segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Palocci Preso

A Polícia Federal prendeu hoje cedo em São Paulo o Senhor António Palocci, ex-Ministro da Fazenda no Governo Lula e ex Chefe da Casa Civil no Governo Dilma. 

Ele era um dos três porquinhos assim tratados carinhosamente pela Dilma em sua primeira campanha presidencial. Os outros eram o Eduardo Dutra, ex-Presidente da Petrobras e o José Eduardo Cardoso, ex-Ministro da Justiça e depois da AGU. 

Cardoso ganhou destaque pela atuação combativa em defesa de Dilma no processo de impeachment. Dutra caiu em profunda depressão, não resistiu e morreu.

Esta nova fase da Lava Jato chama-se Operação Omertà, referencia ao Código de Silêncio da máfia italiana. Quanto a Palocci o comando operacional da Lava Jato informou que "há indícios de que o ex-ministro atuou de forma direta a propiciar vantagens econômicas ao grupo empresarial (Odebrecht) nas mais diversas áreas de contratação com o poder público, tendo sido ele próprio é personagens do seu grupo político (PT) beneficiados com vultosos valores ilícitos".

Neste momento agentes federais ainda se mobilizam pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal em cumprimento mais dois mandados de prisão, quinze de condução coercitiva e vinte e sete de busca e apreensão.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Réquiem para o Nêgo

Quem saberia dizer o que realmente se passou pela cabeça do Dirceu para ele dar àquele labrador tão simpático e comunicativo com as crianças, um nome tão vulgar, quase beirando o preconceito de cor?
Ao mudar-se para Asa Norte, eis que reassumia seu mandato parlamentar, Dirceu deixou com a Dilma, que o sucedera na Casa Civil, o “Nêgo”.
Nas caminhadas matinais pela orla da península, a Dilma mantinha sempre discreta distancia do Nêgo, que parecia afeiçoar-se mais ao segurança que o conduzia.
Àquela altura, brincadeira ou não, corria nos desvãos do poder em Brasília que o Dirceu, precavidamente, mandara inocular no Nêgo um micro chip de espionagem.
O que tem de cachorro hoje no Brasil, algo em torno de 53 milhões, segundo o IBGE, um labrador tão simpático quanto o Nêgo não poderia ser dispensado numa campanha eleitoral, aliás, milionária e criativa como foi a da Dilma.
Os marqueteiros acharam que a Dilma poderia fazer incrível média com as crianças e com o povo em geral se aparecesse na mídia impressa e televisada, em fotos e filmes, passeando pela aí com o Nêgo.
Quer queiram ou não, o agente secreto do Dirceu fez um bom trabalho na campanha, inclusive ajudando a dar retoques mais humanos àquelas feições da Dilma quando ela amanhecia invocada, com aquela cara amuada de poucos amigos.
Eleita Presidente, ao mudar-se para o Palácio da Alvorada, o Nêgo foi na bagagem. Não demorou e numa manhã, ela viu uma cena que lhe pareceu intragável – o Nêgo fingindo avançar, mas recuando e latindo ao derredor das emas. Era o seu jeito de brincar. Foi o bastante para a Presidenta deportar o Nêgo para a Granja do Torto.
No exilio o Nêgo se deu bem. Conheceu uma labradora que lhe deu três lindos filhotes aloirados. Um deles a Dilma deu a Senadora Hoffman. Não se teve mais noticias do Nêgo e de sua fêmea e de suas outras crias.
A Rainha Elizabeth 2ª presenteou com uma felpuda cadelinha o então Presidente Jânio Quadros, que apelidou-a de “Muriçoca”. Jânio não adotou só o genro de quem, aliás, andou se queixando. Adotou também cães vira latas que encontrava sem donos pelas ruas do Guarujá. Chamava-os pelo dia da semana em que os levava pra casa. Assim – segunda feira, quinta feira. E tal. Era de verdade o carinho com que ele e a Tutu, sua filha, cuidavam dos cães.
Quando se viu sem saída em seu bunker em Berlim, Hitler matou “Blondi” sua cadela de estimação dando-lhe uma pastilha de cianureto e depois um tiro de pistola no céu da boca.
Depois disso desapareceu deixando duas lendas – a primeira  a de que teria, ele também, se matado com um tiro na boca e seu corpo depois incinerado com gasolina a céu aberto em frente à chancelaria.
Na outra versão o maluco teria fugido num submarino para a Patagônia Argentina com direito a uma parada técnica em Guimarães, no Maranhão.
Uma das ultimas ordens que a Dilma deu como Presidenta antes de ir embora do Palácio da Alvorada foi mandar matar o Nêgo. Poderia manda-lo de volta ao Dirceu. Ou doa-lo a algum servidor. Mas, não. A ordem presidencial saiu seca – matem o Nêgo. O motivo? Estava velho e doente.

Imaginas se ela não fosse tirada a tempo e se isso vira precedente...

