sexta-feira, 20 de novembro de 2020

O custo da pirraça

Como sempre, Bolsonaro tentou transferir uma responsabilidade que é majoritariamente de seu governo. E ainda tratou países europeus como receptadores de produtos roubados.

O presidente Jair Bolsonaro usou a mais recente cúpula do Brics para atacar os países europeus que criticam a política ambiental de seu governo. Não eram nem a hora nem o lugar apropriados para isso, mas Bolsonaro jamais se preocupou com esses detalhes protocolares que regem a relação civilizada entre os países, especialmente quando se trata de exercitar sua diplomacia da pirraça. No entanto, é difícil saber que interesses do Brasil foram defendidos por Bolsonaro quando este, em seu dialeto peculiar e claramente de improviso, decidiu denunciar “países que tenham importado madeira de forma ilegal da Amazônia”, ressaltando que “alguns desses países são os mais severos críticos ao meu governo tocante a essa Região Amazônica”.

A manifestação de Bolsonaro, em lugar de aplacar as críticas, prejudica ainda mais o Brasil. Expõe a precariedade da fiscalização e da aplicação da lei sobre a extração de madeira, acentuada durante o atual governo – que trata a preocupação ambiental como entrave ao “progresso”.

Em primeiro lugar, a maior parte da madeira extraída da Amazônia, cerca de 90%, é vendida no próprio mercado brasileiro. Ou seja, o problema é majoritariamente local e demanda uma ação firme das autoridades daqui mesmo, e não de outros países, para combater os madeireiros ilegais. Em segundo lugar, foi o próprio governo de Bolsonaro que afrouxou a fiscalização e as exigências burocráticas sobre o comércio de madeira, o que facilitou sobremaneira a exportação irregular.

Os países importadores de madeira brasileira não têm como saber se o produto que estão comprando com papelada aparentemente em ordem é ilegal. Nenhuma tábua entra em navio sem documentação oficial do governo brasileiro, emitida pelos órgãos fiscais e ambientais competentes.

Em março passado, o governo Bolsonaro eliminou a exigência de autorização específica para a exportação. Desse modo, ficou mais fácil “esquentar” madeira extraída de forma criminosa, sobretudo em reservas ambientais e indígenas. Estima-se que 90% da madeira exportada pelo Brasil possa ser, na prática, ilegal.

Essa é precisamente uma das principais razões pelas quais vários países europeus vêm pressionando o Brasil a melhorar seus controles sobre o desmatamento. Em quase todo o mundo, mas particularmente na Europa, os consumidores cobram de seus governos que só autorizem a compra de produtos de outros países se houver certeza de que sua produção envolveu as melhores práticas ambientais. No caso da madeira brasileira, em razão da leniência do governo em relação aos madeireiros, a desconfiança é crescente.

Assim, se o interesse de Bolsonaro fosse mesmo melhorar a imagem do Brasil e calar os críticos, o primeiro passo seria acionar a máquina do Estado, que ele comanda, para fazer valer a legislação ambiental brasileira, que é exemplar. Em lugar disso, preferiu, como sempre, transferir a terceiros uma responsabilidade que é majoritariamente de seu governo. E ainda tratou países europeus, importantes clientes da indústria e da agricultura brasileiras, como receptadores de produtos roubados.

Sugerir que países como Alemanha e França são cínicos ao criticar a política ambiental do Brasil enquanto compram madeira ilegal é tão imprudente quanto inútil, razão pela qual a única serventia do discurso improvisado de Bolsonaro no Brics só pode ter sido a de excitar os camisas pardas bolsonaristas nas redes sociais, tristonhos com a surra eleitoral que seu líder levou no domingo passado.

O resultado prático da bravata bolsonarista é que provavelmente as exigências europeias para autorizar a compra de madeira brasileira, que hoje já são bastante duras, ficarão muito mais rigorosas, reduzindo o mercado para os madeireiros que trabalham dentro da lei e que têm nas exportações seu principal ganho em valor agregado. Atabalhoado como sempre, o presidente colocou no mesmo patamar empresários corretos e desmatadores criminosos. Dessa confusão, Bolsonaro espera extrair dividendos políticos – e o faz, como sempre, à custa do País.

Editorial de O Estado de São Paulo, edição de 20.11.2020

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

De Trumpiniquim a maricocéfalo

Por Eugênio Bucci

Maricas é quem só usa palavras dóceis, como as de Bolsonaro para Trump: ‘Love’

Pertencente à grande nação tupi, o povo tupiniquim foi o primeiro desta terra a descobrir os portugueses. Quando caravelas lusitanas aportaram no litoral do continente que agora habitamos, os navegantes deram de cara com os tupiniquins. Não se sabe bem que histórias contaram os índios, de geração em geração, sobre o dia em que descobriram Pedro Álvares Cabral, mas o nome deles virou um sinônimo “brasileiro”. Com razão.

No mais das vezes há um viés jocoso nessa acepção da palavra. Normalmente, quando dizem que isso ou aquilo é uma versão “tupiniquim” de uma mercadoria ou de uma ideia vinda de fora, querem dizer que ela é pior que a original estrangeira. Portanto, na fala do brasileiro que desvaloriza o próprio brasileiro quando usa a palavra “tupiniquim” como um termo pejorativo existe um preconceito contra si mesmo, um impulso autodepreciativo.

É bem verdade que outras vezes a memória da nossa ancestralidade indígena não tem preconceito algum, mas o contrário. Quando sabe devorar a identidade do outro que, chegado de “Oropa” ou França, cai na Bahia com más intenções, o brasileiro não se desvaloriza em nada, mas cria valor novo para si. O Manifesto Antropófago, proclamado por Oswald de Andrade em 1928, o “ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha”, defendeu com ênfase esse tipo de mastigação simbólica. As chanchadas no cinema brasileiro, que tantas paródias fizeram para caçoar dos galãs empostados de Hollywood, também tinham que ver com isso, embora sem o apetite revolucionário de Oswald. Se você consegue rir do opressor, meio caminho gástrico andado. “A alegria é a prova dos noves.” Assim, se o uso autopreconceituoso do termo “tupiniquim” internaliza no brasileiro a opressão vinda de fora para dentro, a antropofagia política e cultural vira a opressão do avesso e, de dentro para fora, gargalha.

