quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Amanhã ninguém sabe

Os objetivos fundamentais da República, irremovíveis da Constituição – construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional e promover o bem de todos, estão aí empacados e não é de hoje.
No primeiro Governo da Dilma já se antevia o desastre. O Brasil hoje é um País quebrado. E sem credibilidade. A proposta de Orçamento da União para este ano, que ainda rola no Congresso indica um rombo descomunal. As contas não fecham.
A fúria do leão da Receita Federal sempre focando a classe média, ignorando os donos das grandes fortunas, que sabem de olhos fechados como pagar menos impostos, não consegue aquietar a sanha gastadora do Governo sempre relutante em reduzir o tamanho do Estado a cada ano mais infestado pela mediocridade e mãos ligeiras da maioria dos novos agentes.
Ouvi o Lula contar no rádio as dificuldades das campanhas anteriores das quais saiu sempre derrotado.  Voavam num avião velho que passada a eleição caiu na Bolívia. Agora, não (em 2002). Estava muito otimista. O Duda Mendonça, até então marqueteiro do Maluf, aceitara trabalhar para o PT e o Duda para ele era que nem goleiro do Corinthians - uma garantia.
O Duda começou dando um banho de loja no antigo sindicalista do ABC, arrumando-lhe em novo visual a barba e o cabelo, vestindo-o com ternos bem cortados, camisas sociais e gravatas de grife combinando. Não haveria mais discurso raivoso. Só a fala mansa do Lulinha paz e amor. E tal.
No plano politico, Dirceu articulou adesões como a de José Alencar, senador por Minas e respeitado conquanto bem sucedido empresário, que foi ser o Vice. Credita-se ainda a Dirceu os apoios de dois ex-Presidentes, Sarney e Itamar.
Quando os concorrentes passaram a bater no Lula indicando que ele não tinha nem equipe para governar, Duda bolou a simulação de uma reunião de trabalho para o programa do PT na TV. Um especialista de cada área. Tudo petista.
Foi aí que apareceu a margarida, melhor dizendo, a Dilma sendo vista pela primeira vez em cadeia nacional figurando na improvisada equipe. Trazida de Porto Alegre pelo Dirceu. Sua especialidade? Energia elétrica. Depois, com o mensalão, ela foi para a Casa Civil no lugar do Dirceu, mas manteve régua e compasso no Ministério das Minas e Energias através do novo Ministro Silas Rondeau.
Tendo, a partir de então, conhecido melhor a Dilma no dia a dia do Planalto, ninguém melhor do que o Presidente para avaliar a sua Ministra Chefe da Casa Civil.
É verdade que Lula ainda flertou, em máxima discrição, com a onda de reeleições sucessivas que se alastrava por outros países do continente, a partir da Venezuela. Ao pressentir que, não obstante sua incontestável força eleitoral a busca de um terceiro mandato não iria colar bem, tratou logo, no maior sigilo e com muita antecedência, de esculpir a Dilma para futura Presidente.
Problema é que a Dilma nunca concorreu a eleição nenhuma. Como candidata anunciada, logo no seu primeiro encontro com políticos do PMDB ganhou de presente um bambolê. Era um conselho para que aprendesse a ter jogo de cintura. 

No interior do Nordeste, por exemplo, entre o eleitorado de cabresto, incluindo os dependentes do Bolsa Família - e essa gente é quem, afora o poder econômico, ainda decide as eleições, ninguém sabia quem era Dilma. Começaram a dizer que ela era a mulher do Lula. E deu certo. Iriam votar, e votaram, na mulher do Lula.
No ano passado não houve eleição presidencial. Houve um leilão entre financiadores de campanha, regado a mentiras e fantasias, resultando tudo num indiscutível estelionato eleitoral favorável ao PT. Nem Sarney no auge da popularidade do Plano Cruzado ousou tanto. Agora, com a Lava a Jato, começamos a ver tudo mais claramente.
Errou o Lula ao bancar para sua sucessão uma pessoa sem experiência para liderar um País com as dimensões e complexidade politica como o é o nosso Brasil. A Dilma, pelo menos, antes de sair do cargo já entrou na história como a Presidente mais desastrada e autoritária entre os civis que até aqui ocuparam o cargo.

Mas agora, eis que foi preso o outro responsável direto pelo estelionato, o marqueteiro da Dilma. Quem pagou e quanto pelas mentiras que a Presidenta – candidata teve que assumir como verdades dela?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

A Presidenta e a Mosquita

Quem não ouviu ou não leu, não sabe o que perdeu.
Na mobilização nacional contra o mosquito, o Rio de Janeiro foi contemplado, mais uma vez com a fala, como sempre, desengonçada conquanto sapiens da Presidenta.
Assim:
“A mosquita, ela, é a mosquita que põe em média 400 (quatrocentos) ovos. Se você considerar que a mosquita transmite também o vírus, que é ela que pica, que é ela que provoca a contaminação das pessoas. Portanto, se for uma senhora grávida, uma moça grávida, o que acontece? Há um grande risco de a criança, se isso ocorrer nas primeiras semanas de gestação, ter microcefalia”.
É possível que nem Zaratustra, diante de tão ameaçadora realidade, fosse capaz de tão reveladoras constatações.
Quando, ainda na escola primária, nos ensinaram sobre os gêneros dos animais aprendemos, por exemplo,  que o feminino de jacaré não é jacarôa, mas jacaré-fêmea. Do mesmo modo, o masculino da girafa não é girafo, mas girafa-macho. E tal.
Se essa novidade está em alguma nova cartilha do MEC, nada nesse sentido chegou ainda ao nosso conhecimento. Mas a nossa Presidenta falou.
Os botões do Mino certamente ainda seguem questionando.
Ora, se o inimigo espalhador dos vírus dessas terríveis doenças, dengue e microcefalia, afora outras, não é o mosquito macho, mas sim um mosquito fêmea, ou simplesmente mosquita, como assim classificou a nossa também bióloga Presidenta, querendo eliminar o malfeito da mosquita capaz de por ovos que nem codornas, mas numa quantidade descomunal de 400 (quatrocentos) em tempo recorde, melhor então não seria perseguir o macho causador de tanto estrago à vida das pessoas e aos cofres do Governo?
Eis aqui um grande desafio a despertar a argucia de tantos cientistas que, a estas alturas, se entregam a incansáveis buscas laboratoriais do antidoto necessário à produção de uma vacina.
Até a chegada do atual Ministro da Saúde ao cargo, ele um politico que antes foi médico de hospício e professor de psiquiatria, pouco se ouviu dos noticiários da chamada mídia nativa sobre essa devastação da mosquita em nossa terra de amores, alcatifada de flores, onde a brisa fala amores. E tal.
É fato que o mosquito, agora transexualizado pela Presidenta em mosquita, chegou fazendo logo um bom serviço ao Governo na medida em que chamando a atenção para um valor maior, no caso a saúde publica, induz a Nação a pensar menos no que mais aporrinha – a crise politica, a ilegitimidade do atual Governo e da maioria do Congresso, a crise econômica. E tal.
Voltando à descoberta da mosquita pela Presidenta. Como a estas alturas separar mosquito de mosquita e assim, matando os machos, impedir a reprodução através das fêmeas, desprezando antiga lição de que as aparências enganam?
Soubemos há pouco que na Inglaterra  um galinha foi parando de botar ovos e, aos poucos, foi aumentando a crista até que se danou a cantar como galo. Há peixes hermafroditas, ostras que mudam de sexo pouco antes de se acasalarem.
Estudos científicos comprovam que insetos também se aqualiram dependendo do que lhes possa ser mais vantajoso. É possível que a Presidenta ao estudar o aedes aegiptis e suas variações tenha constatado que o mosquito virou mosquita nesse instante bidimensional. 