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Enterrar os mortos

Aprovado o impeachment por maioria folgada no Senado, portanto, sobrestado, afinal, o terremoto politico e econômico que a Dilma vinha encarnando e até resvalando para atirar a economia do País na grande onda tsunami que atarantou a indústria, o comercio e em especial os investidores, o que se materializou na tragédia social de mais de doze milhões de desempregados no Brasil, é oportuno agora lembrar o Marquês de Pombal tão logo o grande terremoto de Lisboa amainou, mas impondo à  capital portuguesa um cenário de mortes e desolação – “enterrar os mortos e cuidar dos vivos!”.
Faças tu quanto aos últimos acontecimentos neste Brasil, antiga colônia portuguesa, a analogia que quiseres. O grande terremoto eclodiu em 9 graus da escala Richter na manhã do dia de todos os santos, 1º de novembro de 1759.
A Lisboa por onde andamos muito admirados hoje não tem nada a ver com a cidade que existia antes daquela tragédia. O terremoto destruiu igrejas, conventos, palácios, o arquivo da torre do tombo e também vilas importantes nas adjacências. A família real só escapou ilesa porque deixou a sede da Corte na véspera.
Naquele cenário de fome, saques, doenças, desabrigo, milhares de pessoas deixando a cidade, mas sem saber para onde ir, Sebastião de Carvalho e Melo, até então visto por olhares enviesados de algumas elites, mas depois alçado ao posto de Primeiro Ministro, conhecido ainda hoje na história como Marques de Pombal, não só impediu o êxodo ao garantir socorros aos feridos e alimentos aos famintos e tendas aos desabrigados, como também, ao mesmo tempo, valendo-se do seu enorme capital politico, que não deixou escapulir em meio à crise, mirou e liderou a reconstrução.
No nosso caso, enterrar os mortos e cuidar dos vivos é convocar os sobreviventes, ou seja, nos todos, para a alegria de viver, sendo respeitados em nossa dignidade humana, em nossos direitos às oportunidades a que todos têm direito no regime democrático. E está tudo lá, na Constituição da República.
Isso implica em convocar a confiança, alimentar a esperança, sabendo exatamente o que queremos que seja este País.
Ainda vivos a merecerem as prioridades nas ações não só do Governo, mas também de todos nós que nos somamos em sociedade, são os doze milhões de desempregados. Os gestores e acionistas das centenas de milhares de empresas que foram obrigadas à paralização de suas atividades, sendo obrigadas a não mais garantirem o pão nas mesas dos milhões de trabalhadores. 
Não foi o Temer quem produziu tudo isso. Foi o PT, notadamente os (des) governos da Dilma. A coligação PT-PMDB aconteceu por razões eleitorais, o que tem sido comum no Brasil. As coligações majoritárias, infelizmente, são formadas mirando interesses eleitorais, mas  sem identidade programática nenhuma. Essa deformação é mais um resultado do nosso sistema eleitoral, cujas leis estimulam o clientelismo político, a decadência dos valores morais e éticos, os quais que nem o sol, dão luz e calor à afirmação democrática.
Cuidar dos vivos é estimular os ideais de uma sociedade fincada em valores morais e éticos, trazendo para a militância democrática e republicana os milhões de brasileiros que se declaram desencantados com a politica que se faz hoje em dia e com os políticos que, na sua avaliação, já deveriam, muitos deles, estar cumprindo penas por peculato ou, no mínimo, por estelionato (eleitoral).
Cuidar dos vivos é não permitir que as nossas instituições democráticas sejam conspurcadas como já ensaiam o radicalismo xiita dos baderneiros que querem retomar o Poder do Estado no grito e na intimidação e a intolerância dos que quando falam em interesses do Povo não estão defendendo senão os seus próprios interesses à custa da pobreza que ainda faz sofrer a maioria dos brasileiros.
Vamos reconstruir o Brasil mirando o século XXI. Em 1759, quando Pombal mandou que as novas ruas e avenidas na reconstrução de Lisboa fossem muito mais largas que as anteriores, não faltou quem o criticasse. “Serão muito mais largas, sim, mas no futuro não faltará quem diga que são muito estreitas”.  Estava certo o Marquês.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Não adianta fraudar

Raros são aqueles que se achando pessoas públicas indispensáveis às grandes molduras que vendo próxima a hora da travessia sem volta não queira, nem que o seja num gesto surpreendente e derradeiro, enxertar no caderno da história alguma versão que o torne notável.
Alguns, como Júlio César, desdenharam da prudência dos conselhos para que na manhã seguinte não fosse ao Senado. Então, muitos dos que julgava como sendo seus amigos e correligionários o cercaram à entrada, restando de tudo, entre aqueles punhais como se fossem de amor traído, apenas a surpresa maior e a menor frase – “até tu, Brutos?”.
Nas ultimas horas, quando o roteiro das estações do impeachment estava quase fechando, uns amigos da onça fizeram chegar aos ouvidos da Dilma, sim, ela agora ouve, que lhe faltava coragem para ir ao Senado.
Foi o bastante para que a valentona reincidente em desacatar general e ministros e vê-los sair humilhados do gabinete presidencial mordesse a isca. Admite até que digam que ter sido alçada à Presidência da República foi o maior erro do Lula – e o foi mesmo.
Na solidão das noites na cama no Alvorada, entre seus dois únicos confidentes, o lençol e o travesseiro, já consegue humildade para confessar que estava, e continua, totalmente despreparada para os deveres e desafios do cargo ao qual não teria chegado sem as mentiras que lhe mandaram dizer e as que em seu nome foram pregadas nas milionárias campanhas eleitorais, irrigadas, soube-se só muito depois, com a dinheirama desviada de empresas públicas e propinas de impatrióticos empreiteiros.
Ora, quem teve coragem para resvalar a realidade sócio-econômica do País para o fechamento de centenas de milhares de empresas causando uma onda de desemprego de mais de onze milhões de chefes de famílias; a quem não faltou coragem até para louvar os predicados da mulher sapiens e, por conseguinte, as qualidades da mandioca, não será por medo do que lhe possam indagar o Renan, o Magno Malta, o Aloisio ou o Lewandowiski, que ela, Dilma, deixará de ir ao Senado e da tribuna ler a sua própria defesa após a descrição, um por um, dos seus crimes de responsabilidade.
É sempre bom lembrar. Quando houve a primeira grande manifestação popular nas ruas e praças das principais cidades do País, a Dilma ainda parecendo ser Presidente prometeu reforma politica. Na segunda rodada de protestos, ninguém quase lembra, acho que nem ela mesma, passou a evitar a televisão, preferindo fugir dos panelaços através das redes sociais.
Quando a Câmara acolheu a petição do impeachment e o Senado instaurou o processo, afastando-a do cargo, ela se danou a falar que estava sendo vítima de um golpe.
Golpe sui generis esse que prescreve o afastamento provisório do Presidente enquanto dura o processo no Senado e, se comprovada a acusação de crime de responsabilidade, a perda definitiva do cargo, assumindo em seu lugar o Vice Presidente da República. Tudo nos conformes da Constituição da República, sob a supervisão direta do Supremo Tribunal Federal.
Está claro que esse mantra do golpe é a única forma que os conselheiros mais íntimos da Dilma, o seu lençol e o seu travesseiro, lhe incutiram como forma de fraudando a história dá-lhe alguma réstia de grandeza na condição de vítima. Uma falsa vítima. O que ela não sabe é que a história é ela mesma. É como o mar e suas verdades. Não aceita nada que não o seja realmente seu. Rejeita até mesmo a salsugem das marés baratas.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Quem quer ser Prefeito?

Quem achou que tendo se portado, desde os primórdios, como um correligionário exemplar e assim trabalhou, trabalhou, ate que olhos nus por todos os logradouros e arrabaldes o vissem induvidosamente como o consenso e se apesar disso, não conta mais com a simpatia do dono do partido, então desça para Vereador, pensando agora em infernizar a campanha de quem lhe tomou o lugar na chapa, ou então procure entender melhor que o jogo da politica, e não é de hoje, isso vem piorando desde a redemocratização, se joga sem regras preexistentes sob o casuísmo sem logica nas leis e, acima de tudo, conforme o humor e as conveniências, que não são poucas, dos donos dos partidos.

A cada dia há menos espaço para as pessoas serias.

Dá pena ver jovens empanturrados de álcool, ou se asfixiando com maconha, compondo gangues no serviço da provocação e da intimidação aos que, nas reuniões partidárias, ousam cobrar dos seus chefões algo como, por exemplo, democracia interna. Não precisa. Tudo transcorre, muitas vezes nem transcorre, conforme a vontade dos donos dos partidos e os livros de atas já chegam com as atas prontas e mais algum espaço para a conveniência que rolar. Não há mais aquele cidadão que em respeitoso silencio a tudo assistia e na ultima linha da página da ata apunha a sua assinatura como Observador da Justiça Eleitoral. A Constituinte acabou com isso. Os partidos deixaram de ser pessoa jurídica de direito publico para ser pessoa jurídica de direito privado. Pequenas empresas, muitas até familiares, para grandes negócios.