Tudo isso para perguntar o seguinte: quando imita Donald Trump com tanta paixão, quando posa de cover do seu ídolo imperial, o atual presidente da terra dos tupiniquins incorre numa vertente do autopreconceito ou está apenas exercendo seu suspeito direito de fazer da política uma paródia? Devemos olhar para ele – para o presidente daqui – como um personagem que despencou de uma chanchada fora de cartaz há décadas, mais ou menos como um lobisomem de filme de Mazzaropi, ou como um vassalo voluntarista oferecendo solicitudes não solicitadas ao senhor estrangeiro que o despreza? A atitude do brasileiro que quer ser um Trump tropical fortalece ou desmerece o Brasil? Há nele um piadista de mau gosto ou um índio encarcerado que sonha em se fantasiar de Pedro Álvares Cabral para se olhar no espelho? No caso do presidente local, de quem é o preconceito? E contra quem é?

Antes de respondermos – o que, aliás, talvez não seja necessário –, levemos em conta que a divindade blonde foi destronada, o que solapa não o chão de seu servo, que pés no chão nunca os teve, mas o poleiro em que ele se dependura, pelo lado de baixo. O que estamos vendo é uma tragédia amorosa escancarada, explícita, cheia de dilacerações e lágrimas. O subalterno vai perdendo o objeto do desejo à medida que o poleiro perde a materialidade. O sôfrego adulador não reconhece que o cetro ao qual devota sua reverência genuflexa está sumindo do horizonte. Entra em desespero sentimental. Não reconhece a perda de poder em seu amo e patrão.

O espetáculo inspira pena. Quanta dor. Dia destes, o presidente dos tupiniquins usou a palavra “love”. Em seu vocabulário, o termo “love” mora no coração do termo “obediência”. Incondicional. O escritor austríaco Leopold von Sacher-Masoch concordaria. Em via de perder o ser idolatrado, o ser idolatrante enlouquece em seu fetiche adente. Sua fantasia não era devorar, nunca foi. Sua fantasia mais sublime era ser devorado. O que fazer agora? Ele entra em pane. Entra em parafusos abstratos. Endoida. Fica fora de controle. Então, para assombro dos mortais, o homem começa a falar em maricas. Ele grita: “Maricas!”. Haja maricas. O presidente destampa a sua obsessão pelo vocábulo. Ele, que nunca pensa coisa alguma, agora só pensa em maricas.

O que vem a ser isso, “maricas”, em tão presidencial vocabulário? Em primeiro lugar, o termo denota algo – no referido vocabulário – como falta de valentia. No mesmo léxico, tem que ver com “bundão”, palavra já pronunciada publicamente pela mais alta autoridade da República para insultar os jornalistas e os que adoecem com a covid-19. “Quando pega num bundão de vocês, a chance de sobreviver é bem menor”, disse ele aos repórteres em agosto. “Maricas” é quem não usa pólvora, só saliva, só palavras dóceis, como as dele para Trump. “Love”.

Niquim é o nome indígena de um peixe marinho de corpo mole e cabeça achatada (Thalassophryne nattereri). A palavra, de origem tupi-guarani, significa feio (ni) e espinhoso (quim). Com cerca de 15 centímetros quando adulto, o niquim gosta de ficar parado no fundo de areia em águas rasas. Tem espinhos venenosos no dorso. Se você pisa nele, bem, pode ser um aborrecimento e tanto. Caminhemos com cuidado.

Eugênio Bucci é Jornalista e Professor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de S~~ao Paulo. Este artigo foi publicado originalmente em O Estado de São Paulo, edição de 19.11.2020.

O ataque dos maricas

Por Luís Fernando Veríssimo

Não fica claro, no discurso, se trata-se apenas de quem tem medo de morrer

O FBI, a CIA e outros órgãos da inteligência americana têm tido dificuldade em entender os relatórios que recebem dos seus agentes no Brasil. Discursos e manifestações do presidente brasileiro são monitorados regularmente, mas, de uns tempos para cá, isso tornou-se uma tarefa problemática. Para começar, ninguém parece saber quem realmente é o presidente do Brasil e faz as declarações que intrigam os agentes americanos. Há quem diga que o presidente é Hamilton Mourão, outros dizem que é Paulo Guedes, outros têm certeza de que é José Simão, e ainda outros sustentam (a opção menos provável) que é Jair Bolsonaro ou um dos seus filhos. O jeito é monitorar todos ao mesmo tempo. O objetivo é detectar e prevenir qualquer ameaça à segurança dos Estados Unidos.

Uma recente fala presidencial de improviso aumentou a confusão. Os termos do pronunciamento ainda estão sendo estudados. Eles podem indicar que o Brasil prepara-se para invadir os Estados Unidos e:

a) manter o Trump no poder, cercando a Casa Branca e repelindo qualquer tentativa de retirá-lo de lá a cusparadas — o que explicaria a críptica referência à saliva transformando-se em pólvora, no discurso do presidente;

b) sequestrar o Biden, disfarçá-lo com uma peruca loira, soltá-lo no meio de uma manifestação contra o racismo e correr atrás dele gritando “É o Trump! Pega! Pega!”.

Os analistas americanos também tentam decifrar o sentido da palavra “maricas”. Não fica claro, no discurso, se “maricas” é apenas quem tem medo de morrer e, portanto, é um desprezível, ou se o presidente estava fazendo uma ameaça velada aos americanos, avisando que brasileiros maricas podem ter medo de morrer e horror a baratas, mas não os desafiem, eles podem ser ferozes. Os americanos decidem que um ataque dos maricas virá e preparam suas defesas. A segurança nas fronteiras é reforçada. Todos devem ficar atentos a grupos barulhentos que lotam os aeroportos . São os maricas que chegam.

Luís Fernando Veríssimo é escritor. Este artigo foi publicado originalmente em O Globo, edição de 19.11.2020.

Com números da covid-19 em alta, Brasil tem 606 mortos e 35,9 mil infectados em 24h

Em um momento em que o número de casos e mortes pela pandemia de coronavírus voltam a subir, o Brasil contabiliza oficialmente 5.981.767 pessoas com covid-19 e 168.061 mortes, segundo o boletim mais recente do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass), divulgado nesta quinta (19/11).

Deste total, 35.918 casos da doença e 606 óbitos foram registrados nas últimas 24 horas.

O Estado com o maior número de vítimas fatais segue sendo São Paulo (41.074), seguido por Rio de Janeiro (21.806), Minas Gerais (9.648) e Ceará (9.467).