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

E esse Estado de coisas, pra que?

Satisfeito aí, colega, com essas coisas que a cada dia mais te incendeiam a  indignação?

Quem, negando a realidade das coisas, se disser satisfeito é mais um dentre os milhares de oportunistas e aproveitadores das mazelas do Poder ou um incurável doente mental.

Nesse cenário de novas revelações de superfaturamentos em contratos de obras públicas e desvios bilionários de dinheiros dos contribuintes para quase todos os partidos políticos e campanhas eleitorais de seus candidatos, eis que desponta agora das aguas paradas de todos os quintais, poças e até jardins, sua excelência o mosquito conhecido como aedes aegiptis, o inimigo que faltava.

Todo Governo em dissenso com a sociedade, vendo se ampliar o fosso entre o Estado e a Nação,  para reverter a apatia, o que no cenário atual a crise tem a ver também antipatia mesmo, todo Governo que chegue a esse estado de coisas, precisa de um inimigo comum. Quando não o tem, inventa-o. E daí as zelitis, a midia golpista e tal.

Por décadas o inimigo externo foi o imperialismo americano e no campo interno os tubarões dos preços, culpados pela carestia.

Agora é o mosquito da dengue que está de volta armado para a sua guerra com os seus bilhões de mísseis invencíveis chamados zika . Um só desses misseis pode se apossar do futuro de uma pessoa que ainda está para nascer, infectando - lhe o cérebro com microcefalia.

Ontem correu o mundo que a China já registrou o primeiro caso do ataque do mais temido dos mosquitos. Governos do mundo inteiro examinam estratégias para o enfrentamento desse poderoso inimigo.

Entre nós, a tal noticia parece ter chegado em boa hora para o atual Governo que, aproveitando-se do pânico um tanto natural, tenta conseguir passar para um segundo plano as outras más noticias do estoque de escândalos governamentais.

A crise que nos faz sofrer todo dia de vergonha e de raiva não se resume a uma unidade. É como a hidra que se alimenta ao mesmo tempo por seus muitos tentáculos.

Então, a crise é politica, é econômica, é fiscal, é tributária, mas é, sobretudo, moral e essa, sim, a pior de todas porque corrói os valores básicos da civilidade e os princípios essenciais à sobrevivência da democracia.

Que fazer? Tudo desse Estado de coisas seguirá num crescendo para pior se não mudarmos logo o Governo. Deixa-lo como está para ver como é que fica, é querer tirar empurrando com a barriga a vaca atolada no brejo.

Então, detecta-se que as consequências nefastas são da gestão incompetente, que já se provou inoperante e incapaz diante de outras questões, e comprovando-se que ela, a gestora, não está à altura do cargo por ser bem menor que ele, vai se permitir que o País continue desgovernado ladeira abaixo até afundar-se ainda mais?

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Quem é essa aí, papai?

A banda de música dos fuzileiros navais posicionada entre os servidores das duas Casas intimados a lotarem as galerias já está a postos para execução do Hino Nacional.

As duas primeiras filas das bancadas no plenário estão ocupadas por representantes das legações diplomáticas, Ministros de Estado e Presidentes de Tribunais Superiores.

O Senhor Presidente do Congresso Nacional, Senador Renan Calheiros:

- Designo uma Comissão de Honra formada pelos Senhores Senadores Jader Barbalho, Fernando Collor e Lindberg Farias e pelos Senhores Deputados Aníbal Gomes, José Mentor e Artur Lira para introduzir no recinto a Excelentíssima Senhora Presidenta da República, Dilma Rousseff.

(Não é da praxe o Presidente da República marcar presença na abertura do ano legislativo, até porque a Constituição (Art.84, XI), de espirito parlamentarista, ao dispor sobre a obrigação do Chefe do Executivo de apresentar ao Congresso o Plano de Governo, expondo a situação do País e solicitando as providencias que julgar necessárias, lhe outorga poder para em ocasiões como essa indicar o representante que quiser.

No parlamentarismo, é o Primeiro Ministro quem comparece na condição de Presidente do Governo. Assim é na Alemanha, em Israel, em Portugal. 

No presidencialismo, é o Presidente da República, que acumula as funções de Chefe do Governo com as de Chefe de Estado, quem se apresenta perante o Congresso. Assim é nos Estados Unidos, na Colômbia, no Uruguai.

Quando a nossa Assembleia Nacional Constituinte chegava à redação final com tudo se direcionando ao parlamentarismo, o que teria sido ótimo para o Brasil, houve um corre – corre de pretendentes à Presidência da República. A mudança brusca na rota resultou nesse hibridismo também chamado de presidencialismo de coalizão.)

Ainda há congressistas em pé formando pequenos grupos. Os outros, em maioria, acomodados em seus assentos, passam uma ideia de alheamento como naquelas longas cerimônias de casamento.

Na Mesa dos trabalhos já estão, além do Presidente da Câmara, o Senhor Deputado Eduardo Cunha, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Ricardo Lewandowiski, o 1º Vice Presidente da Câmara, o Senhor Deputado Waldir Maranhão, que nas sessões do Congresso, por força do Regimento Interno, tem a função de 1º Secretário.

Escoltada por sua guarda de honra, no caso a Comissão Mista de Deputados e Senadores, eis que, no escurinho da entrada principal do plenário, adentra quem? Ela.