Mas imaginando que além do consenso conseguistes também sobrepairar sobre as mazelas todas, inclusive vencendo a tua solidão porque conseguindo por outras razões, e elas podem ser tantas, atrair outros donos de partidos sem nomes consensuais para o desfile das mesmas variedades, o que levou o chefão da tua legenda a ter que te engolir por inteiro (remember to Zagalo), agora admitindo que as urnas terão o teu nome, numero e retrato como alternativa, vai logo te preparando para o ritual da campanha.

Falando apenas a verdade, dizendo tudo o que pensas, sem travos nas palavras, de forma cordial, mas direta, recusando ajudas que depois, mesmo que não sejas eleito, resultarão em uma conta - corrente infinda. Sempre há um agiota na praça querendo apostar num possível vencedor. O ganho maior será dele? A perda maior será do candidato? O prejuízo maior será da população. Esses financiadores, em caso de eleição, só querem as Secretarias da Saúde e a da Educação, exatamente as que recebem o dinheiro garantido repassado mensalmente por vinculação constitucional.

Sendo tu a pessoa capacitada, honesta e mui querida conforme o olhar geral, decerto que terás dificuldades para te assumires na personagem do candidato convencional. A certa altura, na metade do tempo de campanha, tu serás assaltado toda noite por preocupações espraiadas sobre teu sono levadas por um espirito chamado espirito público a te lembrar de valores como decência, ética, honestidade, trabalho, humildade, clemencia, tolerância, justiça paz.  

Só de pensares que na hipótese de seres eleito, terás à porta da tua casa em todas as horas cobranças por dividas das quais não tinhas a mínima noção porque decorrentes dessa desorganização da nossa sociedade, felizmente, ainda democrática, apesar dos extremistas da direita e os da esquerda, e ainda apesar dessa ficção chamada Federação e desse Estado brasileiro quase em frangalhos a depender de corajosas e profundas reformas institucionais perderás o sono diante da certeza de que assumirás para um mandato de absoluta contenção de despesas, com pagamentos de juros e tal. Não poderás nomear nenhum funcionário. Nem mesmo por concurso. O clientelismo politico te odiará. Quem ficar sem o seu mensalinho quererá te cassar. A dívida de todos os Municípios só com o Tesouro e bancos públicos é de 50 bilhões. A dívida dos Estados e Munícípios com a União é de mais de 500 bilhões. Enfim, a dívida pública cresce em media 2 bilhões de reais por dia. O que fazer? Tomar mais empréstimos? Aumentar impostos e taxas municipais? Never.

sábado, 2 de julho de 2016

Por um triz

A delação de Sergio Machado que inspirou a PGR a pedir ao STF a prisão de próceres do PMDB, dentre os quais Renan e Jucá, corre o risco de ser anulada. É o que informa o sempre bem informado saite O Antagonista (oantagonista.com).

Em assim sendo, o que o ex Presidente da Transpetro mais temia pode acontecer. Ou seja, ser levado em voo especial para a carceragem da PF em Curitiba, caindo assim na jurisdição do Juiz Moro.

O Ministro Relator da Lava Jato no Supremo, Teori Zavascki, ainda segundo a mesma fonte, já teria avisado à Procuradoria Geral da República da fraca consistência da delação de Machado.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Também a Friboi

Sépsis, o que é isso? Segundo o Houaiss, é a presença de micro-organismos piogênicos e outros organismos patogênicos, ou suas toxinas, na corrente sanguínea ou nos tecidos. 

Assim definida, Sépsis é nova Operação filhota da Lava Jato com foco nas propinas que teriam abastecido o caixa de Eduardo Cunha, o Presidente afastado da Câmara dos Deputados.

A Polícia Federal esteve hoje na casa de Joesli Batista, em São Paulo, cumprindo mandado de busca e apreensão. Ele é sócio do grupo controlador da JBS, dona da Friboi.

Em nota a seus acionistas e ao mercado financeiro em geral, a JBS negou que esteja sendo alvo da Operação Sépsis. Nem ela, JBS, nem os seus executivos.

Além das buscas na casa de Joesli Batista em São Paulo, os policiais cumpriram mandado igual na Eldorado, empresa da holding J&F, instalado no mesmo prédio da sede da Friboi na capital paulista .

Os tentáculos da Sépsis se estendem ainda ao Rio de Janeiro, Pernambuco e Distrito Federal. As revelações para isso tudo saíram de colaborações premiadas.

Povão volta às ruas

Articula-se para o último domingo deste mês, dia 31, movimentos populares em todo o País em defesa da Operação Lava Jato e em apoio aos juízes, procuradores e policiais que a realizam no desmonte aos esquemas de corrupção incrustados na administração do País, incluindo Estados e Municípios e também Legislativos, incluindo Congresso Nacional e também Partidos Políticos.

Enquanto isso, articula-se no Congresso Nacional, começando pelo Senado da República, um movimento para aprovação de projeto de lei visando reprimir abusos de autoridades, tendo como alvo, inclusive e coincidentemente, juizes, procuradores e policiais no serviço à prevenção e repressão aos crimes de corrupção no nosso País.

Para os defensores do projeto, estaria havendo abusos e as delações premiadas precisam ter regras. O Presidente do Senado, Renan Calheiros, (PMDB-AL), nega que o objetivo seja constranger ou intimidar os realizadores da Lava Jato:

- Esse discurso de que as pessoas querem interferir é um discurso político. Essa investigação está caminhando, já quebrou o sigilo de muita gente e tem muita gente presa. E essa altura há uma pressão muito grande da sociedade no sentido de que essas coisas se esclareçam. Só vai separar o joio do trigo.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

Saqueador na praça

A lavagem de dinheiro que se investiga agora, a partir do Rio de Janeiro, gira em torno de 370 milhões de reais, tendo como principais alvos Carlos Augusto de Almeida Ramos, conhecido como Carlos Cachoeira, e Fernando Cavendish - lembram-se?. Há também um lobista, Adir Assad. Os três já foram presos pela Polícia Federal.

Mais um desdobramento da Lava Jato, essa operação se chama Saqueador. Há ainda 5 mandados de prisão a serem cumpridos no Rio de Janeiro, em São Paulo e em Goiás. O comando geral é do Juiz Titular da 7a. Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. 

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Solto Paulo Bernardo

Paulo Bernardo, Ministro nos governos Lula e Dilma, preso desde quinta feira última pela Polícia Federal na Operação Custo Brasil já está em liberdade.

O Ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, considerou que o decreto prisional da Justiça Federal de São Paulo não atende às exigências do Código de Processo Penal, Art. 312. (Cá pra nós, o Ministro está certo.)

- "A prisão preventiva para a garantia da ordem pública seria cabível, em tese, caso houvesse demonstração de que o reclamante estaria transferindo recursos para o exterior, conduta que implicaria em risco concreto da pratica de novos crimes de lavagem de ativos. Disso, todavia, por ora, não há notícia. Também não foram apontados elementos concretos de que o reclamante, em liberdade, em liberdade, continuará a delinquir". Entendeu Toffolli.

A Operação Custo Brasil apura desvios  de cerca de 100 milhões de reais em empréstimos bancários consignados a servidores aposentados quando Paulo Bernardo, no Governo Lula, foi Ministro do Planejamento.

Ainda segundo o Ministério Público Federal de São Paulo o dinheiro supostamente desviado destinava-se ao PT.
 

O sonho possível

Ora, se o mundo desaba em tempestades de verbos, e desaba, derramando acusações e atirando culpas e você protestando inocência, eu não sei de nada, eu sou até inocente e ainda assim as afrontas paradas no ar, os inquisidores em gritos mudos, os dedos em riste parados no ar, armadilhas eletrônicas, tudo assim tão sorrateiro quanto invisíveis, convém não se deixar acuar.

Quando você mal desperta e vê as coisas assim e assim como se fossem lhe assar, o melhor a fazer é meditar, meditar, não se deixando acuar, porque talvez você precise agora de muita serenidade para olhar um pouco mais para dentro de si, até onde as lentes dos olhos da sua consciência livre, intimoratos, possam alcançar.

É bem possível que lhe tenha chegado a hora de dar um passeio lento no seu passado, lembrando-se daqueles quantos que nós conhecemos na estrada e que se atrasando na marcha foram ficando, ficando. Se atrasando e ficando para sempre para trás.

Uns não chegaram porque gastaram os seus sonhos todos de uma só vez, querendo tudo o quanto antes ao mesmo tempo com aquela fome de antes de ontem. Outros, por despreparo para as próximas horas, por incompetência até para sonhar.

No coletivo, não adianta nada querer conciliar as ações sem conciliar os sonhos. Todos, mas todos mesmo, tem o seu direito a sonhar.

E se estamos no coletivo, melhor ainda. Um sonha atrelado ao sonho de todos e todos sonham atrelados ao sonho de um. Isso é como apertar ao peito hipotético mais humanidade do que Cristo. Feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu. (Fernando Pessoa, Tabacaria.)

Mas agora, depois de sobrevoar num lampejo esse estado de coisas e voltar com os olhos a por  pés no chão, as mãos cheias de indignação, vendo de perto essas incertezas carregadas de ânsias sem idades, ainda bem, ainda bem, que não  deixamos que  se desprendesse de nós esta certeza de que continuamos infensos a  essas negações ao senso comum de que o direito sem lógica e sem bom senso não realiza a justiça, só servindo, quando muito, aos protestos das inocências.

Ah somos juristas, sim, operários do direito, sacristões nos altares de Thêmis que ainda nos restam pelos templos judiciais, ah somos juristas submetidos a tantas leis injustas porque mais a serviço do Estado centralizador e a cada dia mais autoritário. Ah somos juristas, sim, inconformados, aliás, muito inconformados.

Por que os pesos da balança pendem mais e quase sempre a favor do Estado e seus privilegiados condôminos? (Carca, mano!) Até quando há in dúbio não se fala mais em pro réu. Diz-se "pró societás", o que não quer dizer nada, pois essa menção aí sai regada por lei editada pela maioria dos que dominam o aparato estatal, leia-se, executivo e legislativo, contando sempre com a lealdade dos juízes à literal letra da lei. Da injusta lei.

Ah vocês que mexem com esse negócio de leis, de judiciário, de alunos de direito; vocês que falam empolado a língua dos códigos em demonstrações de erudição, enferrujada erudição; ah vocês juízes, sim, também vocês juízes fiquem por aí quietos em seus marfins e não nos venham com esses papos de cidadania, direitos sociais, cortes internacionais. É a lógicas dos políticos vendidos, falsos hebreus nos cancelos do Faraó. 

Nós, os juízes; nós os advogados; nós do Ministério Público; nós, policiais civis federais, nós todos temos responsabilidades, sim, com o olhar triste das crianças famintas e sem infância dos nossos 11 milhões de desempregados. Somos compromissados, sim, contra esse alheamento com que são tratados as centenas de milhões de analfabetos contados entre crianças e adultos neste vasto País.

Não somos indiferentes às centenas de milhares de moçoilas das beiras de estradas e dos lugarejos distantes engravidadas de mais bocas futuras predestinadas à fome ou à subnutrição e de olhares que irão se abrir às carências de direitos e de futuros.

Nossa responsabilidade não ignora esse atraso de décadas em que vegeta a maioria da nossa gente, sem água tratada para beber, sem teto seguro para morar, sem esgotos, sem saúde pública, sem escolas de qualidade, os ratos em festas nos lixões das ruas.

O patrimônio e a vida de cada um à mercê do previsível assalto. Ou da morte.

Purgaremos penas noturnas infindáveis a nos doerem na consciência se, catando e incinerando um a um os nossos erros, não assumirmos a humildade com que devemos, de novo, nos reunir, respeitando a capacidade de cada  um para na trincheira certa, agirmos coletivamente, e aí sim, confiantes na vitória coletiva.

É utopia? Não. É o sonho possível.

