terça-feira, 4 de agosto de 2020

Onde está Juan Carlos

Segundo imprensa espanhola, rei emérito foi para a República Dominicana
Envolto em denúncias de corrupção, pai do atual monarca, Felipe VI, estaria passando temporada no país caribenho, que não será seu destino final

O rei emérito da Espanha, Juan Carlos I, teria ido para a República Dominicana após abandonar o país ibérico em meio a denúncias de corrupção, afirma a imprensa local. Ao notificar sua decisão na segunda-feira, o ex-chefe de Estado informou que a mudança busca permitir que seu filho, o rei Felipe VI, tenha “tranquilidade e sossego” para ocupar o trono, em uma tentativa de limitar os danos que o escândalo vem causando à monarquia espanhola.

A Coroa não negou ou confirmou o destino final do rei emérito, alvo de investigações iniciadas por promotores suíços e espanhóis sobre supostos fundos em paraísos fiscais. Segundo o jornal La Vanguardia, no entanto, ele teria saído do Palácio de Zarzuela no domingo e ido de carro até Porto, em Portugal, de onde embarcou em um voo para a República Dominicana. O governo dominicano, no entanto, disse não ter conhecimento de sua entrada.

Juan Carlos seria hóspede do magnata do açúcar Pepe Fanjul, um amigo antigo, com quem ficará temporariamente até que decida seu destino final. Fontes ouvidas pelo jornal ABC também afirmam que ele estaria no país caribenho, mas veículos da imprensa portuguesa noticiam que seu destino seria Estoril, balneário de luxo em Cascais, a 25 km de Lisboa. Segundo seu advogado, Juan Carlos continuará “a todo momento” à disposição  da Justiça. De acordo com o jornal El Mundo, Juan Carlos poderia retornar ao país em setembro.

A rainha emérita Sofía, por sua vez, continuará a morar em Zarzuela e a exercer suas obrigações oficiais, segundo fontes ouvidas pelo El País. Apesar de continuar casada com o rei emérito, os dois teriam há anos uma relação distante. No momento, ela passa férias no Palácio de Marivent, em Palma de Mallorca, para onde o rei Felipe, a rainha Letizia e suas filhas viajarão no próximo fim de semana.

O primeiro-ministro Pedro Sánchez, que na segunda já havia dito "respeitar" a decisão do ex-monarca, afirmou em uma entrevista coletiva que não tem informações sobre o seu paradeiro. A saída do rei emérito gerou desavenças no governo de coalizão que o seu Partido Socialista mantém com o Podemos: enquanto o premier defende Juan Carlos, seus aliados caracterizaram a decisão como uma tentativa de fugir da Justiça, comprometendo a monarquia.

— Aqui não estão sendo julgadas instituições, mas pessoas. O rei emérito já deixou claro que está à disposição da Justiça —  disse o primeiro-ministro. — Em tempos como esses, quanto temos uma pandemia que a humanidade não enfrenta há cem anos, a Espanha precisa de estabilidade e instituições robustas.

Paraísos fiscais

Juan Carlos subiu ao trono em 1975 após a morte do general Francisco Franco e era respeitado por seu papel na condução da Espanha da ditadura franquista à democracia. No entanto, sua popularidade caiu nos últimos anos, devido a uma série de escândalos que o levaram a renunciar em 2014.

Seus problemas mais recentes se intensificaram em 2018, quando agentes da Polícia Judiciária suíça chegaram à Espanha para investigar o gerente de fundos Arturo Fasana. Foram encontradas duas fundações com contas bancárias na Suíça. A primeira era a Zagatka, firma sediada em Liechtenstein que pertence a Álvaro de Orleans, primo distante do rei emérito, que pagou voos particulares de Juan Carlos I e Corinna Larsen, uma empresária alemã que seria sua amante. A segunda era a fundação panamenha Lucum, cujo primeiro beneficiário era Juan Carlos I e o segundo, Felipe VI.

Quando a notícia foi divulgada em março de 2020, Felipe anunciou que abriria mão da herança de seu pai. Na Casa Real, foi tomada a decisão de informar o governo e registrar em cartório a renúncia a qualquer dinheiro dessas contas no exterior. Pouco depois, os quase 200 mil euros (R$ 1,2 milhão) anuais que Juan Carlos recebia da Coroa também foram suspensos.

Entenda: Em meio à crise do coronavírus, rei da Espanha se vê envolvido em escândalo financeiro

A investigação suíça revelou que Fasana depositou na conta da Lucum no banco privado Mirabaud US$ 100 milhões (64,8 milhões de euros na época) vindos do Ministério das Finanças da Arábia Saudita. Quatro anos depois, o dinheiro foi transferido por ordem do então rei para uma conta em Nassau (Bahamas), no banco Gonet & Cie, em nome da empresa Solare, de Corinna. O promotor Bertossa embargou as contas dos suspeitos e abriu um processo secreto de lavagem de dinheiro contra os envolvidos.

O rei emérito não é alvo de processos formais na Suíça ou na Espanha e, no início de junho, foi decidido que a Promotoria do Supremo Tribunal espanhol assumirá o caso para determinar se há indícios de que Juan Carlos cometeu algum crime após sair do trono, quando perdeu sua imunidade. Os investigadores trabalham principalmente com suspeitas de lavagem de dinheiro e crime fiscal.

Fonte: O Globo e El País
04/08/2020 - 09:15 / Atualizado em 04/08/2020 - 15,31

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