O Presidente do Congresso com voz de quem sabe das coisas, dá sequencia:

- Convido para compor a Mesa sua Excelência a Senhora Presidenta da República, Dilma Rousseff.

Plenário e galerias pipocam em aplausos ensurdecedores. Enquanto Dilma caminha com o seu séquito até à Mesa os aplausos não param. 

Nada daquele blazer vermelho dos palanques do PT. Num costume branco rendado, a lhe realçar a silhueta, presente enviado de Fortaleza, Ceará, pelos irmãos Gomes (Ciro e Cid), Dilma nem parece a Dilma, tanta a simpatia que exibe e fascínio a irradiar sobre esses pobres políticos, comuns mortais. Pobres de espírito público.

Sucesso total como sugeriu e previu o Delfim:

- Ou a Presidente assume a responsabilidade e vai no dia 2 de fevereiro ao Congresso Nacional com projetos de reforma constitucional e infraconstitucional ou será o caos.

Pronto, não haverá o caos. O Congresso, incluindo o Aecinho, o Serra, o Agripino, o Caiado e até o Bolsonaro, aceitou tudo – reforma da previdência, desvinculação das receitas da União, volta da CPMF e tal.

Isso tudo a se confirmar na próxima terça feira, dia 02 de fevereiro, quando da abertura do ano legislativo.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Um estranho desce o rio

Em muitas cidades ribeirinhas, num tempo ainda sem rádio de pilha e sem luz elétrica, as pessoas de um lugar só podiam ver as pessoas de outro lugar viajando de balsas pelo rio.

A fé religiosa e a alegria do carnaval não tinham porque viajarem juntas, forçadas a paradas longas, entre uma margem e a outra quando não só as arroubas da produção, também porcos e galinhas, às vezes até jumento, eram embarcados para destinos que consumiam semanas.

Naquelas povoações não faltavam a capela que, havendo padre, se abria para as grandes celebrações por toda semana santa com direito a fumaça de alecrim queimando no altar, nem o galpão enfeitado para os bailes do carnaval. Havendo orquestra, é claro.

Sei bem o quanto essa dependência do raro, quase incerteza, agravada pela distância, pode ser causa de ansiedades muitas vezes estressantes.

A solidão das nossas populações ribeirinhas, naquele tempo sem rádio e sem noticias das terras civilizadas, parecia compensar-se em seus acúmulos de esperas.

Embora a cada ano em datas diferentes, tirando as fases da lua e as enchentes do rio, o carnaval e a semana santa aconteciam.

Primeiro, o carnaval infestando de pecados as almas mais inocentes. Depois, a semana santa para o arrependimento, a meditação, o aprendizado do amor e da compaixão.

O estranho que descia o rio na balsa era um sacristão levando um recado do padre. Os músicos que iam tocar no carnaval perderam a viagem. Portanto, não haveria carnaval. Mas a semana santa seria mantida.

Agora o Financial Time, respeitada publicação de economia, editada em Londres, ao analisar mais uma vez essa ziquizira, que se abateu cruelmente sobre os brasileiros, informa que no Brasil nem carnaval vai haver mais. Tamanha a quebradeira.

Dizem que o Financial Time não gosta da Dilma. Sabemos por aqui que muito mais da metade da população não gosta da presidência dela. Vozes da sensatez quase se ajoelhando imploram – renuncia Dilma.

Dilma não entende que o principal desta crise tem a ver com a incapacidade dela de liderar o País.

Turrona, não percebe que as revelações das roubalheiras, apontando a promiscuidade entre as propinas aos agentes do PT e as doações de grandes empreiteiras contratadas pelo Governo para sua campanha, enlameiam seu Diploma de Presidente da República, cassando a sua legitimidade.

Até onde sabemos, só não haverá carnaval nas pequenas cidades cujas Prefeituras não têm mais como bancar a cerveja dos músicos. Nem o grogue generalizado.

Todo cuidado é pouco. Olha que o japonês da Federal vai estar de plantão no carnaval.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

As Vacas de Amós

Indo de carro por uma estrada estreita, de mão única, pelo sertão da Paraíba, querendo chegar, o quanto antes, a Pernambuco, tinha que estar em Recife no mais tardar no começo da noite, minhas retinas, que nem as do poeta, já tão fatigadas, mais que flagraram, arquivando depressa na minha memória, a cena do homem sozinho e sua vaca.

Naquela vastidão de coisa nenhuma, de tudo seco, o homem puxava a sua vaca deixando livre o cabresto para que ela, farejando algum verde, não deixasse anoitecer a fome.

O carinho quase de irmão ou de pai com filha com que aquele paraibano, vacuns sapiens, diria a Dilma, conduzia pacientemente a sua vaca me fez pensar muito no quanto, pela estimação, chegamos a nos tornar dependentes de certos animais.

Então concluí, o quanto faz sentido aquela teimosia cearense que muitos nordestinos inebriados de telurismo ainda cantam mundo adentro – “enquanto a minha vaquinha tiver um courinho no osso (...) só deixo o meu Cariri no ultimo pau de arara”.

Não são poucos os bravos brasileiros que, pelo menos por enquanto, não pensam em ir se embora do País. A crise migratória que assola a Europa parece não incomodar muito os pouco mais de um milhão de patrícios que se aguentam por lá.

Mais de três milhões de brasileiros vivem espraiados por aí afora. Como se em Alagoas, por exemplo, só tivessem ficado as estatuas ou os túmulos de três dos Presidentes que o Estado, em sacrifício, doou ao do Brasil – Deodoro, Floriano e Collor.

Depois dos Estados Unidos, onde estão mais de um milhão e meio da nossa brava gente, a segunda Meca dos brasileiros, advinha, é o Paraguai.

Pouco antes do natal, num restaurante em São Paulo, éramos quatro numa mesa - o Belluzzo, sim, o economista e ex-Presidente do Palmeiras; o César Klouri, o advogado e professor de Direito e o Paulo Henrique, sim, o Amorim (olá, tudo bem?), quando sem mais nem menos se apresentou um jovem a nos mostrar o celular que, segundo ele, tem vendido muito para brasileiros, advinha onde, em suas lojas no Paraguai. Desceu a lenha nos governos do PT.

Quando caía a ultima ditadura, a Gal ameaçou ir se embora do Brasil se o Maluf fosse Presidente. O ACM mandou a sua tropa votar no Tancredo. E assim, a Bahia se livrou do vexame de ficar sem a Gal em pessoa. Por onde andará o Belchior, gente?

Em sua quase totalidade, a brava gente brasileira é assim. Não anda falando em ir se embora. Por mais que despenquem as desesperanças no logo mais e a credibilidade no Governo, não se intimida. Não pensa em desistir.