domingo, 5 de junho de 2016

A inocência travada

A politica destes tempos agoniza putrefata. Intenções boas e más se confundem distorcendo os fatos, incrementando versões.
A maldade se atiça querendo arrancar sorrisos. Mas tudo se despolui nesse palco quando desponta desavisada, transpirando alegrias, uma criança.
A memória dos séculos guarda e nos relembra os momentos enternecedores em que crianças quebraram a caretice ambiental dos gabinetes ou as hipocrisias das muitas solenidades politicas.
Concentrado na leitura de papeis sobre a sua mesa de trabalho no Salão Oval da Casa Branca, o Presidente Kennedy parece não se incomodar com o que os seus guris John-John e Caroline aprontam. Festa rara dos fotógrafos.   
O Presidente Johnson, volta e meia, era interrompido por suas duas garotas. Em seu jeitão de texano de Austin, fazia troça comentando com seus Ministros que era mais fácil governar a América do que educar aquelas duas.
Governantes saboreiam as historias que contam sobre os seus rebentos. Getúlio correspondia-se frequentemente com Alzirinha escrevendo-lhe bilhetes a lápis num tratamento meio de igual para igual recheado de ternura e respeito.
Num dia desses, num táxi pela Rua do Catete, no Rio, comentei com o motorista – você imagina um Presidente governando o Brasil daqui deste quintal? Ele então me contou ter conhecido o Getúlio. Era criança e ouvindo os adultos chamando-o de ditador, não deixou por menos.
Toda manhã bem cedo, o Presidente caminhava pela calçada. O menino de então tinha sempre um jeito de cruzar com ele para lhe desejar bom dia. “Bom dia, ditador!”. E o Getúlio, sem perder o ar bonachão, correspondia – “Bom dia, meu filho!”.
Fosse algum marmanjo, a graça seria outra.
A revista O Cruzeiro costumava publicar fotos do João Vicente em calças curtas e suspensório colado no Jango em reuniões com políticos.
Em Brasília, a Dilma parecia incorporar a Pietá de Michelângelo quando a Paula, sua filha, deixava chegar ao Alvorada o Gabriel, o primeiro neto.
Sarney, então Deputado na Brasília nascente, adorava pedir a Roseana que declamasse para as visitas os versos com quais ela vencera o concurso para a escolha da letra do hino da escola.
A alegria do Palácio Jaburu agora é o Michelzinho com toda a pureza e inocência dos seus 7 anos de idade.
Nestes tempos em que a nossa imprensa não tem poupado espaço para expor maldosamente filhos e filhas de autoridades, incluindo ex-Presidentes da República, o respeito e o afeto  que não podem faltar da parte de nós outros, os adultos, a toda e qualquer criança, sumiram no noticiário dos últimos dias sobre a antecipação de herança que o Michel pai fez ao Michel filho.
Com tintas de escândalo, jornais publicaram – “Michelzinho, 7 anos, tem 2 milhões em imóveis”.  O blog do PT – “Michelzinho, filho caçula de Temer, tem 2 milhões em imóveis. Caçula do Presidente golpista com Marcela Temer é dono de um conjunto de escritórios no Itaim Bibi, bairro nobre de S. Paulo”.
O que há de ilegal ou imoral? Nada, absolutamente nada. Michel Temer sempre trabalhou em toda sua vida, justificando plenamente o patrimônio auferido. Advogado, Professor de Direito, autor de uma das obras mais vendidas no País sobre direito constitucional, não cobra por palestras.
Grande parte  do seu patrimônio já havia sido doado, como antecipação de herança às suas três filhas do primeiro casamento. Tão logo nasceu o Michelzinho, do casamento com D. Marcela,  passou para o nome do garoto, como antecipação de herança, o conjunto de salas onde foi antes seu escritório de advocacia e ultimamente escritório politico.
Onde o absurdo nisso? De forma verdadeiramente engraçada o Piauí Herald, jocosamente registrou:

“TOYS R US – Rico e famoso, Michelzinho atraiu a atenção de paparazzi nesta manhã ao estacionar seu carrinho no Leblon. “O veículo era nada menos que um Hot Wheels cromado modelo 2016. Ficou 10 minutos parado entre um boneco do Comandos em Ação e um playmobil”, revelou o fofoqueiro profissional Nelson Rubens. Em seguida, o caçula do presidente interino foi visto brincando de polícia e ladrão. Segundo o relato de babás uniformizadas que exigiram anonimato, o mancebo correu atrás de um pequeno meliante aos gritos de “prendê-lo-ei”.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Juízes Federais Fechados Com Moro na Lava Jato

A defesa intransigente do trabalho da Operação Lava Jato e do instituto da deleção premiada, aliada à luta pelo fortalecimento da magistratura e da Justiça brasileira, dará o tom da nova gestão da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) sob a presidência do juiz Roberto Veloso, que no dia 15 deste mês passa a comandar a diretoria da entidade pelo próximo biênio. A AJUFE é a única entidade de caráter nacional que congrega magistrados federais, incluindo Ministros de Tribunais Superiores em atividade e aposentados.

“A Operação Lava jato é um marco na atuação do Judiciário brasileiro e tem todo o nosso apoio”, afirma Roberto Veloso, 52 anos, juiz federal no Maranhão, estado no qual foi promotor de Justiça, e doutorado pela Universidade Federal de Pernambuco desde 2005. Veloso é secretário-geral da atual diretoria da Ajufe. Ele sustenta que sua gestão dará todo apoio ao juiz Sérgio Moro, dda 13ª Vara Federal de Curitiba, que conduz a Lava Jato, “pelo trabalho digno, sério e competente que tem realizado; portanto, é preciso assegurar-lhe total independência para conduzir os processos sob sua jurisdição”.

Com relação ao instituto da delação premiada, sobre o qual já tramita projeto na Câmara buscando alterá-lo, o futuro presidente da Ajufe afirma que sua gestão se posiciona favorável à manutenção dessa lei na íntegra, sem alteração. “A delação premiada foi uma avanço na legislação brasileira e não pode retroceder. Atacar a delação premiada, reduzindo-lhe o campo de atuação, é trabalhar a favor da impunidade, que é uma das maiores chagas de nossa sociedade”, sustenta Veloso, mestrado em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco.

Disse que a Ajufe quer também, na sua gestão, avançar na discussão sobre o fim do foro privilegiado, como forma de combate à impunidade.

No campo da organização judiciária, o novo presidente eleito da Ajufe, que já presidiu a Associação dos Juízes Federais da 1ª Região – jurisdição que atende a 80% do território nacional – defende como forma de dar vazão ao crescente número e processos, a ampliação do número de desembargadores e de Tribunais Regionais Federais (TRFs) nos termos de Emenda Constitucional já aprovada, mas ainda não implementada por conta de uma liminar. Para ele, é necessário também o provimento de cargos de juízes federas vagos – hoje, cerca de 400 em todo o País – e a modernização da tramitação processual por meio de avanços processo eletrônico.

Eis aqui a íntegra da entrevista do futuro presidente da Ajufe, Roberto Veloso para o site Diário do Poder (www.diáriodopoder.com.br)


Quais os principais objetivos à frente da Ajufe nos próximos dois anos?
A atual diretoria Ajufe realizou um grande trabalho à frente da Associação que precisa ter continuidade. Precisamos avançar em alguns aspectos, como o fim do foro privilegiado, a ampliação dos atuais Tribunais Regionais Federais (TRFs) e a implementação das novas cortes criadas pela Emenda Constitucional 73, a reestruturação da carreira, a valorização pelo tempo de exercício da magistratura, a ampliação da participação dos juízes federais na Justiça Eleitoral, o fim da competência delegada, a transparência dos processos administrativos do Conselho da Justiça Federal, entre outros.

