sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Hélcio Silva Entrevista

Hélcio - O deputado Ricardo Murad está divulgando um parecer que garante a posse da senadora Roseana Sarney, em caso da cassação do diploma do governador Jackson Lago.

Vidigal – Não conheço o Parecer. Não tenho opinião.

Hélcio - O ministro Vidigal acredita na cassação do diploma do governador?

Vidigal – Fui Ministro do TSE, e até Corregedor Geral, e nunca vi tanta falta de respeito com uma Corte de Justiça como essa que estamos testemunhando diariamente há quase dois anos aqui no Maranhão.

Desde quando ingressaram com a ação que alardeiam que o resultado será favorável a eles. Ora, isso é inaceitável. É desrespeitoso com os Ministros do TSE. Mas eles já devem estar sabendo disso.

E o pior é que aqui no Maranhão tem os que morrem de medo e acreditam nesse despautério, nessa força que se diz superior, não de todo invisível.

Mas por que será que há quase dois anos eles tentam cooptar lideranças políticas do interior garantindo que o TSE vai cassar os diplomas do doutor Jackson e do seu Vice, o Pastor Porto?

Porque o Relator do caso já tem convicção firmada? Mas como, se os autos nem estão conclusos? E a decisão não será de um colegiado? Tudo blefe, mentira, intimidação. Estão querendo é futucar a vara com a onça curta... (É assim mesmo, ao contrário.)

Hélcio - Em caso de ocorrr a cassação, a senadora Roseana assume o governo?

Vidigal – Não assume. A nova ordem constitucional determina que todo o poder emana do povo que o exerce por meio de representantes eleitos e ela não foi eleita.

No caso dos governadores, só pode exercer o cargo quem obteve maioria absoluta de votos e ela não obteve a maioria absoluta. O tira-teima foi o segundo turno e ela foi derrotada no segundo turno.

Admitindo-se, por absurdo, só para argumentar, que os diplomas do Governador e do Vice eleitos sejam cassados, opera-se então a vacância dos dois cargos. Nessa hipótese, a ordem constitucional é para que se faça nova eleição.

As regras que garantem a legitimidade da representação popular na democracia não são as do futebol. No direito constitucional eleitoral não tem vencedor por WO.

Hélcio - Ministro Vidigal, muita gente ainda hoje pergunta porque o Vidigal rompeu com o Sarney. Não seria agora o momento para esclarecer esse rompimento político?

Vidigal – Não rompi com ele, que foi um dos primeiros a saber por mim, de minha viva voz, da minha decisão de renunciar à Presidência do STJ para me candidatar a cargo de Governador do Maranhão.

Me achava pronto, maduro, para empreender a transição do nosso Estado para o século 21.

Ele ria, dizia que da Presidência do STJ eu iria para o Supremo e foi achando graça até que eu retornei ao Maranhão, vinte anos depois de afastado da política partidária, para disputar as eleições.

Na Convenção Nacional do PT, que relançou o Lula, em Brasília, nos cumprimentamos com a cordialidade de sempre.

Ali eu já era candidato ao Governo e ele caçoava de mim dizendo aos meus amigos, que perguntavam por mim, que eu iria fechar a campanha com um crescimento de 300%. Como? Ele explicava jocoso – começou com 1%, vai terminar com 3%.

Quando a filha dele perdeu no primeiro turno, e ele viu que eu obtive quase 15% dos votos, o que foi decisivo para a derrota dela, e o meu apoio ao Jackson no segundo turno confirmaria isso, quando ele viu o grande erro de ter, mais uma vez, me subestimado, se danou a falar mal de mim e da Eurídice.

Deixou de me cumprimentar, foge de mim nas solenidades em Brasília para não ter que falar comigo, e eu ainda assim rezo toda noite pela alma dele.

Falar mal de mim não me incomoda nem um pouco. De muita gente para quem hoje bate palma ele já falou mal, e muito mal, também. O Lula, por exemplo.

Pouco antes de ser oficializado Vice do doutor Tancredo, ele me pediu para ajudá-lo a reatar a amizade com antigos companheiros com os quais havia rompido.

Me disse que não queria morrer brigado com ninguém.