Nossa brava gente quer, sim, manter acesa essa luta contra os que se sustentam nos malfeitos, nas artes e manhas com os bilhões dos nossos impostos e na venda, em Brasília, dos votos da nossa representação politica, a qual em verdade em nada nunca nos representará.

Não me sai da memória aquela vaca e o seu compenetrado dono atrás de um verde na quase pedra que já foi lama antes da seca denigrir até o último dos mais resistentes mandacarus.

Entre os israelitas, conta-nos a Bíblia, os bois eram usados em trabalhos da agricultura lavrando a terra, pisoteando o trigo, puxando carros, enquanto as vacas eram poupadas porque tinham leite a dar, e leite com mel, ó meu, era a sublimação do manjar.

Uma vez exaustos, que nem o carioca no centro do Rio de Janeiro, um olho no pivete, o outro no trombadinha, os bois dos hebreus eram então levados para as liturgias dos sacrifícios e depois comidos lentamente, que nem a nossa brava gente hoje, sob os maus governos, embora não literalmente e nem necessariamente nessa ordem, pelos juros altos, pelo desemprego, pela inflação, pela falência total dos serviços públicos.

As vacas, ah as vacas, sim, podiam vaguear pelos campos. Como se escapassem de alguma comissão especial de deputados, eleita em chapa avulsa.

Há quem entre nós por estas plagas deplore o endeusamento das vacas na Índia. Há séculos que elas ali são tidas como sagradas, intocáveis, e até infalíveis. Há também quem ache que a sacralidade das vacas da Índia tenha, a partir de algum tempo, contaminado a concepção inerente a certas raças de vacas por aqui. Algumas se reencarnariam bípedes para então se acabarem atoladas no brejo.

É de lembrar o sonho do qual o Faraó despertou sobressaltado com a ideia daquelas sete vacas feias e magras devorando as sete vacas gordas e formosas, nutridas a financiamentos do BNDES ou, quem sabe, a propinas de superfaturamentos na Petrobrás.

É não desesperar. Depois das vacas magras, virão as vacas gordas. Não sem antes uma Constituinte exclusiva para as reformas politica e tributária, eis que aí é que estão os imbróglios que ninguém no poder se arrisca em desmanchar.

Pertinente esta conclamação de Amós, (4/1) - “Ouvi esta palavra, oh vacas de Basã, que estais no monte de Samária, que oprimis os pobres, que esmagais os necessitados...”

Juros altos não derrubam inflação. Os dois juntos somam forças do mal que derrubam governos.

sábado, 2 de janeiro de 2016

O Povo bestificado.

Por Miguel Reale Júnior

O processo do impeachment deixou de ser a análise dos graves fatos praticados pela presidente e minudentemente expostos no pedido. Na imputação consta que houve a omissão ao não determinar a presidente a responsabilidade de subordinados, diretores da Petrobrás, ciente dos desmandos presentes na estatal, com infração ao artigo 9.º, item 3, da Lei n.º 1.079/50, que descreve conduta omissiva: “não tornar efetiva a responsabilidade dos seus subordinados, quando manifesta em delitos funcionais”. É comezinho poderem as condutas ser comissivas ou omissivas. 

Tipificam-se também infrações à Lei de Responsabilidade Fiscal, ao praticar ações que comprometeram a saúde financeira do País, levando à crise econômica de hoje, com 1,5 milhão de desempregados, inflação superior a 10% e perda do grau de investimento. Repita-se: ao recorrer por longo tempo, e em valores astronômicos, a empréstimos nos bancos oficiais para cobrir gastos do governo, não só em programas sociais, mas também para financiar grandes empresas com juros subsidiados, a presidente infringiu outro dispositivo da Lei do Impeachment, qual seja o descrito no artigo 10.º, 9: “ordenar ou autorizar, em desacordo com a lei, a realização de operação de crédito com qualquer dos entes da administração indireta”.

O mais grave foi ter-se deixado de registrar a dívida de R$ 40 bilhões como despesa, incidindo em falsidade ideológica, pois se transformou, falsamente, dívida em superávit primário, ilaqueando a todos, prometendo crescimento de 4% em 2015. Ainda se tem a coragem de dizer ter agido em estado de necessidade, para pagar benefícios sociais, causa que excluiria o crime se não houvesse outro caminho senão a reconhecida prática delituosa, sendo requisito essencial a inevitabilidade do meio adotado. É o que se dá no furto famélico. No caso, todavia, não apenas existiam outras condutas para ter numerário, como constituíam essas outras vias as corretas: cortar gastos, eliminar desonerações tributárias, impedir a corrupção.

E qual o estado de necessidade haveria ao se deixar de registrar déficit, para falsear superávit primário?

Mas tudo se apequenou. A propaganda petista repete por via de alguns dos juristas palacianos e intelectuais de encomenda que se trata de um golpe! É mais uma farsa.

O impeachment virou moeda de troca entre culpados. Primeiramente, entre Planalto e Eduardo Cunha, para garantir impunidade mútua. Agora, entre Planalto e Renan Calheiros.

Tão logo o Supremo Tribunal Federal entendeu que uma decisão da Câmara dos Deputados de admitir a acusação contra a presidente da República por 2/3 dos seus membros – ou seja, pelo voto de 342 representantes do povo – pode ser anulada no Senado, onde estão os representantes dos Estados, por maioria simples – isto é, a maioria dos presentes, desde que estejam 41 senadores, portanto, por 21 senadores –, o presidente do Senado passou a ser adulado como o guardião do mandato de Dilma.

No dia seguinte foi chamado a almoçar com a presidente. Do ágape, já bem alimentado, Renan Calheiros veio receber intelectuais do PT, perante os quais disse o que queriam ouvir no sentido de não haver uma franja de indício de crime de responsabilidade.

Na mesma semana em que Renan Calheiros se tornou o arauto da improcedência do impeachment, foi ele objeto de investigação autorizada pelo Supremo Tribunal, pois seus sequazes, deputado Aníbal Gomes e Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, sofreram busca e apreensão em suas residências. Houve busca e apreensão também na sede do PMDB de Alagoas, presidido por Calheiros, que por sua vez veio a ter decretada a quebra do seu sigilo telefônico, fiscal e bancário.

Nova troca de impunidades no horizonte. Diante de cenas explícitas de malandragem, a população fica descrente dos Poderes Executivo e Legislativo. Contudo, se ainda se acreditava no Judiciário, o contorcionismo constitucional do Supremo acerca do rito do impeachment criou grave insegurança.