A lentidão na justiça, como reduzir? Faltam juízes federais? Há excessos de processos?
É inegável que a atual estrutura da Justiça Federal no segundo grau não tem dado vazão à quantidade de processos. O caso da 1ª Região é paradigmático: um tribunal que atende a 80% do território nacional e está exaurido. Por esse motivo, a Ajufe tem compromisso de trabalhar pela ampliação do número de desembargadores dos Tribunais Regionais Federais e pela implantação dos quatro novos Tribunais aprovados pelo Parlamento por meio de Emenda Constitucional, cuja eficácia está suspensa por liminar. É necessário, ao lado da atenção aos TRFs, o provimento dos cargos vagos de juízes federais – hoje, cerca de quatrocentos em todo o Brasil. Da mesma forma, urge a modernização da tramitação processual, com a implantação do processo eletrônico em todas as seções e subseções judiciárias.

O senhor apoia a Operação Lava Jato?
Sem dúvida. A Lava Jato é um marco na atuação do Judiciário brasileiro e tem todo o nosso apoio. O juiz federal Sérgio Moro tem realizado um trabalho digno, sério e competente; é preciso assegurar-lhe a total independência para conduzir os processos sob sua jurisdição.

Os políticos querem mudar a lei da delação. Há, inclusive, projeto tramitando na Câmara dos Deputados. Qual a sua opinião?
A delação premiada foi um avanço da legislação brasileira e não pode retroceder. Ao contrário, é preciso trazer a justiça negociada para o processo penal, nos moldes realizados nos Estados Unidos. Atacar a delação premiada, reduzindo-lhe o campo de atuação, é trabalhar a favor da impunidade, que é uma das maiores chagas de nossa sociedade.

Os advogados criminalistas criticam a atuação do juiz federal Sergio Moro. Eles tem razão nas críticas?
De maneira nenhuma. O juiz federal Sérgio Moro tem tido uma atuação impecável, tanto que suas decisões estão sendo confirmadas nas instâncias revisoras: TRF-4, STJ e STF. Vivemos em um Estado de Direito e as partes possuem os meios recursais postos à sua disposição, no entanto, diante da correção das decisões do juiz federal Sérgio Moro, eles não têm obtido êxito. Menos de 4% dos recursos impetrados pelas defesas dos réus foram acolhidos total ou parcialmente. Os ataques ao juiz federal Sérgio Moro parecem mais uma estratégia de defesa diante da gravidade dos crimes apurados e das provas até o momento colhidas, confirmatórias das condutas dos acusados.

Na sua opinião, o Brasil será outro depois da lava-jato?
O Brasil inteiro espera que isso aconteça. Como cidadão, desejo que a sensação de impunidade desapareça do sentimento nacional.

O afastamento da presidente Dilma foi um golpe?
O golpe de Estado existe quando um governante eleito democraticamente é destituído do Poder à revelia das leis em vigor. No Brasil, o processo de afastamento do chefe do Poder Executivo está previsto na Constituição Federal. Além disso, no caso em questão, ele teve seus ritos e procedimentos confirmados pelo Supremo Tribunal Federal, em mais de uma ocasião. Essas manifestações da Suprema Corte é que nos dão segurança para afirmar que, do ponto de vista jurídico, não há um golpe em curso no país.

quinta-feira, 19 de maio de 2016

Alguns remorsos

Nada do que resultou nestes tempos de agora, ainda inundados de incertezas e vicissitudes, quando a Operação Lava Jato sob a inspiração do Juiz Moro e ações profissionalíssimas, dir-se-ia igualmente cívicas, do Ministério Público e da Policia Federal começava a abrir as cortinas do passado, quando isso tudo aí ainda parecia inimaginável, o Lula falando a religiosos católicos em São Paulo, desabafou:
- A taxa de aprovação da companheira está no volume morto.
Os paulistanos viviam então sob um rigoroso racionamento de agua porque não obstante as chuvas alagando o País em muitas regiões o precioso liquido não caia em quantidade suficiente para tirar do volume morto as seis represas do sistema Cantareira.
- Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto, e eu estou no volume morto. Todos estão numa situação muito ruim. E olha que o PT ainda é o melhor partido. Estamos perdendo para nós mesmos — disse Lula.
E seguiu falando:
- Acabamos de fazer uma pesquisa em Santo André e São Bernardo, e a nossa rejeição chega a 75%. Entreguei a pesquisa a Dilma, em que nós só temos 7% de bom e ótimo. O momento não está bom. O momento está muito difícil.
Ao entregar a pesquisa a Dilma, Lula tentou conforta-la:
- Isso não é para você desanimar, não. Isso é para você saber o que a gente tem, que a gente tem que mudar, que a gente pode se recuperar. E entre o PT, entre mim e você, quem tem mais capacidade de se recuperar é o governo, porque (o governo) tem iniciativa, tem recurso, tem uma maquina poderosa para poder falar, executar, inaugurar.
Na interlocução, os clérigos, uns trinta, incluindo o bispo D. Pedro Luiz, naquele tom usual de confessionário, um de cada vez, é lógico, deram lá seus conselhos, inclusive que o partido retome as liturgias do começo, quando atuava mais ao lado dos trabalhadores. Lula acusou Dilma de ter distanciado o Governo dos mais pobres.
- Ela tem dificuldade de ouvir até mesmo os conselhos que eu tento lhe dar. Falar com a população não é agendar para falar na televisão. É viajar e falar.
Revelando o truque:
- Na hora que a gente abraça, pega na mão, é outra coisa. Politica é isso, olhar no olho, o passar a mão na cabeça, o beijo.
Sobre o terceiro andar do Palácio do Planalto, onde a Dilma passa a maior parte do tempo:
- Aquele gabinete é uma desgraça. Não entra ninguém para dar boa noticia. Os caras só entram para pedir alguma coisa. E como maioria que vai lá é gente grã-fina... Só entrou lá um leproso (hanseniano) porque eu estava no governo. Entrou catador de papel porque eu estava no governo. Essa coisa se perdeu.
Lula contou que sugeriu a Dilma viajar por esse país, botar do pé na estrada:
- Petista não pode ter medo de vaias. Uma das armas para recuperar a combalida gestão é investir num Plano Nacional de Educação. O problema é que o próprio PT desconhece o conteúdo do plano.
Na noite de 16 de março do ano passado, Lula esteve a sós com Dilma numa sala do térreo do Palácio da Alvorada. Na antessala, esperavam-nos Wagner, Mercadante, Roseto e Falcão.
Lá para as tantas, os tons das vozes foram se alterando e deu para ouvir aquela voz rouca, inconfundível:
- E você sabe qual foi o maior erro politico que eu cometi na minha vida? Botar você nesse lugar.
E o maior erro politico da Dilma, qual terá sido?
Na data de hoje, Lula está acamado em seu apartamento em São Bernardo do Campo, abatido por forte gripe:
- Tomou a vacina, Lula?
Não estaria com bom humor para a pergunta:

- Qual? Aquela que dizem que mata velho?