O Brasil continua como o segundo do mundo com maior número de mortes na pandemia do novo coronavírus, depois apenas dos Estados Unidos, que têm mais de 251,7 mil mortes pela covid-19, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins.

O Brasil foi superado em número de casos, entretanto, pela Índia (8,9 milhões), agora em segundo lugar depois dos Estados Unidos (11,6 milhões).

BBC News Brazil

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Investigação sugere elo entre grupo que tentou derrubar site do TSE e bolsonaristas

Ataque teria como objetivo "inocular na população o vírus da dúvida” sobre as eleições. Na darkweb, tentativa semelhante de ofensiva hacker custa apenas 1.000 dólares e é paga com bitcoins

O presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, durante entrevista coletiva no dia 16, em Brasília. Foto de ANTÔNIO AUGUSTO / ASCOM/TSE

Ataques como o que sofreu o site do Tribunal Superior Eleitoral na manhã de domingo, durante o primeiro turno das eleições municipais no Brasil, custam apenas 1.000 dólares (cerca de 5.400 reais) em redes clandestinas de hackers. Essa compra ilegal pode ser feita na darkweb e até em sites abertos ao público sediados no exterior, com o pagamento por meio da moeda virtual bitcoin, que é mais difícil de ser rastreada. É um tipo de ataque de negação de serviços no qual redes de computadores zumbis, infectados por vírus e manipulados sem que seus donos saibam, tentam promover milhares de acessos simultâneos a um portal com o objetivo de retirá-lo do ar. Os dados foram levantados a pedido do EL PAÍS pela ONG SaferNet, que enxerga no ataque deste domingo a intenção de abastecer teorias conspiratórias.

No caso do site do TSE, o ataque foi de 30 gigabites por segundo durante uma hora. No período, era como se 436.000 computadores tentassem acessar a página a cada segundo. Ele foi repelido, e causou apenas uma lentidão nas informações acessadas no portal. Mas só a notícia de que o site estava sob risco já gerou um tsunami de teorias conspiratórias de que toda eleição poderia ser fraudada

Uma apuração iniciada pela SaferNet, que tem parceria com o Ministério Público Federal no combate à desinformação, mostra que a tentativa de derrubar o site do TSE teve uma ação coordenada que tinha como objetivo final desacreditar as eleições. E, entre os divulgadores das informações falsas difundidas poucos minutos ao ataque, estavam dezenas de militantes bolsonaristas, alguns deles investigados nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos, que tramitam no Supremo Tribunal Federal.

A conclusão da SaferNet é que o ataque foi uma operação em cadeia, iniciada em outubro, quando um grupo de hackers conseguiu obter informações dos recursos humanos sobre ex-servidores e ex-ministros da Corte. Esses dados só foram vazados por volta das 9h25 de domingo e, às 10h41, começou o ataque. Que foi repelido. Caso conseguisse retirar o site do ar, o efeito obtido seria apenas cosmético, pois não não teria a capacidade de alterar qualquer apuração eleitoral.

É o que o presidente da SaferNet, Thiago Tavares, chamou de “combustível das teorias da conspiração”. “Em caso de sucesso, os atacantes só trariam o inconveniente de a população ficar sem acesso ao serviço por um tempo. É uma operação cujo objetivo não era causar um dano material, mas psicológico. É você criar a suspeita, inocular na população o vírus da dúvida sobre a integridade, a lisura e a segurança do processo eleitoral”, disse Tavares ao EL PAÍS.

As informações obtidas pela equipe da ONG em tempo real no domingo foram compartilhadas com o TSE e com a Procuradoria Geral da República. Nelas há a comprovação que postagens com fake news resultaram em mais de um milhão de compartilhamentos o Facebook e no Instagram, em poucas horas.

Diante desses dados, o presidente da Corte, o ministro Luís Roberto Barroso, encaminhou o documento para a Polícia Federal que abriu uma apuração. O ministro suspeita que houve “uma motivação política na operação” e uma “orquestração para desacreditar o sistema e as instituições”.

“Milícias digitais entraram imediatamente em ação tentando desacreditar o sistema. Há suspeita de articulação de grupos extremistas que se empenham em desacreditar as instituições, clamam pela volta da ditadura e muitos deles são investigados pelo STF”. A rede zumbi envolvia computadores sediados no Brasil, na Nova Zelândia e nos Estados Unidos, conforme a apuração inicial do próprio TSE.

Essa milícia digital aproveitou a crise de imagem do tribunal para voltar a defender o voto impresso e para dizer que as urnas eletrônicas não são confiáveis, apesar de serem usadas há 24 anos no Brasil sem qualquer comprovação de fraude. “Se alguém trouxer um documento, uma prova, de que ocorreu alguma coisa errada, nós vamos imediatamente investigar. Ninguém aqui é apaixonado por urnas eletrônicas, somos apaixonados por eleições limpas”, afirmou Barroso.

Atraso na apuração

Um outro evento que impulsionou a rede de boatos foi o atraso em quase três horas na apuração dos votos. Neste caso, a demora, conforme o TSE, ocorreu porque não foi possível fazer todos os testes necessários no supercomputador que passou a ser usado na totalização dos votos neste ano. Antes, essa apuração era realizada pelos 26 tribunais regionais eleitorais. Neste ano, por sugestão da Polícia Federal, passou a ser centralizado o TSE.

O computador deveria ter sido entregue pela empresa Oracle, que venceu uma licitação, em março. Mas só o foi em agosto. Esse atraso afetou a inteligência artificial da máquina, porque fez com que menos testes fossem realizados, o que comprometeu a conclusão da apuração. “Ele [o computador] aprendeu pouco a entender o fluxo de informação que chega, que é uma quantidade muito alta de dados em um período muito curto”, explicou o secretário de tecnologia da informação do TSE, Giuseppe Janino.

Ainda assim, Barroso minimizou o atraso. Comparou a demora a um carro de fórmula um que precisa parar no box para fazer um reparo e, ainda assim, vende a corrida. “Tem país esperando há 14 dias a divulgação final dos resultados e o mundo não desabou por causa disso”, disse o ministro em alusão ao pleito nos Estados Unidos. Por lá, boa parte dos votos são em cédulas e impressas e, em alguns Estados, a contagem não foi concluída, apesar de o pleito ter ocorrido em 3 de novembro.