Sem haver nenhum princípio inspirador da possibilidade de uma maioria simples do Senado anular a determinação de 2/3 da Câmara de se instalar o processo, foi-se além dos limites de interpretação sistemática ou finalística, para em criatividade livre contrariar a clareza dos textos constitucionais e legais.

O artigo 51 da Constituição diz competir privativamente à Câmara dos Deputados autorizar, por 2/3 de seus membros, a instauração de processo contra o presidente. E no artigo 86 edita-se: admitida a acusação contra o presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Senado Federal, nos crimes de responsabilidade.

Nesse artigo86 há determinação precisa: admitida a acusação pela Câmara dos Deputados será o presidente submetido a julgamento. Assim, é cogente a Constituição ao dizer “será submetido a julgamento”, conforme, aliás, é disciplinado também no Regimento Interno do Senado(artigos 377 a 381).

Nada se prevê quanto à apreciação para se instaurar o processo no Senado, pois já foi admitida a acusação pela Câmara, em decisão similar à sentença de pronúncia nos casos de júri. Requer-se apenas a formulação de libelo por comissão processante, que intimará o presidente. Ao plenário cabe somente a decisão final, absolvendo ou condenando.

O Senado, admitida a acusação em votação qualificada de 2/3 dos deputados, não pode, pela via expressa de apreciação não prevista no Regimento do Senado (artigo 380), por maioria simples, arquivar o processo. Como confiar no Supremo diante de construtivismo constitucional dessa grandeza? 

Aristides Lobo, político e jornalista, em 1889 escreveu que o povo bestificado assistiu atônito à proclamação da República. Agora o povo bestificado assiste atônito à destruição da República. O ano novo começa velho.


MIGUEL REALE JÚNIOR É ADVOGADO, PROFESSOR TITULAR SÊNIOR DA FACULDADE DE DIREITO DA USP, MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS, FOI MINISTRO DA JUSTIÇA. Este artigo foi publicado originalmente em O Estado de São Paulo, edição de 02.01.2016.
 

Como Deus não quer. E o diabo gosta.

A humanidade de hoje em dia não teria com certeza alçado a este patamar civilizatório sem as lições dos Evangelhos. No mundo do olho por olho e dente por dente pareceu coisa de insanos a recomendação cristã do amai-vos uns aos outros.

As grandes jornadas em favor do bem começam com poucos. E se querem propagar ideias novas, induzindo as pessoas a pensarem diferente, as resistências se redobram, as perseguições são implacáveis.

Naquele tempo, Jesus marcava a diferença entre os seus irmãos judeus que, acumpliciados com os romanos que dominavam por inteiro a Judeia, se mantinham presos ao passado e sem percepção para os sinais do céu.

Então, depois de muitas desobrigas pela Galileia ensinando o novo Evangelho nas suas sinagogas, e tendo a acompanhar-lhe muita gente dali e da Decápode, e de Jerusalém, e da Judeia, e de além do Jordão, eis que ele subiu a um monte e sentado falou aos apóstolos:

“Bem - aventurados sereis quando vos injuriarem e vos perseguirem e mentindo disserem contra vós todo mal por minha causa. Alegrai-vos e exultai porque assim também perseguiram os profetas que existiram antes de vós. E grande será a vossa recompensa nos céus.”

“Vós sois o sal da terra. E esse sal se desvirtuar com que então se salgará? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e calcado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte nem se acende um candeeiro deixando-o num canto da casa, mas num alto para que, assim, dê luz a todos os que estão na casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens.”

“Ouvistes o que foi dito: amarás o teu próximo e aborrecerás o teu inimigo. Porém, eu digo-vos: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos perseguem e vos caluniam para que sejais filhos do vosso Pai, que está nos céus, o qual faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e manda a chuva sobre justos e injustos. Porque se amais somente os que amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem os publicanos também o mesmo? E se saudardes somente os vossos irmãos, que fazeis nisso de especial? Não fazem também assim os gentios? Sede, pois, perfeito assim como vosso Pai é perfeito”.

“Não julgueis para que não sejais julgados porque  segundo o juízo com que julgardes sereis julgados; e com a medida com que tereis medido vos medirão também. E por que vês tu a aresta no olho do teu irmão e não vês a trave no teu olho? Ou como dizes ao teu irmão deixa-me tirar-te do olho uma aresta, tendo tu no teu uma trave? Hipócrita, tira primeiro a trave.

“Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis aos porcos a vossas perolas para que não suceda que eles as calquem com os seus pés e que se voltando contra vós vos dilacerem”.

“Entrai pela porta estreita porque longo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição e muitos são os que entram por ela e estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida e quão poucos os que acertam entrar”.

Aqui não há o Sermão na integra. Mas apenas algumas passagens dentre as que desde adolescente as tenho na memória.

Minha intenção é apenas lembrar que o menino Jesus cujo nascimento o mundo cristão festeja hoje cresceu na contramão dos maus costumes prevalecentes e repudiando a mentira, pregando a verdade, alertando o mundo, como ainda o faz, contra os perigos do mal e nos incitando a pratica dos princípios morais que já norteiam grandes porções da humanidade, não obstante as outras porções que seguem, inclusive entre nós, devotas da mentira, da inveja, do autoritarismo, inimigas do trabalho e da honestidade, dilapidadoras do patrimônio público, disseminando a injustiça sob o pálio das leis mal feitas ou mal interpretadas, tudo assim contra o bem, no serviço do mal. Como Deus não quer. E o diabo gosta.

sábado, 5 de dezembro de 2015

Afastamento de Dilma: dois grandes juristas, duas opinões respeitáveis

A base jurídica do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, acatado nesta quarta-feira pelo presidente da Câmara Eduardo Cunha, é motivo de debate entre alguns dos juristas mais respeitados do país.   

A BBC Brasil conversou com dois deles - Dalmo Dallari e Ives Gandra Martins -, com opiniões distintas sobre o tema. Ambos destacam, porém, o componente político do processo, já que são deputados e senadores que definirão sobre o afastamento da presidente.

Dalmo Dallari: 'Não há consistência jurídica'

O jurista Dalmo Dallari, um dos nomes mais respeitados do meio jurídico brasileiro, disse à BBC Brasil estar "surpreso" com a notícia que "acabara de receber" a respeito da abertura do pedido de impeachment.

Dallari, que meses atrás emitiu um parecer jurídico a pedido do advogado de defesa da presidente Dilma Rousseff avaliando suas chances de se defender de um potencial pedido de impeachment, diz que continua "absolutamente convencido de que não existe fundamento legal para a propositura do impeachment" e de que o pedido "não tem a mínima chance de levar ao impedimento da presidente".