quinta-feira, 12 de maio de 2016

Sem tempo para lua de mel

Desde a primeira eleição indireta após a derrubada do Governo Goulart, em 1964, quando o Congresso declarou eleitos Presidente o Marechal Castelo Branco e Vice Presidente o Deputado Jose Maria Alkmin, que o modelo copiado dos norte-americanos tem sido o mesmo.
O voto apurado para um candidato a Presidente se estende ao candidato a Vice com ele registrado. Assim, eleito o candidato a Presidente de um partido ou coligação com ele será diplomado e empossado o Vice da sua chapa.
Os norte-americanos concluíram há mais tempo que a eleição de um candidato a Vice, filiado a partido diverso do partido do candidato a Presidente, raramente deu certo. Andrew Johnson, o Vice de Lincoln, era do Partido Democrata. O Presidente era do Partido Republicano.
O primeiro processo de impeachment para tirar um Presidente do cargo nos Estados Unidos decorreu dos primeiros atos de Andrew Johnson alçado à titularidade em razão do assassinato de Abrahão Lincoln.
Na matriz do constitucionalismo brasileiro, na qual se inspirou em muitas ideias o nosso grande Rui Barbosa, nunca houve coligação partidária em qualquer eleição. E o que tem se repetido no Brasil, isso de o partido do candidato a Presidente se coligar com o partido do candidato a Vice, não tem sido bom para o País. Marco Maciel, Vice de FHC, única exceção.
O Vice, no presidencialismo da origem, é um adjunto imediato do Presidente, pronto para as missões de Estado que lhes são delegadas pelo titular. Não se restringem a missões de representação formal, mas a tarefas importantes delegáveis somente a quem estará preparado para, a qualquer momento, substituir ou suceder ao Presidente.
Por se tratar de alguém destinado a trabalhar junto ao Presidente, acompanhando os problemas internos e os desafios externos, o Vice nos Estados Unidos pela experiência adquirida tem sido quase sempre o natural candidato à sucessão após os quase sempre merecidos dois mandatos consecutivos do titular.
Assim, coube a Truman, Vice de Roosevelt, dar a ordem decisiva para por fim à segunda guerra e negociar com Churchill e Stálin não só o desenho dos novos mapas da Europa e da Ásia como também a restauração dos destroços restantes. Truman foi reeleito.
Eisenhower, comandante militar na guerra, sucedeu a Truman tendo como Vice o Deputado Richard Nixon, ambos republicanos. Após o segundo mandato, Nixon candidato a Presidente perdeu por pequena margem para o jovem Kennedy.
O Vice, Lyndon Johnson, completou o mandato do titular assassinado em Dallas. Nem os Direitos Civis nem a Reforma Eleitoral com direitos ao voto aos negros foram escanteados.  Foi eleito titular e desistiu da reeleição ante à reação nacional contra a guerra do Vietnam herdada de Kennedy.
Depois foram eleitos Nixon(R), Jimmy Carter (D), Reagan (R), Bush pai (Vice de Reagan), Clinton (D), Bush Jr. (R) e, por ultimo Obama (D).
Os Vices lá sempre foram escolhas pessoais dos cabeças de chapa. Aqui, não. Os Vices decorrem de arranjos políticos em função de horário de radio e TV e tal. Os Vices aqui, via de regra, são vistos sempre pelos Presidentes com desconfiança, mantidos no gelo, à distancia, sem acesso às informações mínimas sobre as coisas da administração.
Daí as dificuldades do Temer até para montar o seu Ministério. Tem que ser ligeiro porque o seu capital politico hoje é volátil. Já tem eleitor do impeachment animando a Dilma dizendo que tudo vai depender do Temer nos próximos 100 dias, o tempo que durou o segundo governo de Napoleão.

E porque não teve direito nem àqueles 60 dias de lua de mel com o poder, quando o zero-oitocentos corre à solta e os mimos se antecipam ao Natal, o Michel já começa o dia hoje um tanto apressado. Tem que espraiar esperanças, manter a maioria de apoios no Congresso, prestigiar publicamente a Lava Jato, fazer os ajustes e reajustes na economia e na politica. Acabar com as reeleições e substituir a atual lei dos partidos. E mais e mais, muito mais.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

É tempo de reforma política

Abro aspas. "Estamos diante da melhor oportunidade, desde que a atual Constituição foi promulgada, de o país implantar uma vasta reforma política. O desprestígio dos poderes Legislativo e Executivo, a deficiência das regras eleitorais e o fracasso das agremiações partidárias conduziram a um contexto nacional no qual seria imperdoável a omissão em construir um eficaz quadro político-institucional. A grande dúvida é quem está capacitado a conceber tal reforma.

Não é fácil identificar partidos que poderiam fornecer nomes idôneos e qualificados para redesenhar a Constituição. O PT fracassou como governo e danificou profundamente a trajetória do Brasil em direção ao desenvolvimento econômico e social, além de simbolizar de maneira irreversível o comportamento corrupto.

Desfigurado vis-à-vis os anseios que motivaram sua criação, o PSDB assumiu perfil ideológico volátil, tornando difícil classificá-lo como social-democrata, ou centro-esquerda, ou centro-direita, ou conservador, ou qualquer outro rótulo. Ademais, fracassou como oposição e inibiu-se na defesa das conquistas alcançadas no governo Fernando Henrique.

Graças à sua imensa bancada parlamentar, o PMDB restringiu-se a exercer o papel inodoro de aliado compulsório de qualquer governo, desfrutando assim de confortável alojamento na administração pública. Beneficia-se do status quo a tal ponto, que sente alergia a qualquer alteração no sistema eleitoral. Os demais partidos carecem de expressão quantitativa ou qualitativa.

Enquanto a inanição operacional perpetua-se em todas as agremiações partidárias, uma longa lista de imprescindíveis reformas econômicas e sociais são relegadas ao esquecimento. A estrutura de poder prevalecente vem tornando inatingível o avanço modernizante necessário à conquista pelo país de um destino promissor. Pois bem: a presente fragilidade dessa estrutura facilita o rompimento dos obstáculos à reforma política. A pressão da opinião pública e os estragos provocados pela crise vivida pelo país criaram um cenário propício a iniciativas reformistas, apesar da inapetência dos partidos.

Dada a amplitude de mudanças que poderiam ser adotadas, atrevo-me apenas a citar algumas poucas:

a) Introduzir um tipo de eleição distrital nos âmbitos onde hoje é proporcional;

b) fim da reeleição para os cargos executivos e estabelecimento do mandato presidencial de cinco anos;

c) alterar as normas para criação de partidos visando a diminuir as chances de proliferação daqueles inexpressivos em termos ideológicos e de representatividade;

d) simplificar o emaranhado burocrático hostil aos investimentos privados.