E foi fazendo a lista – Cafeteira, tu ainda te dá com ele? La fui eu atrás do Cafeteira, e eles reataram. Milet, tu te dá bem com ele? Lá fui eu atrás do Milet (o antigo líder das oposições coligadas indispensável à vitoria eleitoral de 1965) e eles se entenderam. José Salomão, um dos seus antigos financiadores de campanha, tu ainda te dás bem com ele? E La fui eu atrás do Salomão e eles se acertaram.

E o Sabóia? O Professor Pires Saboia, um dos seus grandes benfeitores. Ainda te dás bem com ele? La fui eu junto com o Alexandre (Costa) acalmar o Sabóia e trouxemos o Professor e eles reataram o convívio.

Depois eu ainda brinquei – me dou bem também com o Dominguinhos (Freitas Diniz)... aí ele riu, chega, até aqui está bom.

Eu sou civilizado, odeio o ódio. Nos redemoinhos da vida, eu viro fácil a página do livro, só que eu não jogo o livro fora.

Hélcio – Por falar em livro, o ex Deputado Eliézer Moreira, que como você era ainda um jovem quando se juntou ao grupo Sarney, publicou dois livros sobre o período.

O doutor Haroldo Tavares, ex Secretário de Obras do Governador Sarney, está escrevendo e dizem os que sabem que virão à tona grandes revelações.O Vidigal não vai escrever um livro?

Vidigal – Vou mas não vai ser agora. Nesses mais de quarenta anos reuni milhares de documentos. Foram dois caminhões de mudança só com livros e arquivos vindos de Brasília. Vou precisar de algum tempo para organizar isso tudo.

Hélcio – Eu sei que por hábito antigo de jornalista, você antes de escrever vai logo pondo o título. Qual o título do livro?

Vidigal – "Sarney, Bem de Perto"... E a epígrafe vai ser aquela frase atribuída ao Rubem Braga quando, em Fortaleza, num calor dos infernos tirou a camisa e soltou a barriga suando que nem tampa de chaleira, ele recebeu no hotel um grupo de jovens intelectuais.

Os rapazes pareceram meio chocados como se duvidassem – mas é este velho sem modos, o famoso Rubem Braga?

O sabiá da crônica, como já era conhecido, percebeu o mal-estar e soltou a frase genial que iria marcar para sempre, como advertência, os fãs de todos os clubes – "Não se aproxime muito do seu ídolo porque você pode sofrer uma decepção".

Hélcio - Amigo Vidigal, falando de amigo pra amigo, mesmo te conhecendo muito bem como escritor, poeta e jornalista não podes negar a esse velho amigo a tua paixão pela política, não acreditando, por isso, estejas afastado das disputas eleitorais. Assim sendo, qual é o teu projeto político? Que eleição o Vidigal vai disputar?

Vidigal – Minha decisão de voltar a morar no Maranhão é indissociável da minha vontade de contribuir com a minha experiência para a melhoria das condições de vida do nosso Povo neste Estado.

Acredito que as mudanças para melhor só começarão a acontecer quando for totalmente removido o atraso político no Maranhão. O atraso político é o maior obstáculo, do qual decorrem os outros atrasos.

Temos que ouvir as pessoas na capital, no interior, onde elas estiverem. Precisamos sentir a verdade delas, buscar identidades mais realistas com elas. Precisamos antes de tudo de um projeto de Estado para o Maranhão.

Precisamos encontrar o diferencial. O paternalismo de Estado e o clientelismo político são os grandes inimigos do desenvolvimento. As pessoas precisam estar livres no pensamento e na ação. E tem que ter os seus espaços próprios para a disputa legítima das oportunidades.

Não tenho projeto eleitoral. Existem muitas formas de servir ao Povo no nosso tempo. Ter participado da última eleição para Governador e obtido o resultado sem o qual esse começo de mudança não teria acontecido foi sacrificante para mim e minha família mas foi uma forma confortadora de servir. Se eu conseguir um espaço como ativista político, um agitador de idéias, como nos tempos da juventude, já estarei prestando bons serviços.

(Hélcio Silva é jornalista. Escreve uma página aos domingos para o jornal "Atos e Fatos", de São Luis, MA. e para o saite de Mário Lincoln, de Curitiba, PR. - www.mariolincoln.jor.br)

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