"De fato não há consistência jurídica. Eu examinei todas as hipóteses, todos os pareceres e argumentos do pedido de impeachment. Estou absolutamente convencido de que não existe nada de consistente neste pedido", afirma.

Questionado especificamente sobre as chamadas pedaladas fiscais do governo para fechar suas contas, principal argumento do pedido de impeachment formulado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr e aceito nesta quarta-feira, Dallari diz não ter identificado crime de responsabilidade fiscal.

"As pedaladas não caracterizam o crime de responsabilidade fiscal porque não houve qualquer prejuízo para o erário. As pedaladas configuram um artifício contábil, mas o dinheiro não sai dos cofres públicos, então não ficam caracterizados os crimes de apropriação indébita ou desvio de recursos", diz.

"Não há nada nas pedaladas ou no pedido de impeachment que identifique uma responsabilidade da figura da presidente da República", complementa o jurista.

Para Dallari, aceitar o pedido de impeachment era "a única e a última carta na manga" do presidente da Câmara dos Deputados.

"Ele está muito pressionado pelo risco de perda de seu próprio mandato, porque há muitos elementos contra ele. Com este artifício ele vai tentar coagir o PT e outros partidos que apoiam a presidente para que deem apoio a ele", diz.

Ainda sobre as motivações por trás da decisão, o advogado diz estamos vivendo "duas questões".

"Uma é a antecipação da campanha eleitoral, e a outra é essa busca de artifícios por pessoas que praticaram a corrupção e agora querem agir de qualquer modo", afirma.

Sobre possíveis impactos para a democracia, o jurista diz que "se trata apenas de uma encenação, de um gesto teatral. Essencialmente não haverá prejuízo à nossa democracia, porque não há, de fato, a mínima possibilidade de que isto ocorra".

Dilma discursou em rede nacional sobre situação política: 'São inconsistentes e improcedentes as razões que fundamentam este pedido'

Ives Gandra Martins: 'Evidências são inúmeras, a base jurídica é ainda maior'.

Autor do primeiro parecer jurídico favorável ao impeachment, o jurista e professor emérito da Universidade Mackenzie Ives Gandra Martins acredita que agora, dez meses depois de ter escrito o documento, a base jurídica para depor a presidente é ainda mais concreta.

"De lá para cá, as evidências que apareceram são inúmeras. Quando dei o parecer sobre a culpa da presidente nos escândalos da Petrobras, o ex-tesoureiro do PT (João Vaccari Neto) ainda não tinha sido preso, Delcídio Amaral (senador e então líder do governo no Senado) também não", disse à BBC Brasil. "Hoje a situação é muito mais complicada. A base jurídica é muito maior", afirmou.

Segundo Martins, outros prefeitos já foram afastados por crimes de culpa – sem comprovação de dolo, ou seja, de participação direta no crime – e, portanto, a "negligência e a imprudência" da presidente ao cometer as chamadas pedaladas fiscais já são o suficiente como argumentos jurídicos para tirá-la do cargo.

"Pedaladas fiscais são gravíssimas e tiveram consequências no segundo mandato. Elas foram julgadas no segundo mandato. E toda hora aparecem escândalos."

"Não estou dizendo que a presidente Dilma é responsável dolosamente por esses crimes, mas culposamente, por negligência, imprudência", completou.

"O Superior Tribunal de Justiça já decidiu pelo afastamento de prefeitos por crimes de culpa. São mandatos executivos também. Qual é a diferença entre prefeito e presidente? O crime dela é ter permitido a corrupção que houve."

Apesar da base jurídica, Ives Gandra Martins reforça que a decisão agora pouco tem a ver com essa área. Para ele, os argumentos jurídicos "só darão respaldo" a uma decisão que será plenamente política.

"A decisão vai ser política, como foi com (o ex-presidente Fernando) Collor. Ele foi afastado pelo Congresso, mas não foi condenado pelo STF (Superior Tribunal Federal)", disse.

"Se a população sair para a rua, os deputados vão votar pelo impeachment. Porque, no Congresso, a maioria (dos parlamentares) não quer ficar vinculada à corrupção.

Mas não é fácil a obtenção de dois terços (favoráveis ao impeachment). Serão obtidos dependendo da força da população", reiterou.

Para Martins, o governo perdeu força política ao longo do ano e virou "oposição" no Congresso e a única coisa que Dilma Rousseff pode fazer para evitar um impeachment seria "lutar pelo apoio político".

"Vai ser uma luta política do que jurídica", finalizou. (Fonte BBC Brasil).

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Duas almas que se devem separar

Ou a pessoa cuida de honrar o cargo que passou a ocupar ou o cargo em si nunca irá lhe dignificar em nada. 

A pessoa para honrar um cargo não basta apenas ser pessoalmente honesta. Nem só extravasar aparência disso aos outros, como César cobrou de Pompéia, sua mulher.

A Presidência da República é indissociável da Nação e nunca da pessoa do Presidente. A Presidência é instituição permanente do regime democrático.

Já o Presidente é apenas uma pessoa que para se empossar no cargo tem que perante o Povo, por seus representantes no Congresso, erguer a mão direita e jurar cumprir e fazer cumprir a Constituição da República e as leis do País.

Para exercer com lealdade e firmeza todas as funções inerentes ao cargo o Presidente da República tem que, no mínimo, ter lido antes – e seguir lendo todo o dia como num dever religioso de quem lê a Bíblia – a Constituição da República.

A cada vez que um princípio constitucional é violado ou uma determinação legal é ignorada pelo Presidente há uma redução no grau de credibilidade da Presidência repercutindo em corrosão na autoridade do Presidente.

Daí que incide em absoluta irresponsabilidade politica um partido apresentar às eleições para a Presidência da República uma criatura sem o indispensável preparo para enfrentar e vencer tantos desafios.

Não basta ter cursado faculdade, exibir curriculum alentado.

A Presidência exige do Presidente não só experiência executiva, mas também espirito público conciliador, capacidade para ouvir, inteligência e coordenação motora rápida para decidir.

Estar Presidente, enfim, é estar aberto ao sacrifício sem horas sem direito algum - o que seria crime de lesa Pátria - a permitir que o Governo imponha o sacrifício menor que o seja a qualquer parcela, menor que a seja, da população do País.

Na Presidência, o Presidente Sarney definia-se como um São Sebastião a posar diariamente para a tela que acabou sendo o retrato único do padroeiro da cidade do Rio de Janeiro – amarrado no tronco de uma arvore e assim indefeso recebendo flechadas do todos os lados.