O atual perfil político-institucional desencoraja ações destinadas a aumentar a competitividade do sistema produtivo, amenizar de maneira autêntica as desigualdades sociais, equilibrar as contas fiscais, racionalizar o sistema tributário, incrementar a eficiência do setor público, modernizar a infraestrutura, preservar o meio ambiente, melhorar a qualidade de vida e, em suma, recolocar o país no caminho do desenvolvimento." Fecho as aspas.

Marcello Averbug é economista. Este artigo foi publicado originalmente em O Globo, edição de 12.05.16.

terça-feira, 3 de maio de 2016

Uma recarga no sistema, o Artigo de Carlos Melo

Com o correr do tempo, a história fixará o enredo que melhor contará a saga desta quadra em que o Brasil vive. Foi golpe ou foi constitucional o impeachment que efetivamente a dinâmica política se encarregou de construir; qual narrativa sobreviverá ao natural olvido das gerações. A versão ainda é um campo de luta.

O certo é que o pano de fundo de toda a disputa é, naturalmente, o poder.

O poder tem sua lógica e canta sempre o seu canto de sereia. Numa democracia, a legitimidade eleitoral não é questão de menos, mas é de ponto de partida; somente isto não basta. Lidar com o poder é, sim, condição sine qua non: a eleição renova o poder, mas não o garante. Ao contrário, o poder minguante põe a perder o impulso e a renovação que viriam da eleição.

O poder é, portanto, animal indócil que, domesticado, garante o porvir, a capacidade do fazer, do transformar, do submeter todo um sistema à vontade do poderoso. Mas, pode ser também a besta-fera que escapa às rédeas de quem não soube cavalga-lo; de quem não teve astúcia e arte para se fazer príncipe; de quem acreditou, burocraticamente, que a eleição bastaria como garantia.

O fato é que Dilma vacilou, o PT vacilou, Lula vacilou. Acreditaram que a eleição bastaria e, por isso, deram toda a importância à eleição.

Descuidaram do poder a que, por diversos caminhos, um dia alçaram. Daí a importância exagerada ao marketing eleitoral, a equivocada crença de que num sistema democrático eleitoral o feio é perder a eleição. Collor também se elegeu. E daí? Votos, por si só, nunca bastam.

É necessário saber conduzir o processo: jogar o jogo ou, antes, modificá-lo, transformá-lo completamente, se possível fosse. Em Maio de 2002, com a Carta ao Povo Brasileiro, Lula começou a jogar o jogo: aparou as arestas de sua rejeição, surpreendeu a direita, indignou setores mais à esquerda, mas seguiu em frente; recarregou o sistema – “deu um reload”.

Em que pese alguns erros de início – o Mensalão — o fez com habilidade: assimilou um processo viciado e foi assimilado por ele. Não o transformou, conduziu o poder auxiliado pelo pragmatismo e pelas circunstâncias. É improvável que não compreendesse os limites e as implicações de longo prazo do jogo que jogava: o “reload” logo se esgota. O bom momento, no seu caso, foi mau conselheiro. É possível que tenha avaliado: “para que fazer reformas e subverter a lógica do sistema quando tudo está indo bem?“ Ora, simplesmente porque quando tudo for mal não haverá mais força para fazer o que quer que seja; será tarde.

O fato é que Lula deitou em berço esplêndido. Para o retirante que tanta dificuldade enfrentou na vida, em seu tempo, governar o Brasil foi um bálsamo, tudo deu relativamente certo. As coisas se encaixaram: uma boa conjuntura e uma boa leitura de curto prazo. O poder lhe pareceu permanente, imutável, constante, deveras para sempre. Isto o fez escolher, do bolso do colete, Dilma, como se fosse uma gerente às suas ordens e à disposição.

Dilma teve sua primeira eleição servida de presente numa bandeja. Tudo lhe era favorável: o país crescia 7,5% e, naquele momento, Lula era pouco menos que um deus. Entrementes, não seria não um brinquedinho do padrinho: tinha vontade própria, particular visão de mundo e inocência para acreditar que seus milhões de votos bastariam. Lula se equivocou com Dilma e Dilma se equivocou com o mundo que a cercava.

O sistema, afinal, se esgotaria; é claro que se esgotaria como quase tudo que é vivo se esgota. No caso, seria impossível satisfazer toda a voracidade por cargos, verbas e esquemas que o sistema consumia; impossível dar vazão ao crescimento sem reformas; impossível governar com as manhãs de ontem a sociedade que o presente atropelava.

Dilma, Lula e o PT tiveram seu aviso: o junho de 2013, incialmente, pela esquerda – sim, inicialmente pela esquerda – proclamava que o sistema deixara de representar; que a sociedade moderna estava órfã da política; que novas forças surgiriam, fragmentando o sistema até então polarizado – PT e PSDB afundariam juntos. Sim, também os tucanos não se deram e, ao que parece, não se dão conta de que um “reload” não basta.

Em paralelo, a economia se esgotava, exigia um novo modelo: olhar para frentes, aos saltos; mas o espelho retrovisor de Dilma só permitia olhar para trás. A visão ultrapassada de que o governo pode tudo – ao gosto do Brasil Grande, dos anos 1970 — deixou de considerar que o poder em si se transformava; que a nova sociedade se defrontaria com o esgotamento do sistema arcaico. O resto do processo é sabido.

Mais que a renovação circunstancial de alguns nomes e até de políticas, o sistema carece de mudança, transformação de métricas, métodos, sentido. Não há, no entanto, poder para isso – poder que Lula e Dilma um dia tiveram, mas desperdiçaram. A melhora básica da economia, do ambiente de negócios, o tal choque de expectativas será, evidentemente, limitado; um “reload” que deixará ouriçados os operadores de mercado, mas de tiro curto.

Mesmo na economia, as mudanças serão incrementais; podem dar certo, demonstrando algum resultado, apontando algum caminho parcial, mas o país continuará sob o signo da precariedade – sub judice da Lava Jato e da política – com todas as condições para um novo colapso.

O mais provável é que Michel Temer siga por esta mesma trilha que, no começo, omite erros somente mais tarde revelados. Ao que tudo indica, não conhece outro caminho. Suas primeiras ações mostram que tentará recompor o sistema como é: voraz de cargos, recursos e esquemas.

Oriundo de suas cinzas, como haveria de dissipá-las? Neste momento, seu poder é para fazer o mais do mesmo e, para isso, nem precisará dos votos que, com efeito, teve enquanto parceiro de chapa de Dilma.

Sua base de 367 votos no Congresso, ainda assim, é tão fiel e comprometida quanto a dona de um bordel; enquanto houver poder – e recursos – lhe jurará amor eterno. Mas, já se sabe, esse tipo de amor passa com o fim dos estalidos das moedas. Temer dará uma espécie de reloading no sistema. Mas, a página que retornará à tela é a mesma.

Durará algum tempo, como o amor pago, mas seus links parecem irremediavelmente comprometidos.

Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper. Artigo publicado originalmente em O Estado de São Paulo, edição de 02.05.16.