terça-feira, 8 de julho de 2008

O Inferno de Dantas e A Força de Dona Maria Helena

Por Roberto Cordeiro

Parece que a Polícia Federal conseguiu colocar o banqueiro Daniel Dantas, dono do Opportunity, atrás das grades. Figura carimbada no mundo financeiro brasileiro, Dantas é artífice das mirabolantes engrenagens financeiras que ganharam destaques há exatos dez anos com a privatização do Sistema Telebrás. Naquele mês de julho de 1998, Dantas engendrou um plano para arrematar aquilo que se apelidara de Telemato, ou seja, a atual BrasilTelecom.

E fez isso com o dinheiro de outros, inclusive fundos de pensão de empresas estatais. Dantas nadava de braçadas. Se me lembro bem, à época, o governo federal voltava-se as baterias contra os compradores da Telemar, que levaram o butim a preço de liquidação, inclusive com aporte de dinheiro do BNDES. Sim, o banco ficou sócio – não sei se o é até os dias atuais – de um naco de 25% da operadora de telefonia fixa, que depois expandiu para outros segmentos, como a Oi (telefonia móvel) etc e tal.

Na mesma ocasião, a Folha de S. Paulo publicou matéria sobre grampo telefônico no BNDES envolvendo o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros e outros auxiliares mais próximos. A “escuta” clandestina (grampo) tentava mostrar as articulações sobre participação de empresas e montagens de consórcios. Isso tudo é de domínio público.

Com o passar dos meses, anos, outras engrenagens desta peça foram se destacando no mercado. Os fundos de pensão, sob a liderança da Previ – dos funcionários do Banco do Brasil – começaram a se articular. Já se propalava a mudança da cadeira no Palácio do Planalto. O sociólogo Fernando Henrique Cardoso era sucedido pelo metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva.

Dantas continuava a gravitar nos bastidores do poder. Sempre buscando os aliados de momento. No Planalto, um auxiliar de Lula incomodaria o banqueiro: Luiz Gushiken. Então, o que diz uma versão sobre o poderio de Daniel: ele se aproxima do publicitário (ou seria ex) Marcos Valério, que por sua vez se aproxima de Delúbio Soares, que por sua vez se mostra para o todo-poderoso José Dirceu, na ocasião ministro da Casa Civil.

Gushiken atrapalhava os planos de Dantas e tinha que ser retirado do caminho. Então, os subterrâneos de Brasília produziam histórias das mais mirabolantes que ganhavam as páginas da mídia e os tubos de imagem das emissoras e as ondas das rádios. Tudo assim, como uma onda sonora, levada por “jornalistas” contratados a peso de ouro. Jogar pesado para retirar do caminho toda e qualquer pessoa que possa atrapalhar os planos.

Reservo-me ao direito de não citar nomes, mas encontrava-me no Rio de Janeiro, semanas antes de surgir o escândalo do mensalão. Um telefonema informava a existência de “grampos”, espionagens e tentativas de intimidação. Era a forma que o grupo havia encontrado para não perder o embate pelo controle da BrasilTelecom.

O batalhão de advogados deve tentar habeas-corpus para livrar o cliente Dantas da carceragem da PF. O que se espera é que o juiz mande verificar nos arquivos do Poder Judiciário se há outro pedido de prisão contra o banqueiro antes de qualquer decisão. É, parece que Dantas encontrou o próprio inferno… E outros, do grupo dele, caíram em desgraça bem antes… É a força de dona Maria Helena…

(Roberto Cordeiro, Jornalista em Brasilia, foi Assessor de Imprensa da Presidencia do STJ (2004/06). Editor do Blog Diário de Bordo, www.wordpress.com

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