O poeta José Chagas ao notar que um dos seus livros saíra da gráfica com algumas falhas de revisão, evitando encartar erratas, o que se converteria numa enorme chatice, escreveu apenas numa nota avulsa que há dois tipos de leitores – o que nota um erro e o corrige mentalmente e o que nem o percebe.

Assim também a Presidência teve o Presidente modelo São Sebastião e tem a Presidente que se recebe flechadas talvez nem as perceba.

Não vale aqui falar nas flechadas que nos últimos anos os arqueiros do poder deste Governo, tem acertado em sofrimentos a maioria das brasileiras e dos brasileiros.

O Nêumanne fez as contas e concluiu que em seis minutos, enquanto eu lia o seu artigo no Estadão, doze brasileiros teriam perdido o seu emprego a cada dois minutos.

Ontem foi dada a largada para o tira ou não tira a Dilma via impeachment do Congresso. Até quando a Presidência aguentará tantos e sucessivos vexames?

O ultimo vexame, de menor importância, foi a Presidente ter sido barrada pelos seguranças em Paris aonde foi representar o Brasil na Conferência do Clima. Xingou de bagunça a organização do evento. Ninguém da sua comitiva ousou lhe dizer que ela seguia para a entrada errada.

Admitindo-se, pelo imensurável do estelionato eleitoral de que resultaram os resultados da ultima eleição presidencial, o poder que se prorrogou atrelado à Presidência continha eiva de ilegitimidade, o qual não obstante suposta legalidade, segue desorganizando o Estado, atarantando a sociedade e pela desconfiança geral garantindo incertezas no dia a dia de cada pessoa, é de se indagar por que não a renúncia da Presidente?

Afinal, Presidência da República e Presidente são definitivamente, e não é de hoje, duas almas que se devem separar.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Só dá artista

Nem se contam os que desde antanho tem escrito sobre as artes mais diversas.

Como até a política é uma arte - arte do possível, segundo Bismarck, logo tudo o mais que se faça com algum engenho é arte.

Nos antigos filmes de faroeste, o mocinho também chamado de artista, estava sempre em luta contra os fora da lei também chamados de bandidos. 

Os dois lados tem grandes artistas, é claro. Mas ninguém quer ser visto como bandido. Todo mundo só quer ser o artista. 

Daí dizer-se que na política nacional, incluindo, por obvio, o nosso Maranhão não tem bandido. Só tem artista. Melhor dizendo, nos enredos da politica todo mundo só quer ser o artista.

Da arte do possível à arte da guerra quase não há mais nada que o engenho humano não tenha afirmado como arte. 

Chegou ha pouco dos Estados Unidos da América um livro muito esclarecedor – A molécula da Moralidade, de Paulo Zak. Essa molécula contém a substancia responsável por despertar o melhor em cada um de nós.

A molécula da moralidade faz, por exemplo, com que as mulheres, no geral, sejam mais generosas do que os homens. 

Já os homens muitos dos quais até inspiram uma boa impressão podem, por deficiência na molécula, se revelarem nada generosos. 

Com a molécula da moralidade em baixa, os homens de negócios, em geral, e os políticos, em especial, podem se revelar pessoas perigosas – cínicos, mentirosos, déspotas, insensíveis, mestres na arte de iludir e enganar. 

Seriam verdadeiramente os artistas do bem se os seus cérebros não se ressentissem da molécula da moralidade.

Agora pesquisadores da Universidade de Duke, também nos Estados Unidos, anunciam que os lóbulos temporal e parietal (acima das orelhas), são ativados quando um alguém quer enganar outro alguém.

Essa conclusão foi tirada do mapeamento dos cérebros dos jogadores de pôquer na área conhecida como extremo posterior do sulco lateral.

Talvez, por isso, os mais antigos tivessem razão quando inventaram o popular puxão de orelhas. 

Essa área das orelhas não é ativada quando jogo é contra um computador, por exemplo. Daí a prova de que blefar ou não muda conforme as relações sociais entre os jogadores oponentes.

A pesquisa revelou ainda que antes do jogo todos os contendores mostram-se afetuosos e cordiais, mas na medida em que a pendenga segue eles vão se hostilizando discretamente, algo assim como dois candidatos de uma mesma coligação disputando um único lugar disponível.

Em duas outras, igualmente famosas Universidades norte-americanas, a de Harvard e a de Utah, descobriu-se que as pessoas, no geral, tendem a ser mais honestas no período da manhã. 

Este fenômeno foi classificado pelos cientistas efeito da moralidade matinal.

Isso tudo me leva a imaginar que as coisas por aqui nesta encardida Ilha do Amor ainda não estão num limite tão extremo de desesperança.

É possível que a molécula da moralidade se normalize às tantas da madrugada quando a capacidade de blefar, inclusive no pôquer, já estará um tanto exaurida.

Depois, é botar a cambada do governo e da oposição para trabalhar intensamente na parte da manhã. Segundo os cientistas, as maiorias das governabilidades tendem a ser mais desonestas no período da tarde.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

Um novo futuro é possível

Imagine-se num País no qual a pessoa investida da maior autoridade institucional não está acima do cidadão mais pobre e distante.

Oportuno lembrar que pobreza não é sinônimo de miséria.

Feche os olhos e se imagine num País onde o Governo, controlado diretamente pelo Povo, segura com mãos firmes as rédeas do Estado para que não se exceda em nada contra os direitos e obrigações de cada cidadão.

Nesse País o princípio da igualdade de todos perante a lei não se resume a um mero aforismo escrito e recitado, ficando as coisas por isso mesmo.

Não há autoridade política, há servidor público eleito ou não. Sendo todos iguais todos se tratam por você. Ninguém é Vossa Excelência. E tal.

Não há privilégios nas funções públicas. Não há carro oficial, quotas de telefones ou de passagens, nem verbas de gabinete, nem 13º ou 14º salário.

Aquele senhor que você vê manhã bem cedo saindo da padaria com pão e leite na cesta presa ao guidão da bicicleta pode ser um operário, um professor ou simplesmente o Primeiro Ministro, Chefe do Governo.

Política não é meio de vida, é serviço público. E por isso, aos eleitos são pagos salários irrisórios, um pouco mais do que ganha um professor primário. A imunidade protege apenas a liberdade de pensar e dizer.

Não há impunidade nem foro privilegiado.

Tudo se resume à eficácia da gestão de modo a que o produto dos impostos, e são poucos, se traduza em satisfação da sociedade com as ações do Estado e credibilidade das instituições públicas.

