com os Estados Unidos, pelo qual se jogou fora isso tudo das ideias de Anisio Teixeira, às quais se juntaram depois as idéias de alfabetização em massa de Paulo Freire.


Era preciso deter o avanço do Brasil, regridir a democracia. E a melhor maneira de regridir a democracia é piorar a escola, mediocrizar o ensino, analfabetizar um Povo.

Anisio Teixeira não inventou a roda. Ele pôs a roda para rodar. É isto que está faltando. A começar pela educação, vamos fazer a roda rodar?

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