Texto de Afonso Benites. Publicado originalmente por EL PAÍS, edição de 17.11.2020


Eleições Municipais 2020: Urnas têm um Bolsonaro eleito e 75 'Bolsonaros' derrotados

O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente da República, foi reeleito para seu cargo na Câmara Municipal do Rio de Janeiro neste domingo (15/11). Ele recebeu 71 mil votos — uma queda de mais de 30% em relação aos 106 mil votos que obtivera. Carlos Bolsonaro também perdeu o posto de vereador mais votado no Rio de Janeiro, que havia conquistado em 2016, para Tarcisio Motta (Psol), eleito com mais de 86 mil votos.

Mas o filho do presidente foi uma exceção entre os candidatos que estiveram nas urnas com o famoso sobrenome de sua família. Um levantamento da BBC News Brasil com candidatos que concorreram com o nome "Bolsonaro" mostra que apenas Carlos teve sucesso.

No total, 76 "Bolsonaros" candidatos a vereador, a vice-prefeito e a prefeito (estes em Jaboticabal e Várzea Paulista, em SP) foram derrotados. Houve também políticos que foram impedidos de usar o nome de Bolsonaro para concorrer.

O presidente também teve um resultado ruim entre os candidatos que apoiou diretamente em suas lives na internet, com dois terços deles derrotados neste domingo.

Entre os candidatos que utilizaram o nome "Bolsonaro", alguns possuem ligação real com o presidente.

É o caso de Rogeria Bolsonaro (Republicanos), ex-mulher de Jair e mãe de Carlos, que disputou uma vaga na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro. Seu nome na urna é "Rogeria Bolsonaro" e no site do TSE seu nome completo aparece como "Rogeria Nantes Braga Bolsonaro".

No passado, em 2000, quando era rompido com Rogeria, Jair Bolsonaro tentou impedir na Justiça a ex-mulher de usar seu sobrenome para concorrer a uma eleição. Na ocasião, ele também lançou a candidatura de Carlos, então com apenas 17 anos, para concorrer e derrotar a mãe. A estratégia deu certo na época, e Carlos foi eleito.

Neste ano, no entanto, Rogéria concorreu com o apoio de seus filhos, que chegaram a ajudá-la, mesmo tendo Carlos também na disputa. E Rogeria, hoje reconciliada com Jair, fez campanha defendendo a gestão do ex-marido na Presidência.

"O homem que diziam não ter competência, (sic) salvou o Brasil em meio a (sic) crise mundial", escreveu ela no Twitter sobre Jair Bolsonaro.

Rogeria não conseguiu se eleger. Recebeu apenas 2.034 votos (0,08%). 

Um parente de Jair Bolsonaro que usou o sobrenome nas urnas também foi derrotado. Marcos Bolsonaro (PSL), que é primo distante do presidente, concorreu a prefeito de Jaboticabal (SP) e recebeu 4% dos votos, ficando em último lugar na disputa.

Outra candidata que usou o sobrenome Bolsonaro nas eleições, sem sucesso, foi Walderice Santos da Conceição, conhecida como Wal do Açaí, que concorreu a vereadora em Angra dos Reis (RJ). Na urna, ela aparecia com o nome Wal Bolsonaro (Republicanos).

Wal era funcionária que constava da folha de pagamento do gabinete de Jair Bolsonaro quando ele era parlamentar, mas foi flagrada pelo jornal Folha de S.Paulo trabalhando em sua loja de açaí na região de Angra dos Reis em horário de expediente. Ela é alvo de uma investigação sobre o caso.

Na eleição de domingo, ela recebeu menos de 300 votos e não conseguiu se eleger.

'Donald Trump Bolsonaro'

A grande maioria dos "Bolsonaros" derrotados eram candidatos nanicos que usaram o nome para puxar votos entre os apoiadores do presidente.

Em diversos casos, a Justiça Eleitoral proibiu o uso do sobrenome Bolsonaro por candidatos que tentaram. Foi o caso de João Santana, do PSL, que queria concorrer ao cargo de vereador em Brusque (SC) com o nome de "Donald Trump Bolsonaro".

A Justiça Eleitoral decidiu que o candidato não era conhecido por esse apelido e portanto rejeitou sua candidatura. Essa foi a mesma justificativa usada em outros casos semelhantes. Com seu nome real, João Santana acabou não sendo eleito.

A BBC News Brasil contou pelo menos dez candidatos "Bolsonaro" que foram impedidos de usar o nome, tiveram suas candidaturas impugnadas ou desistiram.

Mas muitos conseguiram usar o nome sem obstáculos legais.

Em alguns casos, o sobrenome do presidente aparecia apenas como parte de uma alcunha ("Capitão de Bolsonaro", "Gil do Bolsonaro", "Bolsonaro Sergipano", "Rafa Apoiadores de Bolsonaro", entre outros). Mas a maioria optou por usar o sobrenome do presidente como se fosse parte de seu próprio nome.

Um levantamento feito pela BBC News Brasil mostra que houve vereadores derrotados em todas as cinco regiões — e em algumas cidades houve mais de um "Bolsonaro" concorrendo:

Centro-Oeste: Anápolis (GO), Campo Grande (MS), Bataguassu (MS)

Nordeste: Jequié (BA), Salvador (BA), Aracaju (SE), Nossa Senhora do Socorro (SE), Capitão de Campos (PI), Maceió (AL), Dom Basílio (BA), Santaluz (BA), Irecê (BA), Santa Inês (MA), Imperatriz (MA), Camaragibe (PE), Lagoa de Itaenga (PE), Tibaú do Sul (RN), Simão Dias (SE), Santa Cruz do Capibaribe (PE)

Norte: Tomé-Açú (PA), Boa Vista (RR), Manaus (AM), Machadinho D'Oeste (RO), Laranjal do Jari (AP), Cruzeiro do Sul (AC), Palmas (TO), Parauapebas (PA)

Sudeste: Campinas (SP), Belo Horizonte (MG), Guaimbê (SP), São Fidélis (RJ), Ibatiba (ES), Taboão da Serra (SP), Guarujá (SP), Teresópolis (RJ), Ribeirão Bonito (SP), Ilhabela (SP), Jaú (SP), Rio de Janeiro (RJ), Pirassununga (SP), Guarulhos (SP), Iacanga (SP), Angra dos Reis (RJ), Piracicaba (SP), Taiuva (SP), Marechal Floriano (ES), Serra (ES), Conselheiro Lafaiete (MG), Vespasiano (MG), Carapicuíba (SP), Arujá (SP), Ribeirão Preto (SP), São Vicente (SP), Santa Rosa de Viterbo (SP), Dom Roseira (SP), São Domingos da Prata (MG)

