sábado, 23 de maio de 2020

22 de abril, reunião ministerial.

País tinha 2.906 mortes por covid-19 até aquele dia

Jair Bolsonaro (presidente da República): “Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu (sic), porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele!

Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro!” 

▪ “Como é fácil impor uma ditadura no Brasil. O povo tá dentro de casa. Por isso que eu quero que o povo se arme! (...) Por que que eu tô armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura!” 

▪ “Sistemas de informações, o meu funciona. O meu particular funciona. Os que têm oficialmente desinforma (sic)” 

▪ “O dia que for proibido de ir. .. pra qualquer lugar do Brasil, pelo Supremo, acabou o mandato (...) Eu não vou meter o rabo no meio das pernas.” 

▪ “Os caras querem é a nossa hemorroida! É a nossa liberdade! O que esses caras fizeram com o vírus, esse bosta desse governador de São Paulo, esse estrume do Rio de Janeiro, entre outros, é exatamente isso” 

▪ “Se for a esquerda (que ganhar a próxima eleição), eu e uma porrada de vocês aqui têm que sair do Brasil, porque vão ser presos.” 

▪ Abraham Weintraub (ministro da Educação):
“Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF” 

▪ “Odeio o termo ‘povos indígenas’, odeio esse termo, odeio" ▪ Paulo Guedes (ministro da Economia): “A gente aceita, politicamente a gente aceita. Vamos fazer todo o discurso da desigualdade, vamos gastar mais, precisamos eleger o presidente. Mas o presidente tem que pensar daqui a três anos. Não é daqui a um ano não” 

▪ “A China é aquele cara que cê sabe que cê tem que aguentar, porque pro cês terem uma ideia, pra cada um dólar que o Brasil exporta pros Estados Unidos, exporta três pra China.”

▪ Damares Alves (ministra dos Direitos Humanos): “A pandemia vai passar, mas governadores e prefeitos responderão a processos e nós vamos pedir inclusive a prisão de governadores e prefeitos” 

▪ Ricardo Salles (ministro do Meio Ambiente): “Enquanto estamos neste momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de covid, é ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De Iphan, de Ministério da Agricultura, de Ministério de Meio Ambiente”.

O vídeo da reunião no Palácio do Planalto, divulgado por decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello, é considerado uma peça-chave nas investigações que apuram as acusações, feitas pelo ex-juiz Sérgio Moro, de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir na Polícia Federal. Entre ameaças, ofensas e palavrões, as imagens mostram o chefe do Executivo cobrando mudanças no governo e fazendo pressão sobre Moro e os demais auxiliares.

Na reunião, ocorrida no mês passado, Bolsonaro afirmou que já havia tentado trocar “gente da segurança nossa no Rio de Janeiro”, e que não teria conseguido. “E isso acabou. Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, disse o presidente da República.

Bolsonaro alega que se referia à sua segurança pessoal, que é feita pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e não pela PF. De acordo com a transcrição feita pela PF, o ministro do GSI, Augusto Heleno, não fez nenhuma intervenção nesse momento. 

Reportagem do Jornal Nacional, veiculada na semana passada, mostrou que o presidente fez alterações – e até promoveu servidores – em sua segurança pessoal semanas antes da reunião sem dificuldade.

Moro, por sua vez, afirma que a reunião seria uma prova da tentativa de Bolsonaro de interferir no órgão. O ex-ministro também entregou aos investigadores troca de mensagens no celular.

Ao levantar o sigilo do vídeo, Celso de Mello não fez juízo de valor sobre esse trecho da reunião. O ministro, por outro lado, apontou “aparente prática criminosa” na fala do ministro da Educação, Abraham Weintraub, que disse que “botava esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”.

De acordo com a transcrição, Moro falou pouco no encontro, não questionou as declarações do presidente e limitou-se a pedir que o plano de recuperação social e econômica Pró-Brasil também abordasse questões de segurança pública e de controle de corrupção.

Durante a reunião com o primeiro escalão do governo, Bolsonaro reclamou que não pode ser “surpreendido com notícias”. “Pô, eu tenho a PF que não me dá informações”, reclamou o presidente na ocasião.

No encontro, o presidente afirmou que não esperaria o “barco começar a afundar pra tirar água” e que, portanto, iria interferir em todos os ministérios. “A pessoa tem de entender. Se não quer entender, paciência, pô! E eu tenho o poder e vou interferir em todos os ministérios, sem exceção”, disse Bolsonaro. “E não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final, pô! Não é ameaça, não é uma extrapolação da minha parte. É uma verdade”, completou o presidente, olhando para o lado onde estava Moro.

Próximos passos. Com a divulgação do vídeo, a investigação vai se concentrar agora em novos depoimentos que serão recolhidos na semana que vem. O empresário Paulo Marinho prestará depoimento na terça-feira, às 9 horas, no Rio de Janeiro. O empresário acusa o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) de ter recebido informações vazadas da Operação Furna da Onça. Ele já depôs à PF e ao Ministério Público Federal, mas no âmbito de outra investigação.

Bolsonaro deverá ser o último a prestar depoimento no processo e, por ser presidente da República, pode enviar as respostas por escrito. Caberá ao procurador-geral da República, Augusto Aras, decidir se vai apresentar ou não uma denúncia contra o chefe do Executivo. O STF precisa de aval da Câmara para analisar uma eventual denúncia contra o presidente.

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