terça-feira, 16 de junho de 2020

Toda vida importa, sim!

Num grupo de mulheres em rede social, de repente, a polêmica - racismo e violência policial. Ânimos se exaltam e Maria ameaça sair do grupo. Ágil no teclado, Eurídice pondera.

"A violência policial é uma aberração no processo civilizatório. A polícia deve proteger e não ameaçar a cidadania. São servidores públicos, pagos com impostos arrecadados na sociedade."

Mas tragicamente, sabemos, não há milagres possíveis para a conquista desta forma legítima e qualificada de atuar.

E a formação policial, tanto lá como cá - aqui muito mais, até - é para o ataque caracteristico da guerra. Ou seja, é matar ou morrer. Aqui, a polícia militar é força auxiliar do Exército. Uma anomalia, decorrente do nosso processo histórico, da “ Revolução” de 64.

A polícia tem que ter natureza essencialmente civil e seguir as regras estritas dos pactos sociais, traduzidos nas Constituições.

Os policiais que atuam dentro da legalidade - e são muitos - sofrem também, absurdamente, com a atuação criminosa dos que assim se portam.

Sim, sofrem porque aumenta o estigma contra eles/elas. Aqui no Brasil, ganhando mal e tendo que morar em áreas onde habita a marginalidade, frequentemente têm que esconder sua condição de policial.

Enfim, quando acontece uma tragédia como a que vimos agora nos EUA, é esperado que a argumentação racional perca qualquer espaço.   

O ato criminoso nos EUA - revoltante em sua singularidade - passou a representar a convergência da revolta pela violência praticada no dia a dia pelo trabalho policial abusivo e aviltante.

Perde-se, neste contexto, repito, qualquer vínculo com as nuances do crime praticado.

George Floyd: o missionário cristão morto por um policial branco e ...     Assassinato de George Floyd – Wikipédia, a enciclopédia livre

George Floyd, entre seus irmãos de fé religiosa, no Texas, empunha a Bíblia. Depois, em Minneapolis, onde trabalhava como segurança. Preso e algemado, é asfixiado por policial até à morte. (Fotos da internet).

Ele, o crime, passa a virar símbolo de uma situação que agride a todas/todos nós, pessoas comprometidas com valores humanitários.

E acabamos assim, cegos de legítima revolta, a não aceitar qualquer argumento que trate o ato criminoso pelo viés do exame racional de algumas de suas variáveis.

Repito, este crime - mais um horroroso - virou símbolo da nossa revolta. Mas também afirmo - com a memória de quem já atuou na área de segurança pública nos últimos 20 anos - há muiiiita gente trabalhando para reverter o quadro da violência policial.

Por fim, Maria, ouso dizer que se sair do debate, estará contribuindo e não ajudando a enfrentar a causa da violência policial. Fique entre nós!


Eurídice Nóbrega Vidigal, avó de Guilherme e Helena, foi Secretária de Estado da Segurança Cidadã no Maranhão (Governo Jackson Lago).