Sul: Águas Mornas (SC), Bento Gonçalves (RS), Guaíba (RS), Capão da Canoa (RS), Curitiba (PR), Esteio (RS), Goioerê (PR), Içara (SC), Xaxim (SC)

Daniel Gallas, da BBC News Brasil em Londres

Como agem os inimigos da democracia

Inconformados com a redemocratização não descansarão enquanto não realizarem sua obra deletéria.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, disse que “milícias digitais entraram em ação tentando desacreditar o sistema” de votação e apuração eleitoral, referindo-se aos ataques virtuais sofridos pela Justiça Eleitoral no primeiro turno das eleições municipais. E o ministro foi além: disse que “há suspeita de articulação de grupos extremistas que se empenham em desacreditar as instituições, clamam pela volta da ditadura e muitos deles são investigados pelo Supremo Tribunal Federal”.

Trata-se de grave revelação, que demanda investigação policial e punição exemplar dos envolvidos. A suspeita levantada pelo ministro Barroso mostra que estamos diante de um atrevido repto à democracia.

A estratégia desses criminosos é simples: semear a dúvida sobre as instituições democráticas para desmoralizá-las aos olhos dos cidadãos, fortalecendo o discurso autoritário dos que pretendem governar diretamente com o “povo”, sem a intermediação do establishment político-partidário.

A suspeita sobre a lisura do sistema de votação é central nessa estratégia. Os inimigos da democracia a levantam para questionar a legitimidade do resultado da eleição se este lhes for desfavorável. A rigor, segundo essa narrativa, nem haveria necessidade de eleição, pois o único resultado possível de qualquer consulta popular, desde que não haja “fraude”, é a vitória incontestável dos liberticidas.

Ou seja, se o vencedor da eleição não fizer parte dessa gangue será imediatamente desqualificado como representante do povo e será denunciado como preposto do “sistema”, supostamente desenhado para impedir, por meio de maquinações e conspirações, que a vontade popular seja realizada.

Esse embuste obviamente nada tem a ver com democracia. Oposição é fundamental num regime democrático, mas deixar de reconhecer a legitimidade da vitória eleitoral de um adversário é coisa bem diferente: significa negar a alternância do poder, sem a qual tiranos se perpetuam.

Parece sintomático, assim, que o presidente do TSE tenha mencionado que os suspeitos do ataque ao sistema da Justiça Eleitoral sejam extremistas que “clamam pela volta da ditadura”, pois esse parece ser o fulcro do plano original desses marginais que o bolsonarismo trouxe ao centro da política nacional.

Os inconformados com a redemocratização do Brasil não descansarão enquanto não realizarem sua obra deletéria. As manifestações contra o Supremo Tribunal Federal e contra o Congresso ao longo do governo de Jair Bolsonaro foram apenas um aperitivo do que essa gente é capaz. A criação de um clima de desconfiança generalizada, que esgarça laços de solidariedade e inviabiliza a democracia, é o passo seguinte.

Por isso, é reconfortante saber que a Justiça Eleitoral não somente manteve intacto o sistema de votação, reconhecidamente um dos mais seguros do mundo, como reagiu rapidamente ao ataque que sofreu e indicou de maneira clara que tipo de ideologia criminosa o motivou. Os brasileiros devem saber que suas eleições são limpas, de modo que não pairem dúvidas sobre a legitimidade dos eleitos.

Para que a democracia seja preservada, contudo, é preciso que Jair Bolsonaro, na condição de chefe de Estado, pare de questionar a confiabilidade das urnas eletrônicas, como fez seguidas vezes desde que chegou ao poder e tornou a fazer depois das eleições de domingo passado – como a justificar a acachapante derrota que sofreu.

A mudança de comportamento do presidente é especialmente necessária ante a suspeita de que houve, nas palavras do ministro Barroso, uma “orquestração” contra o sistema eleitoral e as instituições – ou seja, o ataque teria sido realizado apenas com o intuito de alimentar a narrativa segundo a qual o sistema não é confiável – e que essa “orquestração” teria como protagonistas conhecidos manipuladores das redes sociais. Cabe então a Bolsonaro desvincular-se dessa trama, expressando sua confiança no sistema; se não o fizer, estará se prestando ao vergonhoso papel de cúmplice da trama.

Editorial de O Estado de São Paulo, edição de 18.11.2020.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Noronha adia julgamento de recursos de Flávio Bolsonaro para suspender inquérito das ‘rachadinhas’

Ministro disse que recebeu memorial enviado pela defesa do senador e pediu vista (mais tempo) para analisar o caso antes de votar

O ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), pediu vista e adiou o julgamento de três recursos do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) para travar o inquérito que apura peculato e lavagem de dinheiro em seu antigo gabinete na Assembleia Legislativa do Rio, o caso das ‘rachadinhas’. O ato suspende a análise dos pedidos do filho do presidente, que não tem data para serem retomados.

Durante a sessão, o ministro Felix Fischer, relator dos habeas corpus, questionou Noronha sobre o pedido de vista, alegando que ele sequer havia lido seu voto antes do ministro pedir para suspender o julgamento. Noronha respondeu que havia recebido um memorial da defesa de Flávio nesta segunda, 16, e queria ter tempo de analisá-lo por se tratar de um ‘caso complexo, de alta repercussão’.

Ministério Público do Rio liga ‘rachadinha’ a apartamentos de Flávio, aponta valor ‘incalculável’ intermediado por Queiroz e detalha ‘enriquecimento ilícito’ do senador

Noronha, que presidiu o STJ até agosto deste ano, atendeu o governo Bolsonaro em 87,5% das decisões individuais que tomou na Corte, segundo levantamento feito pelo Estadão em junho. Foi o ministro quem livrou da prisão o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz durante o recesso do Judiciário. A medida foi revista por Felix Fischer.


O ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça. Foto: Dida Sampaio / Estadão

O STJ havia agendado para esta terça, 17, o julgamento de três pedidos de Flávio que questionam a fundamentação da quebra de sigilo autorizada pelo juiz Flávio Itabaiana, o compartilhamento de dados entre o Ministério Público do Rio e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) e a validação de provas do inquérito, agora que o senador ganhou foro privilegiado no Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Rio.

