sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Os Pruridos Eram Outros

A eleição para a Mesa do Senado arrasta, afinal, para mais perto do cercado em que se circunscreve, as mazelas inescondiveis da fisiologia mais imoral suplantando a necessidade de maior afirmação do espírito público e de seus compromissos com o coletivo.

Aluizio Alves, um grande homem público para o seu Povo, em especial, mas sem nunca perder de vista os interesses do Brasil, narra em seu livro de memórias a grande decepção que foi, a seu ver, para o Rio Grande do Norte a assunção de João Café Filho à Presidencia da República.


Café Filho, um deputado do Rio Grande do Norte, foi indicado por Adhemar de Barros para compor a chapa de Getulio Vargas, em 1950, representando a região nordeste.

Adhemar vinha há tempos armando para ele ser o candidato a Presidente apoiado por Getulio.


Ocorreu a onda queremista, queremos o gêgê de volta, bota o retrato do velho no mesmo lugar, Getulio, muito sabido, fingia-se de morto em sua fazenda em São Borja, no Rio Grande do Sul, esperando o momento certo para se declarar candidato.

Dutra, o General que dava linha e cerol para Victorino Freire empinar e empepinar o que quisesse no Maranhão, era o Presidente no cargo, eleito com o apoio de Getulio. Não havia reeleição, era a hora de retribuir.


Adhemar, que tinha muito dinheiro, e até um partido bem organizado, o PSP/Partido Social Progressista mas nem tanto voto, o que prova mais uma vez que ter partido na mão e muito dinheiro ainda não é tudo, não quis ser o Vice de Getulio.

Indicou João Café Filho, um deputado de muito respeito no seu partido.

O Vice de Getulio fazia um tipo laite, sorriso aberto, gostava da companhia de jornalistas e intelectuais. Escrevia bem, era bom orador, não tinha diploma de curso superior. Gostava de colaborar com os jornais.

Ele próprio, Café Filho, mantinha um jornal na sua província, o Jornal do Norte, impresso nas oficinas de A Opinião, de linha editorial oposicionista.

Esse Jornal do Norte, de Café Filho, entrou para a história da imprensa brasileira exatamente no dia 25 de agosto de 1954, um dia após Getulio Vargas ter deixado a vida para entrar na história, como disse em sua Carta Testamento.

Horas após se ouvir o tiro com o qual Getulio abateu a si proprio, manhã bem cedo, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, fervilharam edições extras de jornais em todo o País e as manchetes não eram muito diferentes – Getulio Morto, Brasil Chora a Morte de Getulio, Ao Odio Respondo com o Perdão, ultimas palavras de Vargas antes de se suicidar com um tiro no peito...

O Jornal de Café Filho, o Jornal do Norte, festejando, não deixou por menos – Assume a Presidência da República o Nosso Diretor!

Aluizio Alves era Deputado Federal, conhecia Café de velhos tempos, desde os movimentos populares em que atuavam na juventude contra as velhas oligarquias norte-riograndenses.

Vivendo vida dificil, Café Filho trabalhou como comerciário, estudou eletrotecnica, não conseguiu por falta de dinheiro concluir o Curso de Direito em Recife, prestou concurso para advogado provisionado perante o Tribunal de Justiça em Natal/RN e logo ganhou fama no novo oficio, uma espécie de Brossard dos pobres.

Passadas as tristezas das exequias, Getulio sepultado em São Borja/RS, logo os olhares e os interesses gerais se voltam para a figura de Café Filho, o novo mandatário da Nação.


Aluizio organiza uma visita dos deputados do Rio Grande do Norte ao conterraneo Presidente da República, a quem reivindicam uma linha de transmissão de energia elétrica para o Estado deles.

O Presidente Café, cheio de pruridos, cortou na hora. Não queria ser acusado de favorecimentos politicos ao seu Estado.

Naquele tempo, haviam pruridos e a ética de tão radical temia acusações de favorecimentos politícos, mesmo em questões de interesse coletivo.

Aluizio me disse uma vez em Natal, mais enfático do que no livro, que a pior coisa para o Rio Grande do Norte foi ter tido Presidente da República.

O Estado era pobre e continuou pobre, não se avançou em nada em termos de desenvolvimento. E a indignação do Povo só fez crescer.

Perguntei a Aluizio, em seus pra lá de 80 anos, que já havia sido tudo na vida pública, exceto Senador e Presidente da Republica, quem foi para o Rio Grande do Norte o melhor Presidente.


John Kennedy, respondeu, no tempo em que eu fui o Governador. Tudo que eu queria, era com ele.

Kennedy chegou a mandar o irmão dele, Bob, a Natal para inaugurar obras da parceria Estados Unidos/Rio Grande do Norte, leia-se Aliança Para o Progresso.

Houve um caso curioso. No meio da multidão, Bob deu por falta de um broche de ouro com pedra de brilhante, objeto de estimação, um prendendor de gravata. No palanque, Aluizio falou que o Bob havia perdido o broche. Não demorou, o broche apareceu.

Era assim imbativel a popularidade da dupla Aluzio-Kennedy, que ja tinha agendado visita a Natal quando resolveu ir antes a Dallas, TX.

Explica-se esse prestígio enorme de Aluizio Alves com John Kennedy. Natal fora base militar importante dos Estados Unidos na segunda guerra mundial.

O Presidente Rooselvet chegou a ir lá para um encontro com Vargas. Correu mundo a foto dos dois, de chapéu, sol tinindo, num jipe sem capota.Os americanos registram essas coisas e ficam sempre gratos.

Café Filho nem terminou sua presidencia, foi tirado de forma melancólica, acuado por golpes e contra golpes à ordem democratica que se antepunham à posse do Presidente eleito Juscelino Kubstcheck.

Escreveu um livro – Do Sindicato ao Catete, mas não se soube que quisesse entrar para a Academia Brasileira de Letras. Não quis saber de museus, nem do proprio tumulo. Viveu frugalmente, morreu pobre.

Os pruridos naqueles tempos eram outros.

Agora, desatentos ao conselho de Noel Rosa – antes da vitória, não se deve cantar glória, voce criou fama, deitou-se na cama, porta-vozes da oligarquia que ainda tem no bolso o Amapá e ainda insiste em querer continuar seus desmandos no Maranhão, já trombeteam o fim da candidatura do Senador Tião Viana à Presidencia da Mesa do Senado.

Lembrei-me do Aristeu, um carregador de malas no aeroporto de Teresina, quando o boeing presidencial aterrizou trazendo o corpo do Senador Petronio Portela para ser enterrado no Piaui.

Essa gente quanto mais sobe na vida mais se esquece dos pobres... Falou indignado o Aristeu।

Depois da morte de Petronio, que era um bom homem, bem - intencionado e honesto, que havia sido Deputado, Governador, Senador, Presidente do Senado, quanto tempo ainda demorou a oligarquia dos Portelas e dos Nunes no Piaui, que só causou pobreza ao Povo e atrasos ao Estado?

Foi cair outro dia, com o Mão Santa, consolidando-se a queda com a eleição do Wellington, do PT.

A carta que o Deputado Domingos Dutra, do PT do Maranhão, enviou ao Senador Tiao Viana, do PT do Acre, escancarando tudo, traz ainda para bem mais perto as mazelas dessa sucessão para a Mesa do Senado.

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