Os eleitos são os mais preparados porque os partidos só indicam às eleições quem mereça o respeito dos eleitores e capacitados às funções do cargo.

Todos fiscalizam, todos participam. A regra é a transparência absoluta nas ações dos agentes públicos.

Na casa onde mora o Chefe do Governo não há serviçais, garçons, cozinheiros, arrumadeiras, passadeiras, motoristas, mordomos à conta do Estado.

Se a autoridade maior tem preferência por alguma dessas mordomias que pague do próprio bolso. Nunca se esquecendo de declarar tudo ao Imposto de Renda.

O Ministro da Fazenda mora num apartamento de único cômodo no prédio de uma escola pública. Nos fins de semana, ele quanto os outros Ministros ou demais parlamentares, viajam por conta própria ao encontro da família e dos seus eleitores.

Despesas com creches não são pagas pelo contribuinte.

Também no plano municipal o principio da igualdade é inarredável entre contribuintes e agentes públicos.

Os Prefeitos viajam de ônibus e acham isso bom porque assim não se distanciam dos eleitores. Na Capital, o Prefeito dispõe apenas de 15 servidores entre assessores políticos, de imprensa e uma secretária.

Os Vereadores tem participação ativa no planejamento das ações do executivo municipal.

Os Ministros do Judiciário trabalham com a mesma singeleza. Quase todos vão de bicicleta ou metrô ao trabalho. Ninguém é excelência, ninguém mordomias.

A tradução final disso é que os serviços públicos – educação, saúde, segurança, justiça, infraestrutura e tal estão entre os de melhor qualidade no mundo. Não há truque. O maior investimento sempre foi na educação, ciência, na tecnologia.

Agora, abra os olhos e segure o riso, por favor. Esse País existe, sim. A Dilma esteve outro dia por lá. Chama-se Suécia. O que ela foi fazer? Ver uns aviões para comprar. Não é fofa?

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Tubarões são míopes

Do que adianta reclamar da maioria do Congresso Nacional indignando-se com o baixo nível de qualificação não só intelectual, mas também moral, se a cada eleição os dessa turma mais se agigantam em poder ao ponto de emparedarem a Presidente da República?
Assim vai continuar se não houver forte reação consciente da sociedade até se impor sobre esses Senadores e esses Deputados uma reforma politica que não só compatibilize as funções do Parlamento com os avanços deste novo século, mas que também o submeta amplamente à força da vontade nacional.
A discussão parece perder força quando as respostas ao como viabilizar essa reforma politica se defrontam com a mesma pergunta, a que nunca quer calar – emendar a Constituição para se alterar a lei dos partidos e as leis eleitorais com esse Congresso que está aí?
Esperar que a reforma política se faça com esse Congresso  ou entrega-la ao próximo, eleito sob as mesmas regras, é tão ingênuo quanto querer que o leão ou o tigre do zoológico aceitem alguma dieta vegetariana ou no melhor dos mundos aquela da Dilma que tem nome de cidade italiana – Ravena.
Reforma politica para adequar o Brasil a uma verdadeira República Federativa e a um Estado realmente Democrático e incontestavelmente de Direito, um Brasil harmônico com uma sociedade disposta a se livrar de amarras que, lhe cerceando nas ações, lhe golpeiam como, por exemplo, o patrimonialismo politico, o paternalismo politico, o clientelismo politico, o corporativismo politico e o estelionato eleitoral que solapa a cada eleição a legitimidade do voto. Uma reforma politica para resgatar a moral e a ética na politica saída de um Congresso como este não se pode esperar para tão cedo.
Parece até que a Nação inteira, estando numa única rua sem saída como aquela do Cutim ou algumas da região dos lagos de Brasília, assiste a invasão de um estranho carnaval em que os políticos se divertem e nós, os bestas aqui, pagamos a contas.
Não há mais moça feia debruçada na janela esperando a banda passar, até porque – graças a Deus, que fazendo cair o Muro de Berlim e a mentira ainda restante do paraíso comunista, acabou com aquela Guerra Fria, não há mais no Brasil clima algum para golpes de qualquer natureza contra a democracia.
Fica uma turma matraqueando como numa procissão do Senhor Morto atrás de alguma Verônica que sobre algum tamborete altere o teor do seu canto triste para dizer que o impeachment da Dilma é golpe.
Golpe mesmo foi o planejado pelo embaixador americano, financiado com dólares da CIA, articulado por emissarios do Departamento de Estado, sobretudo por Vernon Walters e também por Lincoln Gordon, que souberam levar na conversa dois Presidentes, Kennedy e Johnson.
Golpe de verdade foi o que culminou com a declaração de vacância da Presidência da República quando Jango Goulart, o Presidente constitucional, estava em plena saúde física e mental e no exercício do cargo em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, território nacional.
Àquelas alturas já haviam acertado no Pentágono que o amigo de longas datas do Coronel Walters e Chefe do Estado Maior do Exercito do Governo Jango, o General Castelo Branco, seria o novo Presidente da República a ser nomeado pelo Congresso Nacional. E o foi.
Já naquele tempo o Congresso Nacional tinha os seus marginais, no sentido de que, quando preciso, se colocavam à margem da Constituição.
Presidindo o Congresso Nacional, o Senador Moura Andrade (PSD-SP) declarou vaga a Presidência da República. Não contava ele com a reação de um homem sério como o então Deputado Tancredo Neves (PSD-MG) que, indignado, de dedo em riste, rotulou-o em alto bom som – canalha!  
Aquilo do Senador Moura Andrade era o máximo que um politico em potencialidade de malfeitos se prestava a fazer. Não havia emendas parlamentares, nem mensalão, nem petrolão, nem Lava Jato. E tal.
O País hoje está desgovernado. O Governo não consegue governar. O Legislativo não consegue legislar para o bem e quando fiscaliza é para o mal. O País está nas mãos dos Ministros do Supremo e sob a dependência moral da Operação Lava Jato.
A Dilma já não preside. É uma Kerensky nas mãos do PT, onde a maioria não a leva a sério. No contexto, porém, ainda ha uma fresta a conduzi-la ao panteão da História - renunciar.
Isso tudo que estamos assistindo, as instituições embaralhadas, o Estado sem rumos, a sociedade se desorganizando, a produção industrial caindo, o desemprego grassando, a violência incontrolável nas ruas, a inflação crescendo, os juros decolando para o planeta Marte, o dólar dominando, isso tudo é o resultado de não ter havido, a tempo, uma reforma politica conduzida por homens sérios, a reforma que o País necessita e a Nação exige. Será possível faze-la com esses políticos? Vamos seguir discutindo.