Um quarto recurso que também foi adiado por Noronha tratava da ordem de prisão preventiva decretada contra o ex-assessor parlamentar Fabrício Queiroz, que hoje cumpre a cautelar em casa por decisão do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.

Todos os pedidos já haviam sido negados em caráter por Fischer, considerado linha-dura na Quinta Turma do STJ. Em outubro, por exemplo, o ministro negou suspender o inquérito das ‘rachadinhas’ ao vislumbrar que não houve prejuízo à defesa do senador que justificaria a medida. A defesa de Flávio alega que, uma vez que teve o foro reconhecido no Órgão Especial do TJRJ, as decisões de primeira instância do caso deveriam ser todas anuladas e o inquérito reiniciado.

Denúncia. Flávio Bolsonaro foi denunciado pela Promotoria do Rio pelos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa no esquema das ‘rachadinhas, no qual assessores do gabinete do parlamentar na Assembleia Legislativa do Rio devolviam parte ou a quase totalidade dos salários ao ex-assessor Fabrício Queiroz, que então usava o dinheiro para quitar despesas do senador, como o pagamento da escola das filhas e o financiamento de imóveis no Rio.

O filho do presidente é apontado como o líder da organização criminosa. De acordo com o MP, o esquema teria desviado ao menos R$ 6,1 milhões dos cofres públicos da Assembleia fluminense e levaram a um ‘enriquecimento ilícito’ de Flávio ao longo dos anos.

Um dos exemplos é a compra de uma cobertura no bairro de Laranjeiras, na zona sul do Rio. A quebra dos sigilos bancários e fiscais autorizadas pela Justiça apontam que o senador adquiriu o imóvel por R$ 2,2 milhões e que depósitos foram feitos por Queiroz e o ex-chefe de gabinete de Flávio, ‘Coronel Braga’, às vésperas dos vencimentos dos pagamentos relacionados à compra.

O primeiro depósito, feito pelo faz tudo da família Bolsonaro se deu no mesmo mês em que Flávio e sua esposa Fernanda pagaram o sinal do imóvel. Já o segundo, feito por coronel Braga se deu logo antes do vencimento da segunda parcela do financiamento do imóvel.


O senador Flávio Bolsonaro. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Ao analisar as movimentações financeiras feitas por Flávio e Fernanda entre 2010 e 2014, o MP apontou que o volume de pagamentos em espécie realizados pelo casal ‘seria incompatível com os recursos auferidos de forma lícita e declarados à Receita Federal, restando evidente a utilização de dinheiro em espécie desviado da ALERJ pelo esquema das ‘rachadinhas’ no pagamento de despesas pessoais do líder da organização criminosa’.

Analisando as receitas e despesas do casal, os investigadores identificaram ‘um saldo a descoberto’ de R$ 977.611,26, ‘correspondente à estimativa de parte do enriquecimento ilícito de Flávio e Fernanda’.

Após a denúncia, a Promotoria desmembrou o inquérito para focar em transações ainda não identificadas ligadas a Fabrício Queiroz, que teria movimentado uma quantia ‘incalculável’ de dinheiro em espécie para pagamento de despesas de Flávio.

Paulo Roberto Netto / O Estado de São Paulo, em 17.11.2020.

Mortes por covid-19: Brasil tem 216 óbitos por coronavírus nas últimas 24h; total de mortes passa de 166 mil

O coronavírus já infectou oficialmente 5.876.464 pessoas e causou a morte de 166.014 delas no Brasil, segundo o boletim mais recente do Ministério da Saúde, divulgado nesta segunda (16/11).

Deste total, 13.371 casos da doença e 216 óbitos foram registrados nas últimas 24 horas.


Foto à noite, mostra mulher parada em ponto de ônibus com máscara e, ao fundo, uma projeção de luz no prédio do Congresso dizendo: Luto 100 mil CRÉDITO,REUTERS/ADRIANO MACHADO

Homenagem em Brasília às mais de 100 mil pessoas que perderam a vida para a covid-19 no país; marca foi ultrapassada em agosto

O Estado com o maior número de vítimas fatais segue sendo São Paulo (40.576), seguido por Rio de Janeiro (21.301), Minas Gerais (9.517) e Ceará (9.440).

O Brasil continua como o segundo do mundo com maior número de mortes na pandemia do novo coronavírus, depois apenas dos Estados Unidos, que têm mais de 247 mil mortes pela covid-19, segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins.

O Brasil foi superado em número de casos, entretanto, pela Índia (8,8 milhões), agora em segundo lugar depois dos Estados Unidos (11,2 milhões).

