terça-feira, 1 de julho de 2008

Viva o João, Viva!

As pessoas quando o vêm logo se encantam com o seu olhar maroto, a sua alegria que não pára, como se ele fosse o único ainda capaz de segurar os anúncios da confiança, confiança sem a qual não adianta falar em fé, em esperança.

O João tem carisma.

As mulheres então, nem falar. Parece amor à primeira vista. Como elas se encantam e vão logo afinando a voz para um falar num tom mais carinhoso. E aí não poupam adjetivos, é de meu lindo para cá, meu fofo para lá.

Não sei como, no fundo, nos seus meandros mais recônditos, ele encara tantas declarações e assédios. Mas é interessante notar que não deixa por menos. Seu sorriso largo de dentes alvos, alguns pontiagudos, não intimida, ao contrário, espraia alegria e confiança.

Acho que é assim porque as crianças são as que mais se encantam à primeira vista com o João. De onde ele tira tanta simpatia para ser tão popular, mas sem ser populista, eu não sei.

Às vezes, olhando para os seus movimentos, fico querendo adivinhar qual vai ser a próxima. O João tem muita energia, o que me faz lembrar, nem sei porque, o General De Gaulle. Bom, acho que sei. O grande herói da resistência francesa era conhecido por sua incansável energia.

Pessoas que conviveram muito próximas, em diversos momentos de sua carreira militar e política, disseram que a sua energia era algo incomparável. Para alguns, não passou de um grande chato que a história acolheu num bom camarote.

Roosevelt disse uma vez estar cheio de De Gaulle. Kennedy falou que tinha grande dificuldade para compreende-lo. Churchill o chamou de egocêntrico e arrogante. Charles de Gaulle, é bom lembrar, sobreviveu a todos eles. Charles De Gaulle era assim mesmo, egocêntrico, enérgico, obstinado.

O João, é claro, nem de longe, mas nem de longe mesmo, pode ser ombreado. Não é que não o tente e tanto se esforce. Não chega a ser um chato, mas é também, nos seus limites, um obstinado. Por exemplo, hoje conseguiu levar do meu escritório por duas vezes o mesmo livro, sem que eu percebesse.

Sabe aqueles livros pelos quais você se interessa na livraria e compra e depois esquece em algum lugar e depois ficam esquecidos mesmo? Pois eu nem me lembrava que tinha em casa A Arte da Palavra, de Gabriel Perissé.

Quando olhei, na primeira vez, o João ia saindo sorrateiramente com o livro. Como não entro em cinema só pelo título do filme, não compro livro só pelo que diz a capa.

Por que então eu teria comprado um livro com esse título? Folheando agora, vejo um interessante depoimento de Clarice Lispector. Ah, então deve ter sido por isso que eu comprei. Estamos em tempos de Clarice. As pessoas estão comprando tudo que ela disse, escreveu ou o que dizem dela.

Deixa o livro aí, João. Separei juntando A Arte da Palavra àqueles que a gente sempre acha que uma hora dessas vai ler. Precisei ir rápido ao Tribunal e quando voltei não foi bem uma queixa. O comentário foi de admiração pela obstinação do João, que voltou ao escritório, pegou o mesmo livro e sumiu.

Quando o encontraram, já havia arrancado a capa de A Arte da Palavra e saboreava, acreditem, uma coca zero de lata. Resgatado o livro, o João agora, resfolegante que nem resfolego de sanfona, me olha com seu olhar maroto e ingênuo, os olhos cor de chocolate ou de mel.

Catarina, vem cuidar do João. Aqui em casa quem parece não gostar mesmo de trégua é o João. Não sei se existe guri labrador mais danado que o João. É tempo de João, viva São João!

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