No resto do mundo

Mortes

Mortalidade*

Total de casos

Novos casos

0

10

100

Mil

5 mil

**

Estados Unidos 246.163 75,3 11.155.112

24 DE JAN

16 DE NOV

Brasil 166.014 79,3 5.876.464

Índia 130.519 9,6 8.874.290

México 98.861 78,3 1.009.396

Reino Unido 52.147 77,7 1.390.681

Itália 45.733 75,4 1.205.881

França 44.548 68,5 1.981.827

Irã 41.979 51,3 775.121

Espanha 41.253 88,3 1.496.864

Argentina 35.727 80,5 1.318.384

Peru 35.231 110,1 937.011

Colômbia 34.223 68,9 1.205.217

Rússia 33.184 22,8 1.932.711

África do Sul 20.314 35,1 752.269

Indonésia 15.296 5,7 470.648

Chile 14.863 79,4 532.604

Bélgica 14.616 127,3 537.871

Equador 13.016 76,2 180.676

Alemanha 12.833 15,4 819.127

Iraque 11.712 30,5 521.542

Turquia 11.601 14,1 417.594

Canadá 11.075 29,9 305.449

Polônia 10.491 27,7 733.788

Ucrânia 10.161 23,0 561.581

Romênia 9.075 46,5 365.212

Bolívia 8.859 78,0 143.371

Holanda 8.533 50,0 452.856

Filipinas 7.839 7,4 409.574

Paquistão 7.193 3,4 361.082

Egito 6.465 6,6 111.009

República Tcheca 6.416 60,2 465.523

Bangladesh 6.215 3,9 434.472

Suécia 6.164 61,8 177.355

Arábia Saudita 5.676 16,8 353.556

Marrocos 4.850 13,5 296.189

China 4.742 0,3 91.872

Guatemala 3.938 22,8 115.032

Suíça 3.536 41,5 269.974

Portugal 3.472 33,9 225.672

Hungria 3.190 32,9 147.456

Panamá 2.881 69,0 147.667

Honduras 2.839 29,6 103.239

Israel 2.735 32,6 325.035

Tunísia 2.396 20,7 81.003

República Dominicana 2.286 21,5 134.203

Bulgária 2.282 32,4 101.770

Argélia 2.168 5,1 68.589

Moldávia 2.035 50,2 89.843

Irlanda 1.984 41,2 68.356

Bósnia-Herzegóvina 1.973 59,4 72.689

Cazaquistão 1.899 10,4 121.653

Áustria 1.887 21,2 208.613

Japão 1.885 1,5 120.169

Jordânia 1.843 18,5 149.539

Armênia 1.811 61,4 118.870

Afeganistão 1.626 4,4 43.403

Paraguai 1.602 23,0 72.099

Mianmar 1.599 3,0 70.161

Etiópia 1.581 1,4 103.056

Costa Rica 1.566 31,3 124.592

Omã 1.350 28,0 120.718

Macedônia do Norte 1.345 64,6 47.636

Quênia 1.287 2,5 70.804

Nepal 1.230 4,4 210.973

Quirguistão 1.207 19,1 67.469

Grécia 1.165 11,1 76.403

Nigéria 1.163 0,6 65.305

Sudão 1.119 2,7 14.728

Croácia 1.082 26,0 85.519

Bielorússia 1.053 11,1 115.448

El Salvador 1.052 16,4 36.669

Sérvia 1.030 14,8 87.381

Líbia 1.025 15,3 74.324

Azerbaijão 985 9,9 77.083

Austrália 907 3,6 27.760

Venezuela 855 3,0 97.739

Kuwait 842 20,4 137.329

Kosovo 833 45,1 29.805

Eslovênia 831 40,0 55.544

Líbano 827 12,1 106.446

Geórgia 778 19,4 85.952

Dinamarca 764 13,3 63.331

Albânia 631 21,9 28.432

Iêmen 605 2,1 2.078

Uzbequistão 598 1,8 70.444

Territórios Palestinos 572 11,8 63.867

Emirados Árabes Unidos 534 5,5 151.554

Eslováquia 526 9,6 87.276

Coreia do Sul 494 1,0 28.998

Camarões 433 1,7 22.692

Montenegro 396 63,1 27.773

Finlândia 371 6,7 19.419

Zâmbia 353 2,0 17.187

Síria 350 2,1 6.759

Bahrein 337 21,5 84.882

Senegal 329 2,1 15.801

Angola 324 1,1 13.615

Gana 323 1,1 50.376

República Democrática do Congo 321 0,4 11.839

Malásia 313 1,0 48.520

Noruega 294 5,5 29.514

Lituânia 285 10,2 35.911

Zimbábue 257 1,8 8.897

Madagascar 250 1,0 17.310

Luxemburgo 236 39,1 27.256

Catar 235 8,4 136.028

Haiti 232 2,1 9.188

Jamaica 231 7,9 9.929

Malauí 185 1,0 5.971

Mauritânia 165 3,7 7.979

Bahamas 163 42,3 7.256

Nicarágua 158 2,4 5.661

Uganda 150 0,4 16.257

Mali 141 0,7 3.948

Guadalupe 139 34,8 8.098

Guiana 139 17,8 4.894

Namíbia 138 5,6 13.555

Cuba 131 1,2 7.639

Costa do Marfim 128 0,5 20.988

Letônia 126 6,5 10.636

Gâmbia 122 5,4 3.705

Eswatini 119 10,5 6.105

Moçambique 116 0,4 14.514

Suriname 115 20,0 5.275

Trinidade e Tobago 112 8,1 6.096

Somália 107 0,7 4.301

Cabo Verde 103 18,9 9.840

Chade 101 0,7 1.603

Malta 98 22,3 8.137

Belize 94 24,5 4.883

Congo 92 1,8 5.515

Tadjiquistão 85 0,9 11.649

Guiné Equatorial 85 6,5 5.104

Libéria 82 1,7 1.512

Estônia 81 6,1 7.848

Andorra 76 98,7 5.914

Guiné 75 0,6 12.624

Serra Leoa 74 1,0 2.391

Guiana Francesa 70 24,7 10.876

Níger 70 0,3 1.316

Burkina Fasso 68 0,3 2.652

Uruguai 67 1,9 4.104

República Centro-Africana 63 1,4 4.900

Sri Lanka 61 0,3 17.674

Djibuti 61 6,4 5.655

Togo 61 0,8 2.693

Tailândia 60 0,1 3.878

Sudão do Sul 59 0,5 3.012

Gabão 58 2,7 9.084

Polinésia Francesa 56 20,2 12.121

Ilhas do Canal da Mancha 48 28,2 1.046

Mayotte 46 17,7 4.943

Ruanda 45 0,4 5.491

Maldivas 44 8,5 12.314

Aruba 44 41,6 4.668

Lesoto 44 2,1 2.041

Benin 43 0,4 2.884

Guiné-Bissau 43 2,3 2.419

San Marino 42 124,3 1.290

Chipre 40 3,4 7.285

Martinica 37 9,8 4.732

Vietnã 35 0,0 1.283

Ilha Reunião 31 3,5 7.161

Botsuana 30 1,3 9.103

Cingapura 28 0,5 58.124

Islândia 25 7,4 5.205

Nova Zelândia 25 0,5 2.005

Ilha de Man 25 29,7 363

Ilha de São Martinho (parte francesa) 24 64,4 939

Tanzânia 21 0,0 509

São Tomé e Príncipe 16 7,6 965

Cruzeiro Diamond Princess 13 712

Maurício 10 0,8 491

Bermuda 9 14,3 223

Liechtenstein 7 18,5 989

Taiwan 7 0,0 603

Papua Nova Guiné 7 0,1 602

Comores 7 0,8 579

Barbados 7 2,4 250

Ilhas Turks e Caicos 6 15,9 720

Antigua e Barbuda 4 4,2 134

Brunei 3 0,7 148

Curaçao 2 1,2 1.374

Mônaco 2 5,2 552

Ilhas Cayman 2 3,1 257

Santa Lúcia 2 1,1 171

Fiji 2 0,2 35

Cruzeiro MS Zaandam 2 9

Gibraltar 1 3,0 907

Burundi 1 0,0 630

Ilhas Virgens Britânicas 1 3,4 71

Montserrat 1 20,0 13

Saara Ocidental 1 0,2 10

Eritreia 0 0,0 518

Ilhas Faroe 0 0,0 498

Mongólia 0 0,0 434

Butão 0 0,0 377

Camboja 0 0,0 303

Seicheles 0 0,0 160

São Bartolomeu 0 0,0 109

São Vicente e Granadinas 0 0,0 78

Dominica 0 0,0 68

Granada 0 0,0 33

Nova Caledônia 0 0,0 30

Timor Leste 0 0,0 30

Vaticano 0 0,0 27

Laos 0 0,0 24

São Cristóvão e Nevis 0 0,0 19

Groenlândia 0 0,0 18

Ilhas Salomão 0 0,0 16

Saint-Pierre e Miquelon 0 0,0 16

Ilhas Malvinas ou Falkland 0 0,0 15

Anguilla 0 0,0 3

Ilhas Marshall 0 0,0 1

Vanuatu 0 0,0 1

BBC News Brazil, em 17.11.2020

Eleições Brasil 2020

Bolsonaro respira por aparelhos e sobrevive politicamente refém do acordo com o Centrão

 Quase 150 milhões de eleitores estavam aptos a votar no domingo e eram grandes as incertezas desde o início, em especial por causa da pandemia. Mas a abstenção – uma das grandes preocupações – não atingiu 25% (em 2018 foi de 20,3%). Vencidas as legítimas angústias, foi atendido o chamamento republicano à renovação da representação política em nossas cidades, nos próximos quatro anos.

A covid-19, que matou mais de 165 mil brasileiros, mantém entubado um finalista das eleições em Goiânia. O presidente da República não administrou essa crise com a seriedade exigida, oscilando entre negacionismo dos fatos e sonegação de informações. Isso obrigou a sociedade a pedir proteção ao STF, exigindo dos veículos de mídia a formação de inacreditável consórcio para ser garantido o acesso à informação. A reação a isso foi implacável nas urnas.

Os eleitores paulistanos chancelaram, em contraponto, o empenho do prefeito na gestão da crise da pandemia e da própria cidade, mesmo lutando contra câncer agressivo. Mas ele terá de enfrentar, nesta travessia rumo ao segundo turno, críticas por promessas não cumpridas (afinal, ele é o prefeito), a seu contestado vice e à sua ligação com Doria, com alta rejeição na capital.

Ao mesmo tempo, evidenciando o desbotamento do lulismo e o enfraquecimento do petismo, com a pior votação da história, a esquerda foi representada em São Paulo por um jovem líder oriundo do movimento dos sem-teto. O PSOL se fortaleceu como partido relevante de esquerda hoje no Brasil.

O declínio do lulismo era mais previsível que o do bolsonarismo. Precoce, já que o presidente conquistou o poder há um ano e dez meses, gozando de aparentes índices de aprovação. Bolsonaro respira por aparelhos e sobrevive politicamente refém do acordo celebrado com o Centrão, o qual jurou solenemente em campanha que jamais procuraria. Pode ser, de fato, que sua aprovação se ampare apenas na distribuição do auxílio emergencial, que logo cessará, e que João Santana, no Roda Viva, tenha acertado na premonição quando afirmou que não será reeleito presidente.

Sem rumos na economia, sem compromisso com a agenda anticorrupção, o presidente transmite a nítida percepção de estar perdido. Nossos “líderes” hoje são os presidentes da Câmara e do Senado, investigados, que querem sua reeleição, vedada pela Constituição. Maia não pauta o fim do foro privilegiado e a prisão após a condenação em segunda instância, nem trata como prioridade a reforma político-partidária e as novas medidas contra a corrupção. No entanto, considera natural retroceder em matéria de punição da lavagem de dinheiro e o enfraquecimento da lei de improbidade administrativa, diminuindo e suavizando penas de corruptos.

A votação decadente do filho Carlos para vereador no Rio, que despencou de 106 mil para 70 mil votos de 2016 para cá, apesar da expectativa de crescimento, fala por si. Perdeu a condição de mais votado. Lembremos que há quatro anos Carlos era filho de deputado e hoje é filho do presidente da República.

Candidata a vereadora apoiada pelo presidente em Curitiba teve parcos 936 votos e a famosa Wal do Açaí, de Angra, que mereceu entusiasmado vídeo de apoio, recebeu 238. O sintomático apagamento da publicação no Facebook do presidente onde os apoiava nestas eleições é sinal inequívoco da contundente derrota política.

Nota-se também que o candidato apoiado pelo governador do Pará, Helder Barbalho, investigado por corrupção, foi barrado: seu primo Priante. E a presença de número recorde de negros, de duas pessoas trans, uma pessoa travesti e de mandatos coletivos são excelentes novidades na Câmara de São Paulo e na de Belo Horizonte, onde uma pessoa travesti foi a mais votada.

Pela terceira vez em São Paulo, Russomanno dispara em primeiro e derrete no final. Parece que ele começa embalado pela popularidade televisiva de programas de gosto duvidoso, onde se apresenta como espécie de xerife de consumidor. Nesta campanha chegou a afirmar que moradores de rua estavam mais protegidos da covid-19 por não tomarem banho. Quase foi considerado ficha-suja há alguns anos, escapando no STF, apesar de condenado em 2019 a devolver valores de salários de funcionária da Câmara que servia a sua produtora particular.

Disseminando fake news acerca de prestadores de serviços ao candidato do PSOL, Russomanno foi condenado pela Justiça Eleitoral a retirar vídeos do ar e ainda tentou com insucesso censurar pesquisas, que há mais de 30 anos são divulgadas com a mesma metodologia. Prevaleceu o respeito ao direito à informação. Por muito pouco Arthur “Mamãe Falei” não o deixa em quinto lugar.

O eleitor de São Paulo, como o de Belém, transmitiu recado: não quer fichas-cinzentas nem políticos ligados a eles. As urnas de 2020 nos mostraram sinal amarelo para os pretensos “salvadores da pátria” e disseminadores de fake news, assim como a ascensão do centro.

Em duas semanas o desenho final se consolidará. Esperamos ter debate mais qualificado sobre políticas públicas.

Roberto Livianu, o autor deste artigo, é doutor em Direito pela USP e Procurador de Justiça em São Paulo. Idealizou e preside o Instituto Não Aceito Corrupção. Publicado originalmente por O Estado de São Paulo, edição de 17.11.2020.